Com uma expressão solene, Fernand caminhava pelo pátio de pedras rachadas e cobertas de sangue de um pequeno forte. Além dele, havia outro homem, com cerca de trinta anos, trajando uma bela armadura de placas.
-Fernand: Senhor, quantos morreram?
-???: Trinta e quatro homens.
-Fernand: Tudo isso? Como um único rapaz conseguiu matar tantos guerreiros? Isso é desumano.
-???: Concordo. Mas é justamente por isto ser desumano que a arma experimental não foi eliminada.

“Arma experimental. Fico surpreso que ele consiga manter a sanidade mesmo sendo chamado disso e tratado como se fosse apenas um equipamento de guerra. Apesar de que não consigo evitar a impressão de que no fundo ele realmente é insano, e que seu jeito calmo e frio é apenas uma fachada.”

Pressentindo algo ruim, Samantha instintivamente afastou-se da esfera negra que surgiu no ar, dando passos para trás. Subitamente, um filete negro saltou de seu corpo, ligando-se à esfera, e a bruxa sentiu como se sua energia fosse drenada. Porém, isso durou apenas alguns momentos, pois a esfera começava a se mover e, enquanto ela se afastava, o filamento se rompeu.
-Fernand: Samantha! O que foi aquilo?
Samantha recuperou-se do choque ao notar que seu companheiro se aproximava. Porém, ao invés de lhe responder, ela permaneceu observando a esfera negra.

Yasmin fechou os olhos, esperando a sensação desagradável que a morte traria. Porém, nada disso aconteceu, uma vez que a mão de William parou a alguns centímetros do abdômen da capitã. Um filete negro, igual ao que ligara Samantha à esfera, agora surgira entre esta última e o manipulador do vento.
-Yasmin: O que está acontecendo?
William ignorou não apenas a pergunta, como também a presença de Yasmin. Mais filetes começavam a se ligar à esfera, todos se juntando para formar uma espécie de corrente instável. Subitamente, a mão que segurava a capitã a soltou, sem forças para segurá-la. O próprio guerreiro do vento se ajoelhou, demonstrando sofrimento em seu rosto.
-Luna: Estamos salvas?
A esfera negra encolheu rapidamente até sumir, sem deixar sinal. William, ofegante, estava de volta ao normal, tentando se levantar.
-Comandante: É o fim da linha! Desista!
Vários soldados, que haviam cruzado o lago em botes, agora se juntavam ao redor de Luna e Yasmin, ameaçando William. Enfraquecido, o rapaz apenas olhava, pensando no que poderia fazer.
-Yasmin: Se possível não o matem. Eu quero interrogá-lo.
Um súbito e violento tremor de terra desestabilizou os soldados. Aproveitando-se disso, Fernand agarrou seu aliado e correu para longe, levando-o consigo e fugindo juntamente com Samantha. Alguns guerreiros se moveram para persegui-los, mas o comandante os desencorajou.
-Comandante: Não os persigam, lembrem que eles são manipuladores de elementos. Rápido, me ajudem a levar a Capitã Pyrath e suas aliadas para os botes.

Mais tarde, naquela mesma noite, Fernand e Samantha olhavam para uma pequena fogueira, enquanto William dormia.
-Fernand: Afinal de contas, o que era aquela esfera?
-Samantha: Uma armadilha colocada no pilar. Pelo que entendi, ela era atraída por fontes de poder para absorver energia. Uma pessoa normal provavelmente morreria após ter tanta energia roubada. Estou surpresa que William tenha se mantido consciente depois de tudo aquilo.
-Fernand: Eu não entendo uma coisa. Por que alguns pilares possuem armadilhas e outros não?
-Samantha: Acredito que seja porque eles foram erguidos às pressas e por pessoas diferentes. Por isso as medidas de segurança variam tanto de um para o outro.
Depois de um minuto de silêncio, a bruxa voltou a tomar a palavra.
-Samantha: Não acha que está na hora de contar o que era aquilo? O que William é.
-Fernand: Eu preferi acreditar que isso não aconteceria, por isso omiti. Mas acho que é melhor que você saiba de toda a verdade. Eu vou lhe contar do princípio, mas entenda que não sei tudo.
-Samantha: Tudo bem.
-Fernand: Pelo que sei, William nasceu numa vila pacata. Ele morava numa casa no topo de um pequeno morro. Certo dia, os camponeses notaram que o lugar estava em chamas e que apenas William, na época uma criança, estava vivo.
O guerreiro da terra esforçava-se para lembrar os detalhes.
-Fernand: A princípio pensaram que ele havia incendiado a própria casa, mas logo foi descoberto que a casa, assim como os pais dele, haviam sido destruídos de uma forma que seria impossível para uma criança comum. As pessoas mais informadas logo concluíram que ele se tratava de um manipulador.
-Samantha: E o que fizeram a respeito?
-Fernand: Como você sabe, manipuladores são raros. Portanto, as autoridades decidiram que William deveria ser enviado para a base de uma equipe especial com o objetivo de projetar e criar armas de guerra para avaliar o potencial bélico do menino.
-Samantha: Eles enviaram uma criança para ser avaliada como arma?
-Fernand: Exatamente. Os primeiros testes se provaram infrutíferos, pois embora William realmente fosse um manipulador, seu poder era muito pequeno. Nem ao menos chegava perto do que se esperava dele. Porém...
-Samantha: Porém?
-Fernand: Com o passar do tempo, os testes se tornaram mais árduos, até que finalmente descobriram o poder oculto de William, ao custo das vidas de quase todos os membros da equipe. Quando exposto a instabilidade emocional, em especial momentos de grande ira ou angústia, o poder oculto dele vem à tona.
-Samantha: Então ele age de forma descontrolada e violenta devido às emoções instáveis.
-Fernand: Acredito que seja o caso. O grande poder que ele esconde, combinado com a falta de controle durante os momentos em que manifesta todo o poder, torna William uma arma extremamente perigosa.
-Samantha: E mesmo assim optaram por utilizá-lo?
-Fernand: Exatamente. A demonstração de poder que William deu apenas serviu para aumentar o ânimo dos que sobreviveram. Ele passou a ser chamado de arma experimental e esta batalha, em que nosso objetivo é derrubar todos os pilares, é o teste final para definir se tal arma é um sucesso ou um fracasso.