Encarei-o estupefata por algum tempo. Eu estava surpresa demais para falar qualquer coisa.

-O que?- perguntei, quando finalmente consegui encontrar minha voz.

-Leah, minha irmã, a mãe da Sally e do Ephraim ...sabe? Pois é, ela vai voltar pra reserva.- ele coçou a nuca, constrangido. Seth me parecia feliz, mas temeroso. Eu tentei não me irritar, afinal Leah era irmã de Seth e, desde a morte de Sue, a “única” família que lhe restara, só que eu não consegui.

                Não poderia ficar quieta sorrindo para a mulher que separou meus pais e que causou tanto sofrimento à mim e a minha família.

-Aquela vadia não vai chegar perto dessa reserva!- sibilei. Seth me olhou com fúria. Eu até entendia, ele a amava, mas eu não aceitaria que aquela cadela se aproximasse de minha família novamente.

-Aquela vadia é minha irmã, Sarah, portanto cuidado com o que fala dela!- Seth alertou-me. Ele respirou fundo e caminhou um pouco, tentando se acalmar. Afastei-me dele e levei as mãos à cabeça.

-Será que dá pra parar de mandar coisas para atrapalhar a minha vida!- gritei aos céus. Eu estava  furiosa.

-Sarah, eu não entendo o porquê de você odiar tanto a Leah. Claro, ela fez mal a sua mãe e ao seu pai, mas nunca fez nada contra você.- virei-me para encará-lo e dei um riso irônico.

-Foi por culpa dela que eu não conheci meu pai durante a maior parte da minha vida, lembra, Seth?-perguntei retoricamente. Ele fechou a cara.

-Bem, mas você é meu impriting, se quiser ficar comigo terá de ser amiga de minha irmã!- ele afirmou, confiante.

-Está me dizendo que, para ficarmos juntos, eu terei de gostar de sua irmã e ficar sorrindo enquanto eu me lembro de todas as coisas horríveis que ela já fez?!- indaguei irritada.- Pois então prefiro ficar sem você.- afirmei.- É a minha família, Seth! Eu não posso e não vou deixa-los de novo.

-Então esse é o fim de nós dois? Mal voltamos e já vamos terminar? Por Deus, Sarah, eu gostaria que isso durasse mais que duas horas.

-Foi você que acabou com tudo, Seth.

                Balancei minha cabeça negativamente, tentando demonstrar toda a minha decepção, e comecei a correr, corri tão rápido quanto meus pés poderiam correr, mas eu estava triste, meu avô costuma dizer que eu fique lenta quando estou triste. Não demorou para que eu perdesse Seth de vista, eu comecei a correr em direção à casa de meu avô Billy, não queria que meu avô Edward contasse para minha mãe que eu e Seth brigamos de novo. Qual foi minha surpresa quando encontrei meu pai na sala da casa de meu avô?

                Ele estava deitado no sofá com uma cerveja na mão e o controle na outra, fiquei parada ali na soleira da porta, apenas observando-o e pensando em quanto tempo eu fiquei sem ele. Meu pai estava tão ligado no jogo que nem percebeu minha presença, ouvi barulhos na cozinha e, pelo cheiro, presumi que fosse minha mãe.

                Eu estava feliz por eles estarem se entendendo de novo. Pensei em como a volta de Leah estragaria tudo, uma lágrima solitária escorreu de meus olhos, correu por meu rosto e caiu no chão. Meu pai virou-se para trás e sorriu ao me ver, seu sorriso se desfez quando ele viu que eu estava chorando.

                Ele largou a cerveja no chão e correu até mim para me abraçar, eu não precisava falar nada, pois ele sabia que era culpa de Seth. Conforme ele apertava seus braços em torno de mim, meu choro aumentava. Eu ouvi um liquidificador ser ligado na cozinha e minha mãe começou a cantar, sua voz era tudo, menos afinada e ela gritava a letra, provavelmente estava usando fones de ouvido.

-Eu não quero que ela volte, papai. Ela vai destruir nossa família. Não deixe ela voltar, por favor, papai.-eu disse, quando finalmente parei de soluçar. Meu pai me deu um beijo na testa e fitou-me preocupado.

-Sarah, do que você está falando, pequena? Quem quer voltar?- ele perguntou-me, desesperado.

-Alguém que vai acabar com a nossa família. Pai, não deixe ela voltar.- eu implorei. Ele me abraçou novamente.

-Eu não deixarei, querida, mas preciso que você me diga de quem você está falando.- ele pediu, eu assenti e engoli o choro.

-É...é a Leah, pai. Seth me disse que Leah está voltando para a reserva.- Os músculos de meu pai ficaram rígidos e minha mãe parou de cantar. Ela apareceu na porta que dava para a cozinha e olhou preocupada para meu pai, ela tinha um brilho no olhar, um brilho de ódio.

-Eu vou matar aquela cadela se ela pisar aqui!- Mamãe exclamou, furiosa.- Jacob, não pode deixar ela voltar!- meu pai levou as mãos à cabeça. Ele caminhou em direção às escadas e começou a subi-las.

-Pai!- gritava. Eu e minha mãe o seguimos e vimos quando ele arrancou a porta do quarto de meu avô das dobradiças. - Você sabia que Leah voltaria para a reserva e não me disse nada! Como pode?- Meu avô pareceu assustado por um tempo, mas depois se recompôs e olhou mortalmente para meu pai.

-Vocês estavam tão preocupados com o estado de Sarah que eu não quis preocupa-los ainda mais, você e Renesmee acabaram de se acertar, não achei prudente.- respondeu, sem tirar os olhos da Tv.

   Meu pai bateu o punho com força na parede, a força foi tamanha que chegou a abrir um buraco.

-Não achou prudente.- meu pai ecoou zombeteiro.- Você não tem que achar nada, eu sou o Alfa aqui! Nessa reserva Leah não pisa mais!- Ele gritou, meu avô olhou-o com pura raiva e eu abracei minha mãe.- Você tem quatro netos, Billy.- meu pai comentou, num tom mais baixo, porém ainda deixava sua raiva expressa. Então apontou para mim.- Se essa notícia fez o que fez com Sarah, imagina o que vai fazer com Sally!- gritou.

 Foi nesse momento que ouvimos soluços altos e vidros se partindo, então eu soube que Sally havia acabado de receber a notícia.