A corrida pelo reinado começa (parte 2)

Narrado por Kaya Mayler

                O Coltrane era rodeado por uma densa floresta com várias clareiras espalhadas que foram descobertas por gerações de alunos ao longo dos anos e eram usadas para fazer festas clandestinas.  O “lugar de sempre” citado no email era a clareira atrás do prédio da administração, o lugar ficava vazio durante toda a noite e era fora da vista por dormitórios, por isso os alunos podiam fazer fogueira sem correr o risco de serem denunciados pela coluna de fumaça que subia em direção ao céu. Chegar ali sem ser visto era uma verdadeira aventura, por isso eu e Claire adentramos o espaço grande e aberto rindo e comemorando nossa façanha.

                “Bem vindas, meninas.” – cumprimentou um garoto alto com cara de bebê e um sério problema de acne, o coitado usava apenas uma calça social preta e uma gravata borboleta no pescoço, o peito magro e ossudo exposto enquanto se inclinava na nossa direção com uma bandeja cheia de garrafas de cerveja na mão nos oferecendo. Sem dúvidas, um calouro.

                Acenamos um não com a cabeça sorrindo simpáticas e puxei Claire na direção da fogueira.

                Fogueiras sempre me fascinaram.

                Paramos a uma distância segura dela e eu acompanhei maravilhada o trajeto da fumaça pelas copas das árvores, acima delas e logo depois em direção as nuvens, estranhei quando a Claire enlaçou minha mão com os dedos e apertou levemente, abaixei o rosto ainda sorrindo e olhei para ela que olhava para frente parecendo assustada, acompanhei seu olhar e senti minha boca se abrir em um perfeito “o”. 

                Imediatamente a nossa frente do outro lado da fogueira estava parada uma garota extremamente alta e magra, com compridos cabelos louros brancos caindo até a altura da cintura e os olhos azuis fortemente delineados faiscando devido ao reflexo das chamas.

                Levei um segundo para reconhecer Zöe e assim que o fiz recompus minha expressão, uma raiva repentina tomou conta do meu corpo ao me lembrar que provavelmente havia sido ela que me empurrou mais cedo quando saiamos do auditório.

                Senti todas as pessoas ao nosso redor silenciarem e Claire puxar minha mão gentilmente me convidando a me afastar mas me mantive firme encarando seu olhar com a mesma fúria refletida em seus olhos.

                As pessoas formaram um circulo ao nosso redor e eu vi que alguém avançava pelo lado direito, mas não me dei ao trabalho de me virar para ver quem era, até que Zöe girou os olhos parecendo entediada e cumprimentou olhando para o lado onde a pessoa estava:

                “Olá Oliver.”

                Senti um arrepio percorrer meu corpo e travei o maxilar quando as lembranças da ultima festa que fomos juntos tomou minha mente e o encarei também.

                Ele estava parado olhando para mim com a as mãos nos bolsos e sorriu assim que nossos olhos se encontraram antes de dizer:

                “Olá Kaya, Claire, Zöe.”

                “Oliver.” – cumprimentei secamente com um aceno de cabeça e uma voz calma que eu não tinha idéia de onde vinha.

                “Eu sabia que te encontraria aqui, você sempre gostou de fogueiras. A propósito, você está linda, cinza fica muito bem em você.” – disse ele para mim, ouvi Zöe resmungar algo e a olhei no momento em que ela dava as costas e saia, só então me dando conta que ambas estávamos de cinza.

Look Kaya Mayler
{http://www.polyvore.com/ltgb_kaya_mayler/set?id=32513955}

Look Zöe Hamilton
{http://www.polyvore.com/cgi/set?id=32549947&.locale=pt-br}

                “Obrigada.” – disse eu antes de também dar meia-volta puxando Claire pela mão para bem longe dali.

***

                “Oh meu Deus, aquela era mesma a Zöe?” – cochichou uma garota baixinha de cabelos encaracolados um tanto alto para a amiga.

                “Eu também mal pude acreditar. Será que ela entrou para algum tipo de seita?” – perguntou a outra com a voz anasalada ferindo meus ouvidos.

