--- Charllottie... vim aqui apenas para dizer a mesma coisa que o Joe disse... -Ela estava ofegante. Entrou e sentou no sofá.

--- Bridget... -Suspirei e fechei os olhos num ar de cansaço.

--- Eu amo você, irmã. Sei que vai me matar quando descobrir que só estou falando isso agora, pois não acredito mais na minha permanência neste mundo, mas estou dizendo assim mesmo. E não iria me matar de graça. Só estou fazendo isso pelo que está pensando. -Bridget falou ofegante.

--- Se eu já estivesse visto você abrir a boca para falar muito deste jeito, outra vez em minha vida, te mataria agora. -Respondi.

  Não sabia se estava feliz por perceber sinceridade em sua voz, ou se estava muito brava por ela ter dito aquilo.

--- É, fazer o quê? Papo de irmãs gêmeas. Só elas entendem... -Sam murmurou atrás de mim.

--- Charllottie, eu já vou embora, só vim falar isso e... -Os olhos de Bridget reviraram e ela caiu ao tentar levantar-se do sofá.

--- Rápido, Sam! Me ajude a levá-la para a cama no meu quarto! -Que droga que era o meu quarto ser no andar de cima.

--- Sim! -Parecíamos até médicas.

  Sam me ajudou a carregá-la até o andar de cima e colocamo-la na cama. No meu quarto. Ela havia desmaiado. Nós não sabíamos o que fazer, então deixamos ela como estava até que acordasse. Ela não estava com febre. Só parecia... fraca. Então não era bem uma doença. Ela tinha algo a incomodar e a cansar seu corpo. Deixamo-la descansar e cobrimo-la até o pescoço.

  Quando ela acordou, eu e Sam ficamos olhando para ela pasmadas e perplexas.

--- O que você anda cheirando por ai? -Sam fez uma cara que me deu vontade de rir.

--- Não ando...-Ela parou, sem forças -cheirandonada... Só estava precisando de ar fresco. -Bridget se esforçou para falar a frase toda sem pausas. -Quero ir embora, rápido. Agora. Preciso! -Ela levantou bruscamente e colocou uma das mãos na cabeça.

  De repente, ela caminhou como se nada daquilo estivesse acontecendo.

--- Até outro futuro, Charllottie. -Ela murmurou e abriu a porta batendo-a contra a parede ao sair.

--- Ela está estranha demais, não acha, Lottie? -Sam indagou.

--- Ahn? -Falei distraída ao observar pela janela, Bridget a andar, estranhamente. -Ah... acho sim. -Olhei para Sam.

--- Será que ela está doente? -Sam indagou novamente.

--- Não. Acho que ela está com outro tipo de coisa. É como se ela estivesse lutando para coordenar seus próprios movimentos e parece que isto está deixando o seu sistema nervoso louco. -Falei olhando para o chão pensativa. Coloquei a mão no pescoço.

--- Quando você coloca esta mão ai é por que o negócio é sério, Lottie. -Sam disse.

--- É... Na verdade, nota-se que é sério. Primeiro o Joe e depois ela. Fazendo essas coisas... Estes dois estão mais estranhos ainda do que quando eu viajei... -Observei.

--- Não quero saber disto, Lottie, vamos deixar para lá. Pelo menos por enquanto. -Sam notou o meu interesse e insatisfação com os fatos.

--- Não posso... mas, como você disse, por enquanto, precisamos deixar para lá. Mas... o “deixar para lá” em minha mente, quer dizer :” Não agir”. Então, o que nos resta a fazer é, buscar.

--- Com “buscar” até parece que você quer dizer na internet... -Sam observou.

--- Sim! Não... bem... na internet seria meio vago de se dizer. Vou no site da organização. Sinto que não perguntei coisas o bastante a Peter naquele dia... -Murmurei para mim mesma.

--- Lottie! Lottie? Do que está falando? -Sam estava flutuando.

--- Você vai ver. -Comentei.

--- Ah! Eu já entrei neste site! -Sam quase gritou e eu a olhei com repressão. -Sim, Lottie, -ela baixou o tom de sua voz. -é da OSSPA, mas só as pessoas que tem senha podem entrar. Por isso não consegui. Eu fiquei impressionada com tudo o que vi lá, naqueles poucos dias, então fui ver se havia um site. Mas uma organização secreta deveria ter um site? Não é meio... exposto demais? –Sam perguntou.

--- Bem... Ninguém sabe que ela existe. Como iriam procurar algo que nem sabem que existe? Ou seja, o site existe para quem sabem que ele existe... os membros. Ou... os visitantes... Que, no caso, somos nós. Eu a xereta número um e você, a vassala da xereta número um. -Brinquei. –E acho que, se você não sabe o que é OSSPA, você nunca vai achar, porque é bem difícil achar algo com esse nome por acidente. Além do quê, quem achar por acaso, nunca iria imaginar que é de uma organização secreta, olha só o aspecto do site, rosa, dourado... Parece até uma palhaçada colorida.

--- Idiota. -Sam disse, secamente.

--- Mas... como você disse, não tenho uma senha. -Desanimei.

--- Hum... você não vai poder entrar sem senha. -Sam disse.

--- É, mas para tudo há uma jeito. Exceto para a morte. -Eu disse.

--- Não está pensando em deduzir a senha, não é Lottie? -Sam perguntou, assustada.

--- É claro que não. Passaria muito tempo aqui. Não tenho pistas. Pode ser qualquer coisa. Existem milhares de combinações com números... e não tenho sorte. E também existem milhares de coisas no mundo. Mas eu vou arrumar um jeito de entrar. -Eu disse.

--- Enquanto isso podemos assistir ao desenho? -Sam olhou para mim cheia de entusiasmo.

  Imaginei-a babando como um cachorro feroz em busca de um osso. Afastei-me dela e liguei a televisão.

--- Tudo bem... -Olhei para ela meio assustada.