Our Secret escrita por Chocotan Yuu


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Eu confesso, mesmo sendo um One-shot, é um One-shot EXTENSO!Acabei perdendo no número das palavras, eu mal acreditei no tamanho final! Há tempos comecei a escrever, e não estou acreditando que finalmente terminei!!

Tentei controlar, mas acho que não deu.
Mas fiz com todo o carinho que me foi permitido, espero que agradem as leitoras.

One-shot dedicatória a uma pessoa.

The nine...

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/145420/chapter/1

Our Secret

“[...]

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência, não pensar... ”

(Alberto Careiro, heterônimo de Fernando Pessoa em “Guardador de Rebanhos”)

– Ah... Com ele é incrível...! – suspirei sonhadora assim que fechei o livro de coletâneas poéticas do Fernando Pessoa. Admirei a capa, e sorrindo, levemente acariciei-a para retirar o restante da poeira que a encobria.

Os versos do poema deste grande poeta me fizeram viajar a cada verso impresso neste antigo livro, encantaram e me prenderam tanto que havia esquecido completamente do horário.

– Xi... Já vai dar dezoito horas? – a luz do entardecer que penetravam pela pequena brecha do vitral ofuscou a minha visão, fazendo-me franzir a testa, e não consegui enxergar perfeitamente os ponteiros do grande relógio da Biblioteca.

Estava tarde e não estava conseguindo lembrar a que horas a Biblioteca fecharia. Então me levantei com certa dor nas costas por estar sentada no chão há horas, deixei o livro do Fernando Pessoa em cima de outros que eu havia pegado para ler e desci as escadas para ir ao primeiro piso. Em todo o caminho até o balcão não vi nenhuma pessoa se quer passar ao meu lado ou sentado nas pequenas poltronas para poder fazer uma leitura. A Biblioteca estava vazia, e o silêncio que a preenchia era assombroso. Quando finalmente consegui descer todas as escadarias e andar um pouco até o ponto de chegada, infelizmente Senhor Joseph não estava lá para me orientar os horários de término da Biblioteca – estranhei.

Pensei na possibilidade do local estar trancado, rapidamente os meus olhares correram até a grandiosa porta de madeira maciça, mas por sorte ainda estavam abertas, pude ver o corredor do Internato, porém também não encontrei ninguém.  Mais uma vez dei uma breve olhada ao meu redor, andei um pouco para espiar o espaço entre as prateleiras, mas não encontrei ninguém, nem aqueles bagunceiros que só vêm para locais como esse para fazerem pirraças ou até casais para tentarem dar uma de encontros às escondidas. Sim, não havia exatamente ninguém.  Arqueei uma das sobrancelhas, estranhando muito.

– U-Ué? – exclamei enquanto que coçava a minha cabeça. Claro que Biblioteca não é um local muito do agrado das pessoas da minha idade, eu sei que eles preferem mil vezes bater papo, namorarem... Em linguajar atual, o famoso “se pegarem”, ou simplesmente estarem twitando ou algo do gênero, mas é muito esquisito não ter ninguém a não ser... Eu. Até Senhor Joseph, o próprio bibliotecário não está aqui! – Não. Não, não... Calma, eu. Isso só pode ter sido coincidência, ele pode ter ido ao toalete, ou alguém o chamou para buscar os novos livros que acabaram de chegar lá na secretaria... – não se assustem isso é apenas um monólogo verbal, isso é normal, não sou nenhuma esquizofrênica. Apenas faço isso para tentar me acalmar com mais rapidez, compreende? Suspirei profundamente pensando na melhor opção é voltar logo para o meu dormitório, e até estava dando passos considerados para me aproximar até a saída, mas lembrei-me das pilhas de livros que deixei largados lá no último andar da Biblioteca. – Ah...! Não acredito...! – exclamei brevemente, automaticamente dando uma leve tapa na minha testa como uma punição. Dei uma meia volta e caminhei para a direção a direção oposta sem correr, pois mesmo Sr. Joseph estando ausente, essa é a regra que deve ser obedecido: de não correr, mas tentei apressar os passos, a fim de arrumar logo a bagunça que havia feito.

