Todos os Defeitos do Homem Perfeito escrita por Yukari-chan


Capítulo 1
Silly your Romance


Notas iniciais do capítulo

Embora essa fic tenha seu romance, o foco dela mesmo é na amizade. E em como você se mete em roubadas pra tentar ajudar seu melhor amigo.

Sempre acontece comigo...

Se a formatação estiver estranha, a culpa é do Nyah! e não minha. Só pra constar.
Entretanto, não foi betado, porque a Miih é uma vagaba que me abandona rs



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“Deus sabe, o que eu quis foi te proteger

Do perigo maior que é você.”

-Ah, essas coisas são assim mesmo. Depois passa. – Kai repetiu, me entregando um lenço enquanto voltava a ler o jornal.

-Claro que não passa, Kai. Eu amava aquele homem mais que tudo nesse mundo! Ele era o amor da minha vida, eu tenho certeza de que ele era o “O” cara. Tem noção disso? – peguei o lenço, enxugando as lágrimas em meio a uma fungada.

-Ele era o homem da sua vida número 13, Ruki. – Kai falou, enquanto passava a página do jornal. – E antes que você me conteste, sim eu estava contando. Assim como estou contando que os amores da sua vinda duram, em média, incríveis três meses.

-Mas dessa vez foram 3 meses intensos, ok? – falei, voltando a choramingar.

Kai nunca me entendia. Ele nunca levava á sério. Só porque tinha um namorado vivia tripudiando da dor de ter um coração partido.

-Aham.

-Mas dessa vez, dessa vez eu aprendi a lição. – dei uma última fungada e engoli o resto de minhas lágrimas. – Guarde minhas palavras! Eu nunca, nunca, nunca mais vou amar de novo. NUNCA!

-Ok, Taka. Ok.

-x-

-Mas... Mas eu tinha certeza de que ele era o certo!

-Takanori, ele era casado.

-Mas, ele nem gosta dela! Ele me prometeu, Kai! Me prometeu que ia largar ela e me assumir, se assumir. Porque ele fez isso?

-Porque ele estava mentindo. As pessoas fazem isso, sabe?

-Ah Yu-chan, isso só acontece comigo! Nunca mais vou amar ninguém! Nunca mais!

-x-

-Como eu ia saber Kai? Como eu poderia imaginar que ele era um traficante?! – Eu tentava falar coerentemente entre as torrentes de lágrimas. – Ele sempre foi tão bom comigo!

-É, até te usava pra transportar pó nas horas vagas sem que você soubesse. Um amor de pessoa.

-Eu não tinha como saber!

-Da próxima vez vê se aprende e para de se meter em furada.

-Não, chega. – falei com a voz decidida, mesmo que embargada pelas lágrimas recém vertidas. – Nunca mais irei amar ninguém.

-x-

-EU NUNCA FUI TÃO HUMILHADO. – praticamente berrei enquanto Yutaka tapava os ouvidos.

-Na verdade, era bem óbvio...

-Porque ele não me disse que era hétero desde o princípio, ao invés de ficar me dando esperanças? – Além de magoado eu me sentia enganado.

-Ele disse, só que você...

-Ele estava me fazendo de idiota!

-Takanori! Chega! Estou cansado disso! – Kai falou, pela primeira vez tomando minha atenção para si, e me tirando de meu discurso raivoso. – Só você não percebe que é um imã pra encrenca. Até pior, você parece correr pra ela mesmo que ela fuja de você.

“Nunca vai ser feliz se só escolhe os caras obviamente errados. Você corre para o mais cheio de defeitos e decide que ele é o amor da sua vida. E assim você nunca...”

-É isso, Kai! – assenti, interrompendo-o e balançando a cabeça várias vezes. – Só vou sair com um cara de novo quando achar um homem sem defeitos. Chega de defeitos, você tem toda a razão, dessa vez irei analisar cada detalhe, cada aspecto.

-Não foi isso que eu quis dizer...

