Doces Sonhos escrita por Bella_Hofs


Capítulo 3
Três.


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pela paciência . Queria agradecer à garotaerrada,Giulia_Carvalho, IsabelNery e londonpirate, as minhas dedicadas leitoras premium . Obrigada por todos os reviews e apoio à fic , contem sempre .

Aproveitem e boa leitura ;*



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Voltar pra casa num estado de euforia foi o máximo. Eu sorri o tempo todo, as pessoas me encarando como se eu estivesse realmente ficado louca. Era diferente sorrir. Era muito legal sentir as bochechas doerem de felicidade. Tecnicamente eu já sorrira muito, mas foi num passado muito sombrio e estranho, que eu mantive fechado para o bem da minha sanidade. Já eram quase duas horas, então eu aproveitei para tomar um banho e me arrumar. Tá. Abri o armário e vi uma meia dúzia de calças e moletons. Imediatamente meu senso crítico censurou todas aquelas roupas baratas de marca ruim e velhas. Na minha cabeça veio só um lembrete: as malas, Evy. As malas. Eu já ia abrir a grande mala quando eu pisquei com força e tirei uma camisa xadrez e um par de calças e fechei o armário. Respirei fundo, vesti a roupa que tinha pegado e separei um material de álgebra. Tudo pronto então, eu fui checar com a minha mãe se estava tudo bem em trazer um garoto aqui em casa.

Eu já devia esperar a reação dela. Foi por pouco que ela não ligou para um exorcista ou coisa assim, por que ela me deu o maior sermão da minha vida, falando que garotos machucam as meninas, elas ficam grávidas e são abandonadas, a vida delas é destruída e toda a mesma coisa que eu ouço á um ano e blá, blá, blá. Só que essa foi a vida dela, não minha, os erraos dela, não meus. E sabe o que dói mais? Saber que nem sempre ela foi assim. Ela costumava ser menos doente, menos preocupada, menos assutadora. Eu senti o sangue subir enquanto ela falava comigo. Olhei de relance para o relógio e notei que eram três em ponto. Ouvi uma batida tímida na porta e virei para minha mãe.

- Olha aqui, mãe. Tá ouvindo essa batida na porta? É o garoto que vem estudar álgebra comigo. Se você começar á fazer escândalo, eu prometo que saio dessa casa hoje mesmo. O papai nunca faria isso. – Eu me senti um trapo jogando sujo com ela. Poxa, ela estava doente, estranha, fanática e no fim do seu senso de certo e errado. Mas eu não ia deixar ela arruinar minha vida assim tão rápido. Saí do quarto em um movimento rápido enquanto ainda tinha decido seguir o plano, correndo até a sala, onde ele já estava sentado no sofá, pois Odette o recebera com um caloroso e simpático oi. Nunca era assim comigo, mas se esse menino pudesse fazer Odette sorrir, definitivamente ele era bom.

- Belo lugar para morar. – Ele levantou e pegou o material dele que estava junto em uma pequena pilha no meu sofá creme manchado favorito. – Então, vamos estudar aqui?

- Não. Aqui tem pouca luz, no meu quarto tem mais claridade. – Eu sorri um pouco e comecei a andar pelo corredor. A minha casa era muito estranha em alguns aspectos. O quarto da minha mãe ficava no andar de baixo, assim como a mini sala de estar, a cozinha e o banheiro. E o segundo andar era o meu quarto. Ele não era tão grande, mas valia por meia casa. Era pra ser o sótão, porém meu pai colocou uma parede de vidro na parede norte quando ele e minha mãe ainda eram casados e felizes, com o intuito de deixar alguma luz entrar, tanto espiritualmente quanto fisicamente, mas agora é onde eu consigo ver o sol nascer, deixando ele bem contemporâneo. Puxei a escada do teto no fim do corredor e o subi, abrindo o alçapão e emergindo no meu quarto. – Bem vindo ao meu canto de paz e serenidade.

- Uau. Bem mais claro. – Ele sorriu um pouco e observou a decoração. Era até bem pobre. Uma escrivaninha com um laptop moderno e prateado no canto perto das janelas, uma cama de ferro branca com flores de metais na cabeceira ao lado do alçapão, um armário de madeira clara e uma estante de acrílico de parede toda abarrotada de livros, revistas, CDs e até alguns álbuns de fotos, que por motivos pessoais e de segurança, eu mantinha escondidos dentro de um baú de tesouro de madeira, que meu avô fez para mim. Além desses móveis eu tinha um cantinho de leitura, com uma cadeira de veludo vermelho e um tapete bege, que contrastava com o chão de carvalho e as paredes creme acinzentadas. Ele sentou bem no meio do quarto, debaixo do lustre de madeira retorcida branca que um dia foi da minha mãe. Ele vestia, por incrível que pareça, xadrez e jeans.

