Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 13
Capítulo 13




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Eu não tive escolha. Ou eu a matava ou a deixava morrer seca. Sinceramente, eu não gostava de nenhuma das duas opções. Ainda não entendi o que me levou na tomar aquela decisão, mas estava feito.

Ela hesitou, mas eu permaneci firme. Michaela levantou a mão com dificuldade e segurou meu pulso exposto. Voltou a me encarar, achando que eu fosse mudar de idéia. De certa forma, essa atitude me surpreendeu, pois achei que fosse com tudo pra cima de mim.

Senti quando os caninos afiados perfuraram minha pele suavemente. Não senti nada além de um leve incômodo, que foi rapidamente substituído por um calor local. A boca da vampira pressionava meu pulso como seu eu fosse seu bote salva-vidas e sua mão prendia a minha. Ela fechou os olhos e eu fiz o mesmo.

A sensação era boa, aliás, muito boa. Tinha um lugar no fundo da minha mente que tinha uma explicação pra isso: a saliva deles continham diversas substâncias, anticoagulantes e estimulantes. A sensação da presa era de prazer, assim era mais fácil, não havia motivo para lutar. Por isso eles faziam esse tipo de coisa durante o ato sexual, tudo se multiplicava e o prazer era quase insano.

Eu sentia o prazer que a mordida dela me proporcionava e tudo piorava com os gemidos que ela soltava de satisfação. Não queria olhá-la, mas eu percebi que em poucos segundos o aperto dela se tornou mais forte em meu pulso e sabia que meu sangue a fortificava mais que tudo. Minha respiração acelerou, eu estava lutando contra mim mesmo. Uma parte estava desesperada, querendo interromper o processo, com medo de que ela passasse dos limites, mas a outra parte estava alucinada de prazer e essa parte era muito mais forte que a outra.

Eu fazia força pra não gemer também. Meu corpo inteiro latejava e eu queria mais, estava em chamas. Era absurdo, mas eu estava completamente entregue a ela. Mais uma vez, minha ingenuidade tinha me posto em risco. Eu tinha confiado nela uma vez e estava confiando novamente. A questão era se ela iria parar.

Mas parou. Tudo não durou mais que três minutos, mas foi como se o tempo estivesse passando lentamente. Meu corpo reclamou quando ela afastou a boca morna do pulso e eu abri os olhos, ofegante. Ela estava me encarando, os olhos verdes brilhando, a boca vermelha.

Ficamos uns instantes assim, em silêncio e o sangue em meu pulso escorria lentamente. Eu vi que ela queria mais, mas estava se controlando. Sinceramente, eu tive que resistir ao impulso de não enfiar meu próprio braço em sua boca novamente.

Então Michaela voltou a segurar meu pulso gentilmente. Ainda nos encarávamos de perto. Eu vi quando ela voltou a levar meu braço para a boca e eu soltei um gemido baixo de antecipação. Sem quebrar o contato visual, ela colocou a língua rosa pra fora e lambeu meu pulso, no lugar da ferida. O próprio ato de lamber foi incrível, sensual, gostoso. Ela o fez muito lentamente, absorvendo ainda o resto de sangue que escorria.

Meu coração acelerou e ela repetiu o gesto. Só então eu percebi o que estava fazendo, ela estava fechando as feridas que fez em mim. Quase que instantaneamente, o sangue parou de escorrer e eu vi uma camada de pele fina cobrir os furos em meus pulsos.

Ela lambeu os lábios e se jogou novamente em meu colo. Estava fraca ainda e seriamente machucada. Eu a segurava com um dos braços e percebi que ela respirava com mais facilidade.

- Temos que ir. – eu falei tentando manter a voz firme – Você... consegue ficar de pé?

- Sim. – Michaela respondeu de olhos fechados.

