Estando naquela colina tomada pela penumbra da noite, uma jovem garota sentiu o vento tocar delicadamente suas faces. Com seu peito cheio de dor e angústia, ela abaixou-se para abraçar seus próprios joelhos. A relva estava levemente agitada e farfalhava quase uniformemente, fazendo com que um som agradável permanecesse no ar. Tudo ao redor parecia estranhamente pacífico e melancólico. A única coisa que contrastava com aquela atmosfera era a moça e uma lápide de pedra tosca.

“Tirarei meus sapatos e caminharei descalço quando quiser...”

Os delicados pés, agora sujos por conta da longa caminhada, pareciam acomodar-se perfeitamente na grama. A garota aconchegou-se ao redor do monumento e secou as lágrimas que insistiam em cair. Apertou a si mesma ainda mais e baixou a cabeça, podendo quase sentir o perfume exótico que seu vestido exalava. Com toda aquela calmaria, naquela terra tão sagrada, ela deveria sentir-se em paz... Mas o desespero tomava conta de seu coração.

Tudo por conta da lápide.

“Assuma seu orgulho e o eleve para as alturas. Eu vim dizer adeus.”

Adeus. Já estava na hora de pronunciar aquelas palavras tão dolorosas? Não, ela não queria. Não poderia ser verdade. Seus braços fraquejaram no abraço solitário e a pequena ergueu os olhos para encarar a o monumento de pedra. Não havia nada gravado nele, apenas os riscos inúteis e desgastados próprios do mineral. Parecia extremamente doloroso encarar aquele santuário improvisado. Depois de todas as guerras terem terminado, o único lugar em que a relva não estava manchada pelo vermelho vivo do sangue dos soldados era a colina em que agora se encontrava. O único lugar que poderia haver algum descanso para ele, que agora dormia, e para ela, que sofria pela perda.

Suas mãos frias tocaram a falha que havia no meio da relva assimétrica. Era ali onde havia cavado há poucas horas atrás. Enterrou seu passado, sua felicidade, suas mágoas... Havia enterrado o único ser humano que havia sido sincero com ela. A única coisa que restou era apenas aquela terra irregular e a pedra em que agora se encostava.

“Irei me fortalecer onde nascem as montanhas.”

Sabia que deveria descer e deixar o lugar que tanto lhe trazia lembranças. Sabia que deveria deixar tudo aquilo para trás, seguir em frente, fortalecer-se em outro lugar. Era isso o que faria. Sorriu pela última vez para a lápide que estava a sua frente, passando os dedos ao redor da pedra bruta, como se estivesse acariciando.

“Estando parado aí em frente a ti, eu quero ser honesto, eu quero ser verdadeiro.”

Não era um adeus. Quem sabe um “até breve”? Sim, era isso. Talvez a certeza de que logo tudo iria voltar a ser como antes, consolava a mente enfraquecida da moça de pés descalços. Levantou-se com leveza e caminhou até a beirada da colina. O vento a impulsionava, as aves clamavam para que voasse com elas, o azul parecia infinito e límpido... Até que seus pés deixaram a relva e o chão tornou-se distante. Ela voou para longe daquele santuário, deixando para trás toda a dor e angústia que outrora havia sentido. Agora só havia o céu e suas asas imaginárias que não conseguiam sustentá-la. Já não mais subia, mas a sensação de voo ainda permanecia. Caindo, caindo em direção à terra sagrada.

Depois disso apenas o mais doce e esperado silêncio.

FIM.