- Bom dia! – Sophia estava deitada do lado de Tomo, na sua cama. Tinham dormido juntos pela segunda vez e fora incrível para ela. – Sente-se bem?

- Sim – ele falou sorrindo.

- Preparei um café da manhã para nós dois.

- Você preparou?

- Não. – Sophia riu. – Eu fui à padaria que é aqui perto e comprei essas coisas. Não é legal ficar sem comer.

- Concordo.

- Se você quiser, pode tomar um banho. Peguei umas roupas suas na sua casa com o Shannon.

- Fez tudo isso enquanto eu dormia?

- Sim.

- Que lindo, Sophia.

Ele a beijou. Tomo começava a sentir mais seguro com Sophia. Sua relação com ela fluía perfeitamente.

- Eu vou tomar um banho mesmo. Estou suado demais. – concluiu ele. – Não quer me acompanhar?

- Obrigada, mas não. Eu já tomei banho.

- Que pena! Logo saio.

Sophia andou em direção a janela do quarto e pôde vê Jared do outro lado a observando. Ela sentia que tinha algo de estranho no modo como ele a olhava. Como se a devorasse com os olhos. Não se sentia confortável olhando para ele.

- Bom dia, Sophia! – berrou Jared do outro lado.

Sophia hesitou antes de responder. Não sabia se tinha voz suficiente e nem vontade para gritar. Apenas acenou com a mão e virou as costas para ele.

Jared se sentia rejeitado por Sophia. Isso era uma nova sensação para ele. Nenhuma garota nunca havia negado nada para ele. Sempre fora o mais belo e o mais desejado.

- Não acredito que ela prefere o Tomo a mim. – berrou Jared para quem quisesse escutá-lo.

Shannon chegou ao seu quarto, assim que ouviu o desespero do irmão.

- Certa ela, Jared. Sua atitude não é normal.

- Eu me sinto atraído por ela.

- Não se sente nada! A única coisa que você quer é satisfazer o seu ego. Você não se importa com o que os outros vão sentir.

- Claro que me importo.

- Se você se importasse, teria percebido que Sophia só tem olhos para o Tomo. Ela apenas acha que você quer ser amigo dela.

- Quando ela falou isso?

Shannon parou, temendo ter falado demais.

- Fala logo, Shannon!

- Sophia teve aqui mais cedo. Veio pegar algumas roupas do Tomo e pediu que lhe dissesse que não poderá sair com você hoje, pois o Tomo a chamou para almoçar.

- Ela disse isso?

- Disse. E mais: falou que podíamos marcar uma saída de casal.

- Como assim?

- Ela com o Tomo, você com qualquer uma e eu com qualquer uma. A verdade é essa, irmão. Ela não quer nada com você, apenas amizade.

- Eu não vou aceitar isso.

- Se você continuar assim, eu vou ter que falar com o Tomo, se é que ela já não comentou. – concluiu Shannon, tentando mudar a posição do irmão. – Você conhece o Tomo e sabe como ele vai reagir se souber que está paquerando a futura namorada dele.

- Eles não vão namorar. Essa menina vai ser minha! Isso já virou questão de honra, Shannon.

- Que banho excelente, Sophia! – exclamou Tomo. – Realmente estava precisando disso. Sinto-me novo.

- Fico feliz por isso! – falou Sophia.

- É impressão minha ou Jared falou com você pela janela? – perguntou ele, desconfiado.

- Sim, ele me cumprimentou. Apenas isso.

- Apenas isso?

- Sim. Ele ontem me trouxe flores e me convidou para sair, só que eu ia me encontrar com você e disse que ia hoje, mas já desmarquei com ele.

- Você ia ter um encontro com o Jared?

- Não seria um encontro. Apenas um almoço de amigos!

- Jared não tem amizade com mulheres. Ele chamou você para sair com outras idéias na mente. Não acredite em nada que ele fala.

- Eu sempre acredito no que os outros falam, Tomo. Não consigo acreditar que as pessoas são capazes de mentir.

