Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Gente esse cap eh POV do Ser Alado..ops, desculpe, Gabriel.

boa leitura :D



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“Senhor, Vós que sois a verdade, o caminho e a vida, peço-te que me ilumine e me guie. Se falho com minha missão é porque no mais íntimo do meu ser, onde o Senhor se encontra, eu sinto que faço o que é certo. Que a tua vontade seja feita, meu Pai. Que assim seja.”

- Eu gosto quando você fala nessa língua estranha. É bonita.

A voz de Michaela estava próxima e parecia mais firme. Eu me virei pro lado e sorri ao ver o verde lindo de seus olhos me encarando.

- É minha língua nativa, o idioma antigo.

- É sexy. – ela falou e eu sorri. Só mesmo ela pra dizer uma coisa dessas.

Eu não vou negar que me senti bem ao dormir com ela... bem, ao lado dela. Também não posso negar que foi extremamente difícil parar de beijá-la na noite anterior e que só parei porque deixei minha mão escorregar para seu ombro ferido e ela reclamou.

Depois disso eu a mantive deitada e, a pedido de Michaela, me deitei ao seu lado. Era estranho pensar que no princípio, mal conseguíamos dormir no mesmo quarto e que agora, estar ao lado dela o dia inteiro me parecia pouco. Eu não a temia mais. Minhas defesas ficavam totalmente baixas ao seu lado. E isso era estranhamente bom.

Quando acordei fiquei mais de uma hora só observando-a dormir. Suas feridas estavam muito melhor e cicatrizavam a uma velocidade impressionante. A roupa estava levemente rasgada e sua blusa manchada de sangue deixava uma boa parte da sua barriga de fora, onde eu também pude ver resquícios de hematomas. A saia era curta e justa e as botas de cano médio.

Ela era tão perfeita, mesmo estando tão debilitada. Eu me detive em seu rosto: as feições delicadas, o nariz pequeno, as sobrancelhas finas. O cabelo estava um pouco embolado e formava um halo no travesseiro. Mas eu sentia falta do tom verde que sempre me arrepiava. Estar perto dela era sempre um desafio, eu tinha que manter meu corpo controlado e me usava de muita concentração pra isso. Ela era tão linda...

Não consegui evitar lembrar da primeira vez que invadi sua casa e a vi com aqueles rapazes humanos. Lembrar daquilo me fez sentir incomodado, mas, ao mesmo tempo, eu podia reavivar cada traço de seu corpo em minha mente: o corpo curvilíneo, a cintura fina, os seios perfeitos. Ela era perfeita. Meu corpo se acendia só em lembrar dela desse jeito e de como era o gosto de sua boca, de seu beijo.

Sacudi a cabeça, tentando afastar esses pensamentos impuros, e me pus a orar. Meu Pai sempre fora meu refúgio e fortaleza e eu sabia que não iria me desamparar nesse momento. Quando terminei minha rápida oração, ela acordou.

Ri de sua observação e me levantei. Da janela eu vi a noite densa lá fora. Nós dormimos bastante, já devia estar no meio da madrugada.

- Temos que ir. Como você está? – perguntei.

- Um trapo.

- Não perguntei das roupas.

- Bom, nesse caso eu acho que posso levantar, se era isso que queria saber.

Ela levantou devagar e deu alguns passos.

- Eu estou bem. Só meu ombro esquerdo ainda dói um pouco, mas nada demais.

- Ó timo. Acha que podemos ir então?

- Bom, depois de um banho e de roupas novas, podemos ir sim. – ela respondeu.

Saímos da pensão e andamos pelas ruas secundárias. Estava muito deserto, mais que o normal para aquela hora da noite, minha sensação era que devia ser o efeito da morte de Julius.

- Bom, pra onde vamos? – ela quis saber.

- Isso depende de você. – respondi.

- De mim?

- Sim, pra onde fica sua cidade natal?

- Minha o quê?

- O lugar onde você nasceu e foi transformada.

Ela me encarou e parou de andar. Claramente não tinha gostado da idéia.

- Michaela, eu preciso descobrir mais sobre o seu passado e acho que lá é um bom ligar pra começar.

Ela sacudiu a cabeça.

- Não tem nada lá que possa te interessar, nem que possa nos ajudar. Minha mãe morreu, você lembra? Eu a matei. Não tenho família, sou apenas eu.

- E seu pai?

- Pai? Você tá brincando?

Eu a olhei sério.

- Ele... eu nem me lembro dele, Gabriel. Morreu quando eu era pequena. Foi atropelado. Minha mãe foi quem ficou comigo, sempre.

Paramos em um beco mal iluminado. Seria o lugar perfeito pra alçar voo, se eu conseguisse convencê-la, é claro.

- Você não lembra nada dele ou da sua família? Não tinha tios, primos?

Ela pareceu desconfortável e eu imaginei que não gostava de lembrar-se de sua vida antes da transformação.

- Michaela, eu sei que deve ser difícil pra você, mas é importante... por favor.

