Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

A família de Mika...

boa leitura!!



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Ouvi a doce voz de Gabriel chamando meu nome.

- Temos que ir. – ele disse.

Eu estava enrolada nas cobertas macias e sorri quando vi sua figura atlética me olhando.

- Que é isso na sua blusa? – perguntei sentando na cama. Havia duas patas de cachorro estampadas em sua barriga.

- Nossa, até esqueci de trocar. – ele sorriu - Você precisa se apressar pra comprar umas roupas antes que as lojas fechem. Eu vou trocar essa blusa e podemos ir.

Fui ao banheiro e tomei um banho rápido. Gabriel colocou uma camisa – sempre de mangas compridas – azul e vestia jeans e tênis. Estava lindo, como sempre. Saímos da pousada e fomos no carro alugado até o centro, onde comprei algumas roupas novas e pus na mochila.

O tempo estava levemente frio e nublado, embora não chovesse. Ele estava encostado no Civic me esperando quando retornei. Gabriel olhava fixamente para um pedaço de papel.

- Posso saber o que é isso?

- É pra onde vamos. Se nos apressarmos, chegaremos por volta das onze.

- Mas ainda não me disse onde. – eu disse já ficando impaciente.

- Vamos ver Annelisse, sua tia. – ele disse simplesmente, entrando no carro no lado do motorista.

Eu entrei e sentei, ainda sem saber o que pensar. Annelisse... esse era o nome da mulher que parecia com minha mãe. Era minha tia.

- Está bem? – ele perguntou.

- Sempre. – respondi.

Ele deu a partida e fomos em silêncio pela estrada. Gabriel usava o iphone como GPS para nos guiar até o endereço no papel. Minha mente estava confusa. Eu não sentia nada, exatamente. Não estava ansiosa ou apreensiva, ou mesmo com vontade de vê-la. Era indiferente. Mas eu teria que me controlar, bolar respostas.

Depois da morte de minha mãe, eles ainda acharam que eu estava desaparecida e provavelmente só descobriram que eu não estava mais sumida quando assumi o controle dos bens dela. Mas eu nãos os procurei e, aos poucos, fui esquecendo de tudo o que era minha vida antes da transformação. Mas eu lembrava de algumas coisas agora, com Gabriel.

Eu lembrava, por exemplo, que Annelisse, minha tia, tinha filhos. Eram meus primos: duas moças e um rapaz. Bom, agora eles já deviam estar adultos, provavelmente casados e com sua própria família. Era assim que deveria ser.

Eu lembrei que as duas meninas eram quase da minha idade, mas não recordava os nomes. O rapaz era mais novo, talvez uns cinco anos. Hoje, devia ter uns vinte e cinco, por aí.

- Eu fui até a biblioteca, consegui seu endereço e conversei com a Sra. Marshall, sua ex-vizinha. Lembra dela? – Gabriel perguntou muito tempo depois que pegamos a estrada.

- Marshall... ela tinha uma filha?

- Sim, Jane.

- Jane! É, lembro que eu ajudava a garota com os trabalhos da escola... eu sempre fui meio babaca pra ajudar as pessoas com essas coisas bobas. – falei, enquanto imagens difusas de uma garotinha ruiva e sardenta me vinham à memória.

- Você não era babaca, era gentil, é diferente. – ele falou ainda olhando pra estrada.

- Que seja. – falei cruzando as pernas e os braços – Você acha que a velha vai me receber?

- Bom, Annelisse é sua tia e pelo o que percebi, era muito chegada a você e sua mãe, especialmente depois que seu pai morreu. Eu soube coisas sobre ele.

- É? – perguntei sem interesse.

- Era um bom homem. Médico. Ajudava a muitas pessoas e era muito querido. Ele faleceu em um acidente quando saia do trabalho.

Eu senti uma coisa estranha ouvindo sobre meu pai, mas disfarcei. Não queria sentir isso, queria apenas continuar sendo indiferente, queria que nada daquilo me afetasse... mas estava ficando difícil, cada vez mais.

Levou quase duas horas de viajem antes de chegarmos a uma rua organizada e antiga. A arquitetura das casas era muito semelhante e lembravam pequenos castelinhos com uma torre redonda e uma fachada grande. Gabriel estacionou em frente ao número 137. Uma casa grande e branca com um carro weekend na garagem. As luzes estavam acesas de onde parecia ser a sala e ou podia ouvir vozes sorridentes.

- Você vai querer entrar? – Gabriel perguntou me encarando.

- Só se for convidada. – eu mandei um sorrisinho irônico.

Ele sorriu e saiu do carro. Respirei fundo antes de fazer o mesmo.

