Ryoko havia se trancado em seu quarto, por mais que Shinichiro batesse na porta a garota não abria e nem ao menos respondia aos seus chamados.

            -Ryoko!Por favor...

            -Vai embora!

            -Mas eu só quer-

            -Eu já disse pra ir embora! – Ryoko gritou com um tom agressivo.

            Shinichiro se sentou encostando suas costas a porta do quarto da garota, sabia que se perguntasse ao diretor poderia saber o porquê daquela reação mas queria ouvir a historia vindo dos lábios de Ryoko.

            -Mesmo que você queira que eu vá, eu não vou te abandonar... você já fez muita coisa por mim nessa escola, pelo menos... me deixe te ajudar ao menos uma vez.

            O silencio dominou o dormitório, o garoto percebeu um leve som de passos se dirigindo a porta que então se encostou na mesma.

            -Me diga... – a voz de Ryoko estava um pouco rouca – e se o problema fosse algo que você não pudesse resolver, algo que você não pudesse mudar.

            -Eu tentaria de qualquer forma.

            -Já devia prever uma resposta dessa vindo de você, mas o problema na verdade é você.

            -Ãn? – Shinichiro virou seu rosto em direção a porta.

            -Você... depois que eu vi o que você realmente era...

            -Um Ryujin...

            -Sim.Isso me fez mal, me fez lembrar de tudo...

            -Tudo?

            -Talvez você não saiba mas eu sou órfã.

            -Ãn?

            -Todos que eu podia chamar de “família” morreram, bem na minha frente.Posso não me lembrar claramente afinal eu tinha apenas quatro anos na época, mas eu me lembro das chamas consumindo cada um deles, cada pessoa que morava na vila em que eu vivia...

            -Não me diga que foi-

            -Um Ryujin.Todos os Ryujins que servem o rei, todos eles são iguais!Não passam de um bando de opressores que se gabam pelo poder que foram dados a eles!

            -Mas eu não sou-

            -Foi como a Sayuri disse, quando se obtém poder muitos perdem sua postura e começam a ficar embriagados pelo poder.Não que eu duvide que isso possa acontecer com você mas... eu tenho medo, medo de que tudo aquilo aconteça de novo.

            -Só preciso ter certeza de uma coisa, mas quero dizer isso olhando nos seus olhos.

            -Diga logo...

            -Não enquanto você não abrir a porta.

            Ryoko ficou parada no mesmo lugar por alguns instantes até criar coragem e se erguer, colocou a chave na fechadura e a rodou, Shinichiro abriu a porta dando de cara com a garota que tinha suas roupa toda amassada e seu rosto um pouco úmido.

            -Diga logo o que você quer dizer. – virou seu rosto de lado.

            -Muito bem. – o garoto colocou suas mãos no queixo de Ryoko fazendo-a olhar diretamente para ele – Você confia em mim?

            Ryoko fitou o garoto sem conseguir falar nada, seus olhos demonstravam determinação e ao mesmo tempo gentileza, não sabia o que responder.

            -Confia? – repetiu a pergunta com um sorriso.

            -Talvez... eu confie em você, mas tenho medo que aquilo ocorra novamente, eu...

            Antes que Ryoko pudesse terminar de falar, Shinichiro puxou-a em sua direção e a abraçou.

            -Se você confia em mim, não me abandone que eu não quebrarei essa promessa. Não vou me tornar alguém embriagado de poder, perder minha própria sanidade e tornar-me um louco compulsivo.Se você estiver ao meu lado, mesmo que tal sentimento viesse a me preencher, eu poderei olhar para ti e me controlar, poderei me erguer mesmo que eu esteja caído no mais profundo abismo, por isso, não me rejeite.

            -S-Shinichiro... – retribuiu o abraço e começou a sorrir – Não se preocupe, não te abandonarei.

            -Acho que estou atrapalhando.

            -Ah, Suzaku! O que esta fazendo aqui?

            -Só vim explorar o local, afinal acabei de nascer.

            -Espera, mais importante que isso!Ninguém te viu não é?

            -Fique tranqüilo, eu não me daria ao luxo de permitir que alguém me veja, ainda mais tendo consciência da situação atual.

            -Então o que vocês pretendem fazer? – Ryoko havia se afastado de Shinichiro, estava agora sentada em sua cama.

            -Bem, isso vai ser complicado, afinal não vai ser nada fácil esconder um dragão de todo mundo.

            -Espera ai, como assim situação atual?

            -É mesmo, por você ser novo nisso não deve saber, todos os Ryujins que são descobertos, não importa de que região, são imediatamente pegos pelo reino e transformados em soldados de elite.

            -Se descobrirem sobre nós dois, pode ter certeza que eles virão.

            -Isso esta cada vez mais complicado.

            -Pode ter certeza que as coisas só irão piorar, pois o poder de um Ryujin é visado por todos que querem poder ou status social.

            -Então, o que sugere?

            -Eu esperava que você me desse uma sugestão, não o contrario.

            -Quanto a isso, talvez aquela sala possa servir. – Ryoko se levantou parando ao lado de Suzaku.

            -Você se refere a sala na qual fui chocado?

            -Ela mesma.Aquela sala foi criada a partir de um local e magia, talvez seja possível criar uma sala a partir do vácuo.

            -Entendo, uma sala onde pode-se ser conjurada em qualquer lugar, sem ter a necessidade de correr para algum local já transformado com magia.

            -Exatamente, o vácuo existe em qualquer lugar, basicamente o vácuo faz parte do ar, está sempre presente, qualquer lugar que formos ele existirá e eventualmente poderá ser conjurada quando e onde quisermos.

            -Mas também existem riscos. – Shinichiro parecia não entender muito sobre o que falavam, afinal não tinha muita noção sobre magia.

            -Riscos? – perguntaram ambos.

            -Bem, eu posso não saber muito sobre magia e outras coisas relacionadas a isso, mas se nós formos capazes de conjurar isso em qualquer lugar, também quer dizer que qualquer um pode ver a nossa ação não é?

            -Bem, isso é um fato, por isso devemos ter o maximo de cuidado ao conjurar a sala.

            -Não necessito dizer quem será o responsável pela conjuração da sala não é mesmo? – Suzaku fitou Shinichiro.

            -E-espera ai, eu nem ao menos sei usar magia, e quando eu as usei foi sem querer.

            -Isso é um problema sério.

            -Nem me diga, você já deve ter imaginado o problema que ele vai te dar não é mesmo, Suzaku?

            -Parem de falar mal de mim na minha frente.

            -Pelo menos não pela suas costas, enfim, você terá que aprender a usar magia o mais rápido possível.

            -Por?

            -Não é obvio?Se você demorar para aprender magia, eventualmente o Suzaku irá crescer, e onde você pensa em esconder um dragão de mais de quatro metros?

            -Q-quatro metros?!

            -É.Isso é a altura mínima de um dragão adulto, por enquanto ele é só um filhote, apesar de seu intelecto ser muito mais avançado do que de um velho sábio.

            -Apesar de eu não ter sido chocado antes, eu mantinha minha consciência dentro do ovo, pode-se dizer que sou bem mais velho que vocês dois juntos.

            -Nunca ouvi dizer sobre isso.

            -Há varias coisas que somente aqueles que são acompanhados por um dragão sabem.Quanto a isso, ainda teremos muito tempo até que lhe conte tudo sobre nós, dragões e sobre você.

            -Pelo jeito a sua vida vai começar a ficar agitada não é mesmo, Shin-kun?

            -Por que euuu??