Terrara: o Leviatã dos Céus escrita por Kristain


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa one-shot foi originalmente postado no meu blog!
Para os que acompanham, ótimo, a leram de ante-mão!
Mas para os que me seguem apenas no Nyah! aqui está mais uma one-shot de minha autoria!
Espero que gostem!
XD



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No litoral do Reino Kristain, a lua parecia maior do que o normal, brilhava intensamente, iluminando a noite melancólica. Do alto de um morro, um homem encapuzado observava o porto do reino, tal homem também usava um manto cobrindo todo seu corpo, entretanto nessa vestimenta havia um escudo azul estampado e dentro deste, três torres costuradas. Aquele indivíduo permaneceu imóvel por alguns minutos, só ouvindo as ondas chegarem ao litoral, até que moveu sua cabeça em direção ao horizonte, como se tivesse sentido a presença da embarcação ao longe.

De repente as lamparinas do porto começaram a ser acessas. Alguns homens ali no local acenderam uma estrutura muito semelhante a uma chaminé, atiçando o fogo dentro dela, liberando uma coluna de fumaça tão alva como a neve. A embarcação ao longe começou a vim em direção ao porto, esta não era de grande porte e não trazia nenhum passageiro, a não ser sua tripulação a qual não tinha uma expressão convidativa.

Quando o barco ancorou junto ao porto, uma entidade lá em cima do morro saiu de dentro dos arbustos e se posicionou ao lado do homem encapuzado. O novo ser humano também estava todo coberto, todavia suas vestes eram brancas e ele aparentava ser mais baixo que o homem ao seu lado.

- Perdoe-me pela demora. – disso o homem de branco.

- Não se preocupe, Vossa Majestade. – o homem encapuzado fez uma breve reverência. – Chegara no momento certo.

- Então é esse o tal barco? Não me parece grande coisa.

- Não, Milorde. Este é apenas o barco que servirá como isca para nosso real objetivo.

- Como tem tanta certeza que esta embarcação será o alvo da vez, Tyras? – indagou o indivíduo de branco.

- Obtive informações de fontes confiáveis e que deram total certeza.

- Suponho que não tenha intimidado seu informante, Tyras.

- Eu não usaria métodos tão vis, Milorde.

O homem de branco riu.

- Eu creio que não, mas uma última pergunta, meu amigo Tyras. Porque não me chama pelo nome? Neto, Vaan, ou até mesmo Kristain?

- Não quero faltar com respeito depois do que Vossa Majestade fez para comigo.

O Príncipe do Reino Kristain assentiu, ele entendia os motivos pelo qual Tyras, seu grande amigo, o tratava com grande respeito e não tinha qualquer objeção sobre isso.

- Vamos, Milorde. Quanto mais cedo embarcarmos melhor será.

Os dois amigos desceram o morro e foram se aproximando do porto com toda cautela possível.

Afinal era muito perigoso navegar pelos mares de Terrara, ninguém em sã consciência iria velejar por vontade própria. Pois os mares eram ditos como o “reino dos piratas”. Sendo assim todos os reinos de Terrara tinham medo de investir sua economia em barcos pesqueiros ou até mesmo em navios mercantes, por conta dos temíveis piratas. A má fama dos mares de Terrara era tão grande que o povo começou a generalizar que todos os que navegavam eram criminosos, farsantes, traiçoeiros, em suma, piratas.

Quando chegaram ao porto, os dois amigos se colocaram logo atrás da fila de viajantes preste a entrar no barco. Quase todos os homens estavam colocando caixotes e barris para dentro do barco, apenas um ficava recebendo as moedas de ouro dos passageiros e os deixando passar. Quando enfim chegou a vez dos dois amigos, o cobrador arqueou a sobrancelha ao vê-los, os fitou de cima a baixo e se dirigiu a Tyras, apontando para o escudo azulado em seu manto:

- Você tem muita coragem de usar o brasão da Família Amorim.

- Estou disposto a correr os riscos. – Tyras respondeu, ofendido.

- Eu admiro sua coragem, ou melhor, sua burrice.

Tyras estava preste a sacar alguma coisa por detrás de suas vestes, extremamente insultado com as palavras daquele homem, contudo Neto rapidamente segurou seu ombro para que o mesmo não tomasse nenhuma atitude que pudesse estragar o plano deles. Então assim o Príncipe Kristain deu dez moedas de ouro ao cobrador e este os deixou passar.

Quando todas as pessoas ali já haviam entrado, um velho barbudo e muito mal-encarado apareceu encostando-se ao timão do barco, ajeitando seu tapa-olho, depois endireitando seu chapéu todo amarrotado, começou a falar com uma voz rouca aos demais:

- Eu sou o Capitão Tributos! Vocês sabem muito bem os riscos do mares, então fiquei cientes, não serei responsável por nenhuma vida aqui nesse barco! Se não acreditam em criaturas marinhas como o Kraken, o Leviatã ou até mesmo Tiamat, ótimo para vocês, terão menos pavor! Mas saibam! Existem piratas e estes monstros humanos não terão piedade de vossas vidas! Então roguem a Palacium, para que Kisara não venha nos causar mal algum! Isso é tudo!

- Palavras inspiradoras. – comentou Tyras para o amigo.

- Olha o lado... pelo menos ele foi sincero. – Neto riu.

O barco zarpou no momento seguinte, todos procuraram se acomodar em algum lugar do barco, demoraria cerca de uma semana para chegarem ao outro continente.

- Então... – começou Neto Kristain. – Quando acha que “ele” vai aparecer?

- Não sei ao certo, dentro de dois ou três dias talvez. Acho que quando estivermos na metade do percurso. - respondeu Tyras.

- Faz sentindo, assim as possibilidades de serem descobertos seriam menores.

O amigo assentiu.

- Agora só nos resta esperar. – o Príncipe Kristain se escorou no mastro e ficou vendo o seu reino se distanciar cada vez mais.

Era manhã do terceiro dia, o clima estava muito ensolarado, tão quente que os passageiros procuravam o maior pedaço de sombra possível para se abrigarem dos raios do astro-rei. A viagem realmente era cansativa, ou melhor dizendo, enjoativa, já que as marolas do vasto mar batiam no barco, lhe dando um balando repetitivo de revirar o estômago.

O príncipe, Neto Kristain, se absteve de sua capa por conta do calor, finalmente revelando seu rosto. Tinha o rosto jovial e não aparentava ter mais do que vinte anos, seus cabelos negros como a noite realçavam seus olhos cinzentos, mas brilhantes como de qualquer outro Kristain. O rapaz estava a estibordo e suspirava, entediado com a longa viagem.

Todavia uma bela jovem se aproximou do mesmo, um tanto que curiosa:

- És Neto Kristain? O príncipe desgraçado?

O moreno sentiu como se uma faca atravessasse seu peito, mas respirou fundo antes de dar qualquer resposta. Afinal ele sabia muito bem que sua má fama havia se espalhado por todo continente.