Andamos lado a lado até a entrada. Havia uma sacada com luminárias que imitavam lampiões antigos. Dava um ar meio rústico que contrastava com a tinta muito branca da fachada.

Ele subiu os dois degraus até a porta de entrada. Eu o segui. A campainha soou uma vez, fazendo um ding-dong delicado.

Foi minha tia quem abriu a porta.

Eu a reconheci de imediato. Ela era mais baixa que eu, tinha as feições finas. Olhar pra ela era como olhar pra imagem mais velha da minha mãe. Eu não posso negar que mexeu comigo vê-la parada ali. Mas posso dizer que ela ficou paralisada me encarando. Era como se não acreditasse que estava acordada, olhando pra mim. Eu me senti um fantasma, não uma vampira.

- Boa noite. – a voz doce e tranquilizadoramente angelical de Gabriel soou.

A velha não respondeu, ficou me olhando sem parar.

- Oi. – eu disse normalmente.

- Mãe, quem é? – a voz feminina veio de dentro da casa.

Segundos depois, uma moça apareceu na porta, atrás de Annelisse, ainda estática. Eu só esperava que a velha não tivesse um ataque cardíaco.

- Meu Deus! Michaela? – a moça perguntou.

Era bonita e se parecia comigo um pouco. Tinha os mesmos olhos verdes, pelo menos.

- Sou eu. – respondi.

A moça se antecipou e, sorrindo, avançou pra me abraçar. Eu ía recuar, obviamente. Não estava costumada a contatos físicos dessa natureza – exceto com Gabriel. Mas no último segundo, o olhar dele me fez ficar parada. Ele me dizia claramente para deixa-la me abraçar.

E foi o que fiz. A moça me abraçou apertado e senti que começou a chorar. Estranho.

- Eu não acredito... – a voz frágil de Annelisse saiu finalmente.

A moça inconveniente me soltou.

- Minha nossa, você não mudou nada, é incrível! – a jovem falou.

- Por favor, nos desculpem chegar essa hora, tão tarde, mas é que foi difícil conseguir achar seu endereço. Sou Gabriel, amigo de Michaela.

As duas olharam para ele. Annelisse sorriu fracamente, com certeza respondendo inconscientemente ao seu magnetismo angelical nato. Os humanos se fascinavam tanto por Anjos quanto por vampiros, mas o que Gabriel despertava neles era diferente do que o que eu despertava. Ele inspirava confiança, paz. Eu induzia à atração física inevitável, ao sexo.

Percebi os olhos verdes da jovem brilhando ao encará-lo e senti um incômodo no estômago, que logo tratei de ignorar. Annelisse se voltou pra mim.

- Eu pensei que nunca mais a veria.

- Bom... mas estou aqui.

- Entrem! Vamos. – a moça falou sorridente, limpando os resquícios de lágrimas de seu rosto bonito.

- Vai Ashley, chama seu irmão.

Ashley... esse era o nome da garota. Minha prima.

Ashley correu feliz pra dentro de casa gritando por seu irmão, Fred. Annelisse deu um passo pro lado, nos deixando passar.

- Entrem.- ela disse, ainda emocionada.

Gabriel agradeceu e me olhou. Eu já tinha a permissão pra entrar na casa dela, mas ainda não sabia se queria. Ele entrou e eu o segui.

A casa era enorme e muito bem arrumada, com móveis antigos restaurados misturados a outros mais modernos. Seguimos Annelisse para uma grande e confortável sala de estar. Eu fiquei surpresa ao ver várias fotos espalhadas pelo cômodo e eu estava em várias delas.

Aproximei-me devagar dos retratos. Vi em um deles minha imagem. Eu devia ter uns onze anos e estava abraçada com mais três crianças. Uma era Ashley. Uns dois anos mais nova que eu. Os outros deviam ser seu irmão e minha outra prima.

Na foto ao lado eu estava mais velha. Vestia um casaco jeans fora de moda e jogava beijo pra câmera. Fred estava atrás me colocando chifrinhos. Peguei o próximo porta-retratos. Era uma foto da minha mãe, exatamente como eu me lembrava dela, abraçando Annelisse. Fiquei olhando pra foto e relembrando cada traço de seu rosto feliz. Era tão bonita.

Nossa, senti um aperto na garganta muito forte, mas não soltei a foto.

Gabriel estava conversando com minha tia e ouvi quando ele disse que era um amigo meu e que estava me ajudando a relembrar das coisas. Ele disse que eu tive uma espécie de trauma e não me lembrava muito bem das coisas do passado. Até que pra um Anjo, ele sabia disfarça a verdade, sem mentir. Era incrível.

