Anjo Caido escrita por Nathy_Migliori


Capítulo 4
Capítulo 4




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~ 4 ~


Afastei-me um pouco da porta e juntei as palmas da minha mão. Fechei os olhos por alguns segundos, concentrando. Abri os olhos e apontei meus dedos indicadores para a porta. Alguns instantes depois um “click” foi ouvido e a porta do banheiro abriu.


Katherine estava sentada no vaso sanitário com os cabelos loiros caindo sobre o rosto. Abaixei-me aos pés dela e apoiei minhas mãos em seu joelho.


– Co... Como você fez aquilo?

– Um amigo me ensinou. Nenhuma porta e páreo para mim. Agora, me conte o que aconteceu.


Katherine olhou para mim com desolação em seus olhos. Eu era uma criatura muito mole, pois quase comecei a chorar junto com ela. Katherine se jogou no chão a minha frente e me abraçou.


A ação me pegou desprevenida. Eu não era acostumada a presenciar ataques de choros com abraços emocionados. Passei minhas mãos nas costas dela tentando dar um pouco de conforto. Aos poucos Katherine foi se acalmando.


Ela se afastou com delicadeza do meu abraço e olhou no fundo dos meus olhos. Fiquei parada também olhando nos olhos dela.


– Ele me dispensou!


No começo não havia entendido quem tinha dispensado ela, mas a compreensão não demorou a chegar.

– Oh! Eu... eu não podia imaginar! Que chato!

– Eu falei com ele na aula de biologia enquanto o professor não entrava. Ele me disse que não gosta de loiras e que gosta de outra pessoa.


Eu sinceramente não sabia lidar com aquilo. Fiz ela se levantar do chão, arrumei uma mecha de cabelo atrás da orelha dela e falei:


– Deixa de ser boba! Mostre a ele que isso não lhe atingiu. Existem outros garotos no mundo, menina. Levante essa cabeça e enxugue essas lágrimas!

– Mas como eu vou fingir que não me importo se é o que eu mais faço?



Eu já estava perdendo minha paciência. Respirei fundo e busquei alguma solução no fundo da mente.


– Minta! Mulheres são excelentes mentirosas. Bem, nem todas, mais uma grande maioria é!

– E você acha que vai dar certo?


Olhei para ela. Eu não podia mentir. Não para Katherine.


– Não. Mas não custa nada tentar, não é?


Ela concordou e sorriu. Enxugou as lágrimas e arrumou o cabelo desgrenhado. Katherine era bonita. Seus cabelos loiros eram cumpridos até a metade das costas. Seus olhos eram azuis- celeste muito chamativos. Ela também tinha um corpo bonito, com suas curvas bem definidas. Não entendia porque ela ficava se martirizando por alguém que não ligava pra ela.


O sinal tocou. Katherine e eu saímos do banheiro em direção ao ginásio. Minha primeira aula de Educação Física. Eu estava muito entusiasmada com essa aula. Estávamos distraídas e nem percebemos que alguém se aproximava.

Pela segunda vez naquele dia, alguém passou quase levando meu ombro junto. Por um momento pensei que fosse Nathan, mas depois que vi a pessoa, era impossível.


Um rapaz alto, magro com cabelos cacheados caindo nos olhos passou e foi se sentar na arquibancada. Olhei para Katherine e o olhar dela estava vidrado no rapaz. Dei um sorriso e passei a mão em frente dos olhos dela. Eles nem se moviam. Como Katherine parecia paralisada, vi a chance de descontar o beliscão que ela havia me dado.



– Ai Mel!


O grito dela encheu o ginásio e todos – incluindo o estranho metido a gato – olhou para nós. Senti meu rosto queimar e virei às costas para eles e fiquei de frente para ela.


– Cala-a-boca, escandalosa!

– Você me beliscou sua louca!

– Só vi a boa oportunidade de descontar o beliscão que você me deu.