- Já ouvi falar muito de Sua Alteza. – continuou a jovem. – Eu sei que todos da realeza de seu reino têm os cabelos brancos, só Sua Alteza que nasceu com madeixas morenas e por isso é discriminado. Todavia eu tenho um grande respeito e admiração por sua pessoa. – ela ajeitava incessantemente a franja de seu longo cabelo escuro. – E se permite dizer, é dono de um grande charme, Sua Alteza.

A face do príncipe ficou como um rubi recém-polido de tão vermelha.

- Qua-qua-qual seu nome?! – o príncipe não conseguia controlar sua gagueira.

 Até tinha aumento o tom de voz, mas em seguida se desculpou. De fato estava nervoso, mas porque não estaria? Não era todo dia que uma linda moça vinha de encontro a um príncipe renegado.

- Os mais íntimos me chamam de Bianca. – ela continuava mexendo na sua franja.

- Bianca?! É um lindo nome! – ele não conseguia controlar seu tom de voz alto.

- Obrigado. É uma honra viajar no mesmo barco com Sua Alteza. – a moça também corou.

Tyras ao longe ficou vendo a situação do amigo, a qual ele achou cômica, era incrível que quando o assunto era mulher, seu amigo era extremamente tímido. Talvez fosse pelo fato de toda garota se distanciar dele ao saber que o mesmo era um Kristain de cabelos negros.

Mas subitamente Tyras se levantou e olhou rumo ao céu como se tivesse sentindo algo. E de repente um estrondo a estibordo.

Algo havia se chocado no mar e uma coluna de água duas vezes maior do que o barco se levantou, despencando sobre Neto e Bianca, os enxergando por completo. A moça começou a tossir água e o príncipe sem demora tirou-a da beira do barco.

- Coloquem as velas a sota-vento! – berrou o capitão Tributos para sua tripulação e esta começou a virar as velas com grande desespero.

- O quê?! Vamos voltar?! – gritou Neto, alisando as costas de Bianca para a mesma se recuperar.

- Mas é claro! Não estamos muito longe do Reino Kristain, ainda temos uma chance de chegarmos vivos ao litoral, mesmo que sejamos completamente saqueados... – o capitão foi diminuindo sua voz, deixando o final de sua frase quase inaudível.

- Mas...

- Acalme-se, Milorde. – disse Tyras. – É ele.

- Então quer dizer que é o...

O príncipe mal acabara de falar e se ouvira outro estrondo, seguido de uma grande explosão, o mastro do barco havia sido completamente destruído, os estilhaços de madeira voavam para todos os lados e o barco agora se o tornara imóvel. Os ventos do impacto foram tão fortes que arrancaram o manto de Tyras como se fosse um pedaço de papel. Os demais passageiros começaram a entrar em pânico.

- Definitivamente são canhões atirando! – exclamou Neto.

- Canhões?! Mas aonde?! – Bianca olhava para todos os lados, mas só via água e mais água, não tinha um barco sequer.

Então Tyras percorreu seus olhos acastanhados através do céu e pode perceber dois rastros de fumaça, quase se dissipando por completo, com certeza deviam ser dos dois disparos de agora a pouco. O amigo do príncipe usava um sobretudo com o brasão de sua família estampado também, Tyras estava sério e seu cabelo em um corte militar lhe dava um ar imponente.

- Prepare-se para a batalha, Milorde!

Neto também elevou seu olhar ao céu e pode ver alguma coisa na coloração castanha sair de dentro das nuvens. De repente aquele objeto foi descendo cada vez mais e amostrando o que realmente era.

Um navio, um barco de grande porte feito de um tipo de madeira que parecia reluzir aos raios solares estava voando ao longe. A sua vela era preta e tipicamente estampada com uma caveira humana, anunciando seu domínio pirata. O gigantesco barco parecia estar pairando no céu, todavia estava gradativamente descendo rumo ao mar, para que seus tripulantes pudessem efetuar mais um saque.

Todos no pequeno barco estavam extasiados com a visão surreal, a não ser Tyras e Neto, sendo este último o que disse o nome de tal barco voador:

- O Leviatã dos Céus.

O alvo do príncipe e seu amigo finalmente havia aparecido, o Leviatã dos Céus estava lá, em pleno ar, se aproximava cada vez mais do barco menor e o capitão deste, Tributos, já começava a gritar:

- Preparem os canhões!

A tripulação começava a se armar e a carregar os canhões do barco, enquanto os passageiros indefesos começaram a se esconder por detrás dos caixotes e aonde fosse possível.

O Leviatã dos Céus realmente era enorme, deslumbrante, tinha seis canhões em cada lado e mais dois na proa. E neste local do barco, havia uma serpente marinha talhada em madeira, representando o Leviatã. E lá na ponta do navio, apareceu um homem esguio, dono de cabelos acastanhados e de olhos tão vermelhos como o sangue, usava um sobretudo aberto, o qual era da cor de vinho com detalhes em dourado que se destacavam ao sol. De fato, aquele devia ser o capitão do gigantesco navio, ele ria cinicamente enquanto ajeitava seus cabelos. E nesse exato momento uma tatuagem um tanto que estranha ficou amostra em eu braço esquerdo, era apenas um circulo preto envolto de umas ondas, todavia era de se chamar atenção por causa do tamanho.

Quando o Leviatã dos Céus estava preste a tocar no mar, o capitão deste se pronunciou:

- Eu sou o Capitão Powtiwick Frederick Jones! Venho a vossa presença apenas para dizer que não reajam! Será melhor para vocês! Além disso, sintam-se honrados por serem saqueados pela tribulação do Leviatã dos Céus, o barco que domina tanto os mares quanto os ares! – o capitão pirata riu. – E repito, não tenham medo, apenas queremos roubá-los, se aceitarem, mais rápido iremos embora e mais rápido, vocês poderão voltar para o Continente Familial!

- Acha mesmo que não vamos fazer nada, seu monstro horrendo?! – berrou o Capitão Tributos.

- Vossa Mercê fez sua escolha! – retrucou o Capitão “Pow”, se sentando sobre um barril para ver mais um saque “perfeito”.

Enquanto isso o Leviatã dos Céus finalmente pousara nos mares e começava a flutuar. A tripulação pirata jogava ganchos presos em uma longa corda sobre o barco menor.

Os piratas riam animados com mais um roubo, alguns iam andando sobre a corda para o outro barco, enquanto outros apenas se jogavam do alto do mastro, sedentos por mais dinheiro. A cena era um tanto que macabra, os piratas pareciam loucos desesperados e estavam em grande maioria a tripulação do barco menor resistia com pequenas, porém resistentes espadas feitas de prata.

- Milorde, temos que agir! – disse Tyras, espalmando suas duas mãos rapidamente, as quais ganharam uma luz em um tom anil que sumira em um piscar de olhos.

Todavia agora em suas mãos residiam duas pistolas, eram feitas de pura platina, todavia com runas mágicas talhadas em ouro reluzente.

