O Jogo das 1000 Faces escrita por sakaki


Capítulo 5
Capítulo 5 - Lembranças




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Capítulo 5 – Lembranças

Na manhã seguinte, levantei bem cedo, coloquei uma camiseta branca e um jeans, e peguei o dinheiro para o ônibus, sim, já nessa idade e eu ainda não tinha carro, mas voltando,  eu peguei o primeiro ônibus que pararia a uma quadra dali, e eu teria que andar um pouco, mas nada que me impedisse de chegar lá.

Ao chegar pude ver os rostos deprimidos de meus parentes, alguns estavam conversando sobre a morte dela, outros sentados tentando disfarçar o choro e minha tia logo ao lado do caixão , olhando para o corpo de sua filha envolto em flores enquanto alisava a testa dela com uma de suas mãos, como se ainda estivesse viva, como se fosse acordar a qualquer momento enquanto lágrimas escorriam de seu rosto.

Me aproximei vagarosamente dela e do caixão e delicadamente, toquei seu ombro para chamar sua atenção, ela virou vagarosamente seu olhar para mim e enxugando seus olhos com um pequeno lenço branco falou:

-  Edward, você veio.

- Sim. Sinto muito pelo que aconteceu.

- E pensar que ela era tão jovem... – virando seu olhar para o caixão

- É mesmo... – o que mais eu falaria em uma situação dessas?

- Ela nunca me pareceu deprimida, pelo menos ela não dava sinais de que estava entrando em depressão...

- Depressão?

- Eu sou uma péssima mãe. Se eu tivesse ao menos percebido alguma coisa... - algumas lágrimas começavam a escorrer por seu rosto

Como assim? Eu nunca soube que ela sofria de depressão, e se sofria, ela conseguia disfarçar muito bem, porque eu nunca a vi triste, pelo contrário, ela era do tipo que sempre estava sorrindo, não importava o que acontecia, ela sempre estava com um sorriso estampado na cara. Por que ela se mataria? Afinal ela tinha me feito uma promessa, será que ela se esqueceu dela?

- Ed. – enxugando novamente as lágrimas – Ela deixou algo para você...

- Hã? Como assim? – disse olhando para ela enquanto ela pegava um pequeno envelope de dentro de sua bolsa

- Acho que isto é para você – esticando o envelope em minha direção

- Obrigado.

Apenas peguei –o e guardei-o em dos bolsos da minha calça.

- Quando cheguei ele estava ao lado dela... – começando a chorar novamente

- Tudo bem – disse tentando acalmá-la

Após isso, dispersei-me um pouco pelo enterro, hora estava do lado do caixão outra hora do lado da porta, apesar de ser um enterro familiar e com muitos parentes, eu não tinha muitos parentes amigos, com os quais eu poderia conversar, olhava em volta meio confuso, e voltava a andar em círculos, até que enfim, decide sentar em uma cadeira ao lado da porta.

Fiquei uns minutos parado lá, observando tudo aquilo. Apesar do choro e de alguns gritos de outros parentes, até que estava bem calmo. Voltei o meu olhar disfarçadamente para o relógio, afinal, era meio indelicado ficar olhando para o relógio enquanto se está em um funeral, não que a morta fosse se importar, mas era melhor que eu fizesse isso o mais discretamente possível. Olhei as horas e fiquei perseguindo o ponteiro dos segundos com os meus olhos, como se um minuto a mais fosse mudar muita coisa.

E então eu me senti envolvido por um transe, ás vezes tirava os olhos do relógio e olhava para o caixão, mas logo voltava eles para os ponteiros e esperava dar mais um minuto, e assim foi por durante uma parte do tempo, até que minhas pálpebras começaram a tentar tampar meus olhos castanhos me envolvendo em um leve sono. Pouco depois senti uma mão fria sobre um de meus ombros e não pude disfarçar o susto ao abrir o olhos rapidamente.

- Dormindo... – com um  riso meio forçado, mas mesmo assim gentil

- Eu não estava dormindo! Apenas... – Ok. Uma palavra, rápido! – Apenas descansando... – tentei falar o mais natural possível

- Sei...então você estava descansando. Então você não deve ter dormido muito bem, eu acredito. – acertou em cheio!

- Eu dormi bem... – tentei parecer natural

- Tem certeza? – analisando meu rosto

- Sim. – respondi sem hesitar

- Então como está indo na revista? – tentando perguntar sutilmente

- Bem. – em tom meio hesitante

- Sabe, eu sinto um pouco de inveja de você... – abaixando um pouco o olhar para o chão

- Inveja? – disse meio que surpreso

- Você ficou mais tempo com a Cris...- num tom baixo

Ele era o tipo de pessoa que eu não esperava encontrar lá, apesar de não ser um parente, e por isso mesmo eu acreditava que ele não iria. Ele era um rapaz de estatura média, cabelos castanhos claros e olhos azuis, tinha um porte atlético e...bom, nem preciso dizer que fazia sucesso com as mulheres, certo? Além do mais era gentil e alegre, o filho que toda mãe sempre quis ter. Mas apesar de toda aquela faixada,  acredite, aquilo era uma boa pontada na minha auto-estima, ele era um dos amigos da Cris. Eles sempre se deram bem, bem até demais, para dizer a verdade. Mas por mais que a figura dele estivesse a frente dela, sempre carismático e pronto para ajudar , ela nunca deixou de me dar atenção.

- Mas você também ficava bastante tempo com ela. – voltando o olhar para ele

- É. Mas ela nunca me olhou como olhava para você... – num tom meio desanimado

- Ela sempre me olhou normal. –respondi rapidamente

- Ed, seu lerdo. – disse levantando a cabeça e sorrindo gentilmente para mim

- Eu não sou lerdo... – murmurei para mim mesmo enquanto abaixava um pouco a cabeça

- Vamos? – estendendo a mão um pouco abaixo de minha cabeça

- Para onde?

- Você é desligado mesmo...Para a cova. Vão enterrar ela agora.- recuando sua mão e começando a andar em direção a cova

- Ah... – disse enquanto tentava seguir seus passos

continua...


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