- Você tem que mudar esse seu conceito. As pessoas mentem para conseguir o que querem, Sophia. A vida é assim.

- Não para mim, Tomo! Não para mim! – berrou Sophia, desapontada. – Tudo o que eu conseguir foi na base da verdade. Até quando cometi meus erros, nunca deixei de contar a verdade.

- Eu admiro isso em você. Não quero que mude nunca! Apenas peço que fique com seus olhos abertos em relação ao Jared. Ele não merece sua confiança.

- Tudo bem! Eu prometo que vou ficar de olhos abertos, mas agora venha comer. Não fique de estômago vazio.

Tomo se serviu com um copo de suco de laranja, bem gelado, e comeu um pão com manteiga.

- Não quer comer nada, Sophia?

- Vou apenas tomar um suco de laranja.

Sophia pegou o outro copo e encheu com suco e bebeu todo o seu conteúdo, voltando a se silenciar.

Ela sabia que Tomo estava com a razão. Já tinha passado por diversas situações nas quais as pessoas haviam mentido para ela. Havia se machucado tanto, mas nunca deixou de duvidar do potencial das pessoas de fazer o bem.

- Desculpe-me se falei algo que não gostou, Sophia.

Sophia fora tirada do seu devaneio.

- Não se preocupe, Tomo. Eu ainda acredito que as pessoas podem fazer muita coisa. Muita coisa boa!

Tomo sorriu para ela, beijando-a em seguida.

- O que vamos fazer hoje? – perguntou ele, animado.

- Não sei ainda, mas de tarde eu tenho compromisso.

- Tem o quê?

- Eu tenho uma entrevista de emprego para fazer.

- Emprego? Você não me disse que pretendia ficar aqui.

- Tomo, eu vim morar aqui. Não estou a passeio.

- Morar aqui? Isso é complicado.

- Não é nada complicado. Eu quero viver em um lugar sossegado e aqui é assim, Tomo.

- Eu não moro aqui.

- Estamos iniciando uma relação. Você ainda vai ficar aqui durante muito tempo. Ainda não precisamos discutir isso.

- Tudo bem. Já que você prefere assim, eu respeito, mas pensei que ia apenas escrever o seu livro.

- O emprego é apenas um turno. Vou lecionar para alunos do ultimo ano, Tomo. Sou formada em Letras. Quando terminar o meu livro e publicá-lo, vou viver apenas da minha escrita.

- Será bem melhor assim. Você já começou a escrever?

- Tenho apenas uma idéia, mas preciso ter vontade para escrever.

- Escreva logo para viver em Chicago comigo!

- Não vou viver em Chicago com você, coloque isso na sua cabeça. Eu vou morar aqui o tempo que for necessário para eu me renovar.

- Bom, como você já disse não é hora de conversar sobre esse assunto. Vamos aproveitar o momento!

- Concordo! – falou Sophia, finalizando. – Acho que podemos almoçar em algum lugar que você conheça. Algum lugar bonito e romântico.

- Eu conheço um lugar maravilhoso, com uma excelente comida latina. – propôs Tomo. – Tenho certeza de que você vai adorar.

Eles terminaram de se alimentar e ficaram conversando durante toda a manhã. Apesar de terem passado três meses juntos, puderam se conhecer bem melhor nessa manhã do que antes. Falaram dos seus sonhos e das metas que gostariam de alcançar e por fim discutiram nomes para crianças, pensando em um futuro não muito distante.

Tomo já tinha trinta e três anos de idade e nenhum filho. Ele sonhava com aquele momento e apenas buscava a pessoa ideal para compartilhar aquilo com ele, porém Sophia, apesar de querer o mesmo, tinha como objetivo escrever seu primeiro livro antes de encarar a missão como mãe.

Quando viram que o horário do almoço se aproximava, Sophia resolveu se arrumar.

- Vou escolher a minha roupa, pois de lá vou direto para a entrevista de trabalho.

- Tudo bem, amor. Enquanto isso, eu vou lá na minha casa falar com os caras. Nem os visitei hoje! Vão achar que os deixei. – ele falou, rindo.