-Claro que não foi. Eu entendi que você acha que eu devo procurar um homem perfeito. E é exatamente isso que eu vou fazer!

Kai espalmou a mão na testa, balançando a cabeça e murmurando qualquer coisa. Eu com certeza havia excedido às expectativas dele.

-x-

-Ele era um bom partido. Estava interessado em você.

-Claro que não, Yutaka. – retruquei sem desviar os olhos de meu trabalho, obviamente porque achava que o assunto não era digno de toda aquela importância. – Ele tem essa péssima mania de ranger os dentes. E sempre quebra o hashi de maneira errada.

Yutaka me olhou com um olhar descrente, mas logo suspirou resignado.

-E o cara da contabilidade? – voltou a perguntar.

-Ele é desorganizado e sempre chega 10 minutos atrasado. E tem umas orelhas assimétricas.

-O do restaurante?

-Fala demais e tem o nariz grande.

-E aquele que você conheceu no bar?

-Ele é muito insuportável. Me sinto num monólogo quando estou com ele.

-Arre, tenha santa paciência. Você é um caso perdido, Takanori.

-x-

Meu nome é Matsumoto Takanori. Meus amigos me chamam de Ruki. Tenho vinte e sete anos (embora eu ainda diga que tenho vinte e cinco a grande maioria das vezes) e trabalho numa empresa de publicidade. Minha família consiste num chiuaua chamado Koron.

Gosto de cores escuras, café forte, chocolate quente, cigarros mentolados e perfumes cítricos. Sou hipocondríaco (só de vez em quando), detesto jeans em tonalidades de cinza puxando para o branco e trânsito.

Se eu não fosse publicitário, com certeza eu seria um designer. Ou arquiteto. Ou decorador. Ou músico. Sempre achei que daria um bom escritor.

Yutaka, meu melhor amigo, sempre diz que eu sou muito volúvel e até bipolar. E indeciso. E que sempre falo coisas sem nexo. Mas isso é só a visão dele, obviamente.

Mas o fato é que, acima de tudo, eu nunca consigo ter um relacionamento duradouro. Na verdade, nesses últimos tempos, não tenho relacionamento algum. Seguindo o conselho do meu melhor amigo, estou à procura do homem perfeito. Um que não vá me magoar ou ser um traficante.

Infelizmente, isso é mais difícil de encontrar do que parece. Mas depois de tantas decepções, sinceramente não sei o que é pior.

-Vai ter reunião na sala do chefe. O novo diretor de produção chega hoje. – Kai comentou enquanto almoçávamos juntos, me tirando de meus pensamentos.

Além de meu melhor amigo, Kai – segundo ele, para sua infelicidade – também era meu colega de trabalho.

-É, está marcada para ás 15:00. – comentei por alto. – Bom, pior que o antigo diretor, ele não pode ser.

-Não. E não é mesmo. Até onde eu sei, ele tem recomendações impecáveis. – Kai, seu puxa-saco. – Se formou em Sorbone, e trabalhou fora do Japão por muito tempo.

“Já dirigiu campanhas publicitárias de várias multinacionais e também é autor de livros famosos de marketing empresarial.”

Lancei ao meu amigo um olhar analítico. Ele já devia saber até mesma a cor da cueca do homem. Mas o fato não era esse. O fato é que, homens aparentemente perfeitos levantam suspeitas no meu desconfiômetro. Aposto que esse deveria ser feio, velho, metido ou rabugento. Quem sabe nem usasse perfume. Talvez tudo isso junto.

-x-

-Senhores, por favor dêem as boas-vindas ao nosso novo diretor de produção, e uma contratação de suma importância para a companhia. Takashima Kouyou-sama.

Por um minuto inteiro eu não consegui mover nem sequer um músculo, o que de certa forma foi bom, ou meu queixo teria caído. Aquilo era completamente impossível. Uma peça pregada pelo destino.

