Corremos pela floresta por mais tempo do que eu consigo lembrar, agora eu e Sally corríamos juntas, bem, desde meu encontro com Sarina pelo menos. A floresta já estava mergulhada no breu e no frio noturno quando resolvemos que era finalmente a hora de voltarmos para casa.

-Leah pediu desculpas pelo que fez com você. Ela está muito arrependida.- Sally contou-me, quebrando o silêncio. Nós lutávamos para desviar das árvores, nossa trilha estava coberta por folhas, parecia que as árvores estavam se fechando em torno de nós. Eu quase podia jurar que estávamos perdidas.

-É claro que está.- murmurei de mal humor.- Não foi ela que ficou presa dentro do seu próprio corpo.

                Sally bufou.

-minha mãe pediu desculpas, tá legal? Eu acredito que ela esteja realmente arrependida, você deveria perdoa-la.- Minha irmã falou despreocupadamente enquanto desviava de um tronco de árvore caído.

-Espera, desde quando você chama ela de mãe?- perguntei apavorada, mas sem deixar de correr. Podia aparecer o que quer  fosse na minha frente, eu mataria. Estava faminta. Só queria chegar em casa, comer, tomar um banho bem quente e dormir. Ainda estava tentando esquecer aquele lance com Aaron.

- Desde que falei com ela, minha mãe disse que não devia ter me deixado. Ela se sentia culpada por ter separado meu pai da sua mãe, principalmente depois que Rudolf, o impriting dela, apareceu. Ela foi embora com ele porque estava muito envergonhada do que havia feito.- Sally balançou a cabeça e sorriu um pouco, seu sorriso lupino esquisito.- eu acredito nela.

-Eu não.­- respondi seca.- Não me leve a mal, mas sua mãe já me deu muitos problemas. Quanto mais longe dela eu ficar, melhor.- Sally me olhou com expressão de tédio.

-Azar o seu, vai ser difícil com esse lance da guerra. Parece que o papai falou com Billy e chamou-os para ajudar.- Revirei meus olhos.

-Que ótimo.- resmunguei. – Mais tempo com a família maluca. Beleza.- Sally revirou os olhos.

- Gosto deles, e não pense que eu não vi o beijo que você deu no Aaron. Sabe, Sarah, nós acabamos de declarar guerra contra os filhos da lua, só acho que você não deveria ficar se agarrando com nossos aliados.- Sally falou, tentando me dar uma lição de moral.

- Foi ele que me agarrou.- Falei em minha defesa.- E além do mais...

-Sarah, atrás de você!- Sally gritou bem a tempo de eu ver dois vampiros de capa preta vindo em minha direção. Esquivei-me deles e pude observar o garoto sorrir para mim. Ele era moreno, alto e seus olhos eram vermelhos. O mesmo garoto que vi na mente de meu irmão. Havia uma garota com ele, ela era loira e bem baixinha. Seus olhos me queimavam com raiva.

-Olha que sorte nós demos, irmão. Encontramos a razão dos nossos problemas, Sarah Black.- A garota loira sorriu para mim, um sorriso macabro e sem o menor pingo de piedade.- Quem sabe elas não gostem de um pouquinho de dor?- Eles se encaram por um momento e então minha irmã começou a gritar de dor.

-Sally!- gritei, é claro que aqueles dois vampiros apenas ouviram um rosnado de minha parte.-  Parem!-disse-lhes, através de meu dom.- Parem, por favor.

                Eles pareceram um pouco espantados, mas o garoto pareceu notar o desespero de minha voz em sua mente, seu sorriso sumiu conforme os gritos de minha irmã foram aumentando.

-Jane, pare. - ele pediu com a voz calma, uma voz doce e suave, mas ainda assim ameaçadora. Jane pareceu meio contrariada, mas parou. Sally permaneceu deitada, sem forças para se levantar.

-Você vem conosco.- A garota exclamou, fria. Olhei para minha irmã com os olhos cheios de dor.

-Não!- gritei, através de meu dom.

-Você não tem escolha. Se não vier, sua irmã e aquela garota, Jannie, morrem .- Jane respondeu, convencida.- Você e seu irmão são o problema, e devem ser eliminados. Acabaremos com vocês de qualquer maneira.

-Somos mais poderosos do que pensa.- sibilei. O garoto me encarou com um sorriso de canto.

-De qualquer forma aquela garota iria morrer, você seria mesmo capaz de desperdiçar a chance de salva o amor da vida de seu irmão?- Meu coração se acelerou, senti a adrenalina penetrando em cada célula do meu corpo, meu sangue correu mais quente em minhas veias e meus pensamentos se embaralharam.

- Tragam Jannie e uma roupa para mim que eu vou com vocês.- Falei, vencida.

-Não, Sarah, não faça isso.- Sally gritou. Olhei mais uma vez para ela, Sally estava em sua forma humana deitada no meio de várias folhas que cobriam a maior parte de seu corpo. Ela se sustentava em seu braço esquerdo e me fitava apavorada. Virei-me e pude ver a vampira loira pegar um celular e falar com um cara chamado Félix.- Não banque a heroína, Sarah. Nós duas sabemos como isso vai acabar.