  Na verdade a minha intenção inicial era procurar um livro de referência para que pudesse me ajudar no trabalho de Literatura, e até cheguei aqui com muita antecedência, quase há duas horas. A minha busca não estava tendo muito sucesso, pois cada livro que eu pegava, não tinha detalhes o suficiente, e quando guardei de volta o quinto livro na prateleira, me frustrei. Então tentei ler outra coisa para me distrair, começando com poesias clássicas de Camões que por acaso encontrei, aquela qual cita o famoso verso “Amor é fogo que arde sem se ver...”, então depois para Álvares de Azevedo, e reli no mínimo duas vezes o poema Ismália de Alphonsus de Guimaraens que tanto adoro, desta forma foi indo até encontrar aquele livro de melhores poesias de Fernando Pessoa.

Poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente...”

Ah, meu Deus... Que perfeição – só de relembrar deste pequeno verso me oferece esta sensação se admiração extrema. Realmente dos poetas “brasileiros”, mesmo Pessoa sendo português, ele está no meu destaque. Se eu pudesse gostaria de ter lido mais poemas, principalmente estrangeiras. – O único problema é que a ala dos livros estrangeiros, todos menos a do Portugal, fica do lado oposto de onde estava... – complementei com mais um monólogo verbal, suspirando profundamente enquanto que já comecei a subir as escadas.

Pensando seriamente eu deveria ter achado os livros de referência com urgência – hoje. Como que irei fazer o trabalho? Eu preciso entregar isso nesta sexta-feira...!

Os meus pensamentos me encurralaram, deixando-me com um tremendo peso na consciência. Talvez eu possa dar mais uma olhada para procurar com mais minúcia, eu preciso de mais paciência... É, isso mesmo! Apressei os meus passos a fim de arrumar logo, assim eu terei mais tempo para a minha busca, e se por acaso eu ultrapasse o horário de término Sr. Joseph viria me advertir, já na pior situação... Bem, pelo menos eu estou com celular.

Subi todas as escadarias e andei o mais rápido possível, silenciosa, tentando o máximo para não fazer nenhum ruído de correria. Caminhei para a ala mais funda do terceiro andar, ultrapassei algumas prateleiras, o meu coração estava batendo um pouco forte por eu manter a velocidade, talvez um pouco ofegante, mas quando eu estava chegando perto daquele local, eu parei, porque escutei algum ruído provindo do mesmíssimo lugar onde eu estava lendo aqueles poemas.

                Estranhei novamente, mas logo me veio a hipótese de ser Sr. Joseph. O meu rosto ardeu brevemente ao pensar que eu iria receber um sermão por ter largado os livros, mas eu teria que assumir as minhas consequências. Suspirei fundo, arrumei os meus cabelos soltos brevemente, e quando retomei a coragem apertei os passos até o tal local.

                – Sr. Joseph, eu realmente sin-.... – cheguei diante da prateleira já proferindo pedidos de desculpas, fazendo uma mesura profunda em demonstração de respeito típico oriental, mas quando eu ergui o olhar para frente, não era exatamente Sr. Joseph que encontrei...

                – No momento Sr. Joseph não está, minha querida aluna

                Era o professor Luce.

                A minha respiração morreu na mesma hora que os meus olhos refletiram a sua imagem, e como se fosse eu estivesse sido hipnotizada me petrifiquei diante do professor de poesia. Permaneci completamente calada e com a mesma feição de assombro enquanto o fitava.

Ele estava trajando seu típico conjunto totalmente preto - o smoking negro que lhe dava aquele toque de charme único. As suaves ondulações dos seus cabelos louros caíam sobre os seus ombros, amarradas como sempre com aquele laço de cetim vermelho, e quando a vaga luz do pôr-do-sol as atingia, cada fio dos seus cabelos brilhava feito uma perfeição dourada. Os meus olhos percorreram lentamente para a sua face branca, demorando aqui e ali no par de olhos claros, a incrível tonalidade esmeralda deles me capturou como o de costume, me imobilizando com a harmonia que os seus cílios embelezavam estes.