Não demorou muito para que o Príncipe Kristain se preparasse também, na sua cintura havia um florete feito de prata, enquanto que em suas costas havia um arco, contudo ele não carregava nenhuma flecha.

- Bianca, vá se esconder. – mandou o príncipe, olhando para a garota. – Eu e o Tyras cuidamos disso, viemos especialmente preparados para encontrar o Leviatã dos Céus.

- Sua Alteza, atrás de você!

Dois piratas com suas espadas empunhadas vinham de encontro ao príncipe. Sem demora Tyras chutou a barriga de um deles com toda sua força, em seguida colocando a sua pistola no ombro dele, lhe dando um tiro a queima roupa. Todavia isso não foi tudo, no mesmo momento Tyras apontou sua outra pistola para os pés do segundo pirata e atirou, falando simultaneamente:

- Turbulência!

Exatamente no local aonde a bala de quartzo - carregada de magia pura - se chocou, emergiu um súbito tornado que fez o pirata rodopiar em seu próprio eixo. O tornado parecia brincar com o tornado com o pirata que mais parecia uma bola dentro dele, todavia o pequeno redemoinho lançou aquele homem aos céus que em seguida despencou em alto mar.

Bianca arregalou os olhos, incrédula com o que havia visto, mas Tyras continuou sério:

- Vamos, Milorde! Não podemos perder tempo. Temos que aproveitar enquanto a tripulação deste barco está resistindo aos piratas, assim podemos ir para o Leviatã dos Céus através das cordas.

- E-E-Eu posso ajudar! – Bianca estava um tanto que constrangida. – Eu sou...

- Débora Bianca Moura, terceira na linha de sucessão da Família Moura. – interrompeu Tyras, vigiando para que nenhum pirata chegasse perto deles. – Sua família tem habilidades elevadas nas magias de suporte.

- Como você sabe disso?! – o Príncipe Kristain demonstrou espanto.

- Obtive informações, Milorde.

Neto nem perguntou mais nada, afinal seu amigo sempre fora muito bem informado, mas achava melhor não saber como e nem por que.

- É isso mesmo. – afirmou Bianca. – Eu posso ajudar vocês!

- Ótimo! – concordou Neto. – Já que sua família tem experiência em magia de suporte, vocês podia jogar sobre nós alguma magia de proteção. Não é mesmo, Tyras? – o amigo apenas assentiu.

- O problema é que... bem... hum... vejamos... – a garota mexia novamente em sua franja. – Eu não sei usar magia...

- O quê?! – disseram os dois amigos em uníssono.

- Calma, calma! Não é que eu não sabia usar magia, eu só sei usar magia em mim mesmo, é isso...

O príncipe suspirou decepcionado e a moça corou, constrangida. Entretanto, Tyras parecia bastante pensativo e começou a falar:

- Para vencermos completamente o Leviatã dos Céus e sairmos vivos, temos que baixar a moral deles. Assim ficará mais fácil para nós.

- Mas como? – indagou Neto.

- Derrotando o capitão deles e destruindo o mastro do barco, eu não sei ao certo se isso o impedirá de voar, mas temos que arriscar. Afinal não podemos atacar o capitão diretamente, pois o mesmo poderá tentar fugir voando. Então...

Os estrondos dos canhões romperam a batalha e o barco começava a tremer, todavia a batalha continua intensamente, mas o equilíbrio era essencial para a continuação da luta.

- Então você tem um plano, é isso, não é, Tyras?! – o príncipe gritava para sua voz se sobrepor aos estrondos.

- Sim, Milorde. E a Senhorita Bianca será uma parte essencial deste.

A garota da Família Moura sorriu, afinal iria ser útil.

Tyras começou a contar todo seu plano e os outros dois apenas assentiam, entendo seus objetivos.

- Agora vamos, Milorde!

O príncipe assentiu enquanto Bianca se posicionava atrás do mesmo.

Agora só restava eles entrarem em ação, pois o plano criado pelo atirador era infalível.

Então Tyras correu para a esquerda e Neto juntamente com Bianca para a direita, ao som de mais um estrondo de canhão que rompia a batalha.

O atirador correu em disparada para a direita em direção a uma corda que vinha do barco pirata, desviou de todos ali no barco e pulou sobre a corda, continuando a correr sobre esta para não perder o equilíbrio. Mas fora surpreendido por um pirata que vinha na direção contraria sobre a corda, ele empunhava uma espada curta e investira contra o atirador sem pensar duas vezes.

Todavia Tyras apenas sorriu de canto, murmurando:

- Sueda!

Em um piscar de olhos, o atirador sumiu da frente do pirata, reaparecendo por trás deste e continuando seu caminho sobre a corda até chegar ao barco pirata. Mas o pobre pirata tivera atacado o nada e com isso perdera completamente seu equilíbrio, caindo em alto mar.

Já no outro lado do pequeno barco, o Príncipe Kristain segurou a mão da garota atrás dele, a puxando para correr na frente. Bianca só segurava a ponta de sua saia, levantando-a para poder correr livremente, entretanto quando a moça da Família Moura chegou ao costado do barco, engoliu seco. Não iria conseguir andar sobre a corda, não era equilibrista de nenhum circo afinal.

- Eu acho que eu não posso ajudar não, Sua Alteza...

- Que pena, mas peço-lhe desculpas pelo que estou prestes a fazer! – disse o príncipe, segurando a cintura da garota com força.

Ela corou imediatamente e engoliu seco mais uma vez, tentando controlar sua imaginação fértil. Embora a garota estivesse apreciando aquele súbito contato físico, se surpreendeu ao sentir seus pés levantarem do chão e no momento seguinte seu corpo ser arremessado em direção ao barco pirata.

A garota não se conteve, começara a gritar desesperadamente, segurava a borda de sua saia para sua roupa debaixo não ficar a amostra e berrava. Como aquele Kristain poderia ter a jogado tão alto? Com certeza ele usou magia para aumentar sua força momentaneamente. Mas ela nem sequer pensou nisso naquele momento, não conseguia racionar.

O príncipe lá no barco sacou seu arco e se pôs a correr sobre a corda, alguns piratas também vinham de encontro a ele, mas este apontou seu arco para a frente e puxou a corda sem utilizar nenhuma flecha mesmo. À medida que Neto puxava a corda, uma flecha de pura magia branca ia se formando sobre o arco, a flecha era alva e brilhava intensamente. Ele a lançou, gritando:

- Flecha Espiral!

A flecha foi em disparada sobre os piratas e girava, deixando para trás uma longa espiral branca. Quando o projétil acertou o pirata bem no peito, este começou a girar e ainda com a força impulsiva fora arremessado contra os piratas que vinham logo atrás dele, fazendo todos estes despencarem para o mar.

Kristain continuou correndo sobre a corda e enfim pulou para dentro do navio pirata, guardando seu arco e olhando para cima, procurando a melhor posição para agarrar a “garota voadora”.