                Revirei os olhos e alcancei uma garrafa de cerveja da bandeja de um dos calouros que serviam de garçom, essa deveria ser a quarta... talvez a quinta, eu já não sabia dizer.

                Caminhei entre as árvores e achei uma outra clareira a apenas alguns metros de onde a festa acontecia, ela era infinitamente menor, mas dali era possível ver quase todo o céu acima da floresta, salpicado de estrelas.

                Me deitei na grama úmida e fiquei tentando identificar as constelações tomando pequenos goles de cerveja até que a garrafa chegou ao fim e eu estremeci ao ouvir alguém dizer:

                “Alguém aqui precisa de outra bebida?”

                Me sentei ereta e olhei para trás encontrando um lindo par de olhos verdes sorrindo em minha direção.

                “Obrigada, mas eu acho que já bebi demais.” – disse com um sorriso tímido.

                “Isso era algo que eu nunca esperava ouvir de você, senhorita Mayler.” – disse Louis divertido se aproximando.

                Ele se sentou de costas para mim e apoiou suas costas na minha, fiquei tensa por um momento, mas em seguida relaxei o corpo e apoiei a cabeça em seu ombro voltando a olhar as estrelas.

                “Não é prudente uma jovem bonita como você ficar andando por ai sozinha a essa hora, ainda mais com a quantidade exorbitante de homens alterados pelo álcool a alguns passos de distância.” – disse ele me fazendo sorrir com seu jeito de falar.

                “Eu queria fugir um pouco dos olhares, eles parecem me seguir por todo canto.” – confessei com um suspiro.

                “Você está bem, Kay?” – perguntou ele com a voz doce.

                Considerei por um momento dizer que sim, eu estava ótima, mas a mentira simplesmente se recusava a sair.

                “Não, eu não estou.”

                “Eu sinto muito pelo que aconteceu.”

                “Eu sei e lhe devo desculpas. Eu não deveria ter ficado com você.”

                “Eu beijo tão mal assim?” – perguntou ele rindo divertido e me fazendo rir também.

                “É claro que não, seu bobo. Mas eu fiquei com você pelos motivos errados, eu estava querendo machucar uma pessoa e nem me dei conta que isso não era justo com você.”

                “Não se preocupe, a sensação dos seus lábios nos meus valem qualquer dano que você tenha causado ao meu coração.”

                “Oh meu Deus! Eu fiz isso mesmo? Sério? Me desculpa, por favor.” – pedi me afastando bruscamente de suas costas o fazendo perder o equilíbrio e cair deitado na grama. - “Deus, eu só faço besteira, você se machucou?” – perguntei preocupada me inclinando em sua direção, só depois notando o quanto tínhamos ficado perigosamente perto com isso.

                “Eu estava brincando sobre meu coração partido, não se desespere.” – disse ele rindo levemente, embora sua voz estivesse mais rouca que o normal.

                “E agora? Você está bem? Machucou?” – perguntei.

                “Eu estou ótimo.” – disse ele colocando uma mexa de cabelo atrás da minha orelha – “Mas não me importaria em fingir uma dor que eu não sinto, se você quisesse dar uns beijinhos pra passar.” – completou ele aproximando seu rosto do meu.

                Já podia sentir sua respiração em meu rosto quando um barulho de galho se partindo nos chamou a atenção e nos viramos na direção do som a tempo de ver um Oliver com os olhos tomados por magoa e fúria nos encarando antes de virar as costas e sair dali.

                “Me desculpe.” – murmurei me levantando e antes de pensar, estava correndo atrás dele pela floresta chamando seu nome baixinho.

                Quando finalmente alcancei a clareira olhei ao redor o procurando e o vi encostando a Zöe em uma árvore qualquer enquanto puxava seu rosto para o dele pela nuca, abracei meu peito com ambos os braços numa tentativa falha de aplacar a dor, quando senti um braço me tomando pelo ombro e afundei a cabeça no peito de Louis me deixando ser guiada por ele para longe dali.