Ele não era velho, muito menos feio. Tinha cabelos de um loiro mel, e olhos de âmbar expressivos. O nariz... Por Buda, pessoas podem ter um nariz simétrico assim?! E a boca? A boca era desenhada, como num daqueles quadros de galeria. Também tinha aquelas mãos... Mãos fortes e esguias. Eu tenho essa espécie de tara por pessoas com mãos bonitas.

E o pior, ele tinha um sorriso muito gentil e sereno pra ser uma pessoa rabugenta. Pessoas rabugentas não conseguem sorrir assim.

-Olha só isso Taka, ele é perfeito. – Kai sussurrou com uma voz debochada, se contendo pra segurar o riso.

Não. Não. Eu já disse que os aparentemente perfeitos são os piores. Vai ver ele era gago. Nada contra gagos, mas a gagueira pode se encaixar em “imperfeição”. E imperfeição é o necessário para risca-lo da minha lista.

-Muito obrigada, presidente. Fiquei muito feliz com o convite para voltar a trabalhar no Japão. Espero que todos possam me ver como uma pessoa normal e não como um chefe malvado que tem pacto com o Daimaou. – ele falou com uma risada solta e gentil.

Além de não ser gago, o desgraçado tem uma voz grossa, e linda. E senso de humor. O que fazia com que ele parecesse alguém extremamente agradável logo à primeira vista. Não é possível.

-É hétero. – resmunguei de volta para Kai.

Ele não disse nada, apenas negou com a cabeça lançando um olhar demorado ao loiro e me indicando com a cabeça, para que também analisasse com mais cuidado.

-O relógio é claramente GUCCI. Sem dúvida que está calçando um Jimmy Choo. O cinto é um legítimo Prada e o ponto principal é...

-Eles combinam perfeitamente e estão de acordo com a gravata e o terno de corte italiano. Eu te odeio. – comentei soltando um gemido baixo de dor.

-x-

-Olha! Viu! Viu! Eu disse. Ele tem um filho. – apontei para o loiro que segurava um garotinho no colo. – É casado com certeza.

-Você nem sabe! Quer dizer, você segue o homem até essa escola e simplesmente deduz que ele tem uma esposa e um filho? Qual é o problema de ter um filho?

-Todos os problemas do mundo. Filhos significam esposas ou ex-esposas. E finais de semana no parque brincando com o cachorro.

-De onde você tirou o cachorro?!

-Af Yutaka, você não assiste televisão? Sempre tem um cachorro. Pais divorciados, cachorros, parques nos finais de semana.

-Então agora ele já é divorciado? Ele era casada até a penúltima vez que você abriu a boca.

-Isso é o de menos. Ex-esposas podem ser piores que esposas de qualquer forma.

-Você é impressionante. Não acredito que me fez vir até aqui e...

-Olha, olha, eles já estão indo. Vamos ver a esposa agora, aposto.

Kai suspirou, mas não disse mais nada, apenas seguiu o loiro pelo caminho até uma sorveteria próxima junto comigo.

Fiquei observando o garotinho que escolhia animado o sabor de sorvete que queria. Era muito bonito. E dessa vez nem Kai poderia negar: eles se pareciam demais. Então Kouyou tinha mesmo um defeito muito grande, com o qual eu jamais poderia lidar e....

-Kou! – me virei a tempo de ver uma moça linda entrar na sorveteria. Não linda do tipo que eu fosse querer namorar, por favor. Mas linda nos padrões que esses homens que se acham muito machos morreriam pra namorar. Entendeu?

Ela sorriu, e ele retribuiu. O engraçado é que o sorriso dela também era o mesmo dele e do garotinho.

Logo depois da moça, entrou um homem moreno e de aparência simpática. Eles se aproximavam juntos da mesa de Kouyou. Ótimo, ex-mulher metida a boazinha que casou de novo. Deve ser isso,

-Ok, quem é o casal com cara de “papai e mamãe”? E olha, a moça é a cara de Takashima-san, não dá nem mesmo pra negar. Então a acusação agora é qual? Ser um bom tio? – Kai debochou.