Incrivelmente Bianca continuava berrando e caindo, é claro. Até que despencou por completo nos braços do príncipe, findando a gritaria. Mas a adrenalina não tivera acabado, a garota corara mais ainda por estar face-a-face com Neto. Ela tentou ralhar com o mesmo por tê-la jogado sem nenhum aviso, mas apenas palavras sem sentido saiam de sua boca, portanto permaneceu calada, contudo ajeitando sua franja novamente.

- Milorde, não há tempo a perder! – gritara Tyras do outro lado do barco, que defendia malmente os piratas que vinham ao seu encontro.

Eram muitos e vinham de todos os lados, mas não era surpresa, já que agora ele estava bem no centro daqueles bandidos. Tyras repelia os ataques de espada com o cano de suas pistolas e quando havia uma brecha, chutava sem piedade a virilha dos seus inimigos. Assim dando abertura para ele atirar nos piratas que tentavam se aproximar do seu amigo e a garota. Era incrível que mesmo estando com dificuldade ainda se preocupava com seu amigo.

Contudo Neto finalmente entrara em ação. Sacou seu florete e começou a digladiar com os piratas que avançavam contra ele. Bianca por sua vez iria seguir usa parte do plano, correra para uma porta ali no barco que devia dar no porão e antes que pudesse entrar fora surpreendido por um pirata que ia esfaqueá-la sem remorso algum.

- Hocus Pocus! – gritou a Moura.

Antes que pudesse acertar a garota, a adaga na mão do pirata voou para longe. Parecia ter sido empurrada por alguma força azulada que rodeava a garota. Mas o pirata nem tempo de pensar, pois só viu o Príncipe Kristain apontando seu arco para ele, conjurando:

- Flecha de Luz!

Novamente o projétil mágico acertara o pirata no peito e este fora arremessado contra a porta do porão, a quebrando completamente.

Neto assentiu e sem demora Bianca correu para dentro do porão.

Havia cerca de uns seis piratas dentro do porão, entretanto estes só estavam preocupados em carregar os canhões e atira-los. A garota se agachou, avistando no canto escuro do porão um amontoado de caixas e barris, foi até lá. Começou a vasculhar todas as caixas e em seguida os barris, abriu alguns e encontrou vinho, em outros tinha balas de canhões, mas nenhuma continha o que ela procurava. Até que teve dificuldade para abrir certo barril, mas quando teve sucesso, sorriu alegre, tinha encontrado um barril cheio de pólvora.

Subiu as escadas, sorridente e gritou para o príncipe:

- Achei!

- Ótimo! – disse Kristain, arranhando o rosto de um pirata com seu florete e depois o jogando no chão com um belo chute, em seguida virando-se para o amigo: - Tyras! Prepare-se!

O atirador assentiu, agora tinha que se preparar para sua parte do plano, mas os piratas o estavam atrapalhando muito, mesmo atirando naqueles bandidos, eles pareciam voltar ainda mais sedentos. Graças a Palacium, Tyras não se preocupava com a munição, já que suas balas de quartzo voltavam magicamente a sua arma, quando estas não eram usadas para lançar magias. Todavia ele tinha que fugir daquele tumulto, por isso quando uma enxurrada de piratas vinha ao seu encontro novamente, ele conjurou:

- Ednoa!

O atirador desaparecera novamente, mas desta vez ele não estava em nenhum lugar. Os piratas se perguntavam aonde ele tinha ido, alguns até afirmaram que ele tinha ficado invisível. E era verdade, Tyras estava invisível, bem ali atrás dele, mas é lógico que não ia revelar sua posição, por isso se manteve em silêncio.

O príncipe foi juntamente com Bianca até o porão. Sem fazer sequer um barulho para os piratas ali em baixam não o verem, carregou o barril e com o auxilio da moça, levou-o para cima.

Quando chegaram lá em cima, Neto não avistou seu amigo, mas sabia que ele estava por ali, em algum lugar. Então com a ajuda de Bianca, eles ficaram balançando o barril de um lado para outro, ganhando impulso e finalmente o arremessando em direção ao mastro.

- TYRAS! – gritaram Neto e Bianca.

O atirador voltou a aparecer e correu em disparada através dos dois que gritaram seu nome, em seguida deu um salto mortal em direção à popa. Mas antes - em pleno ar - espalmou suas mãos novamente e as duas pistolas desapareceram em um brilho anil, dando lugar a longo rifle, também feito de pedaços de platina e coberto de runas mágicas.

Quando pousou sobre a popa, se agachou rapidamente e apontou o rifle para o barril que passava exatamente do lado do mastro, então disparou, gritando:

- Projétil Torpedo!

Tyras atirou uma bala flamejante que acertara o barril em cheio, causando um repentino estrondo. A bala mágica fortificada pela pólvora, causara uma explosão descomunal que se alargou em uma esfera fogo ardente que foi se propagando aos poucos. A base do mastro já não existia, então este desabou em direção ao barco menor. Suas velas queimavam e por conta disso o barco menor começava a pegar fogo também, mas os passageiros masculinos faziam de tudo para tentar apagar aquelas chamas.

O Leviatã dos Céus agora tinha perdido a sua vela maior.

Neto e Bianca riam animados por aquele grande feito, Tyras suspirou aliviado por ter conseguido a tempo.

Mas do outro lado do barco a história era diferente, o capitão pirata – sentado lá na proa - agora estava sério.

- Capitão Pow, nosso vela maior se foi, o que faremos? – perguntou um dos piratas.

- Recuem.

- Mas Capitão Pow...

- Recuem agora! Esqueçam o saque! – o capitão demonstrava sua raiva. – O Leviatã dos Céus vai alçar voou agora! Se eles acharam que podiam nos deter de voar só com isso, foram muito ingênuos! Acabarei com esses intrometidos em pleno ar!

O Capitão Pow sacou seu sabre feito de prata, este reluzia aos raios do sol e brilhavam. Brilhavam tão intensamente como os olhos vermelhos de Powtiwick naquele momento, os quais brilhavam cheios de raiva.

De repente o navio pirata começou a se mover, as velas do grande barco haviam se estufado com os fortes ventos vindos do mar, o barco se vagarosamente para frente. Os piratas que estavam no barco menor começaram a pular desesperados para o Leviatã dos Céus, pois sabiam que o mesmo estava partindo rumo aos céus.

Os passageiros do pequeno barco finalmente suspiravam aliviados, o navio pirata começava a levitar no ar e subia cada vez mais em direção as nuvens. Estavam salvos, isso era evidente, mas o Capitão Tributos ainda mantinha seus olhos fixos no navio pirata, os seus salvadores estavam lá, dentro dele. O idoso capitão bufou indignado, sabia que aqueles três iriam morrer, afinal eram três contra uma tripulação inteira. Mas agora só restava rogar a Palacium pelo bem deles.

No Leviatã dos Céus a situação era tensa, o Capitão Pow havia saído da proa e andava vagarosamente ao lado do costado do barco. Os demais piratas saíram do caminho do seu capitão, pareciam que tinham sumido completamente quando o capitão tivera sacado seu sabre.