- Você usa óculos. – Péssimo primeiro comentário. - Então, como descobriu onde eu morava? – Eu sentei ao lado dele, esparramando o material no chão. Ele sorriu pra mim e pela primeira vez eu notei que ele usava óculos. Mas não eram quaisquer óculos, era um Ray-Ban Wayfarer preto maravilhoso, que parecia realçar ainda mais os olhos verdes dele. Eu olhei para baixo, tímida.

- Fui na secretaria. Simples assim. – Ele sorriu e abriu um caderno, enquanto passava os olhos pelo o meu rosto e minhas roupas. – Já notou que estamos iguais? Praticamente um par de jarros.

- Eu... notei. – Só não fui desinibida o suficiente para comentar, completei mentalmente. Peguei um lápis e sorri. Começamos á fazer algumas contas e tudo mais, ele até que era bom em álgebra, só não se esforçava o suficiente para chegar até o fim das contas. Foi quando o tempo começou á cair sobre mim levemente e notei que do nada as coisas estavam ficando um pouco... Diferentes. Puxei acidentalmente o assunto que a anos tento evitar com as pessoas. Família. Ele disse foi transferido de Washington para poder viver com o pai, que mora aqui, e também para ajudá-lo com os negócios de família, por que pelo o que eu entendi o pai dele é dono de uma firma de contabilidade aqui na cidade. Fizemos uma pausa e eu desci para buscar alguma coisa pra comermos, tanto afim de não falar de mim, tanto para ficar com a boca cheia de mais para falar de mim e para a minha surpresa a minha espera estava um pacote gigante de Doritos com refrigerante. –Trouxe Doritos. Algum problema?

- Nenhum. Até mesmo por que eu nunca comi isso. – Ele me ajudou a pegar o refrigerante e os copos, enquanto nós dois íamos para perto da parede, em busca de um lugar para apoiar as costas. Eu duvidei que ele nunca tivesse comido Doritos, por que é impossível ter nascido nos Estados Unidos e nunca ter sequer mordido o melhor salgadinho de queijo nachos do universo inteiro. – Então, e a sua família?

- Ah, não é o melhor assunto. – Eu abri os biscoitos e ofereci um à ele, que degustou a primeira mordida como um chefe aprecia sua arte culinária. Eu devorei alguns biscoitos antes dele se dar conta que eu havia tocado num ponto um tanto constrangedor pra mim.

- Me desculpe.

- Tudo bem, eu não te culpo. A minha família é meio disfuncional, eu acho. É difícil pra mim crescer ter crescido sem meus pais juntos.

- Nem me fale. – Ele devorou outro salgadinho e bebeu um pouco de coca, enquanto olhava pra baixo, como se quisesse esconder o que estava pensando. – Minha mãe morreu quando eu tinha três anos. Fui criado pelos meus tios de Washington, meu pai estava sempre ocupado demais pra família.

- Meus pêsames. – Eu olhei pra ele afaguei seu ombro. Nem sei por que fiz isso, mas as minhas emoções falaram mais forte. Eu sabia o que era ter um pai ausente, crescer sem a mãe, ter que achar apoio em outras pessoas, por que a sua família não dá a mínima pra você. Na verdade, a única pessoa que eu confiava totalmente era a empregada, que embora mal humorada, com seu sotaque russo carregado permanente, era um doce comigo. Ela era minha única amiga. – Eu sei o que é crescer sem mãe. Assim que eu nasci, meus pais se divorciaram. Fui morar com o meu pai na França, por que minha mãe tinha ficado um tanto inconsolável e insana do dia para a noite. – Era fácil dizer isso, mas difícil de acreditar. Minha mãe é linda, só pra constar: cabelos ruivos e lisos, olhos claros e acinzentados, um metro e setenta. Tem lábios cheios e pele perolada e marfim, com as bochechas rosadas. Qualquer um que a visse ia dizer “Essa é a sua irmã?” ou “Ela é solteira ou o que?”. – Mas esse ano eu resolvi voltar a morar com ela, pra me adaptar melhor, ah, à vida.