Ashley reapareceu, seguida de um homem jovem e bonito de olhos pálidos. Ele parou ao me ver e eu farejei o conflito entre o seu corpo e sua mente. Ele não acreditava que era eu e estava fascinado com minha aparência. Ele se aproximou e, como a irmã, me abraçou. Mas foi rápido, ele não queria que eu percebesse sua excitação.

- Quanto tempo, Mika. – ele disse sorrindo.

Mika... nossa, eu nunca mais fui chamada assim de um jeito tão carinhoso. Alguns conhecidos vampiros me chamavam assim, mas não era carinhoso como isso tinha sido.

- É... muito tempo. – eu falei.

Sentamos todos na sala, ao redor da mesinha de centro. Gabriel conduzia a conversa, uma vez que eu e os outros estávamos meio sem saber o que fazer. Jamais pensei em viver uma situação dessas.

- Por que nunca mais apareceu, Mika? Sentimos tanto sua falta.

Ashley falou me olhando e eu vi que Fred e Annelisse também concordavam com ela. Todos esperavam minha resposta.

- Bom... eu fiquei muito abalada com... a morte de minha mãe. Não tive coragem de voltar.

Falei olhando à senhora tão parecida com a mulher que assassinei. Se eles soubessem...

- Mas... o que houve com você? Foi sequestrada? – Annelisse perguntou e senti que era a resposta que sempre quis ouvir.

- Bom, eu lembro que voltava pra casa naquela noite com o remédio. Um homem me abordou na esquina de casa e... me levou. Eu fiquei um tempo em poder dele e quando voltei, vi o que tinha acontecido. E sumi, minha vida tinha se transformado num inferno e eu... não pude voltar pra casa, não pude mais ser quem eu era.

Eu detinha a atenção de todos e Annelisse chorou.

- Mas... como estão todos? – perguntei fingindo interesse.

- Bom – foi Fred quem respondeu – Eu acabei de terminar a faculdade e estou estudando algumas propostas de emprego. Karen se casou há alguns anos e já é mãe. Ela teve gêmeos, dois meninos. Ela mora com o marido em um bairro próximo. E Ash...

- Bem, eu estou na segunda faculdade. Faço moda. – Ashley falou sobre si mesma.

Ela devia ter por volta de uns vinte e sete e Fred era mais novo. Seu eu não fosse morta-viva, teria trinta... e provavelmente uma família como Karen.

- Vocês... vão ficar conosco, não? – Fred perguntou animado – Amanhã é o aniversário dos gêmeos e vamos fazer uma festa aqui. Fazem quatro anos.

Ashley se animou e Annelisse sorriu.

- São uns anjinhos. – minha tia falou – Fico muito feliz que tenha retornado, Michaela. Karen vai ficar muito feliz.

- Vou preparar os quartos! – Ashley falou se levantando – São quartos separados, não?

Senti novamente um incômodo no estômago quando vi Ashley mandar aquele olhar pra Gabriel. Vi que ela torcia por um sim. Mas a verdade era que eu não podia ficar ali. Com eu ía explicar ficar trancada no escuro o dia todo enquanto a festa era armada aqui embaixo?

- Nós agradecemos, mas já estamos hospedados num hotel aqui perto. – Gabriel respondeu sorrindo. Ashley se decepcionou.

- Que pena. Eu ficaria tão feliz que ficassem. – Annelisse disse se levantando.

- Bem, mas você vem amanhã à noite pra festa, não? – Fred perguntou, me olhando.

- É claro. – Gabriel respondeu antes de mim. Mandei um olhar significativo pra ele.

- Ótimo. Esperamos vocês, então! – Ashley falou feliz.

Despedimo-nos e eu saí com Gabriel de volta pro carro. Na porta, Annelisse, Ashley e Fred estavam nos olhando felizes.

Senti-me agradecida quando entramos no carro e Gabriel nos levou pra longe. Achamos um hotel modesto ali perto e decidimos ficar. Joguei-me na cama enquanto ele arrumava as roupas que compramos no armário.

- Como está? – ele perguntou.

- Bem. Acho que a transformação não foi de todo o ruim pra mim, eu estaria um bagaço hoje em dia.

Gabriel não rui com minha piadinha infame. Ele se banhou e deitou na cama de solteiro - malditos quartos que nunca possuíam só uma cama de casal... Eu fiquei navegando na internet no iphone, mas minha mente relembrava as imagens dos porta-retratos. Como será que minha mãe estaria agora se eu não a tivesse matado?


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Notas finais do capítulo

preparem-se pro próximo cap! prometo fortes emoções :)

bjim