Os três amigos ficaram abalados, não com o capitão, mas como o fato de estarem voando em um barco. Bianca correu para o costado e engoliu seco em seguida, o mar que outrora eles flutuavam, agora estava a quilômetros de distância abaixo deles.

O Leviatã dos Céus parecia trêmulo, mas era de esperar, afinal seu mastro tinha sido destruído, sua vela maior caíra e agora apenas seis velas menores sustentavam o navio no ar. Mas isso ainda era surreal, devia existir algum segredo por detrás daquele voo.

- Eu me pergunto... a que devo a visita de intrusos no meu navio? – se manifestou o Capitão Pow, deixando a ponta de seu sabre deslizar pelo chão, arranhando-o.

- Não se faça de desentendido, Powtiwick. – retrucou Tyras, espalmando novamente suas mãos, fazendo o rifle desaparecer e as duas pistolas reaparecerem.

- Ainda tem a ousadia de questionar o porquê, não esperava menos de um pirata. – Kristain se mantinha sério com o florete em mãos. – Sua tripulação é acusada de furto, estupro e assassinato.

- É mesmo? Mas convenhamos, não vejo porque a surpresa, somos piratas afinal, não somos? – o capitão começou a rir junto com sua tripulação que via a cena de longe.

- Maldito! – o príncipe avançou contra o pirata.

Porém o capitão só fez um rápido movimento com a espada, desarmando o Kristain e pisando em seu peito, o jogando para trás, fazendo-o cair de bunda no chão. O florete que girava em pleno ar caiu entre as pernas do príncipe e o Capitão Pow olhou atentamente para o rapaz a sua frente, dizendo:

- Quem és tu para me chamar assim? Ó príncipe desgraçado!

Neto franziu seu cenho.

- Não ouse dirigir a palavra a mim como se fosse superior! – continuou Powtiwick. – Um príncipe que foi isento do seu cargo real também faz parte da escória desse mundo!

O capitão pirata começou a passear pelo barco. Sempre olhando para os três intrusos no barco e rindo da cara de raiva do príncipe.

- Sabe... eu não entendo como vocês pensarem que podiam destruir o Leviatã dos Céus. É muita ingenuidade. – o capitão riu.

- Não é todo dia que vemos um barco voador, ainda mais um barco pirata. – pronunciou-se Tyras. – Mas a questão mais curiosa aqui é como o barco voa. Suponho que seja algum pacto com Kisara.

- Tolo! Não abdicaria de parte da minha vida para fazer um barco voar. E é por isso que ninguém entende como o Leviatã dos Céus voa. Todavia eu me julgo inteligente por esse grande feito. Eu construí este navio com Mamoku, a madeira mágica do Continente Ocigam. Afinal... alguém alguma vez imaginou usá-la desse jeito? Suponho que não! Por isso sou o pirata mais famoso de toda Terrara! O qual tem um barco voador!

- Vejo que modéstia é o que não lhe falta... – Bianca sem querer pensou alto demais.

Os olhos do capitão pegaram fogo cheio de indignação, fazendo este investir contra a garota sem pensar duas vezes.

Kristain se jogou na frente da garota. Tyras por sua vez pulou da popa, murmurando:

- Zedipar!

O sangue do atirador começou a circular mais rápido, dando ao homem uma velocidade surreal. Ele chutou o sabre do pirata para longe e quando pisou no chão, fez este de trampolim e deu um salto mortal bem ali, chutando com toda força a cara de Powtiwick e que rebolou em direção aos caixotes. Mas como se não bastasse o capitão pirata se ergueu do chão com um súbito salto e correu em direção a Tyras.

O amigo do príncipe mirou suas pistolas para o capitão, disparando uma sequência de balas que nem sequer acertavam no pirata, pois o Capitão Pow tivera se jogado para a esquerda, pegado seu sabre novamente e em seguida arremessado sobre o atirador.

Nem mesmo a velocidade surreal de Tyras era páreo para o capitão, pois o atirador mal defendera do sabre que quase lhe arrancou a cabeça e o capitão já tinha lhe desferido uma joelhada na barriga, gritando:

- POW!

Tamanha fora a força daquele ataque que Tyras cuspiu sangue. O capitão começava a gargalhar, pois a vitória para ele era evidente, mas ele subestimava seus inimigos demais.

Tyras agarrou a perna do capitão e começou a girar junto com ele, quando ganhou impulso arremessou o pirata para o alto, mirou sua pistola para o mesmo, conjurando:

- Hidro-Bomba!

A bala acertou exatamente no quadril do capitão, o atravessando, mas em seguida liberou uma enxurrada de água que fez o pirata voar para o outro lado do navio, todo molhado.

- Milorde! Destrua todas as velas!

- Hã?! Mas Tyras...

- Zepidar! – conjurou o atirador, reativando sua magia.

Ele precisava daquela velocidade sobre-humana para poder confrontar Powtiwick, mas manter aquela magia por muito tempo causava fadiga e ele sabia muito bem disso. Pois começava a ofegar aos poucos. Mas foi um ato sensato, já que no momento seguinte o capitão pirata veio de encontro à Tyras, completamente furioso. Era difícil para o amigo do príncipe manter um combate a curta distancia, mas precisava dar tempo ao seu amigo.

Kristain ainda estava confuso. Powtiwick mesmo tinha tido que era a madeira mágica que fazia o barco voar, então porque Tyras queria que ele destruísse todas as velas? Não fazia o menor sentido. O príncipe percorria os olhos pelas velas e tentava imaginar o plano de Tyras, observou todas as velas menores até a última, que estava pertinho da proa, logo acima dos dois canhões.

Então tudo ficou claro na cabeça do príncipe, realmente seu amigo não deixava nenhum detalhe despercebido, agora entendia o porquê daquele plano.

Agarrou a mão de Bianca e a puxou, correndo para a popa.

Enquanto Tyras defendia os rápidos ataques do capitão, este gritava:

- Idiota! Não ouvia a parte que eu disse que a madeira faz o barco voar, não as velas?!

- Ouvi muito bem e agradeço por essa grande informação!

O atirador tentou chutar o capitão pirata, mas este recuou e achou muito estranho a atitude daqueles intrusos, com certeza deviam ter um plano, por isso gritou para os seus capangas:

- Atrás do príncipe e da garota! Matem-nos!

Os piratas obedeceram de prontidão e correram para a popa. Tyras quase conseguiu dar um tiro no capitão, mas este foi de encontro a ele, diminuindo a distancia e o impossibilitando de atirar, pois logo começaram a combater novamente.

Enquanto isso, Neto lá na popa se jogou sobre o chão, deitando e sacando seu arco.

- Me protege, Bianca.

A garota nem teve tempo de responder alguma coisa, pois o príncipe colocou seu arco na horizontal e apoio nos seus pés, puxando a corda do arco com as duas mãos. Uma flecha se formou no arco, contudo, diferente de todas as outras, esta era mais grossa e brilhava intensamente. Já era de se esperar, já que o príncipe estava concentrando toda sua magia naquele ataque. Puxava cada vez mais a corda e a flecha aumentava gradativamente, acumulando a magia branca nela.

