Nós chegamos na Alemanha depois de quase dois dias cansativos e pensativos de viagem. Sam estava bem animada para conhecer todos os lugares possíveis. Quanto a mim, estava com muitas saudades de Peter. Ele não era mais só um motivo de gratidão para eu ir até aquele lugar. Estava com uma sensação tão boa ao saber que iria vê-lo mais cedo ou mais tarde... Queria abraçá-lo. Sentir que ele estava perto. Gostava muito dele.

  Havia me apegado a ele de um modo tão gradual e lento que nem mesmo eu sentia muito. Ficava olhando os lugares em que passávamos de carro, distraída, mas com o pensamento em como ele deveria estar depois de três meses... Os três meses chatos e pensativos que passei naquele hospital inquietante.

--- Sam, eu preciso passar em uma loja de presentes. Quero comprar algo para o Peter. Eu... Preciso chegar lá muito parecida com uma pessoa feliz. –Eu disse, letamente, lembrando de Joe.

--- Se Joseph fez mesmo tudo isso, e ainda tem coragem de mentir para você e mandar que você fique longe dele mesmo que você sofra com isso, então ele não te merece. Pare de lembrar-se dele. –Sam disse, séria, o que era uma coisa bem difícil de acontecer.

--- Eu ainda o amo. Não posso mudar isso. Infelizmente. –Disse, depois de sufocar.

--- Não consegue mudar isso agora. –Sam disse, secamente.

--- Creio que nunca poderei. –Eu disse, baixando a cabeça.

--- É claro que pode. –Sam disse. –Lottie, nada é para sempre.

--- É, vamos esperar. Eu quero isso. Mas não tenho esperanças. Ele... é parte de mim. –Eu disse, desanimada.

--- Se preencher esta parte que ele forma com outra parte, não precisará se preocupar.-Sam sorriu para mim.

--- É. –Murmurei, apenas para pôr um fim na conversa.

  Rondei por muitos lugares cheios de gente, afinal, estávamos perto do Natal e do fim do ano. Entrei em várias lojas e vários perfumes me lembravam Peter, mas eu não queria um perfume, não queria algo finito. Queria dar uma coisa para que ele se lembrasse de mim quando a visse. Queria comprar algo simples e bonito. Entrei em muitas lojas em que tinham coisas assim, mas nada era perfeito. Então, quando Sam já estava com umas mil sacolas e quase me matando para eu ir embora, eu vi algo brilhar muito num canto de uma prateleira solitária perto do caixa. Era uma corrente prateada muito linda. No pingente, havia um coração, também prateado e rodeado de pequenas pedrinhas vermelhas e brilhantes.

--- Quanto custa aquela correntinha ali, no fundo da prateleira? –Eu perguntei a uma senhora que estava no caixa.
--- Não custa. Não está a venda. –A mulher de cabelos grisalhos respondeu gentilmente.
--- Por favor! Venda esta porcaria para ela, foi a única coisa em que ela viu brilho e beleza por toda esta tarde cansativa e longa, por favor! Não pode me fazer andar mais, estou morta! –Sam suplicou, amargamente, à mulher. Antes mesmo de eu suplicar.

--- Porcaria? Como pode chamar aquilo de porcaria? Ora, eu venderia, mas não para você. –A mulher tirou o ar calmo de antes de sua voz.

--- Por favor! Não é para mim, é para ela. –Sam apontou para mim, que estava com cara de não intitulada.

--- Ei, pare de falar por mim, Sam! –Retruquei. –Senhora, por favor. É... muito lindo, foi a única coisa na qual eu vi um brilho especial. –Eu falei pausadamente.

--- Sim, eu dou para você. –A velhinha me olhou, sorrindo. –Mas não pode molhar nem fazer coisas extraordinárias com ele, pois não é muito resistente. Era... um presente do meu falecido marido. Ele me deu um pouco antes de morrer. Ele sempre me disse que, se um dia eu achasse que ia morrer logo, eu o doasse. Como não tivemos filhos... Acho que você pode cuidar bem dele. –Ela sorriu abrindo o pequeno e frágil coração de prata com pedras vermelhas. –É todo seu.

--- O... Obrigada. –Eu disse, surpresa.

--- Não precisa agradecer. Você o merece. –Ela me olhou gentilmente depois olhou de cara feia para Sam.

--- Então... Adeus. –Eu disse.

--- Cuide bem dele. –A velhinha disse, acenando ao nos ver sair da loja.

--- Sim. –Eu disse.

--- Não precisa agradecer. Você o merece.  –Sam imitou a mulher quando saímos.

--- Ah, Sam... Você foi rude com ela. –Eu disse. –Mas mesmo assim, a velha era realmente estranha. Se este colar não fosse de uma aparência tão inofensiva, eu não o teria aceitado.

--- Cale a boca, Lottie. Você não sabe de nada. –Sam andou depressa.

  Tirei o colarzinho pequeno e lindo da caixinha também frágil e sutil. Olhei-o por uns segundos. Era exatamente o que eu queria. Queria estar com Peter mesmo estando longe. Com uma foto minha e uma dele ali, estaríamos sempre juntos. Olhei para o céu e já estava ficando escuro, mas ainda havia um grande sol amarelo se escondendo atrás das casas e prédios.