O sol da manhã batia em meu rosto, a dor em minhas costas só provava o que eu já sabia, havia dormido no chão. Acordei Anthony e juntos descemos para a cozinha, mamãe não estava lá. Vovó fazia nosso café.

-Olá, queridos.- ela disse servindo o café em uma grande xícara rosa.

-onde ela está?- Bella sabia de quem eu fala e, por isso, suspirou.

-No quarto, arrumando as malas.- sentei-me a mesa. Peguei um biscoito e mordisquei, tomei um gole do café, estava amargo, fiz careta e larguei a xícara de volta à mesa.

-Ela disse para onde vai?-Anthony perguntou, olhando para a mesa.

-Não.- Bella disse simplesmente. Ela virou- se e correu escada acima. Deixando-nos sozinhos na cozinha.

                Minutos depois ela desceu trazendo nossas malas, eram bem poucas, já que viemos correndo para cá.

-Já comeram?- perguntou-nos docemente. Assentimos. Ela fez um sinal com a cabeça para a porta e nós nos levantamos. Entramos no carro.

                A viagem até a fronteira foi silenciosa, todos pareciam ocupados olhando a paisagem que passava rapidamente devido a alta velocidade do carro.

- Alice vai levar roupas e dinheiro para vocês toda a semana, não se preocupem.- ela disse quando estávamos bem perto do carro de Jacob. Ela parou o carro, depositou um beijo em nossas testas, tirou nossas malas do porta-malas e foi embora.

                Encaramos Jacob por alguns segundos.

                Suspirei.

-Que bom que vieram.- ele exclamou. Abraço Anthony, mas eu desviei quando ele veio me abraçar. Seu sorriso morreu.- Bom, tudo bem. Vamos lá.- ele colocou nossas malas no carro e depois acelerou. Ele e Anthony falaram sobre futebol, eu sabia que Anthony não gostava de estar aqui, mas ele, ao contrário de mim, estava disposto a tornar esse tempo de convivência o melhor possível.

                Paramos em frente a uma grande casa de madeira, ela era diferente da que havia nas lembranças de minha mãe. Essa casa ficava próxima a praia e tinha dois andares e, pelo o que pude ver, um sótão enorme.

-É bonita, não acham?- Jacob perguntou orgulhoso.- Comprei ela quando ia casar com a mãe de vocês, ela acabou me sendo muito útil depois.- ele sorriu. Descemos do carro e Anthony ajudou-o com as malas.

                Entramos na casa, Sally e Ephraim estavam esparramados no sofá e havia pipoca para todos os lados, Sally conversava com outro garoto, não pude vê-lo de frente, mas ele deveria ter uns dezesseis anos também.

-Para, tio Seth!- Sally gritava entre risos enquanto o garoto fazia cocegas em seus pés, não sei por que, mas uma pontada de ciúmes me atingiu. Ela parou de rir assim que me viu. Peguei os óculos escuros que só agora me dei conta de que estavam pendurados em minha camiseta e coloquei-os, foi exatamente nessa hora que o garoto se virou, evitei olhar para ele.

                Ephraim levantou-se e veio me abraçar.

-Oi, Sarah.- ele disse. Ele pegou minha mala e apontou para a escada.- eu te levo, papai vai mostrar o de Anthony. Vem.- ele pegou minha mala com uma mão e me puxou com a outra.

                Subimos até o segundo andar e paramos em frente a uma porta. Era uma sala de música. Sorri. Caminhamos até uma porta que havia naquela sala e eu pude ver uma escada.

                Caminhamos em silêncio até o fim da escada,

-Desculpe, é que a Sally não quis dividir o quarto dela com você.- ele abriu a porta e permitiu que eu visse o amplo sótão, ali havia uma cama com dossel enorme e vários armários por montar.

-Nossa!- exclamei, eu estava literalmente sem palavras. Ele largou minha mala em cima da cama e riu.