Esperei alguns instantes para ela se recuperar, bom, pra eu me recuperar. Levantei-a com cuidado e ela não reclamou de dor, embora eu soubesse que estava sentindo. Tínhamos que sair logo dali, pois o vampiro tinha avisado a Julius onde estávamos.

- Você acha que aguenta voar comigo?

- Sim, é só... não apertar muito o lado esquerdo.. as costelas ainda estão se recuperando.

- Bom, acho melhor não voltarmos ao hotel. De qualquer forma, eu estou com o dinheiro no bolso e a gente arruma outras roupas na próxima parada.

- OK. – ela concordou.

Abracei-a gentilmente e fiz mais pressão no lado do corpo dela que não estava quebrado, mas mesmo assim, ela reclamou um pouco quando subimos. Voamos em silêncio e dessa vez ela não me provocou, o que eu agradeci internamente porque meu corpo ainda estava excitado com o que tinha acontecido.

Voamos por uma hora, aproximadamente, e ela pediu para descer. Nós estávamos em uma parte menos urbana e o lugar cheirava a grama cortada.

Andamos pelas ruas que estavam quase que totalmente desertas. Encontramos um hotel relativamente bom. Fiz nosso registro e subimos. Deitei o corpo ferido de Michaela na cama, que era confortável. Ela estava muito melhor.

- Obrigada. – ela disse me olhando.

Eu não respondi, tratei de cortar o contato visual entre a gente, pois meu corpo estava respondendo a ela mais uma vez. Ela riu.

Coloquei uns cobertores que achei no armário sobre as janelas e voltei a encará-la.

- Pra onde estamos indo, Gabriel? – ela perguntou e eu repreendi um tremor quando ouvi meu nome através dos lábios dela.

- Vamos para a próxima província dos vampiros. É grande e perigosa, mas acredito que encontrarei ajuda por lá.

- Ajuda?

- Sim. Anariel.

- Outro Anjo? – ela reclamou – Ótimo, agora está ficando bom.

- O problema, - eu prossegui – é que é um dos domínios de Julius.

- Maravilha! – ela ironizou.

Eu dei a volta e deitei na cama de solteiro que havia no quarto. Meu corpo estava levemente fatigado e eu julguei que foi pela alimentação de Michaela. Apaguei as luzes, deixando o ambiente propício para que meu corpo relaxasse por completo... embora eu nunca ficasse totalmente relaxado com ela presente.

O silêncio foi cômodo e se quebrou algum tempo depois com a doce voz dela.

- Obrigada... pelo o que fez.

Não respondi e o silêncio se aprofundou. Eu sabia que estava acordada, podia sentir pela sua respiração.

- Você está certo. – ela disse de repente.

- Sobre o quê?

- Sobre o cheiro do chocolate me fazer relembrar o passado.

Ela voltou a uma conversa que tínhamos tido há dias. Surpreendeu-me.

- Lembra minha mãe, sabe... ela costumava fazer bolos de chocolate pra mim, quando eu era pequena.

- E... ela está viva? – perguntei finalmente, querendo saber mais sobre ela.

- Não. Morreu no dia que m transformei. Eu a matei.

Suprimi um suspiro.

- Eu sei que sou... um monstro pra você. E, sinceramente, também acho que seja um. No começo eu... senti remorso, pelo o que fiz com ela. Mas depois, tudo foi passando, sabe, amenizando... a cada ano que passava eu me tornava menos humana e aí eu percebi que era mais fácil viver assim, sem culpa.

- Nem sempre o caminho mais fácil é o correto. – eu falei.

- Pois é... por isso é que eu o escolhi. Eu sei, no fundo, que não podia me controlar. Eu nem soube o que tinha feito na verdade... só fui perceber que matei minha própria mãe muitos dias depois. Mas... o fato era que eu tinha feito.

- Quando você se transformou?

- Foi há pouco mais de dez anos. Eu... tinha dezenove, e faltavam menos de um mês pra eu completar vinte anos. Estava feliz. Naquele dia eu tinha acabado de descobrir que minhas amigas da faculdade estavam planejando uma festa surpresa...