-Irmãos coisa nenhuma. Ela é a ex-mulher.

-Nee-san! – Kouyou retribuiu o chamado, se levantando. – Vai quer sorvete também?

Ao meu lado, Kai teve que tapar a boca com as mãos pra não explodir em gargalhadas e estragar nosso “disfarce”.

-x-

-Pode me dizer mais uma vez porque estamos seguindo ele DE NOVO?

-Porque ele não pode ser perfeito.

-É, mas em contrapartida nós dois podemos ser presos ou demitidos num piscar de olhos.

-Pare de reclamar, Yu-chan. – respondi sem dar importância. – Olha ali, ele já está entrando no restaurante. Aposto que vai encontrar a namorada.

-Ele é gay!

-Você não sabe disso.

-Ele sabe escolher sapatos e restaurantes. Claro que é.

Fiz um sinal de “que seja” para Kai, não levando isso muito a sério. Takashima estava indo para um restaurante e definitivamente se encontraria com alguém. Então eu acharia um defeito nele e poderia parar de ser paranóico.

Afinal, eu já havia escutado ele falando no celular mais cedo, ao final do expediente, que se encontraria com alguém ali. Obviamente, arrastei Kai até aqui comigo.

Deixei que ele entrasse primeiro, e fiquei esperando.

-O que a gente está fazendo?

-Esperando para entrar sem levantar suspeitas.

-Ótimo, você já está falando como um criminoso.

Ignorei o comentário, observando meu relógio e notando que o tempo era o suficiente agora.

-Vamos entrar Kai, finja que é meu acompanhante.

-Claro que não. – o moreno respondeu de maneira taxativa. – Eu tenho namorado, e mesmo que não tivesse, você se encaixa na categoria dos “3 C’s”.

-Hã?

-3 C’s. – ele repetiu. – Caro, carente e complicado.

Lancei um olhar assassino para Kai, pegando-o pelo braço para arrastá-lo até a recepção.

-Mesa para dois. – pedi com um sorriso antes que ele pudesse me xingar.

-Você paga a conta. Ou eu armo uma cena, viro as costas e vou embora. – ele resmungou pegando o cardápio depois que nos sentamos.

Eu vasculhei o lugar com os olhos à procura de Kouyou, logo, não dei muita importância aos resmungos de Yutaka.

Quando achei o loiro, ele estava sentado em uma mesa distante da nossa, sozinho. Esperando alguém, eu tinha certeza.

-Desista logo. – Kai comia os aperitivos de entrada, sem entretanto deixar de me atazanar.

-Ali! – exclamei enquanto pegava um dos cardápios e escondia meu rosto atrás dele para acompanhar com os olhos a mulher que se dirigia para a mesa de meu alvo.

E não era qualquer mulher. Não mesmo. Era uma daquelas que faziam com que as outras sentissem vergonha de dividir o mesmo ambiente. Tinha os cabelos em um loiro branco caindo em cascata até a cintura e um corpo de modelo que se equilibrava perfeitamente no salto 15 agulha escolhido por ela.

Aliás, de muito bom gosto. Assim como todo o resto do modelito. Tudo gritava a palavra: elegância. Parecia exatamente o tipo de mulher que saía com um homem que usava ternos italianos.

Ela se sentou à mesa dele, abrindo um sorriso e esticando a mão delicada para alcançar a dele sobre a mesa, apertando seus dedos em um gesto íntimo. Ele sorriu. Sorriu e segurou os dedos dela entre os seus.

-Parabéns. Agora você pode deixar o coitado em paz. – dois pratos foram servidos em nossa mesa, entretanto eu mal notei, perdido que estava em meu estado catatônico. – Vamos, chega disso. Eu já pedi por você.

“Agora coma e pare de drama. Você passou semanas esperando algo assim.

Kai estava certo. E também estava certo sobre os 3 C’s. Ou pelo menos, sobre dois deles. Eu queria tanto achar algo errado, que quando eu finalmente achei, eu já não queria mais. Porque a verdade é que eu já tinha começado a pensar que ele é lindo, inteligente, agradável, espirituoso.

