Ele ainda se lembra de todos os detalhes que ela lhe apresentava durante os dias que passavam juntos.  Aquela amizade que não deveria acontecer, mas que possivelmente já estava escrita nas estrelas, afinal somente com a ajuda delas algo improvável e impossível se transformaria em intenso e eterno.

A eternidade era o que ele tinha, pois o amor que sentia por ela era eterno.

Podia olhar no espelho e enxergar as marcas do tempo, seu rosto não era mais o mesmo, porque o tempo o fez mais velho e também mais certo do que queria. Se tivesse tais certezas quando teve a oportunidade não precisaria apenas se lembrar dos sorrisos discretos, dos toques suaves e dos olhos inigualáveis.

Se mirando no espelho ele conseguia viajar, se lembrava perfeitamente da ultima vez que a viu, o rosto de boneca que não combinava em nada com a personalidade forte, e com o apetite apurado.

A distancia juntamente com as mentiras que criou esperando ser mais fácil esquecê-la com toda a certeza o tornou muito mais frio do que era, não que não fosse do seu sangue ser assim, fingir-se de cruel, de forte e de superior quando na realidade as verdades o tornariam a pessoa mais frágil de todas. Somente ela conhecia esse lado. O lado sincero de ser.

Ele sabia que nunca conseguiria olhá-la da mesma maneira, seus olhares tinham ganhando muitos significados complexos, sempre tentava transmitir através deles seu sentimento e seus desejos. Sempre que a olhava tinha a certeza de que a vida valia à pena.

Estão distantes, muitas milhas podem os separar e ele sempre tem a certeza de que o espaço real não consegue vencer o mental, e mesmo a milhas de distancias quando ele fecha os olhos e sonha com ela, consegue tocá-la e fazê-la feliz. Tudo desaparecia quando estavam juntos, mesmo que somente por pensamentos.

Quando pega o violão se lembra das tardes passadas embaixo do carvalho, e também da neve derretendo sobres os cabelos armados dela, lembra-se dos olhos azuis e da pele marcada por sardas. E sabe que está ali sem ela, sem a única pessoa que conseguiu lhe mostrar o que era o amor.

As notas saem mostrando que ela sempre continua em sua mente, e ele sempre está sozinho, pois ela é a única companhia que lhe interessa. A canção faz com que ela volte a aparecer em cada pensamento dele, e a certeza de que somente ela é o seu amor e isso permanece inabalável.

E mesmo quando está acordado ele pode sentir sua mente tonta sendo penetrada pelas palavras sempre certas dela, por isso ele sempre afirma que sonha com ela o tempo todo. E mesmo estando ali sozinho consegue senti-la e durante a noite em seus sonhos eles são únicos, só existe ele e ela e a lembrança do gosto dos beijos.

XXX

Ela olha pela janela e não consegue agüentar a distancia que aumenta a cada segundo que o relógio mostra. Enquanto as gostas de chuva caem deixando a casa ainda mais fria ela consegue sentir o calor ilusório que saem das suas lembranças, são os beijos dele esquentando seu rosto e a fazendo corar, são as mãos brincando em seu cabelo e fazendo seu sorriso nunca chegar a ter um fim, e o medo de serem descobertos a qualquer momento.

E enquanto ela vê todos se afastando, observa os amigos partindo sem deixar noticias nenhuma, as falas chegam ao fim com breves despedidas, todos dizem que estão ocupados demais para relembrar dos anos inesquecíveis da vida. As pessoas estão com a vida sobrecarregas, e ela tem a certeza que ele nunca deixaria de olhá-la diferente, de apreciá-la por minutos intermináveis mesmo quando esses minutos fossem curtos e rápidos.

No fundo ela espera que tudo melhore, espera que com o passar do tempo eles voltem a se encontrar e que simplesmente seja como antes, os mesmos sorrisos perdidos entre os olhares conectados, e o gosto dos beijos roubados entre as leituras intermináveis dela, e as loucuras dele.

Ela está sentada no sofá tentando aceitar o fato de está sem ele, sem o único garoto que enxergou ela além da inteligência e dos livros, o garoto que fez ela sentir o amor e entender o que seus pais sentiam. Sempre soube que o amor era raro e que poucas vezes conseguia se repetir, e por isso estava ali sozinha. Ninguém seria como ele, ninguém faria ela arriscar tudo e apenas sentir a adrenalina de viver no limite.