Olhei para ela fingindo superioridade. Katherine retribuiu meu olhar com uma sobrancelha erguida. Rimos juntas.


O professor fez soar o apito para chamar a atenção dos alunos para o centro da quadra. Fomos todos para perto dele. Senti de novo a sensação de alguém atrás de mim, e o rapaz dos cachos estava parado não muito longe de nós.


– Bem turma, vamos começar com algo fácil e que façam vocês mexerem esses corpos do lugar!


Ele não parecia bravo, apenas tentava ser convincente. Acho que se ele mudasse a tática, seria mais fácil para todos.


– Na aula de hoje, todos vão jogar vôlei. Escolhi esse jogo, pois exige trabalho em equipe e inclui movimentos rápidos. A equipe que ganhar, terá um ponto a mais na media.



Burburinhos eram ouvidos no circulo a frente do professor. Muitos gostavam da ideia do ponto na media outros nem tanto. O professor apitou novamente e separou os times.


Fiquei contra Katherine e no mesmo time que Nathan e o rapaz dos cachos. O professor me colocou como capitã do time. “Eu não comando nem minha vida, quem dirá um time inteiro” pensei.



No final, meu time ganhou e ficamos todos felizes por causa do resultado. Foram três jogos. Ganhamos dois. Três sets a um. Até que a Educação Física não era tão ruim. O rapaz dos cachos jogava até que bem.



Encontrei Katherine para irmos juntas ao vestiário. As demais meninas da sala já estavam tomando seus banhos ou trocando suas roupas. Katherine e eu escolhemos um armário ao lado do outro.


– Você viu o garoto novo?

– Kate, todos que chegaram hoje são novos, como eu sou. Ele só não estava nas primeiras aulas.

– Ele é tão estranho... E sexy.


Olhei um pouco abismada para Katherine. Nem parecia que até a poucos minutos atrás, ela estava se desmanchando em lágrimas por causa de Nathan. Sorri para ela.


– Ele é... Charmoso.

– Você não o acha só charmoso. Tenho certeza disso.

– Kate eu sou uma pessoa tímida. Um anjo. Não penso nesse tipo de coisa!

– Aham! Eu sou o palhaço Bozo amiga!



Começamos a rir. Fomos rápido para o chuveiro, pois não iria demorar a tocar o sinal. Acabamos o banho, trocamos de roupa um pouco antes de o sinal tocar. Saímos para a aula de Física com os cabelos pingando.


A próxima – e última aula- era química. A professora nos levou para o laboratório e nos mandou fazer uma experiência. Para mim, aquela aula passou mais rápida do que deveria.


O sinal tocou anunciando o fim das aulas daquele dia. Levantei-me para arrumar o material na bolsa. O rapaz dos cachos sentava a uma carteira a minha frente e estava com uma vontade muito parecida com a minha para arrumar suas coisas na mochila. Passei por ele. Não esperava o toque e me assustei.


Virei para ele com a mão encima do peito, querendo que meu coração não rasgasse a pele e pulasse para fora. Ele me olhava escondendo um sorriso divertido.


– Desculpe, não era minha intenção lhe assustar.


Balancei a cabeça dando a entender que estava tudo bem. Ainda não tinha encontrado minha voz. Ele continuou:


– Você é a Mel, certo?

– Como sabe meu nome?

– Ouvi sua amiga gritar na quadra na outra aula.

– É. Tenho certeza que todos ouviram.


Ele me olhava meio questionador. Como se tentasse tirar algo de mim. Troquei meu peso de perna e tentei extinguir o silêncio constrangedor que surgiu:


– Então garoto dos cachos, você sabe meu nome, mas eu não sei o seu.


Ele pareceu pensar um pouco antes de responder:


– Gael.

– Gael? Um nome muito bonito.

– Obrigado. Eu aposto que o seu nome não é Mel

– Não. É Melanie. Minha mãe me chama assim.


