Dormir foi muito difícil, de alguma forma Luna sabia o que o futuro me reservava, devo confessar que isso me deixava incomodada, apesar de sermos a mesma pessoa, Luna me era uma completa estranha.

                Adormeci somente quando o sol começou a nascer, dormi apenas três horas. Quando me levantei estava com olheiras enormes. Suspirei em frente ao espelho. Prendi meu cabelo e desci para tomar café, ao passar pela sala de música o piano me chamou a atenção, prometi a mim mesma que tocaria mais tarde. De hoje não passaria.

                Mas passou.

                Foi tudo muito rápido, em um segundo eu estava na cozinha, no outro havia cheiro de filhos da lua por todos os lados. Anthony apareceu na cozinha atordoado.

-Jannie!- ele chamou. Encarei-o confusa.

                Anthony me parecia desesperado e um pouco contente, o que era bem estranho. Anthony nunca se apegou muito ás pessoas, ele dizia que não valia apena, já que nós éramos imortais e nossos amigos não. Ele sempre foi galinha, pegava todas as garotas, nunca namorou. Dizia que todas eram galinhas.

-Quem é Jannie? – perguntei curiosa. Ele me olhou espantado, ele veio tão depressa que nem percebeu que eu estava ali.

-Uma garota.- respondeu depressa.

Sorri. Parece que meu irmão finalmente foi fisgado, ou melhor, imprintado.

-Filhos da lua.- Nahuel disse. Só então percebi que todos estavam na cozinha.

-Vamos atrás deles.- Sally disse, já começando a tremer. Meu pai colocou a mão em seu ombro.

-Sally, você não está preparada.- Meu pai afirmou. Sally olhou-o com pesar.- Nós todos sabemos o que aconteceu da última vez que você coordenou uma ronda, sua irmã ainda tem uma cicatriz. Sally suspirou.

-Sempre cuidei de tudo, pai. Sempre. E agora você me culpa pelo que aconteceu com a Sarah.- Sally olhava-o completamente decepcionada. Era como se ele tivesse tirado um pedaço do coração dela ou algo do tipo, eu sabia que Sally adorava fazer rondas, só não sabia que era tanto.- Não sou culpada, papai, eu fui egoísta, sim, mas lhe prometi que isso jamais se repetiria novamente.- Eu pude ver seus olhos lacrimejados.

-Já disse que não, Sally Black. Já chega, vá para o seu quarto!- Meu pai exclamou com sua voz de comando, Sally olhou para mim com dor e correu para o quarto.

                Meu pai massageou as têmporas. Olhou para a floresta, suspirou.

-Seth, você fica. Eu, Anthony e Ephraim vamos procurar aqueles malditos. Encontre Nahuel e peça que ele vá falar com Sally, não quero ver minha filha magoada.- Olhei para ele acusatoriamente, papai pareceu não notar. Ephraim e Anthony correram para a rua, pude ver que Anthony sorria.

-Não vai ser preciso, Nahuel já está no quarto dela, vi ele indo atrás dela agora há pouco.- eu disse mecanicamente, papai assentiu.

-Ótimo, não quero nenhuma de vocês na floresta.- Assenti, não pretendia ir lá hoje, o encontro com Luna ainda estava fresco em minha mente.- Seth, cuide dela.- ordenou olhando fixamente nos olhos de Seth, que por sua vez passou o braço pela minha cintura, me envolvendo num abraço lateral. Papai pareceu entender o que Seth queria dizer, pois sorriu.

                Observei meu pai correr até a floresta, suspirei. Um aperto envolveu meu coração e eu arfei. Apoiei-me na bancada, Seth pareceu preocupado.

-Sarah, meu amor, está bem?- ele perguntou-me preocupado, dei-lhe um meio sorriso e senti o aperto novamente, só que dessa vez mais forte.

-É só um pressentimento ruim. Tenho vários desses desde que clonei o dom de Alice.- eu disse.

                Seth riu, sua gargalhada estrondosa e perfeita. Não tive como não sorrir. Senti um vazio dentro de mim, corri para os braços de Seth. Algumas lágrimas molharam minha visão, Seth, percebendo que eu estava chorando, pegou-me no colo e levou-me para meu quarto. Ele deitou-me suavemente na cama e começou a acariciar meus cabelos, chorei com a cabeça apoiada em seu peito.

-Por que você está chorando, minha pequena?- ele perguntou. Balancei a cabeça negativamente, como explicar à ele que nem eu sabia?

-Não sei.- respondi secando os olhos. Tente sorrir, mas acho que não deu muito certo. Seth aconchegou-me mais em seu peito, chorei até dormir, o que não demorou muito, já que Seth fazia carinho em minha cabeça.

                                         (...)

                Acordei apenas quando o sol bateu em meu rosto, constatei que Seth havia dormido comigo. Olhei para o relógio, já era de manhã, quase meio dia. Suspirei. Ajeitei Seth para que ele ficasse mais confortável e fui para a cozinha preparar o almoço. Sally apareceu na cozinha com um sorriso no rosto, constatei que sua noite devia ter sido boa.

-Vejo que sua noite foi boa.- comentei ao vê-la rindo atoa. Sally corou por alguns segundos, mas depois voltou a sorrir.

-Você sabe, Nahuel é um grande homem, se quer saber.- ela respondeu, notando o duplo sentido em sua frase voltei a me concentrar no que estava cozinhando.- Você já sabia?- ela perguntou espantada ao meu ver corar. Corei ainda mais.

-O que?- perguntei apavorada.- Nada a ver, Sally, Nahuel é como um pai para mim.- eu disse. Tirei a massa do fogão e coloquei em cima da mesa, peguei o molho de tomate e derramei por cima, depois coloquei o queijo. Macarrão com queijo é o prato favorito de Anthony.- E, por favor, poupe-me dos detalhes sórdidos. Sally gargalhou alto.

-Não sabe o que está perdendo. Sério.- Sally aproveitou para rir mais do meu constrangimento. Tentei ignorar, mas a risada de Sally era mesmo alta.

                Eu e Anthony costumávamos fazer muito macarrão quando éramos pequenos, sorri com a lembrança. Fechei os olhos para saborear ainda mais da lembrança. Logo me veio à cabeça um cena que jamais sairia, um lobo negro, provavelmente Anthony, sendo atacado por aramas de caçador, iguais as que me quase me mataram, havia um vampiro também, ele mordeu a pata do lobo negro e logo este começou a se contorcer.

                Senti o ar me faltar, minha pernas ficaram bambas e eu logo senti o chão frio abaixo de mim. Sally gritava muito alto, chamava o meu nome, logo havia mais gritos, não só de Sally, mas também Nahuel e Seth.

                A última coisa que me lembro de ter visto foi o rosto desesperado de Sally, logo tudo ficou escuro.