Um grupo de piratas correu para impedirem o príncipe, contudo Bianca tinha o dever de protegê-lo. Ela tinha que fazer mesmo não sabendo como, se meteu na frente do príncipe e erguendo suas mãos, conjurou:

- Hocus Pocus!

Uma projeção convexa de cor anil se formou na frente da mesma. Quando os piratas a atacaram com suas espadas, estas voaram para longe. Entretanto eles não estavam dispostos a desistir, começaram a socar aquele escudo com toda sua fúria. Eles gritavam também, o que só causou mais pânico por parte de Bianca que cerrava os olhos com medo. Mas ela tinha que agir, uma hora sua magia iria acabar. Então no ápice do seu desespero, berrou:

- Repulsão Máxima!

Os piratas grudaram no escudo azulado como se tivessem sido puxados por imãs gigantes e no momento seguinte foram jogadas por uma forte onda que o escudo emitia. Alguns piratas voaram tão longe que chegaram a sair do barco, para a queda-livre em direção ao mar. Mas Bianca suspirou aliviada.

- Com licença! – pediu o príncipe que segurava a poderosa flecha no arco.

A garota assentiu e se manteve longe. Neto ergueu-se suas pernas, juntamente com o arco e mirou para as velas. Suas pernas não estavam muito altas, nem muito baixas, estavam na medida ideal para o efeito que ele queria.

Enfim soltou a corda do arco, dizendo:

- Balista Celestial!

A enorme flecha condensada de magia branca irrompeu o navio pirata, atravessando as seis velas menores em um piscar de olhos, as velas ficaram com um buraco imenso. Mas à medida que a flecha ia atravessando as velas, ela ia fazendo uma pequena curvatura, a qual lhe deu uma trajetória no formato de parábola, sendo que seu ponto final foi a proa. Aonde acertou os barris de pólvora do lado dos canhões que causaram uma explosão que eclodiu sobre toda a proa do barco. Estrondo fora muito alto, os estilhaços de madeira voavam e quando a fumaça começava a se dissipar, o estrago pode ser visto.

A frente do Leviatã dos Céus não mais existia.

Finalmente o barco ficou estagnado no ar. O capitão Pow se separou de Tyras e olhou incrédulo para o estrago em seu barco. Eles tinham destruído completamente a proa.

- Parabéns, Milorde! Bianca! – parabenizou Tyras, sorrindo de canto.

O navio pirata começou a tremer mais do que de costume e então o Capitão Pow desferiu um olhar fuzilante para os intrusos.

- Vocês pararam o Leviatã dos Céus...

- Sinceramente no começo eu fiquei confuso, quando Tyras me mandou destruir as velas eu não entendi o porquê, mas depois tudo ficou claro na minha cabeça. – comentou o príncipe.

- Como você mesmo disse, Powtiwick. A madeira faz o barco voar. – riu Tyras. – Quando destruímos o barco e você alçou voou mesmo assim, pude perceber que o barco estava trêmulo, afinal destruímos um pouco da madeira, não tudo claro, pois só destruímos o mastro. Mas pude perceber que a falta da madeira do mastro abalou todo o barco.

- Então se destruíssemos uma grande porção do barco toda estrutura seria abalada, é isso? – questionou Bianca.

- Claro. – afirmou Neto. – Pois toda a madeira do barco está interligada e fazendo-o voar. Então quando o Tyras me mandou destruir as velas, ele já havia percebido que a vela menor lá da frente do navio, ficava embaixo da proa, aonde estavam os canhões juntamente com os barris de pólvora.

Bianca ficou impressionada com todo aquele intelecto, mas ficou curiosa por uma coisa:

- Bem... já que destruímos a proa, ou seja, uma grande parte do navio, uma grande porção de madeira, o barco irá parar de voar agora, não é? Nós vamos cair, estou certa?

- Tyras... você sabia dessa parte, não é mesmo? – Kristain perguntou, totalmente sem expressão.

- Na vida temos que fazer sacrifícios, não é mesmo, Milorde? – Tyras riu sem graça.

- IDIOTAS! – berrou o capitão pirata.

E o Leviatã dos Céus, ou pelo menos o que sobrara dele, começou a despencar do céu, perdendo altitude rapidamente.

O navio pirata estava despencando, os piratas em si eram arremessados para fora do barco por causa dos poderosos ventos. Barris, caixotes, cordas, tudo estava voando. Até os três amigos agora viam o imenso barco cair mais rápido do que todos ali. Bianca gritava desesperadamente, afinal uma queda daquela altura na água era morte certa. E por incrível que pareça, por conta disso até mesmo os piratas pediam perdão a Palacium, era uma cena um tanto que engraçada, mas naquele momento era difícil rir.

Tyras olhou para o príncipe que estava acima de sua cabeça, esperando que ele fizesse algo. Kristain já estava se preparando para usar alguma magia, mas antes citou:

- Se pássaros podem voar, porque eu não posso tentar? Já que estou disposto a arriscar! Alado!

Um clarão surgiu atrás da costa do príncipe e de lá cresceram asas angelicais, elas eram brancas e emanavam um brilho divino. Neto bateu suas asas ganhando impulso em direção aos amigos, agarrou a mão de Bianca, em seguida a de Tyras e alçou voou com muita dificuldade.

O príncipe cerrava os olhos e batia suas asas, tentando pelo menos se manter no ar, porque subir carregando duas pessoas estava impossível.

- Graças à Palacium! – disse Bianca suspirando.

- Eu não vou aguentar por muito tempo! – disse o príncipe já choramingando.

- Como não?! – espantou-se a garota. – Nós vamos morrer!

- Eu usei quase toda minha magia destruindo a proa do barco! Por isso não vou aguentar muito tempo, além disso, vocês dois são pesados! – o príncipe começou a perder altitude, mas com seu último esforço bateu as asas mais uma vez. – Tyras! Use alguma magia de levitação!

- Eu não sei tal de tipo de magia, Milorde!

- Bianca! E você?

- Eu sei... – ela disse timidamente.

- Então usa em nós três, temos que levitar!

- Mas...

- Você só sabe usar em si mesma, não é? – o príncipe choramingava mais ainda.

- É...

De repente as asas angelicais de Kristain desapareceram em um amontoado de penas que esvoaçaram para todos os lados. Os três continuaram caindo e Bianca, como de costume, se pôs a gritar.

- Bianca! Usa a magia de levitação mesmo assim! – berrou Tyras, tentando falar mais alto que a moça.

- Mas só que—

- Usa! Eu tenho um plano!

O atirador pegou o braço da garota e com sua força a impulsionou, jogando-a para baixo, fazendo a garota cair mais rápido. O príncipe arregalou os olhos, atônito, Tyras estava louco? Iria mata-la.

Ou pelo menos era o que ele achava.

- Oacativel! – foi o que Moura gritou, cerrando seus olhos.

Uma esfera começou a se formar ao redor de Bianca, a esfera tinha um tom azulado, além disso, era transparente. E quando esta envolveu completamente a garota, parou. Ficou pairando ali, em pleno ar.