                Suspirei pesadamente e encarei as árvores. Então uma simples pergunta surgiu em minha mente: O que dói mais, palavras que não podem ser ditas, ou aquelas que você se obriga a dizer? Então percebi que estava diante da decisão mais difícil de minha vida. Tentei controlar-me, mas era difícil. Aquilo não era justo, por que eu sempre ficava com as coisas ruins da vida? Eu sabia que se fosse com eles, morreria. Mas seu eu não fosse...Bem, eu nunca me perdoaria.

- Você tem alguma ideia melhor?- perguntei em sua mente.- Acha mesmo que há outra maneira de salvar Jannie? Porque não tem Sally, a gente tentou. Tentou tudo que podia, mas, ás vezes, algumas coisas não dão certo. Não importa o quanto a gente tente. E essa, Sally, é uma dessas vezes.- Algumas lágrimas escaparam dos olhos de Sally.

-Não diga isso, Sarah.- Ela implorou com os olhos já vermelhos.- Por favor, vamos embora. Podemos arrumar outro jeito de salvar Jannie.- eu balancei minha cabeça bem a tempo de ver dois vampiros chegando com Jannie nos braços.

                A lua cheia brilhava alta no céu, Jannie soltou-se deles e correu até mim. Ela olhou-me com duvida e eu apontei com minha cabeça para Sally, ela correu até minha irmã e farejou-a.

                Jane tocou-me algumas peças de roupas, eu voltei a minha forma humana e me vesti. Sim, na frente de todos. Mas, hei, meus poderes me dão vantagens. Acha mesmo que eu deixei eles me verem pelada?

-Mabel, por favor.- Sally implorou. Eu respirei fundo e a ignorei.

- Vá para casa com Jannie, e tome cuidado, estamos em uma noite de lua cheia e ela pode perder o controle. Não olhe para trás, Sally. Diga à todos que eu ficarei bem.- Eu dei alguns passos na direção dos vampiros e falei para Sally, dessa vez mentalmente:- Diga à Aaron que eu sinto muito e, bem, Sally, diga à Seth que eu o amo. E que sinto muito por tudo que aconteceu. Por favor, Sally, diga a ele que ele é o homem da minha vida, que eu nunca poderei amar outro se não ele. Só...- deixei minhas palavras no ar.- Eu te amo ,maninha. Espero que fiquem bem.

                Ela assentiu com lágrimas nos olhos e então se apoiou em Jannie e juntas elas sumiram do meu campo de visão.

                                                               (...)

Pov Sally

                Entrei pela porta de casa chorando como uma criança que havia acabado de quebrar o brinquedo favorito. Já era de manhã e Jannie já havia voltado a sua forma humana. Eu me ajoelhei e comecei a chorar. Ouvi passos rápidos na escada e instantaneamente soube que era Nahuel. Era incrível o que ele havia feito comigo, eu o amava mais do que a mim mesma, mas nem mesmo ele seria capaz de me acalmar agora.

-Sally, o que... Ah, meu Deus, Jannie?!- bem, digamos que a palavra Jannie tenha bastado para que o resto da família descesse. Anthony foi o mais rápido, Nahuel mal tinha terminado de falar e ele já estava na cozinha beijando-a com fervor. Uma situação meio estranha considerando que, bem, sim, ela estava nua.

                Renesmee, como se tivesse lido nossas mentes, desceu com roupas para três. Nós vestimo-nos apressadamente. Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto quando eu vi a roupa de Sarah intacta sobre a mesa.

-Onde está Sarah, Sally?- Ephraim perguntou, com um sorriso no rosto. Ele deve ter pensado que ela estava lá fora pegando um pouco de água ou algo parecido, mas seu sorriso foi sumindo conforme os segundos passavam. Eu observei o sorriso de todos sumir e chorei mais.

-Ela...se entregou para os vampiros.- Eu solucei.- Foi tudo minha culpa, eu sabia que nós estávamos perdidas, mas não queria admitir. Então eles nos encontraram e...aquela, aquela Jane começou a me torturar. Então eles disseram que libertariam Jannie se Sarah fosse com eles. Eu pedi pra ela não ir, eu pedi, pai, eu juro. Eu cheguei a implorar, mas você sabe como Sarah é, e eu mal conseguia manter meus olhos abertos. Ela não queria ir, pai, sei que não queria. Mas ela foi, eu devia ter tentado mais, só que eu estava tão fraca.- Nahuel me abraçou com força.- Me desculpe.

                Todos ficaram em silêncio e o clima começou a pesar. Meu pai socou o balcão e Renesmee jogou-se na cadeira com as mãos sobre o rosto. Anthony beijou o topo da cabeça de Jannie, visivelmente aliviado por ela estar ali, mas seus olhos tinham um brilho desesperado e lágrimas escorriam deles.

-Ela disse que traria Jannie de volta para mim. Ah, Sarah.- ele chorava. Jannie passou suas mãos pelo pescoço de meu irmão e depositou um beijo leve em sua bochecha.

-Sarah é forte e esperta, Anthony, ela ficará bem.- Jannie falou.- Eu acho que não podemos ficar aqui, temos que ir embora dessa cidade. Do contrário eles irão nos matar.- Eu dei soltei um riso fraco e irônico.

-Ela disse a mesma coisa quando eles te sequestraram, a diferença é que ela disse que te traria de volta.- Disse-lhe, seca. Ephraim colocou a mão no meu ombro.  Jannie pareceu envergonhada, pois não disse mais nada.

                De repente ouvimos um baque e a porta estava aberta. Seth e Aaron entraram em nossa cozinha. Meu tio parecia preocupado.

-Onde está Sarah?