-Eu sei que não está legal, mas ainda é cedo. Eu pensei que talvez pudéssemos montar tudo agora, conseguiríamos terminar até a hora do almoço. O que acha?- perguntou esperançoso.

                Concordei com a cabeça, sorrindo. Olhei ao redor do quarto e pude ver várias latas de tinta.

-Você monta e eu pinto.- falei já pegando o pincel. Ele concordou.

                                                                   (...)

                Posso dizer que Ephraim estava errado. Terminamos bem antes do meio dia. Bom, ele terminou, pra mim ainda faltava pintar uma parte do quarto.

-Pensei que não gostasse de mim.- eu disse quebrando o silêncio. Ele me olhou com curiosidade.

-Eu não gostava, mas quando meio pai fez aquilo... sei lá, ele me lembrou da Leah, sabe?- neguei com a cabeça.

-Leah não mora com vocês?- perguntei. Ele negou.

-Não mais, quando eu e Sally tínhamos cinco anos ela encontrou o impriting dela e nos abandonou. Eu me senti horrível. Sei pelo o que está passando.- Assenti.

-Mamãe não precisava ter concordado, ela sabe que posso derrotar a guarda Volturi sozinha. Ela me abandonou por que quis, assim como a Leah fez com vocês.- Ephraim veio mais perto de mim e eu pintei seu rosto com o pincel.

                Não demorou para que começássemos uma guerra de tinta.

Quando terminamos deitamos exaustos no chão do quarto, estávamos totalmente sujos de tinta e riamos muito, foi nessa hora que Jacob entrou no quarto. Parei de rir.

-Que bom ver que estão se dando bem.- ele disse sorrindo, me levantei depressa e tirei um pouco da tinta do meu cabelo.- Só vim avisar que teremos um luau hoje a noite, quero que você vá, você e Anthony serão apresentados a todos.- Assenti. Ele olhou para o quarto.- Nossa, isso ficou mito bom.

-Obrigada.- eu disse fria. Jacob me deu um sorriso triste e saiu do quarto. Ephraim me deu um tapinha nas costas e foi com ele.

                Fui até o banheiro e tomei um bom banho quente. Troquei de roupa, deitei na cama e acabei adormecendo.

                    (...)

                Quando acordei o céu já estava escuro, desci as escadas, mas não havia ninguém em casa. Vi uma pequena luz na praia e lembrei-me do luau. Corri para lá e encontrei todos sentados em volta de uma fogueira. Ephraim e Anthony estavam sentados um do lado do outro, e mais pareciam gêmeos. Eles me chamaram e eu sentei no meio deles.

-Minha neta!- ouvi um homem exclamar para Sally, ela se levantou num pulo e correu até o homem que Jacob trazia em uma cadeira de rodas.- Como esta linda, Sally!- ela sorria orgulhosa. Reconheci aquele homem, ele era Billy, pai de Jacob, só que um pouco mais velho. Ele correu os olhos por todos e pousou-os em mim.- Quem é ela?- perguntou me encarando.

-Sarah.- Jacob disse. Billy sorriu.

-Loba nova?- perguntou enquanto eles se aproximavam. A cara de Sally tornou-se uma carranca e ela correu para os braços de seu tio Seth, que até agora eu não vi.

-Mais ou menos.- ele largou Billy no chão e chamou a atenção de todos.- eu quero que conheçam meus filhos. – ele disse.

-Já conhecemos eles!- Embry gritou.

-Não esses, Embry.- Jacob disse revirando os olhos, abafei minha risada com a mão.- Sarah, Anthony, venham aqui.- ele chamou. Hesitei, só levantei depois de Anthony.- esses são meus filhos com a Nessie, descobri eles ontem.- ele disse rindo. Todos nos encaravam perplexos.

-Eu tenho mais netos?- Billy perguntou confuso. Logo um sorriso nasceu em sua face, eu sorri para ele e voltei a me sentar. Ele me olhou interrogativamente e Jacob deu de ombros. Anthony deu um pequeno abraço nele e sentou- se ao meu lado.