O olhar dele, profundos, porém extremamente vagos sempre me chamara à atenção, desse modo furtando-me toda a atenção para ele, fazendo-me portar inúmeras vezes perdida diante da sua presença. Um motivo de deslize, encabulação sem volta.

Os meus olhos deslizaram um pouco mais, parando na região dos seus lábios, naquele belo sorriso irônico que me deixa tão inquieta. Lábios dele são tão belos, da tonalidade até o contorno, a forma como eles moldam este sorriso dele... Eu já estava prestes a me perder novamente, por pouco fiquei a fitar o gentil sorriso que ele me lançava por um longo intervalo exagerado, quase fiquei a sonhar acordada, e quando percebi nesse descuido o meu rosto ardeu rispidamente, fazendo-me abaixar rápido e desajeitadamente a minha cabeça novamente em uma mesura profunda.  

– P-perdoe-me, professor Luce...! – pus-me a desculpar na mesma hora, cerrando intensamente os meus olhos ainda com a mesma posição. Não acreditei nesse meu vacilo, não creio... Eu fiquei a me perder diante dele novamente!! Mas o motivo para essa minha encabulação é mais do que esse meu vexame, é simplesmente por eu estar diante do professor Luce, bem a alguns metros de mim. Eu só o via durante as aulas de poesias, apenas duas vezes por semana, se não pelos arredores do Internato que são situações raríssimas. Antes ou depois das suas aulas ele sempre se encontra na sua sala, mas quem sou eu para se atrever a visitá-lo, eu nunca me ousaria a cometer isto...

– Não há necessidade de se desculpar, compreendo que tenhas me confundido com Sr. Joseph, mas agora... Erga a sua cabeça, minha aluna – a tonalidade gentil de sua voz infiltrou com doçura pelos meus ouvidos. Eu não queria levantar a minha cabeça tão cedo, pelo menos eu pretendia depois desse ardor sumir do meu rosto, mas não tem como, não importa o quanto eu tente, eu nunca consigo contrariá-lo. Tentei respirar fundo o máximo que podia, e lentamente pus-me a erguer, porém ainda fitando o chão sem coragem de encará-lo. – Assim está bem melhor.

Os meus batimentos ainda estavam acelerados, piscava mais do que o normal pelo excesso de nervosismo, embora me fixasse no meu reflexo do chão de mármore os meus olhos continuavam a nadar.  Pude ouvir um baixo riso sendo abafado e isso me fez corar mais – ele está rindo desta minha atitude... – e os meus pensamentos pouco me ajudaram para me manter a calma, mas outro som me distraiu. Era som vindo... das prateleiras?

Rapidamente os meus olhos se focaram na pilha de livros que o professor Luce carregava em seus braços, e continuamente os arrumavam na prateleira como se já memorizasse os seus devidos lugares. Toda a encabulação esfriou em um segundo, fazendo-me empalidecer.

- P-Professor Luce...!! Não...!! – exclamei alto por ter entrado em estado de pânico, e eu percorri toda aquela distância em passos apressados para poder pará-lo o quanto antes, e segurando um dos seus braços voltei a exclamar – Esses são livros que eu deixei aqui, eu os deixei bagunçados...! – uma mistura de desespero e vergonha, é isso que estou sentindo no momento. Eu não conseguia acreditar que além de tê-lo confundido com o Sr. Joseph, agora eu vejo que ele está arrumando a minha bagunça... Quanto vexame...! O meu rosto está ardendo de tanto constrangimento. – Por favor, deixe-me...

Porém professor Luce não me deixou terminar, e colocando o seu dedo indicador com suavidade sob os meus lábios me fez calar em um segundo.

- Shhh... – o silvo dele ecoou pela toda Biblioteca, e não atrevi a falar nada mesmo depois do silêncio ter retornado ao local – Não eleve a sua voz, minha aluna, esqueceste onde tu estás? – censurou-me com calmaria. Embora Sr. Joseph não estivesse no momento eu deveria obedecer às regras daqui. E com outra suavidade professor afastou um pouco o seu indicador, pois parecia compreender que eu estava querendo dizer-lhe algo.