- Então você já morou na França? – Ele sorriu e olhou pra mim. Mal notei que minha mão ainda estava no ombro dele, então tratei de tirá-la de lá, aproveitando pra colocar o cabelo atrás da orelha, meu mais recente tique nervoso. - E como é lá?

- Ensolarado, chuvoso, bonito e verde. – Eu disse, sorrindo um pouco e corando. Devorei mais alguns biscoitos e lambi os dedos. – Eu realmente adorava a França. Mas infelizmente, a vida que eu levava lá era meio... Surreal. – Falsa, pra falar a verdade.

- Do que se trata o ‘surreal’? – Ele parecia realmente interessado, mas não queria quebrar as expectativas dele assim. O tempo que passei na França, com meu pai, foi um tanto negro. Porém não se engane quando eu digo que o meu passado foi negro, por que a um ano atrás eu estaria a-do-ran-do estar em um SPA na Riviera, recebendo uma massagem na beira da praia enquanto bebia champanhe. Sim, você acabou de ler champanhe. E eu tenho dezesseis, então legalmente não tenho idade pra beber, certo? Errado. Desde que eu não embaraçasse meu pai nas festas e clubes chiques dele, eu poderia ter o porre da minha vida.

- Algo meio Gossip Girl, sei lá. Bebida demais, luxo demais, dinheiro demais. Não queria virar uma Nicole Ritchie ou uma Paris Hilton, embora esteja fadada a ser socialite, independente do que eu escolha ser quando crescer. – Admitir isso em voz alta para um garoto que você conheceu há 4 horas e que até minutos atrás nunca tinha comido doritos era loucura, mas eu precisava desabafar. Ele me encarou, perplexo e sorriu torto. Por incrível que pareça ela ficava AINDA mais bonito sorrindo torto, será que alguém pode me explicar isso? Como alguém pode ser tão, maravilhoso, perfeito, incrível assim?

- Concordo com você no quesito de que fama de mais e dinheiro demais faz mal. – Ele sorriu e tirou o meu cabelo de trás da orelha. – Mas não precisa se esconder atrás de alguém que você não é. – Confesso que quando ele tocou em mim eu achei que fosse morrer. Corei um pouco, pele branca é uma desgraça, e desviei o olhar. Mas como assim, me esconder? – Você é tão bonita, não sei por que você é tão apagada na escola, sério.

- Apagada? – Eu não compreendia. Todos sempre olhavam pra mim, compartilhavam risinhos e depois desviam o olhar. Eu era reconhecida, sim, mas não positivamente.

- Como um fantasma. Parecia que não existia nenhuma Evy Reinolds. – Ele devorou o resto do pacotinho, enquanto eu refletia o que ele me dizia. Quer dizer que eu era assim tão invisível? Sério, se ele tivesse me dito isso há um ano ou mais, eu teria colocado fogo na escola e me enterrado em bebidas. – Desculpe, sou um pouco duro com as palavras, ás vezes.

- Não, não... Tem toda razão. - Eu sou apagada e tudo mais, mas é medo de voltar para o meu alter ego francês. Tremi um pouco com esse pensamento. Minha vida era normal o suficiente para ter uma margem de erros tão grande. Eu terminei o último salgadinho e virei a latinha de coca toda, de uma vez. Ele olhou de leve para a janela e vi as cores alaranjadas do crepúsculo batiam de leve na minha janela. – Isso ainda me assombra um pouco. – Abracei os joelhos e coloquei minha cabeça sobre eles.

- Desculpe por ter tido essa conversa sobre passado familiar com você. – Ele passou um braço pelos meus ombros e me puxou para um abraço de lado. Era incrível como um menino pode ser tão carinhoso com você sem parecer um babaca total. E mais incrível ainda era como ele me fazia confortável e aberta a qualquer tipo de conversa possível. Do tipo, se eu matasse alguém e tivesse que forjar um álibi seria ele, por mais só o conheça por tipo, algumas horas.

- Nada, eu precisava disso. Sair um pouco da minha zona de conforto. Sabe qual foi a minha última conversa franca com alguém? Cinco minutos antes de você chegar, com a minha mãe. – Eu olhei para o lado, e ele sorriu, encarando um ponto distante do meu quarto. Foi quando, a própria mulher que eu chamo de mãe, emergiu do meu alçapão particular com olhos vermelhos e mãos tremendo.


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Notas finais do capítulo

Reviews e correções , por favor me digam ;*



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