-Hoje eu vou lhes contar a lenda da lua de sangue, ou impriting, como quiserem chamar.- Billy disse. Todos ficaram surpresos.

- lua de sangue? Aquela que era proibida?- Sally perguntou.

-Não temos mais por que esconder – ele disse.- ela já está acontecendo. - Disse olhando para mim. Todos se aproximaram um pouco mais da fogueira e Billy começou a contar.

-Havia uma garota, Luna, era seu nome. Ela foi a primeira loba, era uma loba branca, tão brilhante como a lua. Luna era uma junção de dois povos, os frios e os lobos. Ela era a mais poderosa que já existiu, mesmo não parecendo. - Todos olhavam atentamente para Billy.- Ela sempre foi protegida por seu pai, o Alpha, por ser a única loba, jamais teria contato com homens, era o que seu pai dizia, porém, certo dia, Luna saiu escondida de seu pai e encontrou um lobo na floresta, apaixonaram-se á primeira vista. Luna passou a encontrar-se secretamente com seu impriting, tudo correu bem, até o dia em que um frio descobriu sobre os dois. Juntos, lobos e frios planejaram acabar com este garoto que prendia sua amada “escolhida”. Quando a lua de sangue daquele ano iniciou-se eles armaram uma cilada para o pobre garoto, ele fez tudo o que pode, lutou até suas forças se esgotarem, porém foi gravemente ferido por um frio, sentindo que algo não estava certo, Luna correu para a floresta naquela noite. Encontrou seu amado caído no chão, agonizando. Com lágrimas nos olhos, ela cuidou dele, vampiros e lobos juntaram-se ao redor dela quando o lobo soltou seu último suspiro. Luna soltou um grito de dor, fitou todos ao seu redor com dor, amaldiçoou-os por serem tão egoístas, disse que a partir daquele dia, eles seriam inimigos por toda a eternidade, até que, um dia, ela voltaria à terra novamente e testaria os dois povos, se continuassem egoístas, quando a primeira lua de sangue chegasse, a lua varreria todas as criaturas místicas da terra, e ela deixaria de existir.

-Acha que vai mesmo acontecer?- Alguém perguntou. Era um garoto, sua voz era como sinos, perfeita, nem muito grave nem muito aguda, quase musical. Fiquei tentada a olhar para ele, me contive quando ouvi seu nome.

-Provavelmente, Seth.- Billy disse.- existem tantas histórias sobre essa garota- ele disse com orgulho.- na maioria ela é chamada de “a escolhida” ou “ a mediadora”, até mesmo de “a princesa”. Ela que decidira nosso futuro.

-Qualé- Sally exclamou.- qual é a chance de um vampiro e uma loba terem uma filha?- todos olharam para ela.

-Talvez possa ser uma híbrida.- Embry disse. Todos olharam para mim.

                Foi quando aconteceu.

                O garoto mais lindo do mundo estava parado do outro lado da fogueira, ele me encarava perplexo. Senti como se o único sentido de minha vida fosse ele, eu vivia para ele, morreria por ele, o que era estranho, por que eu não morreria nem por mim mesma. Quando eu olhei para ele eu soube o por que de ter vivido durante todos esses anos, era ele.

                O encanto só acabou quando eu vi quem estava ao seu lado, Sally. Aquele era Seth, tio da minha irmã. Levei a mão à cabeça e levantei atordoada.

-Eu tenho que ir.- sussurrei. Não olhei para trás, mas pude sentir os olhos de Jacob, Anthony e Ephraim me queimando. Corri até o meu quarto e me joguei na cama, fiquei olhando para o teto, onde eu havia pintado milhares de estrelas. Fiquei lembrando dos olhos de Seth, de sua expressão chocada ao me ver.

                Foi com esses pensamentos que adormeci.