- Você não entende, Gabriel, não é que eu não me lembre porque não quero, é porque não posso! Eu não consigo me lembrar de muita coisa antes de... sabe, de antes. Eu não sei, é como uma nuvem, uma sombra que impede que eu me lembre de qualquer coisa que não seja sangue e sexo! Que merda! Para de me perturbar com essa porra!

Respirei fundo. Eu sabia que era assim. Suas lembranças mais queridas se perdem junto com a humanidade e com o passar dos anos, eles se tornam apenas animais servos do extinto. Ela estava alterada e eu sabia que precisava acalmá-la.

- Michaela, as lembranças estão em você, dentro de você, só precisa se concentrar.

Ela encostou na parede e bagunçou os cabelos daquele jeito sexy que fazia. Ajeitou as botas e cruzou os braços.

- Lamento, não posso ajudar. – ela disse simplesmente.

Eu caminhei até ela e estendi a mão. Michaela ponderou por um tempo antes de segurá-la. Eu a puxei pra mim e a abracei. Não disse nada, apenas fiquei abraçado a ela até que relaxou um pouco. Eu alisei seu cabelo macio inúmeras vezes. Ela me apertou um pouco mais e encaixou seu corpo ao meu.

- Eu sei que é difícil, mas confio em você e apesar do que pense, sei que pode se lembrar e vou ficar aqui com você até que isso aconteça.

Eu falei em seu ouvido aquilo que meu coração mandou dizer. Eu a tinha em meus braços e sentia o corpo dela absorvendo o calor do meu e queria que isso fosse o suficiente. “Eu sinto paz quando estou com você” foram as palavras dela pra mim e eu sentia que eram verdadeiras. Então, se eu podia resgatar um pouco que fosse de sua paz e humanidade, eu o faria.

- Meu pai era um bom homem. – ela começou algum tempo depois, ainda me abraçando contra si – Eu sei porque minha mãe era boa e o amava muito. Mas eu não me lembro dele, nem de como era. Eu tinha uns quatro anos quando o acidente aconteceu, eu acho. Depois disso foi só nós duas. Eu me lembro vagamente de alguns primos e de uma tia que se parecia com minha mãe... acho que era a irmã dela, não sei. Mas eu lembro que tinha muitos amigos. Na minha rua, na escola... e... quando fui pra faculdade também encontrei muita gente legal. Não consigo lembrar dos rostos, ou das vozes, mas sei que haviam pessoas

- E o que mais? – perguntei carinhando-lhe o rosto.

- Eu... não sei... é tudo confuso...

- E você se lembra por acaso, onde essa sua tia morava na época?

Ela não respondeu, me pareceu estar tentando se lembrar.

- Não... não consigo.

- OK, viu eu sabia que conseguiria.

Eu sorri satisfeito. Estava feliz por ela ter tentado e do pouco que lembrou.

- Como você faz isso? É um poder de Anjo também? – ela perguntou surpresa consigo mesma.

- Não tem poder nenhum, é que eu acredito em você, só isso.

Ela ía responder alguma coisa, mas eu senti uma presença por perto. Era um vampiro, com certeza. Ela sentiu meu corpo tenso e respondeu também.

- Temos que ir, aqui ainda é muito perigoso. – falei num sussurro.

Ela concordou e eu materializei minhas asas. Num impulso, estávamos há muitos metros do chão. Subi ainda mais, nos camuflando na escuridão do céu noturno.

- Norte. Segue pro norte. – ela disse com o corpo tenso e eu soube que era pela altura.

- Ainda não se acostumou? – perguntei sorrindo. Era interessante ver como ela tinha medo de estar no alto.

- É melhor você não me deixar cair, Anjo. – ela ameaçou, mas pude sentir que estava sorrindo.

Não respondi e continuei sorrindo, seguindo sempre ao norte.

...

A cidade dela ficava longe, levou mais de três horas pra chegarmos. Quando aterrissamos, faltava muito pouco para amanhecer. Encontramos uma pequena pousada que me parecia muito agradável. A cidade como um todo era bem aconchegante, ficava mais pro interior e não era grande.

Fizemos o registro e subimos. Michaela estava calada e eu sabia que estar naquele lugar lhe trazia lembranças. O quarto era bom e confortável e eu ouvi um “Até que enfim!” quando entramos.

- Tem até computador! Quem diria! – ela disse sorrindo, sentando-se em frente à maquina.

- Bom, eu vou descansar um pouco antes do horário do café. Depois eu vou sair pra ver se descubro alguma coisa, OK? – falei enquanto deitava na cama de solteiro perto da parede.

Eu estava um pouco cansado. Escutei de longe quando ela concordou e disse que me acordaria em poucas horas. Deixei minha mente vagar, relaxar. Eu precisaria estar bem a partir de agora porque cada minuto que passava Anariel estava mais próximo do Conselho e o meu destino cada vez mais perto de ser selado.


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Notas finais do capítulo

Gente, vcs tbm naum amam essa casalsinho??? own..

bjs