Ela deu uma pequena pausa e eu pude sentir que estava sorrindo, relembrando o passado.

- Então minha mãe me pediu pra ir até a farmácia pra comprar um remédio, pois ela não se sentia bem do estômago. Era noite, mas ainda cedo. Eu peguei a bicicleta porque meu carro estava no conserto. Comprei o antiácido e voltei, mas nunca cheguei em casa... bom, não viva, pelo menos.

- O que aconteceu? – perguntei escondendo minha aflição Era como se eu estivesse vendo a cena toda, enquanto ela contava.

- Ele me abordou a uma esquina de casa. Veio cambaleando e eu pensei que era um mendigo doente. Parei pra ajudar. Quando ele me olhou eu... não sei, parecia que estava enfeitiçada. Era o homem mais lindo que eu já tinha visto, mais até que meu namorado, que era uma graça. O vampiro não precisou de muito para me convencer a acompanha-lo e quando percebi, estava num beco afastado com aquela figura misteriosa. Ele me seduziu completamente e começamos a nos beijar. Ele me dizia as coisas certas, da maneira certa. O toque dele era... sensacional e tinha um gosto que eu nunca tinha provado antes.

“Foi no apartamento dele que aconteceu. Estávamos transando e eu estava simplesmente alucinada com o cara. Nem percebi quando ele me mordeu. Eu só senti uma sensação maravilhosa que eu não queria que parasse. Mas parou, e quando parou eu senti falta. Então ele colocou algo em minha boca. Era o pulso dele. Eu senti o sangue explodir em minha boca e o mundo lá fora parou.”

“Ele me deixou beber bastante e depois me colocou deitada. Aí, as dores vieram. Foi uma noite terrível e eu nunca senti algo parecido, nem mesmo a surra que levei hoje. A sensação é de morrer, várias e várias vezes. Até que eu implorei pra que me matasse, pra que a queimação parasse. Ela foi diminuindo até que passou. Eu senti que estava diferente, podia sentir, ouvir e cheirar coisas que não conseguia antes. Eu estava melhorada, aprimorada.”

“Mas também tinha algo errado, eu podia sentir que fosse o que fosse, eu já não era a mesma. O vampiro me guiou para fora do apartamento e eu nem fazia idéia que já tinha se passados mais de um dia que eu estava lá dentro. Ele me levou pra casa, dizendo que tudo ía ficar bem.”

“Quando cheguei, vi que minha mãe estava ao telefone, chorando e parecia nervosa. De fora da casa eu pude ouvir a conversa dela. Ela dizia que eu havia saído pra comprar o remédio e que não tinha voltado. Ela estava se culpando por ter me pedido para sair. O vampiro me incentivou a entrar e disse que eu podia falar com minha mãe.”

“Quando ela me viu, veio até mim e me abraçou. Eu senti o calor do corpo dela e os braços frágeis, e o cheiro doce que ela emanava. Minha boca salivou e eu senti o que tinha que fazer.”

Ela se calou e eu soube que ela mordeu a mãe e a sugou até a morte. A história dela era triste, muito. Uma jovem com tantos planos, amigos, família... Tudo arrancado sem consentimento.

- Sinto muito. – eu disse.

- Não sinta. Cada um com o seu destino, não é assim, Anjo?

- Gabriel. – repreendi.

- Desculpe, Gabriel.

Outro momento de silêncio. Ambos estávamos pensando. Nunca imaginei que ela fosse se abrir tanto. Também nunca imaginei que sentiria dó de um ser como ela. Eu estava confuso, muito confuso. Ela não tinha culpa de ser o que era, mas isso não justificava as atitudes posteriores.

- De nada. – eu disse algum tempo depois e ela entendeu.


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Notas finais do capítulo

Tadinha da Mika, gente...

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