– Eu compreendo perfeitamente, professor... – comecei, embora ainda atordoada, mas soou-me calmo. – Mas essa é a minha bagunça, eu tenho a toda a responsabilidade de... – mais uma vez interrompida, porém desta vez ele pressionara um pouco mais os meus lábios. Não chegou a me machucar, mas foi o bastante para me calar como da última vez. E colocando o seu polegar em meu queixo ergueu a minha cabeça, fazendo-me fitá-lo de frente a frente.

- Minha aluna, não te aflijas por isto. Não faz mal, eu já estou a acabar – falou-me fitando diretamente nos meus olhos. Não tenho certeza se ele estava querendo por o fim neste assunto, mas ele conseguira: deixou-me completamente calada. Pensei que ele se afastaria assim que me silenciasse, mas eu estava enganada. Ele continuava a me fitar. Passavam-se segundos, mas ele não me deixara, e fitava-me cada vez mais profundo com o passar do tempo. Inquietei-me, o meu coração começou a acelerar, inutilmente tentava desviar o olhar, mas os seus dedos não me permitiam.  Imobilizada, só me concentrava em manter a minha respiração profunda o suficiente para não desmaiar, e acima de tudo, tentar me manter firme para não me perder nos brilhos das esmeraldas que estavam bem diante de mim. –... Tudo bem? – depois de um longo intervalo de tempo retornei a escutar a voz do professor, fora baixo, quase como um sussurro, era a continuação do que ele estivera falando anteriormente, mas parecia-me tanto que ele estivera perguntando sobre o meu estado do momento. Afirmei com a minha cabeça meio estabanada, o ardor que eu sentia no meu rosto já estava no limite, tanto como a coloração vermelha e o calor que se espalhava. Ouvi mais uma vez o riso abafado. – Que bom que compreendeste. – o seu indicador deslizara sob os meus lábios feito uma leve carícia, e por fim me deixara.

Retomei o fôlego, um pouco trêmula e com certo desespero, pois automaticamente havia estrangulado a minha respiração durante todo esse tempo. Enquanto que enchia os meus pulmões atrás do ar eu dei uma pequena espiada na direção do professor – Ele mais uma vez estava sorrindo, os seus incríveis esmeraldas estavam suavemente cerrados, mas não demorou muito para voltar-se em direção as prateleiras para guardar o restante dos livros.

Mesmo depois de tudo isso eu não estava convencida com este acordo, eu simplesmente não posso me ceder à gentileza do professor Luce e deixá-lo terminar um serviço braçal que eu deveria estar fazendo, mas é claro que se eu voltasse a comentar sobre isso ele iria voltar a me persuadir, e o pior, com mais intensidade até. Suspirei profundamente e ligeiramente cocei a minha cabeça, um pouco inquieta e insatisfeita, pude ver três a quatro livros nos braços do professor.

Aah... Só de pensar que ele logo, logo irá terminar de arrumá-los me dá... Me dá um nó no estômago...!

Desviei rispidamente o olhar para o lado direito a fim de acalmar a tensão sob os meus ombros, e não demorei a arregalá-los – pois ainda pude ver três livros abandonados no chão. Não pensei duas vezes, aproximei-me e agachando recolhi-os, andei até a direção da prateleira ao lado do professor e comecei a pesquisar a origem deles. Ao canto do meu lado esquerdo pude ver a mão dele guardando o outro livro, e em seguida senti o olhar dele sob mim, e como não, só o fato de perceber nisso o meu coração já estava perdendo o seu ritmo.

-... Como tu és teimosa, minha querida aluna... – o escutei comentar acompanhado por um leve riso. Sim, professor. Eu sou extremamente teimosa, o senhor nem imagina o quanto...! Assim que guardei o primeiro na estante virei-me a ele, e respondi com um sorriso torto.

- O senhor sabe que eu não ficaria quieta se não conseguisse guardar pelo menos um desses livros, não é? – o meu rosto estava corado diante desta face deslumbrante, lentamente pude contemplar os seus lábios alargarem em um sorriso.