Tyras caiu em cima da esfera, fazendo a mesma descer um pouco, contudo conseguiu ficar em cima. Demorou um pouco para ele conseguir se equilibrar, mas quando conseguiu o Príncipe Kristain desabou em cima da esfera também. Neto tivera caído de bruços na esfera, estava escorregando, afinal não tinha aonde se segurar. Todavia o atirador agarrou a mão de seu amigo e o puxou para cima da esfera novamente.

O príncipe parecia meio tonto, quase desacordado. Também pudera. Havia gastado muita magia, seu corpo já não tinha tanta energia como antes. Se ousasse lançar alguma magia nesse estado, com certeza desmaiaria.

Entretanto Tyras não estava tão preocupa com isso, afinal tinham destruído o Leviatã dos Céus. Tinham ganhado. Sabia que seu amigo agora teria um bom descanso. O que lhe preocupava mesmo era se Bianca conseguiria manter aquela magia de levitação até eles pousarem em segurança na água.

A jovem Moura mantinha as mãos sempre tocando a esfera pelo lado de dentro. Mantendo a magia estática, fazendo a esfera descer vagarosamente. Seus olhos acastanhados observavam o príncipe a cima de sua cabeça, realmente o mesmo parecia cansado. Mas quando ele percebeu que a garota o olhava, sorriu. Um sorriso sereno e sincero que fez Bianca ruborizar e olhar para baixo.

Nesse rápido movimento, ela pode ver o navio pirata, o Leviatã dos Céus caindo no oceano e se estilhaçando em milhares de pedaços como se tivesse caído em terra dura. Os pedaços daquele navio que antes voava, agora flutuavam pelo vasto mar.

Os piratas caíam também, um a um despencavam no mar, afundavam e... não voltavam.

Mas o Capitão Pow estava ali no céu ainda, agora a exatos cem metros do mar. Seus olhos já viam a foice da morte preste a tirar sua vida, mas Powtiwick era um pirata, não podia se deixar abalar por aquilo. Sabia muito bem que as chances de ele sobreviver àquela queda eram mínimas e mesmo que sobrevivesse, os tubarões viriam atrás dele. O ferimento que Tyras tinha lhe causando na cintura sangrava muito, o cheiro deste não ia passar despercebido pelos tubarões sedentos por carne.

Então o capitão pirata puxou a manga de seu sobretudo, deixando todo seu braço esquerdo à amostra. A estranha tatuagem circular em volta de ondas começou a brilhar. Emanava um brilho dourado, brilhava intensamente.

Feixes de luz começaram a sair da tatuagem, mas estes pareciam ter ganhado vida. Pareciam serpentes douradas que cada vez mais aumentavam de tamanho, ficavam mais grosas e mais longas, sempre crescendo em direção ao mar.

Quando tocaram nas águas, aqueles feixes dourados começaram a se enroscar junto ao mar. Estavam se enrolando com água e com isso seu brilho começou a irradiar com mais intensidade.

 O capitão pirata gargalhava e antes que pudesse cair no mar, conjurou sua então magia, berrando com toda sua força:

- INVOCAÇÃO MÍSTICA! LEVIATÃ!

O brilho dos feixes eclodiu em um clarão que cegou todos os que estavam por perto. Mas o clarão foi o anúncio para o estava preste acontecer.

Uma gigantesca boca se ergueu do mar, ela se abriu em direção ao capitão pirata deixando à amostra suas inúmeras fileiras de dentes pontiagudos. Aquela boca parecia ser de um jacaré ou algo tipo, era tão sinistra que causava pavor só de vê-la. Tinha o tamanho de um barco, era imensa e se só a boca era daquele tamanho, imagine o tamanho daquele ser inteiro.

Mas o mais intrigante para os três amigos que viam aquela cena horrenda, foi quando aquela enorme boca abocanhou o Powtiwick sem pensar duas vezes e submergiu como se nada tivesse acontecido.

Os três amigos ficaram calados, foi uma cena muito bizarra, a própria invocação tinha devorado o invocador.

Bianca que ficou intrigada com a cena se esqueceu completamente da sua magia. Fazendo a esfera se romper e os três despencarem sobre a água. Por sorte eles estavam prestes a pousar sobre a água e não sentiram o impacto da queda.

Os três amigos ficaram todo encharcados, mas nenhum deles havia falado nada sobre a queda que Bianca tinha os feito ter. Ainda receavam estar no mar, acabaram de ter visto um enorme monstro engolir o capitão pirata como se fosse uma mosca, porque seria diferente com eles?

- Tyras... – começou o príncipe. – Far-te-ei uma pergunta.

- Sim, Milorde.

- Nosso objetivo era destruir o Leviatã dos Céus e o concluímos. Então acabou, não é mesmo?

- Creio que sim, Milorde. Mas ainda não entendo o porquê do suicídio de Powtiwick.

- Nem eu, meu amigo.

- Peço que me perdoem, mas... – disse Bianca. – Eu não quero saber por que Powtiwick se matou e sim sair dessa água o mais rápido possível.

- Concordo, Bianca. – o príncipe sorriu. – Afinal... existem coisas ocultas que é melhor do deixar do jeito que estão, ocultas.

Tyras riu da frase do amigo, mas nada disse, pois viu uma pequena embarcação se aproximando e lá na proa estava um homem de tapa-olho. Capitão Tributos é claro. Aquele velho homem deu um sorriso de uma orelha a outra, seus salvadores estavam salvos.

- Graças a Palacium. – disse o capitão que em seguida mandou sua tripulação jogar cordas para puxar os náufragos.

Quando os três amigos foram puxados para dentro do barco, foram recebidos com palmas e mais palmas. Algumas pessoas vinham abraçar pessoalmente seus salvadores, outras apertavam as mãos deles e lhes rogavam benções diante Palacium. Outros passageiros queriam dar algumas moedas de ouro para os salvadores, mas estes declinaram tal recompensa.

Demorou um pouco até aquele aglomerado passar. As pessoas queriam festejar aquele momento, mas o Capitão Tributos mandou que todos se acalmassem. Eles iriam voltar para o Continente Familial, mas especificamente para o Reino Kristain, pois o barco tinha que receber reparos e quem quisesse prosseguir com a viagem, o capitão os levaria sem cobrar nada.

Foi outro momento de alegria para todos os passageiros.

O pequeno barco deu meia-volta e eles continuaram a voltar. A volta demoraria mais, pois eles estavam sem o mastro. Mas parecia que os passageiros estavam bem, felizes e despreocupados por seus salvadores estarem ali com ele.

A noite caía e todos estavam se acomodando. Tyras estava sentado sobre alguns barris e limpava suas armas que tinha acabado de invocar. O Príncipe Kristain estava sentado junto ao costado, só descansando, recuperando sua magia perdida.

- Cansado, meu caro? – perguntou Tributos que estava em pé do lado do príncipe, contudo estava fitando o mar.