- Ok, até daqui a pouco!

- Até, Sophia.

Tomo logo estava em casa, gritando com Jared. Sentia-se traído por um dos seus melhores amigos e não sabia se conseguiria lidar com aquela situação.

- Eu pensei que tínhamos conversado sobre isso. Nós tínhamos nos entendido! Por que você foi chamar a Sophia para sair? – perguntou Tomo, colocando-o na parede.

- Quero apenas ser amigo dela, Tomo. Nada além disso!

- Se eu não te conhecesse, Jared. Você demonstrou interesse por ela, eu percebi isso. Não pode ter todas as garotas que quer. Ela gosta de mim e não de você. Eu saberia respeitar se fosse o contrário.

- Eu a conheci logo quando cheguei aqui. Foi algo a primeira vista. Senti coisas boas com ela, por isso a quero do meu lado. Ela me faz bem.

- Essa conversa sentimentalista não combina com você.

- Não combina mesmo. – Shannon tinha chegado. – Não acredite em nada que ele está dizendo, Tomo. Não passa de mentiras. Jared apenas quer dormir com a Sophia.

Ao ouvir isso, Tomo desferiu um golpe com a mão fechada no estômago de Jared.

- Você quer dormir com ela? É isso, seu idiota? Você não vai conseguir. A Sophia não é uma mulher qualquer. Ela tem princípios.

- Tomo. – chamou Shannon. – Não perca seu tempo discutindo com Jared. Ele não tem jeito. Odeia ficar em segundo plano em qualquer coisa.

- É mesmo, Shannon. – concordou Tomo. – Eu não vou brigar com você, Jared. Eu o considero meu amigo. Eu o amo como um irmão. Só não quero que me traia dessa maneira. Espero mais de alguém como você.

Jared ficou calado, apenas fuzilando Tomo com os olhos. Sentia tanto ódio que não conseguia dizer nada que definisse seu sentimento. Levantou-se e subiu as escadas, se arrastando.

- Ele não vai deixar as coisas como estão. – concluiu Tomo. – Devo ficar atento às atitudes dele. Quero que me ajude, Shannon.

- Claro que vou fazer o que é possível. Não consigo agüentar meu irmão dessa maneira. – Shannon demonstrava a sua decepção. Seu irmão mais novo agindo de maneira tão indecente. – Confesso que me sentir atraído por ela, quando a vi pela primeira vez, mas depois que soube do lance de vocês dois, caí na real.

- Entendo, meu amigo. Sophia é realmente incrível. Pena que não existe duas dela no mundo.

- Sem dúvida, pois, se houvesse, essa outra seria minha.

Os dois riram juntos e, por fim, se abraçaram.

- Eu vou ter que ir agora, Shannon. Vou almoçar com a Sophia. A levarei no “El Latino”.

- Excelente idéia, Tomo. Tenho certeza de que ela vai gostar.

- Assim eu espero. Até mais, Shannon!

Sophia estava terminando de se maquiar quando Tomo chegou ao quarto. Ele ficou a observando, admirado. Era o que ele mais gostava de olhar: a pessoa que ele amava. Sim, para o seu coração ela era a pessoa certa. Não era o tempo que ia dizer isso, era ele que já sentia que tinha encontrado.

- Tomo? – Sophia havia o enxergado através do reflexo do espelho. – Por que não me avisou que estava aqui?

- Estava olhando você e perguntando a Deus se mereço tanto.

- Você merece. – respondeu ela. – E eu mereço você.

- Sophia, eu tenho certeza de que é você a pessoa que quero para sempre. – começou Tomo. Ele sabia que devia ter essa conversa com ela, pois não poderia suportar guardar isso. – Eu acho que já somos maduros o suficiente para tomar decisões sérias em um curto período de tempo.

- Eu sei que somos, mas nós não temos que pensar no momento. Devemos compreender que estamos falando sobre o resto de nossas vidas.

- Mas...

- Sem mas, Tomo. Vamos logo almoçar, eu tenho que estar no colégio daqui a três horas