- Tens razão... – e guardou o penúltimo livro sem se quer desviar o olhar, duvidei do que eu vi, mas quando dei uma olhada ele realmente havia colocado no local certíssimo. –Então, minha aluna, o que fazes aqui na Biblioteca? Creio que não vieste aqui somente para ler livro de poesias, estou certo? – perguntou-me confiante enquanto se divertia com o meu espanto. Como ele sabe disso? Tudo bem, poderia ter sido uma mera coincidência, mas, com professor é diferente. Não importam quais queres situações, ele sempre passa essa aura de total certeza ao afirmar um ato hipotético. Igualmente os acertam e mais, ele supõe os incidentes com tanta minúcia os mais mínimos detalhes que chega crer que ele estivera no momento para presenciar, e que ele apenas está descrevendo e não dando idéias... Hipotéticas. Realmente, professor Luce é um enigma em pessoa, sem contar nessa aura misteriosa que o emana...   

- Bem... é vergonhoso lhe responder, professor... – um sorriso torto surgiu na minha face, e dei um suspiro antes de explicar. – É que me propus a procurar alguns livros para o trabalho de Literatura. A professora Mirley falou-nos para fazermos um trabalho onde teríamos que relacionar a fase Ultrarromântica, Bayoroniana com o contexto histórico – citei, e o escutei exclamar baixo, controlado.

- Ah, recordo-me dela citar deste trabalho há dias. – fiquei atenta no que ele dissera, e por breve momento pensei em que momento a professora Mirley havia dito isso a ele, se foi por mera acaso ao se encontrarem no meio do corredor. Dá para entender, vendo que Literatura possui ligação com Poesias... Mas ao imaginar que talvez ela tenha trocado algumas palavras com professor, mesmo que tenha sido aquela conversa entre os professores...  Me incomodou um pouco.

Professor Luce fora contratado para lecionar aulas de Poesias aqui, neste Internato neste mesmíssimo ano.  Mesmo ele sendo ainda muito jovem, o talento dele é incrível, as aulas deles são espetaculares! Além deste deslumbrante dom profissional – ele encanta muitas, desde as professoras e principalmente, as alunas. Não que ele fosse daqueles homens que dão cordas sempre que são paparicados, muito pelo contrário, professor Luce nunca faz isso. Diante de uma massa exagerada de alunas, por exemplo, pedindo ajuda a ele para interpretar as poesias – uma desculpa mixuruca somente para poder ficar perto dele – ele apenas responde o que elas perguntavam, e se elas jogam indiretas descaradamente, ele apenas comenta de volta como se não estivesse os escutado. Eu ficava aliviada e não minto, com uma pequena vontade de rir ao ver o rosto insatisfeito daquelas meninas. Estou ciente que ele não dará atenção diferente a elas, mas por que será, não consigo entender o porquê do meu peito doer e sentir esse fervor incômodo sempre que vejo cena como aquelas...

 - Mas, minha aluna, ela não solicitou este trabalho na semana passada? – o comentário dele me assustou, e foi como uma adaga a empalar no meu peito.

- Eh... – desviei discretamente o olhar para as prateleiras, tentando guardar o próximo livro -... Sim. Foi sim, professor... – depois da minha humilde tentativa de enrolar, por fim disse. – Tentei fazer o trabalho no mesmo dia que ela pedira, mas não consegui ter muito avanço pela falta de detalhes nos livros didáticos, então deixei para o próximo dia. Mas nos próximos dias não consegui arranjar tempo, pois outros professores decidiram fazer um trabalho extra, ou exercícios valendo pontos para as próximas aulas... Só consegui arrumar um tempo hoje, mas mesmo assim depois de duas horas tentando achar um livro decente aqui na Biblioteca, acabei me revoltando, então para relaxar decidi ler algumas poesias...

- E... Acabaste esquecendo a noção do horário, e não conseguira também achar os livros para a sua pesquisa – o meu rosto ardeu de vergonha mais uma vez.