-Ah Ruki, não é como se ele fosse ter alguma coisa com você de qualquer forma. – Uke Yutaka, eis meu melhor amigo, sempre me consolando.

-Vou fumar um pouco enquanto você termina de comer.

Peguei minha carteira de cigarros e saí pela porta que levava ao pequeno jardim tipicamente japonês do restaurante. Talvez seja por isso que meus relacionamentos nunca dêem certo. Nem eu mesmo sei o que eu quero.

E de qualquer forma, o abusado do Yutaka estava certo. Alguém como ele jamais sairia com alguém como eu, independente de perfeição. Aliás, eu agia como se tivesse muitas chances com Takashima Kouyou, e pensando bem, eu estava mais pra uma piada.

Até hoje, eu sempre fui o amante, o traído, o caso sem importância, o babaca da relação. Nem mesmo sei o que acho que estou fazendo atrás da perfeição.

-Olá. – uma voz soou atrás de mim, e eu quase pulei de susto.

Pela primeira vez, Takashima Kouyou estava dirigindo a voz a Matsumoto Takanori. Santo Deus, será que ele sabia que eu o estava seguindo e queria mandar me prender?

-Olá... – respondi com um fiapo miserável de voz. Típico de quem acabou de ver um fantasma.

-Hm, você está bem? – será que eu estou fazendo cara de culpado? Como é a cara de um inocente? – Ah, quer dizer, eu vi quando você entrou no restaurante. Acho que deveria cumprimentá-lo, caso não se lembre, sou Takashima Kouyou.

Ufa, então, isso queria dizer que ele não sabia, certo?

-Ah, eu, hm. O seu nome eu... Bem... Ah, Taka. Quer dizer, Takanori. Matsumoto Takanori.

-Sim, trabalhamos juntos. – ele sorriu gentilmente. – Sou diretor de produção na mesma empresa que você e seu, hm... Acompanhante trabalham.

-Sim. Eu e Kai... Mas bem, nós não... Eu e ele nós só... Porque se nós... Bem, isso seria.... Você é que... na verdade... Na verdade.... – Na verdade eu só estou aqui te seguindo e Kai é o pobre coitado do meu melhor amigo que eu sempre arrasto, e ele só fingiu ser meu acompanhante, mas ele tem aquele namorado dele que parece uma cacatua e definitivamente não sou eu. – Eu e Kai... Nós não... Porque eu teria que....

-Ah! Ser gay? Não se preocupe com isso! – ele falou, gesticulando com as mãos, percebendo a situação, ou parte dela. – Eu sou uma pessoa normal, não o Daimaou, lembra? Não vou comentar nada ou qualquer coisa do gênero.

“Além do mais, eu sei escolher minhas gravatas.”

Pisquei umas três vezes. Ele estava deliberadamente me dizendo que era gay, é isso mesmo?

-Eh?! Você?!

-Ah, não percebeu? Geralmente as pessoas notam pelos sapatos.

-Não. Quer dizer, os sapatos sim... Mas a loira e... Não que eu estivesse notando. Quer dizer eu notei sim porque... Porque eu vi que era você e tudo. E quer dizer... Todo mundo na empresa te conhece.

-Ah é? Conhece? – ele riu. – Ah, a loira de agora à pouco? Akemi-chan? Você quer dizer a minha editora?

-Sua... Editora?

-É. Eu escrevo livros na área de publicidade e marketing empresarial. Já fui professor. – ele abriu um sorriso e eu quase engasguei com minha saliva (ou deveria dizer baba?). – Estou lançando um livro novo.

-Nossa. Um livro! Isso... Isso é muito bom por quê... Porque eu sei ler!

Kouyou piscou umas duas vezes como se tentasse ter certeza de que eu havia mesmo dito aquilo, de que não fora uma pegadinha de sua mente. Enquanto isso, eu me estapeava mentalmente e tinha certeza de que eu era um completo imbecil. QUE TIPO DE RESPOSTA FOI ESSA?