A cada segundo que passava sua mente ia até ele. Eram os únicos pensamentos em noites como aquela, precisava reviver cada briga idiota, cada detenção e cada gosto da boca dele. Gosto de pasta de dente, de bala, gosto de amor.  Seus sonhos também não escapavam da vontade de voltar ao tempo e reviver cada aula ao seu lado, de encontrar os olhos cansados e de ouvir as provocações constantes. O tempo todo era assim, ela sozinha pensando em tê-lo de volta em sua vida. E quando a noite chegava sempre existia uma única certeza. Sempre eram ela e ele transcendendo o espaço do real para se encontrarem nos sonhos intermináveis.

XXX

E tudo que eles sabiam era que nunca seriam capazes de encontrar razões em outros sentimentos, que nunca seriam capazes de esquecer os momentos compartilhados e os desejos contidos. Aonde quer que fossem esperariam encontrar um ao outro tornando tudo muito mais difícil, mas como desistir do único amor que conheciam? Como desistir do amor que era verdadeiro?

Quando a ultima folha caísse e a neve voltasse a tingir a terra de branco saberiam que seria à hora de resistir. Mesmo quando tudo já tivesse sido dito e feito e as esperanças quisessem desistir de tentar não poderiam deixar de lutar.  

-- Eu tentei, mas não consegui.

-- Tentou? O que?

-- Tentei me esquecer dos corredores do castelo, das aulas na biblioteca, das aventuras na floresta e dos beijos na sala precisa... – Ele sorriu encarando-a. – E passei o tempo todo sem ter você perto de mim...

-- Como vou saber que isso dará certo?

-- Porque mesmo sem você, minha mente me fazia sonhar acordado esperando por uma mágica capaz de juntar a garota perfeita com o garoto errado.

-- Eu também tentei esquecer... – Ela disse suspirando se deixando afogar no olhos dele.

-- Se esquecer do que?

-- Tentei me esquecer dos seus olhares capazes de me decifrar, esquecer do perfume que me entorpece e das risadas que se completavam e faziam das tardes frias lembranças eternas. Esquecer dos toques quentes e das palavras que me conquistavam com facilidade.

-- E eu devo acreditar nisso? – Ele disse sorrindo para ela, no fundo conhecia a resposta.

-- Deve, porque mesmo sem você por perto meus sonhos pertenciam a uma única pessoa, e quando a noite chegava eu simplesmente imaginava nós dois. Sempre acabava sendo você e eu. Você e eu e o nosso amor. – Ela sorriu de volta sentindo os olhos embaçarem e as lagrimas molharem seu rosto.

-- Consegue acreditar que eu te amo Rose Weasley? – Ele disse encurtando o espaço que lhes separava.  Ela assentiu tentando controlar as lágrimas.

-- Consigo acreditar porque eu também te amo Scorpius Malfoy. – Ela disse sentindo o coração disparar.

-- Acho que nem mesmo a distancia consegue fazer com que isso mude. – Ele já tinha as mãos na cintura dela.

-- Não consigo me imaginar longe de você. Sei que deveria me afastar... Sempre achei que era um romance de colégio e que no final de tudo só ficariam as lembranças... – Ela sorriu. – Mas ficou muito além disso.

-- O que ficou? – Ele perguntou brincando com o cabelo dela.

-- Ficou o desejo de continuar, a vontade de ir além dos beijos, a certeza de que o amor sempre vence as guerras. – Rose disse fechando os olhos para sentir a mão dele acariciando levemente seu rosto.

-- Está disposta a concretizar todos esses desejos? E a lutar? – Ele perguntou fazendo-a ofegar.

-- Estou disposta a ser feliz. – Seus olhos voltaram a se encaixar, assim como os lábios.

Entre os sorrisos os beijos se aprofundavam e as línguas matavam a saudade uma da outra, as pessoas em volta não conseguiam entender o que aquele casal fazia ali, em plena rua de Londres. Mas eles sentiam a neve caindo sobre seus cabelos, ela derretia deixando-os molhados, o frio era cortante, só que nada mais importava porque naquela noite seriam apenas eles dois. Seriam apenas ele e ela e a certeza de que o amor existe mesmo que não deva.

Quando se separaram Rose sorriu sentindo ter recuperado sua vida de volta. Scorpius a abraçou e eles caminharam pela rua sentindo a neve e o calor de seus corpos unidos. Existem amores impossíveis daqueles que nunca se concretizam. Existem amores concretos daqueles que se tornam realidade antes mesmo de se tornarem amores. E existem Rose e Scorpius uma mistura dos dois tipos, aquele amor que não deveria acontecer, mas que acontece antes mesmo deles descobrirem o que é amar.