-... Então aqui estou eu, professor – falei com humor, mas me queimando de constrangimento. Aparentemente esse meu comentário funcionou, pois o fez rir baixo. Hoje é para marcar, eu nunca passei tanta vergonha na frente dele deste o início do ano letivo como hoje, como eu posso passar dois vexames tão constrangedores como esses?

- Por que não pediste ajuda as suas amigas? – o escutei perguntar gentilmente assim que guardei o livro, só faltava mais um. E quando dei uma olhada ele já aparentava ter guardado os restantes há tempos, e estava encostando suavemente na prateleira, fitando-me.

- Elas estavam tão ocupadas também com os outros trabalhos que nem tive coragem para pedir a elas, professor, eu achei inconveniente atrapalhá-las... E para complementar História não é meu forte, pior ainda a Literatura... – um suspiro acabou escapando ao lembrar da minha incapacidade ridícula nessas matérias. História até dá para escapar, mas Literatura... sou uma perdição, abominação. Eu me encanto com as poesias, principalmente as barrocas, parnasianas e românticas de preferência as Bayronianas, mas a questão é interpretação minuciosa, esse é o motivo. Em comparação com as interpretações maravilhosas e estupendas das minhas amigas, o que será a minha? Uma de baixo escalão? Uma coisíssima de nada??

- Que situação mais complicada, minha aluna – ainda sentia o olhar dele sob mim, era tão nítido e intenso que era difícil de disfarçar que não o percebia.

- Pois não, professor... – acabei soltando um leve riso, tanto soou como ironia e nervosismo. Não, estava difícil mesmo de disfarçar que não estava sendo afetada por esse olhar. Tentei respirar profundamente, e tentava muito mais concentrar em guardar o último livro, olhava cada prateleira um pouco agitada, analisava com cuidado de cima até em baixo. Oh...! Por favor, eu quero guardá-lo logo...! – Ah... achei. – o meu pensamento acabou falando alto quando finalmente achei o lugar deste livrozinho... Mas que azar, por que você tinha que ser exatamente aquela que eu peguei com a ajuda da escada? E só por curiosidade: onde foste parar, escada...!? – Que seja – murmurei para mim mesma antes de começar a tentar guardá-lo mesmo assim, talvez eu conseguiria, afinal de contas tenho uma altura considerável.

Mas não, não obtive sucesso. Funguei irritada, e desta vez tentei me esticar o quanto que conseguia. Respirei e segurei a minha respiração, estava já comprimindo tanto que já estava sentindo certa dormência nas minhas pernas. O que eu temia era do livro escapar da minha mão e caísse direto na minha cabeça, isso seria ridículo demais! Temendo, me esforcei um pouco mais, mas a esse ponto já estava nas pontas dos pés.

- Ugh... Quase... lá... – falei entre pausas rápidas de respiração quando finalmente pude alcançar a ponta da prateleira, eu estava muito concentrada.

Tão concentrada que mal percebi na aproximação repentina do professor.

Do nada eu vi aquele braço surgindo logo atrás de mim, se guiando diretamente para a minha frente.  Subitamente me espantei e tentei virar para trás, mas antes disso colidi-me com algo macio, mas sólido também, era quente... muito quente. No momento eu estava tão norteada que eu nem consegui perceber que eu havia me deparado exatamente no peitoral do professor, que ele estava a centímetros atrás de mim. Tão próximo que pude sentir alguns dos fios dourados dele se roçarem no meu ombro, a ponto de conseguir sentir aquele aroma único embrulhando-me.

Senti o meu coração acelerar aos poucos. Acelerava, acelerava, acelerava e acelerava - não conseguia achar um meio para acalmá-lo, ele estava perdendo o controle. Não estava conseguindo encontrar nenhuma saída, e só tendia a me desesperar a cada segundo, apenas tentava pensar em algo enquanto que eu contemplava para onde a mão dele se guiava.