- Nada que uma boa noite de sono não resolva. – Neto sorriu.

- É difícil ter uma boa noite de sono em um barco.

- De fato. – o príncipe riu, mas vendo a seriedade que o capitão olhava para o mar, perguntou: - Capitão Tributos, você parece apreciar bastante o mar e admito sua coragem por ser um capitão. Suponho que seja bastante discriminado por ter uma embarcação, ainda mais uma que navega os oceanos de Terrara. Mas uma coisa me deixa curioso, apesar de tudo isso, porque ainda sim quer ser um capitão? Porque veio para o mar?

- Ah meu caro, eu sempre amei as águas desde criança, meu sonho sempre foi velejar pelos mares de Terrara, vendo as maravilhas que ele proporciona. E não só isso, queria também amostrar isso aos outros, mostrar como o mar é lindo. Mas desde que os piratas apareceram isso nunca mais foi possível e os mares de Terrara começaram a ser temidos. O meu maior sonho é que um dia todos possam ver o quão maravilhoso são as águas de Terrara, que um dia os piratas não existam mais.

- Entendo, é um lindo sonho.

- Mas me diga... Powtiwick foi morto?

- Não sei ao certo, creio que sim. O mesmo fora engolido pelo Leviatã.

O capitão arregalou os olhos e depois suspirou decepcionado.

- Ele voltará.

- Hã?!

- Powtiwick é da Família Jones, Leviatã é seu bichinho de estimação. Ele com certeza está vivo e voltará, mas o pior de tudo, voltará com o Leviatã dos Céus.

- Espera, Capitão Tributos! – o príncipe tinha um semblante de preocupação. – Estás a dizer que a Família Jones é uma família mágica? Ou seja, que habita o Continente Familial?

- Sim, meu caro. Poucos sabem sobre a existência deles, dizem que eles são do Reino Obi. E tem a habilidade de invocar seres monstruosos com uma marca de nascença no braço esquerdo, bem parecida com uma tatuagem.

Agora tudo fazia sentido, Powtiwick não havia se suicidado. Como poderia já que ele mesmo invocou o tal Leviatã? Seria tolice pensar tal coisa, ele o invocou para salvar sua vida, com certeza.

Neto se sentia um idiota agora por achar que o capitão pirata tinha se matado. Tyras ouvia toda aquela conversa, mas sabia o próximo passo a ser feito. O atirador não conhecia a Família Jones, o príncipe muito menos. E só havia um lugar que eles poderiam encontrar qualquer informação que quisessem.

- Qual nossa próxima parada, Milorde?

- Reino Miranda.

- Como eu presumia. – o amigo do príncipe sorriu. – Iremos para a biblioteca mágica do Reino Miranda, não é mesmo?

- Sim. Nada mais lógico. Afinal iremos para a biblioteca mágica, investigar sobre uma família mágica no reino mágico.

O atirador se pôs a rir.

- Deveras, Milorde. Mas uma pequena pergunta. Mileide Bianca irá conosco?

- “Mileide”?! – o príncipe ficou todo vermelho. – Não se precipite tanto, Tyras!

- Mil desculpas. Achei que serei um título adequado já que a mesma sempre ficou ao seu lado durante a batalha. E—

- Sobre o que conversam? – Bianca chegara no momento certo, mas perguntou aquilo inocente, não sabendo mesmo do que se tratava a pergunta.

- Com licença. – disse o Capitão Tributos se retirando.

- Bem... tenho que lustrar meu rifle. Com sua licença, Vossa Majestade. – Tyras se retirou rapidamente.

Bianca ficou sem entender nada, ainda mais pelo fato de o príncipe estar todo corado.

- Se importa, Sua Alteza? – ela perguntou apontando o chão do lado dele.

- Não. Sente-se...

E assim a garota fez, eles ficaram em silêncio por um bom tempo. O príncipe ficava esfregando suas mãos, a garota ficava mexendo na sua franja e nenhum dos dois tomava a inciativa de nada. Até que Neto quebrou o gelo:

- Continuara sua viagem rumo ao outro continente?

- Não, Sua Alteza. Resolvi ficar no Continente Familial mesmo. Sua Alteza me fez perceber que existem pessoas puras e sinceras lá. Além disso, se o Reino Kristain recebe-lo como rei, será uma imensa honra dizer que o conheci pessoalmente. – a morena se mantinha de cabeça baixa, fitando suas mãos, envergonhada. – Mas sabe... para onde Sua Alteza irá agora?

- Para o Reino Miranda.

- Hum... é bem longe para mim. – ela disse colocando sua mão ao lado da do príncipe.

- Bianca... – o príncipe agarrou sua mão. – Obrigado por tudo que você fez hoje.

- Não sou digna do seu agradecimento, Sua Alteza! – a moça ficou ofegante repentinamente, era como se uma onde de calor tivesse percorrido todo seu corpo após o toque do príncipe.

- Espero um dia reencontrar você.

- Digo o mesmo. – ela apertou a mão do rapaz com mais força.

A garota sabia que ele não a beijaria ali, na frente de um monte de pessoas, seria uma tremenda falta de respeito. Todavia ela se surpreendeu ao ver sua mão ser puxada e o príncipe depositar um pequeno beijo ali, fazendo a moça ruborizar mais ainda enquanto sentia os lábios na sua pele.

Esse foi o ápice daquela noite, pois nas horas seguintes os dois não pronunciaram sequer uma palavra. Bianca pousou sua cabeça sobre o ombro dele e o mesmo em seguida sobre a cabeça dela. Eles ficavam brincando com suas mãos entrelaçadas e apertando mais ainda com os dedos, até que enfim adormeceram juntos, dormindo serenamente durante aquela longa viagem.

Já bem longe dali, em algum lugar do oceano de Terrara. Havia uma criatura colossal flutuando sobre a água, suas feições estavam escondidas pela escuridão da noite, já que a lua também estava encoberta pelas nuvens. Mas uma coisa era certa, aquele monstro estava de boca aberta e exalava um odor repugnante.

Contudo as nuvens começavam a se dissipar e os raios lunares acertavam a boca daquele monstro. E lá estava... Powtiwick. Bem no meio daquela enorme boca, em pé sobre uma gigantesca língua. O Capitão Pow estava rodeado por milhares de pedaços de madeira, com certeza os restos do Leviatã dos Céus. O pirata havia invocado aquela fera tanto para salvar sua vida, como para salvar seu barco. E agora estava ali, com um semblante sério, mas com um objetivo, o qual gritara aos céus:

- Eu voltarei, Neto Kristain! Eu e o Leviatã dos Céus! E dessa vez acabarei com você, com seu amigo e com qualquer pessoa que esteja ao seu lado!


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Notas finais do capítulo

Então...
O final da one-shot ficou com um gancho para uma continuação, mas fiz isso propositalmente para divulgar a minha fic "Terrara: Guerra Familial"! E também para ver se você realmente aprovam essa one-shot e se a história está interessante!
Por isso... comentem, viu? O.o
Abraços!
XD



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