Pelo menos agora eu tinha certeza de que ele nunca iria me chamar pra sair. Não que isso tivesse chegado a ser uma possibilidade.

Só que, quando eu pensei que ele iria virar as costas e sumir, ele começou a rir. Em alto e bom som. E tudo que eu queria era poder evaporar.

-Quer bom... Os índices de analfabetismo no Japão são quase nulos não é mesmo? – ele falava em meio a risada. – E, nossa... Quer tentar de novo?

-Por favor. – respondi abaixando a cabeça, à essa altura meu rosto estava mais vermelho que uma maçã madura. E eu tive que esconde-lo entre as mãos.

-Estou lançando um livro novo. – ele repetiu, se recompondo dos risos.

-Nossa, parece interessante, eu gostaria muito de ler.

-Seria uma honra. – ele respondeu antes de sorrir. – Bem melhor.

-Obrigado. – retruquei completamente sem jeito. – Mas se me der licença, eu tenho que ir. Meu melhor amigo deve estar achando que eu morri.

-Melhor amigo?

-Eu nunca disse que Yutaka era meu namorado. – falei, já me encaminhando para o restaurante. – Além do mais, ele diz que eu sou problemático e caro demais pra se sair.

Kouyou riu, abaixando levemente a cabeça. E eu tive a certeza de que ele era mesmo perfeito. Esperar algo além de gentileza de um homem assim era como se jogar de cabeça de um abismo.

-Matsumoto-san. – ele chamou quando eu já passava pela porta, fazendo com que me virasse. – O lançamento, é essa sexta. No saguão do Hotel Tokyo Bay, às 20:00.

“Eu ficaria feliz se você fosse. Vou colocar seu nome na lista de convidados, então, já que você sabe ler...”

Olá abismo. Estou me jogando de cabeça e sem pára-quedas, ou sei lá o que se usa como equipamento de segurança quando se cai em um abismo.

-x-

Takashima Kouyou dorme demais. Bebe demais, e quando fica bêbado diz coisas inoportunas. Sempre deixa a televisão ligada e a toalha molhada em cima da cama. Ele não sabe cozinhar nada além de arroz grudado demais.

Sempre tira primeiro o sapato esquerdo e nunca sabe onde deixou as chaves. Faz um barulho irritante com a garganta quando está nervoso. Nunca acha o par certo de suas meias, e todas as suas plantas morrem porque ele se esquece de regá-las.

É avoado e sempre olvida datas importantes e lembra das mais banais. Não sabe escolher presentes e sempre dá os certos para as pessoas erradas. Entrega trabalhos em cima do prazo e não tem saco pra esperar o elevador.

Se ele está magoado ou triste, nunca deixa transparecer o que sente. Não pensa muito antes de falar e dificilmente se arrepende de qualquer coisa que diz, por mais inapropriada que seja. Sempre, sempre faz as coisas no ritmo dele independente do que qualquer um fale.

Não consegue negar um abraço e fica manhoso nos dias de chuva. Gosta de receber cafuné e beijos no pescoço. Adora tocar violão nas horas vagas. Recebe pelo menos 3 ligações diárias de Akemi-chan para dizer que está atrasado com seus prazos de entrega de manuscritos.

Sorri como uma criança e chora como um adulto sempre que precisa. Não gosta de dormir do lado esquerdo da cama e só toma café na sua caneca verde oliva.

Em suma, ele é perfeito para Matsumoto Takanori.


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Notas finais do capítulo

Nada contra homens que sabem combinar relógios, cintos e sapatos. Mas o único que eu conheci que sabia fazer isso com maestri, era casado e tinha um filho... Com um outro cara.

Então, sem ofenças.

Era pra ter postado ontem, que dava certinho com o aniversário do Uru, mas enfim. Saiu hoje porque eu estava com preguiça e fim.



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