Hurricane - Breathless escrita por OkGo


Capítulo 2
Quente inverno




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O único som na sala era a madeira do meu lápis batendo contra o tampo da carteira. A neblina do lado de fora da janela parecia arrastar-se para dentro das janelas entre abertas, trazida pela aragem suave do começo de tarde em Snowville. O frio estava queimando minha pele, mesmo sob os dois casacos que eu usava. Havia chovido o dia inteiro ontem, a noite inteira e ainda não parara de chover. Eu até gostava daquilo, mas já estava me deixando enjoada de verdade. Principalmente por que a sala de detenção fazia tudo parecer muito mais gelado e rude: As janelas de vibro na parede direita eram enormes e, como estavamos no oitavo andar, eu podia ver o topo das árvores secas agitando-se com as lufadas de vento e as nuvens cinzentas flutuando. Todas as paredes eram pintadas de branco. Havia cerca de trinta mesas na sala e só quatro ocupadas: Uma delas por mim, outra por Celine, a primeira carteira por uma ruiva de óculos com quem eu já trocara uma ou duas palavras e a outra, no canto da sala, por Gilbert. E eu ia morrer se tivesse de passar mais cinco minutos naquela sala. Me levantei e joguei a bolsa no ombro direito, andando pela sala o mais sorrateiramente que consegui. Não tive muito sucesso, é claro, já que a sala estava completamente silenciosa e o eco de meus passos chamou a atenção de todo mundo. Cogitei a possibilidade de sair correndo porta a fora, mas acabei me dando por vencida e me virando para ver que Gilbert me olhava com uma expressão confusa e Celine agitava as mãos, indicando que eu viesse falar com ela. Caminhei até sua carteira na ponta dos pés e me inclinei para poder sussurrar.

-  Que foi? - Perguntei baixinho. Eu não estava com muita paciência e Celine tinha um talento nato para acabar totalmente com ela.

-  Onde diabos você está indo? Ainda faltam dez minutos. - Ela fez um biquinho expressivo com os lábios rachados. Os lábios de Celine eram a única coisa nela que não era perfeita: Como sua pele era muito clara e muito sensível, o frio fazia com que seus lábios estivessem constantemente ressecados. Fora isso, era tudo lindo. Tinha o cabelo mais liso e perfeito, madeixas escuras que destacavam seus olhos verdes. Ela não combinava com aquele frio invernal. Eu sempre tivera inveja dela, sempre, uma vez que tudo que eu tinha era um toco de cabelos loiros secos e olhos castanhos, sem graça. Eu era... Normalzinha, só.

-  Nem ligo. Eu vou enlouquecer se passar mais um minuto aqui. Além disso, a culpa foi toda sua, sua malandrinha. - Ri e me virei de costas para ela, ainda escutando-a difamar um pouco.

Torci para não dar de cara com o professor responsável pela detenção enquanto corria escada abaixo. Arranquei o guarda-chuva de dentro da bolsa enquanto saia pelo portão e encarei a paisagem a minha frente. Céu branco, coberto por nuvens. Nenhum sol. Árvores secas e cinzentas cercando a estrada estreita que descia até a vila. Eu odiava aquele lugar.

                                                                       ***

-  Tem certeza de que a casa está vazia? Acho que escutei um barulho. - Olhei em volta, examinando a cozinha. Shay estava quase sempre sozinho em casa, mas isso não se aplicava a seus amigos. Seus pais estavam sempre viajando a trabalho e não se incomodavam em ver a casa destruída ao voltarem, graças as constantes festas que ele organizava. Que tinham sido, na verdade, o motivo pelo qual haviamos nos conhecido. Reclamação sobre o barulho. As coisas acabaram sendo diferentes.

-  Deve ser o cachorro... Esqueça isso e venha cá, milady... - Ele trilhou minha pele com beijos, subindo de meus dedos até minha mandíbula. Seus lábios se direcionaram então para minha boca e sua mão envolveu minha nuca. Me ajeitei na bancada gelada da cozinha e empurrei-o para longe.

-  Já disse, não faça isso. Eu não vou deixar. - Adverti-o, encostando meu corpo no dele. Ele era quente e seguro, pesado, rude. E nós dois sabiamos o que ele era: Meu brinquedinho.

-  Qual é. Eu posso fazer isso... - Ele respondeu a minha reação, puxando meu quadril contra o dele e deslizando as mãos sobre minhas coxas. Ah, Deus. - Mas não posso beijar você?

-  Não. - Sacudi a cabeça, encerrando a discussão e deixei a cabeça tombar para trás enquanto ele beijava meu pescoço e o topo de meu decote. Senti o calor de sua pele contra a minha, a rigidez de seu corpo. E fechei os olhos. Fora isso, não senti absolutamente nada. Coloquei-me de pé. - Tenho que ir.

-  O que?! Espera! - Shay exclamou enquanto eu caminhava em direção à porta aberta. - Onde você está indo? Acabou de chegar...

-  Para casa. - Sorri e acenei enquanto escapulia rapidamente para o jardim da frente. As primeiras gotas de chuva molharam meu cabelo mas não abri o guarda-chuva. Eu não precisaria dele.

-  Quer que eu te acompanhe?

Parei no meio do quintal. Não liguei para os pingos gelados que caíam em meu rosto, apenas apertei os olhos. Queria me socar. O que diabos eu estava fazendo? Eu estava usando Shay. Não que ele não tivesse feito o mesmo com dezenas de outras garotas, e com certeza tinha perfeita noção de qual era nossa relação, mas eu via aquela coisa nos olhos dele. Eu precisava passar um tempo longe, precisava que ele me odiasse um pouco para me amar um pouco menos.

-  Shay. Esquece. Minha casa é ali.Destranquei o pequeno portão sem olhar para trás, não queria olhar para ele. Muitas vezes eu não queria. Caminhei pela calçada com as mãos dentro do bolso, tremendo. O calor da casa dele deixara o frio da rua terrivelmente mais desconfortável e minhas roupas úmidas me apertavam e incomodavam. Mas levou apenas alguns segundos para que eu chegasse na casa ao lado, minha casa. Vasculhei a bolsa até encontrar minhas chaves e, assim que entrei, encontrei mamãe assistindo televisão no sofá. Bom, talvez estivesse dormindo, não tinha como diferenciar.

-  Oi, mãe. - Ela me respondeu com um ruído abafado enquanto eu subia as escadas para meu quarto. Entrei, bati a porta e encostei-me nela para conseguir me sentar no chão e relaxar o pescoço. Fechei os olhos enquanto sentia lágrimas se formarem lá dentro. Lágrimas que eu não queria chorar. Lágrimas que, contra minha vontade, chorei. Chorei por que, quando estava nos braços de Shay, permitindo que ele fizesse o que entendesse, eu sabia que não o amava. Mas eu ainda encontrava algum prazer naquilo fechando os olhos e imaginando que aquelas mão eram pálidas e longas, que aqueles olhos eram azuis e brilhantes, que aqueles lábios eram macios e quentes, arruinados e decorados pela cicatriz branca. Eu fingia que ele era Jared. E eu odiava aquilo.

Odiava Jared.


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Notas finais do capítulo

O capitulo ficou curtinho, descuulpa... Mas acho que deu pra entender um pouquinho de como v~ao ser as coisas. Bom, reviews, please?



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