Eles vão até a casa de Lorena em silencio. Ela parece abalada por ter visto Fernando depois de tanto tempo. Só agora ela conseguiu ver quem realmente ele era e se sente uma tonta por ter caído no papo dele.

Ao chegarem à porta do prédio Tales estaciona o carro e eles conversam um pouco ainda dentro do veículo.

– Você está bem? – pergunta ele.

– Estou sim. Obrigada por ter me ajudado.

– Não precisa agradecer, fiz o que tinha que fazer. – diz tirando uma mecha de cabelo do rosto de Lorena, que fica sem jeito.

– Bem, quer subir um pouco? Aí você conhece o Patrick.

– Subo sim.

Eles saem do carro e vão até o apartamento. Dessa vez Lorena não havia esquecido a chave. Ao entrarem encontram a televisão ligada, mas não havia ninguém na sala.

– Patrick, trouxe visita. – diz Lorena indo para a cozinha atrás do amigo.

– Loren, aprendeu a não esquecer a chave? – diz Patrick saindo do quarto rindo.

– Fiz uma cópia a mais, vem cá, quero te apresentar uma pessoa. – diz levando Patrick até a sala.

– Esse é o Tales, meu amigo da faculdade.

– Ah sim, o que te deu abrigo quando estive fora?

– Esse mesmo.

– Muito prazer Tales, sou o Patrick, melhor amigo da Loren.

– Eu imaginei, ela fala muito de você.

– De você também, mas não disse que você era tão... Tudo!

– Patrick, por favor! – diz Lorena sem graça enquanto Tales sorri de lado como sempre.

– O que foi Loren? A verdade tem que ser dita! Bem, agora vou dar uma saída, vou deixar vocês a sós. Tchau Tales foi um prazer imensurável te conhecer. – diz apertando a mão de Tales.

– Foi um prazer também. – diz Tales sem jeito.

– Ah sim, antes de ir preciso te mostrar uma coisa Loren, vem cá um instante, por favor.

Patrick leva Lorena ao quarto e encosta a porta.

– O que foi Patrick? O que você quer?

– Quero que você agarre aquele bofe e seja feliz!

– Patrick!

– Aí Loren pára vai! O bofe ta doido pra te dar uns pegas, ou você não percebeu?

– Não viaja, ele é só um amigo.

– Quem ta viajando aqui é você Lorena! Seu amigo sou eu. Ta na cara que esse cara quer mais que amizade. Se joga, ta esperando o que?

– Eu sou incapaz de gostar de alguém, você sabe disso.

– Não sei de nada e você muito menos. Já tentou por acaso? Depois de tudo o que você passou você se fechou num casulo e não saiu mais. Está na hora dessa borboleta mostrar as lindas cores das suas asas Loren. Tenta ser feliz, você merece.

Lorena fica pensativa. Patrick lhe dá um beijo na bochecha e sai, dizendo em seguida:

– Eu sei que aí dentro tem um coração querendo ser feliz. Faça a vontade dele.

Patrick se despede de Tales e diz que Lorena virá logo.

Ela vai até o banheiro e se olha no espelho por alguns minutos. Respira fundo e volta para a sala.

– Seu amigo é mesmo uma figura.

– É mesmo, sempre me faz rir.

– Vou querer ele sempre perto de você então. Seu sorriso é lindo, mas não sei por que você insiste em não mostrar ele pro mundo.

– Meu sorriso não tem valia nenhuma para o mundo Tales.

– Pode não ter pro mundo, mas tem pra mim.

– Porque está dizendo isso?

– Porque é verdade Lorena. Seu sorriso é lindo e me faz bem. Na verdade não só o seu sorriso, mas sua companhia, seu cheiro, seu toque mesmo sendo involuntário. Você me faz bem por inteiro e sei que sabe disso.

Lorena se levanta do sofá e vai à direção à porta da cozinha. Tales vai atrás dela.

– Não foge de mim, você sabe que não vai adiantar nada. Vai ter que me ver no trabalho, na faculdade.

– Eu não estou fugindo, só estou confusa. Porque está me dizendo essas coisas?

– Lorena, durante muito tempo eu fui um cara amargurado, frio, e jurei nunca mais gostar de ninguém pra não sofrer de novo. Eu estava conseguindo, mas isso foi até você aparecer na minha vida.

– Você está confuso, só isso.

– Não estou não, pelo contrário, estou bem convicto do que eu quero Lorena. E eu quero você.

– Tales eu não sei o que dizer...

– Não diz nada, mas me dá uma chance Lorena. – diz se aproximando mais dela.

– Não é tão fácil assim Tales eu não sou capaz de fazer alguém feliz sendo do jeito que sou.

– É capaz sim. Você já me faz feliz e sei que pode fazer muito mais, é só se dar uma oportunidade. Pra você e pra mim.

Lorena leva as mãos ao rosto sem dizer nada. Tales se aproxima dela e a trás pra mais perto de si.

– Eu sei que seu coração está machucado. Sei que você sofreu muito e hoje tem todas as razões do mundo pra não querer se envolver com ninguém. Eu era assim, mas você me mostrou que nem tudo está perdido. Você curou meu coração Lorena, deixa eu fazer o mesmo com o seu.

Lorena tira as mãos do rosto e deixa escorrer uma lágrima. Encosta a testa no peito de Tales e começa a chorar. Ela chora por algum tempo e ele a abraça mais forte, acariciando seus cabelos. Ela aos poucos se afasta e consegue encarar os olhos dele.

– São feridas demais Tales, demais.

– Eu sei, mas me deixa fechar elas pra você. Uma de cada vez.

– E se você não conseguir?

– Não posso prometer que vou conseguir, mas ao menos me deixa tentar.

Lorena fecha os olhos. Tales seca suas lágrimas e acaricia seu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.

– Posso tentar?

Lorena ainda de olhos fechados faz um sinal positivo com a cabeça, mas deixa escapar uma nova lágrima.

– Não chora. – diz secando a lágrima novamente. – Não quero que você chore por mim e nem por ninguém, no lugar do choro me dá aquele sorriso que eu gosto tanto.

Lorena sorri de olhos fechados e Tales faz o mesmo.

Ele a abraça agora pela cintura e começa a acariciar o nariz dela com o seu, fazendo em seguida o mesmo com seus lábios nos dela. As mãos de Lorena estão em seus ombros.

Suavemente Tales começa a beija - lá, sem pressa. Aos poucos sua língua vai pedindo passagem e Lorena cede apesar da vergonha que está sentindo.

Ela nunca havia sido beijada daquele jeito. Era doce, gentil, tranqüilo. Entregou-se ao beijo e deixou Tales guia - lá. Pela primeira vez em tanto tempo ela estava confiando em alguém.

Aos poucos Tales termina o beijo e a abraça, deixando sua cabeça pousada em seu peito.

– Obrigada. – diz Lorena.

– Obrigada pelo o que? Pergunta ele.

– Você me fez sentir de novo o que já nem lembrava mais que tinha. Meu coração.

– Você fez o mesmo comigo. – Diz Tales sorrindo e beijando Lorena novamente.