Lentamente, sem nenhuma pressa a mão dele foi se aproximando e tocou com suavidade a minha mão. Senti um batimento forte, tão forte que paralisou a minha respiração, mas os batimentos não pararam, não, voltaram muito mais rápido do que antes. Lutava para tentar voltar a respirar, e quando consegui, lutava ainda mais para manter a respiração curta. A mão do professor... o corpo dele era incrivelmente quente, tão quente quanto a minha, por isso depois de alguns segundos eu mal estava conseguindo distinguir de quem que era o calor que percorria pelo meu corpo.

Meu Deus... Se continuar assim vou desmaiar...!

O meu coração estava indo as loucuras quando a mão dele se erguera um pouco mais, e furtando-me facilmente o livro da minha mão frouxa, ele a guardara na prateleira. Escutei um passo a minha direita, fazendo-o se afastar novamente de mim. O ar automaticamente encheu os meus pulmões, suspirei aliviada e sentia-me muito fraca, mas os batimentos ainda estavam constantes. O calor que eu senti do corpo dele ainda flamava pela minha pele, estava ainda muito intacto tanto como o seu aroma, que parecia ter penetrado e se fixado nas minhas roupas e nos meus cabelos. Enquanto que retomava a calma, ouvi-o recuar o passo.

- Esse foi o castigo por ser muito teimosa. – ele explicou com um sorriso, e apenas consegui fitá-lo boquiaberta, pois ainda não conseguia me recuperar completamente.

Quanta crueldade, professor...! Isso quase me matou de ataque cardíaco...!

Não, mas claro que eu não iria dizer uma coisa dessas...

– E aqui... Irá ajudá-la no seu trabalho – dizendo isso entregou um livro com páginas medianas de aspecto antigo. Eu ainda me sentia muito nervosa, por isso demorei um pouco para pegá-lo, antes disso sorri torto.

- M-muitíssimo obri... – a minha voz e o meu sorriso morreram assim que por acidente os meus dedos tocaram os deles assim que fui pegar o livro. Fora como um choque, senti uma queimadura intensa no nosso contato que o livro escapou da minha mão e o deixei cair no chão com um baque intenso. – P-pe-perdoe... Perdoe-me...! – a voz saiu trêmula, e a minha garganta estava tão seca que parecia que ela saíra rasgando-a. Tentei me encurvar para poder apanhá-lo o quanto antes, mas os dedos dele, agora segurando os meus roubava toda a liberdade do meu corpo.

Mas ele nada falava, nada a esclarecer do seu ato, apenas ficou em silêncio fitando vagamente a minha mão que ele prendera. E eu, com a companhia incessante dos batimentos altos do meu coração, rezava para que ele não os escutasse.

-... Por que anseias tanto, minha aluna...? – o tom da sua voz saiu rouca de tão baixo que foi emitido, o calor dos seus dedos me queimava com voracidade e doçura ao mesmo tempo, e quando ele segurara com mais firmeza estremeci. –... A sua mão está tremendo...

Sim, não somente a minha mão, mas todo o meu corpo estava tremendo fragilmente, não conseguia controlar o meu pavor diante desta curta distância entre nós. Mesmo eu fazendo constantes monólogos mentais – Acalme-se. Respira. Para de tremer – não funcionava. Não dá, não consigo parar de tremer.

Está tudo arruinado, não tem como ele não perceber que estou encabulada diante da presença dele...! Mas o que receio é que talvez ele já percebera desde o início, e que esteja se portando assim não por descuido, mas com sã consciência e com intenção de verdade de me encabular... Não, pare. Estou começando a delirar, ele não é assim...!!

- P-profe...?

Impensadamente a minha voz o chamou, baixo e trêmula. Meu olhar estava assustado e fixo nos elegantes sapatos de couro que com os últimos movimentos, dera um passo para a minha direção. Não, dois.

- O que... – exclamei desentendida, e quando voltei a erguer a minha cabeça quase sofri um ataque, pois me deparei com a sua face, aquela face suntuosa estava muito perto da minha. Automaticamente o meu corpo recuou, deixando mais uma vez o espaço entre nós, porém na mesma hora ele preenchera, dando pequeno passo. Mais uma vez ele estava diante de mim, muito perto. – Hã...!? – a minha voz saiu atordoada, o tremor dos meus dedos pareciam terem subido até a minha garganta. Eu estava tão desnorteada que não conseguia processar direito os meus pensamentos. – P-professor Luce...!? – finalmente consegui falar, embora muito desesperada, foi quando ele dera mais passos.