Mais uma vez ele ficou olhando para mim. Parecia que me apreciava, como algo que ele sempre sonhou ter por perto. Limpei a garganta para demostrar o desconforto. Ele sorriu divertido para mim.


– Vamos. Já estão fechando a escola. E a ultima coisa que eu quero e ficar preso aqui dentro.


Eu concordei e saímos em direção à rua. A escola já estava praticamente vazia. Quando chegamos à rua, vi a cabeleira loira de Katherine tentando olhar por cima das cabeças das pessoas que saiam. Dei um tchauzinho para ela, que retribuiu meu cumprimento.


Ela correu até mim e ficou olhando para Gael. Ele a cumprimentou com um aceno de cabeça e saiu. Katherine ainda ficou olhando para ele até que sumisse completamente.


– Então estamos socializando com o gato dos cachos?

– Não exatamente. Ele que começou a socialização!

– Sei. Então, você mora aonde?

– Duas quadras daqui.

– Então vamos juntas!


Katherine e eu fomos juntas até a metade do caminho. Ela literalmente tinha a língua maior do que a boca. Ela não ficava quieta um único minuto sequer. Katherine morava  duas ruas antes da casa de Maria, então iriamos juntas para a escola.


Continuei meu caminho. Tive a sensação de estar sendo observada e discretamente olhei para trás. Não havia ninguém. Acelerei o passo ainda sentindo que alguém me vigiava. Cheguei em casa em menos tempo que o normal.



– O que aconteceu com você, criança?! – perguntou Maria

– Acho que tinha alguém me seguindo!

– Oh! Querida! Sente ai, vou buscar um pouco de água pra você!



Maria entrou no corredor da cozinha e sumiu. Eu sentia meu coração pulsar com mais força devido ao esforço inesperado e pelo medo. Eu estava sentado no sofá de frente para a janela.


Apesar de estar dentro de casa, ainda sentia aquela sensação esquisita. Fui até a janela e suspeitei ter visto cabelos loiros e curtos perto da casa. Apertei os olhos para enxergar melhor, quando senti uma mão em meu ombro.


– Ai! Todos querem tentar me matar de susto hoje! – gritei com a mão sobre o peito.

– Você anda muito assustada mocinha! – respondeu Ezequiel sorrindo.

– Idiota!

– Não fale assim com ele, Melanie. – ralhou Maria

– É sempre comigo. Ele chega me assusta e ainda está com a razão? Odeio este lugar!- falei emburrada.

Joguei-me no sofá com os braços cruzados com cara fechada. Ezequiel respirou fundo e audível antes de sentar-se ao meu lado. Ele me fez apoiar a cabeça no ombro dele. Seu perfume me invadiu.


– Vim aqui para lhe fazer um convite, para te deixar feliz. Não era minha intensão te deixar emburrada, raiozinho de sol.


Fiquei sem saber o que dizer. Fazia tempo desde a última vez que Ezequiel havia me chamado de raio de sol. A última vez foi antes de ele virar anjo-da-guarda e me deixar.



– Qual seria o convite?

– Você está disposta a ter um dia de anjo-da-guarda?

– Com você?

– Sim.


Afastei-me do peito de Ezequiel e olhei para ele. O brilho que havia ali me convenceu. Balancei a cabeça concordando com ele, e o seu sorriso me acertou de uma maneira esquisita.


Levantei do sofá e fiquei em pé na frente dele. Sorri animada e Ezequiel retribuiu o sorriso.


– Bem mãe, acho que meu irmãozinho tem trabalho para mim hoje.

– É bom saber que você está animada querida!


Maria me abraçou e ficamos assim por um tempo. Ela me soltou e me empurrou de leve para Ezequiel, que me segurou a mão e sumimos.


Aparecemos perto de casa só algumas ruas de distância. Olhei em volta curiosa tentando adivinhar o que faríamos ali.

– É aquela! – disse Ezequiel ao meu ouvido apontando a casa no final da rua.

– Não! – exclamei.










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