Paradise Of Light And Shadows escrita por NocturnalVacancy


Capítulo 1
Capítulo Único




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“Eu não aguento mais, otoo-sama!”

 

 Em um quarto mal iluminado, uma criança de cabelos prateados desejava ardentemente gritar estas palavras em uma vã tentativa que o homem sobre si escutasse. Entretanto, a mordaça em sua boca o impedia de emitir qualquer ruído e sua única alternativa era deixá-las morrerem em sua garganta. Quando o esperma e o sangue escorreram por entre suas pernas, ele sentiu certo alívio, porém, não o suficiente para amenizar o sofrimento de seu diminuto corpo... Nem de seu coração.

O pequeno de orbes esverdeadas sabia o quanto aquele ato era doloroso, o quanto era sujo, o quanto era errado e humilhante. E mesmo assim submetia-se, entregava-se, correspondia. Em um esforço sobre-humano o menor segurava as lágrimas, pois compreendia que somente nessas noites impuras poderia obter a atenção de seu pai e ouvir, ainda que apenas um pouco, daquela voz profunda, mesmo que não fossem exatamente palavras de carinho.

As carícias recomeçaram e ele permitiu-se fechar os olhos pelo prazer... E pela culpa. Inconscientemente, tentou livrar mais uma vez os próprios pulsos, mas a faixa de seda estava demasiadamente apertada, a ponto de ferir a pele infantil. Em seguida, uma cortina de madeixas brancas roçou em seu rosto e uma voz aveludada alcançou seu ouvido.

— Olhe para mim, Shirou-chan. Desejo ver os olhos da minha esposa. A esposa que você roubou de mim.

Mesmo sobre a seda, a criança de fios de prata sentiu os lábios de Juushirou encostarem nos seus e, neste momento, olhos de jade encontraram a escuridão dos castanhos de ébano. Toushirou fremiu sob a intensidade do olhar, mas não ousou desviar o rosto. Seu pai sorria, um sorriso repleto de sadismo e volúpia, mas sorria por causa dele, e isso era tudo que o menor queria.

* * *

Faltavam ainda algumas horas para o amanhecer quando a criança levantou-se, mesmo sob os apelos gritantes de seu frágil corpo. O menino desejava continuar naquele futon entre os braços daquele que tão raramente via, mas sabia muito bem que se continuasse ali, quando o maior acordasse seria expulso a tapas do quarto. Devagar, chegou até o shouji e, quando o abriu, uma mulher de longos cabelos ruivos o esperava no corredor. Seus grandes olhos azuis brilhavam devido ao pranto.

— Seu banho já está pronto, bocchama.

Sem pensar duas vezes o dono dos cabelos de lua correu até a mulher de seios fartos e derramou as lágrimas que não pôde derramar antes. Ela retribuiu o abraço, como sempre, e sem pressa o guiou até a banheira para que pudesse se livrar da essência daquele homem com quem, minutos antes, dividira o mesmo leito.

* * *

Já passava da hora do almoço quando Toushirou acordou. Ao lado de seu futon uma bandeja com comidas leves jazia há algum tempo. Ele observava a marca em seus delicados pulsos quando Matsumoto entrou no quarto com uma grande cesta de doces entre as mãos.

— Vosso pai preparou esta cesta pessoalmente, bocchama. O Danna-sama precisou viajar e provavelmente só voltará daqui a dois meses.

Ao ouvir as palavras, o menino sabia bem o que viria a seguir: ele contaria os doces, os racionaria para que durassem perfeitamente até o fim dos dois meses e os provaria devagar, dia após dia, como se fossem um abraço de seu amado pai. Claro que, durante esse tempo, ele seria forçado a aguentar os comentários dos empregados, o olhar de censura destes e a ter Matsumoto como única companhia.

O único filho do grande negociante conhecia muito bem a fama da gentileza de seu pai. Sabia do modo bondoso com que ele tratava a todos e que o seu genitor o considerava culpado pela morte da esposa. Conformara-se em saber que jamais conheceria este lado de Ukitake e continuaria mendigando seu amor daquela forma mundana, saboreando os doces até que, ao término da viagem, o mais velho retornasse e recomeçasse aquele “paraíso” envolto em sombras, dando novos motivos para os empregados da casa o rejeitarem, o chamarem de garoto sujo e o afastarem de seus filhos.

* * *

— Chou... Taichou! — Livrando-se dos devaneios, Hitsugaya observou o rosto de sua tenente, Matsumoto. — Ukitake-taichou mandou mais estes doces para o senhor.

A ruiva revirou os olhos enquanto o capitão do décimo esquadrão examinava a cesta de vime envolta em papel celofane. Em um envelope colorido, um convite para uma visita. O capitão observou a caligrafia perfeita, olhou mais uma vez para Matsumoto e depois para si mesmo: não havia lágrimas em seus olhos, seus pulsos não estavam feridos e nem seu corpo marcado.

As almas com maior quantidade de energia espiritual que chegavam até a Soul Society raramente lembravam-se de suas vidas passadas. Mesmo as mais fracas esqueciam-se após algum tempo. Naquele lugar, Ukitake era apenas Ukitake e Hitsugaya — pois trocara seu nome ao iniciar a vida de shinigami — era apenas Hitsugaya. Do que ele tinha medo afinal? Qual era seu receio? Ele agora era um poderoso capitão do Gotei 13 e há muito deixara de ser uma criança implorando pelo amor do pai.

Ainda receoso, o décimo capitão decidiu aceitar o convite. Provavelmente, os dois homens de madeixas prateadas jamais teriam uma relação saudável de pai e filho, mas se Ukitake ao menos pudesse vê-lo como amigo, já seria o suficiente para o parceiro do dragão de gelo.

* * *

— Você ainda se lembra de quando era vivo? — Juushirou perguntou após sorver um gole de chá verde.

Hitsugaya olhou surpreso para Juushirou e, mais uma vez, olhos de jade encontraram a escuridão dos castanhos de ébano. O menor fremiu sob a intensidade do olhar, mas não ousou desviar o rosto. Em troca, o maior sorriu, um sorriso repleto de sadismo e volúpia. Não importava quantas vezes tentasse, quantas vezes morresse e renascesse, os pulsos daquela criança estariam sempre atados àquele paraíso envolto em sombras.

— Eu jamais esqueceria, otoo-sama.

 

Paradise of Light and Shadows
16/06/11
by Kelen Yoru


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