Nenhuma resposta, nenhuma palavra para satisfazer a minha dúvida. Só uma coisa estava clara em minha mente – ele estava me encurralando.

Quanto mais tentava me afastar, muito mais ele chegava perto de mim. Com passos mais largos, cada vez mais lentos. O silêncio entre nós era agonizante, mas os batimentos ligeiros do meu coração eram muito mais, eles me sufocavam, não estavam me deixando respirar direito. Os meus pensamentos corriam rapidamente, tentando pensar em algo para dar o fim neste silêncio – Talvez você possa falar algo, ou rir. Talvez isso seja uma brincadeira do professor... – Não, nada disso. A sua expressão não parecia de alguém que esteja fazendo alguma travessura. Foi quando as minhas costas se colidiram em algo sólido, os meus pensamentos se calaram, empalideci só de pensar que uma daquelas enormes prateleiras de livros estava logo atrás das minhas costas.

A aproximação cautelosa do professor alimentou o meu desespero, pensei se daria tempo de me esquivar para um dos meus lados, mas não, o seu braço ergueu frontalmente até prateleira, e agora que percebo, ele já não estava segurando os meus dedos, mas minha mão em si. Não havia nenhuma saída ao meu alcance. Só me restaria a rezar.

- P-professor... L-Luce... – aquele aroma voltou a me embrulhar e a minha mão tremia com a queimação abrasante. Já mal conseguia pensar direito diante deste olhar passional, a intensidade da cor que ele possui era assombrosa, uma cor diferente, um brilho esverdeado jamais visto... único, raro. Pude-me ver refletida perfeitamente neles. Mas o meu consciente gritou mais alto, a minha presa mão erguera para o seu corpo, tentando evitar a aproximação, mas ele já estava tão perto que o espaço entre nós se tornou insignificante.

Vendo-me incapaz de reagir, o braço que ele havia colocado ante a prateleira se erguera e com um cuidado os seus dedos afastaram os meus lisos cabelos que cobriam o meu rosto avermelhado, e logo, a sua mão deslizara da minha maçã do rosto até segurar a minha face.

- Professor Luce, não... – tive que reunir uma força absurda para poder desviar o rosto, as minhas pernas estavam bambas, e os meus batimentos cardíacos pareciam que iriam estourar a minha cabeça de tão violento que pulsavam. Tentei respirar fundo para recuperar o fôlego. –... Se alguém vier... – Sim, e se alguém vier? Ninguém, em hipótese alguma poderia nos ver assim.

Mas com um único movimento ele me conchegara de volta, bem diante da sua face, os meus olhos nadavam diante do perfeito sorriso irônico.

- Shhh... – o silvo baixinho dele ecoou pela Biblioteca vazia, pude senti-lo vibrar pelo ar de tão perto que os seus lábios estavam das minhas, uma onda de arrepio subiu das pontas dos meus pés até as extremidades da minha mão, fazendo-me tremer.  E mais uma vez ele falara, com uma certeza quase soberba, bem baixinho. – Ninguém irá vir, acredite... Minha querida aluna.

O calor dos nossos lábios se dissolveu em uma dulcíssima queimação, em uma única ardência. O silêncio absoluto voltou a ocupar esta Biblioteca vazia, e o meu receio logo se transformou em uma entrega a doce tentação, drenei todos os meus pensamentos, pois eu acreditei nas palavras dele.

...Ninguém virá desvendar o nosso segredo, assim como o meu professor de poesia acabara de dizer.

The end.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fin.

Espero que ter deixado as leitoras com vistas cansadas. Perdoe-me mais uma vez pelo One-shot extenso...!
Mas espero que tenham agradado, ou apreciado.

Our Secret, é "nosso segredo", em inglês.

Muitíssimo obrigada por terem lido até o final.

Merci e C'est la fête!