23º Capítulo

-Melhor Rixon e sua amiga estarem também aqui. – DEV falou com o seu tom de voz mais grave.

Sua voz era tão forte que só um simples sussurro fazia estremecer as estruturas de um edifício e Nora se amedrontou dessa característica, mas resolveu se concentrar na reação de Patch. Não tinha certeza se sua expressão demasiado séria e calma seria sinal para ela descansar em relação aquela figura imponente em sua frente.

Rixon estava nas suas sete quintas desfrutando do delicioso sabor e textura dos lábios de Vee quando um chamado mais forte que a sua vontade de ignorar tudo e todos à sua volta, se manifestou em sua mente como um alerta.

“DEV está aqui na sala querendo falar com todos nós.” – JEV avisou impreterível e Rixon nem sequer relutou em se separar de sua amada e vestir uma expressão dura e profissional, se erguendo do chão de imediato.

-Rixon… - Vee murmurou confusa, sentindo um aperto no peito quando um pensamento inapropriado surgiu em sua mente.

E se ele apenas estivesse brincando com os seus sentimentos para arrancar dela uma confissão do que realmente sentia por ele?

Mas esse pensamento foi de imediato colocado num canto escuro e bem afastado quando ele lhe estendeu a mão e seus olhos brilharam de amor ao cruzar com os dela.

-Precisamos ir. – Falou pouco específico, mas Vee não contestou.

Sabia que onde quer que estivesse, desde que Rixon estivesse por perto, ela estaria bem.

A loira seguiu apressada, tentando alcançar o passo pesado e longo que ele dava à sua frente, até por fim chegarem à sala. Quando sua vista se deparou com uma figura assustadoramente enorme, tanto em tamanho como em musculatura, e umas feições pavorosamente perigosas, um grito tentou escapar-se por entre seus lábios, mas ela manteve a calma diante do olhar condescendente da amiga.

-Nos coloque a par das novidades, amigo. – CAL falou com seu habitual tom zombeteiro, independentemente das circunstâncias em que se encontravam.

Atrás de si se mantinha protegida uma assustada Vee, tentando controlar seus nervos perante aquele ser trajado de negro, em igualdade com o seu tom de pele.

-Já não é mais segredo. Os Nefelins e os Demônios realmente estão juntos nessa guerra!

-Eu juro que vou exterminar essa raça aberratória! Não basta serem filhinhos protegidos dos Caídos e ainda tiveram que se aliar com outras anormalidades da Natureza, filhos do nosso maior Arqui-Inimigo, o Lucizinho! – Rixon esbravejava.

-E tem mais… - DEV fez um leve suspense, olhando para as humanas. -Eles tentaram cercar a casa. Aqui não é mais seguro.

Os corações de Nora e Vee deram um solavanco no peito com aquela informação. Vee foi até a amiga e irmã a abraçando, como que pedindo consolo e consolando, se tornando ambas alheias à conversa mental que os três anjos tinham e às expressões que Patch e Rixon adotaram depois do que DEV lhes comunicou.

-MERDA! – Rixon desbaratou, sem conseguir controlar, mas foi Patch quem socou o punho na parede e abriu um buraco nela.

As duas humanas se separaram assustadas com o surto de ambos, sem entender o que lhes escapara.

-Rapazes, calma. A gente vai conseguir sair dessa. Tem de haver uma saída. – Vee falou se aproximando de uma das janelas para tentar perceber se ainda os cercavam.

-É melhor você falar logo, JEV. É para a segurança de ambas. – O Anjo Negro aconselhou e no segundo seguinte sumiu.

-Contar o quê? – Nora por fim questionou o que pulava na ponta da sua língua querendo sair há mais tempo.

-Nora... - Patch começou, mas não sabia como dizer aquilo.

Vendo o dilema do amigo, Rixon resolveu falar de uma vez. 

-Os Nefelins fizeram sua tia de refém. Eles vão perseguir todos os que são próximos até chegarem a você. - Rixon disse e depois olhou para Vee preocupadamente.

-Então eles estavam tentando me pegar? - Vee perguntou ao perceber o motivo do ataque de mais cedo.

Rixon chegou mais perto dela e a abraçou protetoramente.

-Temos que escondê-las. – Rixon disse e Vee se agarrou a ele, mas ao mesmo tempo olhou temerosa para a amiga que começou a tremer.

-Eu não posso fugir... – Nora sussurrou sentindo as lágrimas caírem. – Minha tia... Ela... Nós temos que salvá-la agora mesmo e...

O choro dela se intensificou impedindo-a de continuar a falar. Patch fechou as mãos em punhos odiando ver Nora tão frágil daquele jeito e deu um passo em frente pronto para tomá-la em seus braços e consolá-la, mas Vee foi mais rápida e saiu dos braços de Rixon para tentar acalmar a amiga.

-Sua tia vai ficar bem, Anjo... – Patch sussurrou tentando de alguma forma acalmá-la, mas apesar de também estar preocupado com a tia dela o que mais o importava agora era a segurança de Nora. - Mas também precisamos nos concentrar na sua segurança agora...

-Não! – Nora gritou o interrompendo e saindo dos braços de Vee. - Nada vai ficar bem... Nada vai ficar bem... 

Ela berrou em meio as lágrimas e soluços e correu em direção ao seu quarto onde se trancou. Seu coração estava acelerado e apertado em agonia; imaginar sua tia em perigo era terrível, e tudo por sua culpa!

-Eu vou ficar com ela. – Vee sussurrou com os olhos marejados ao ver o desespero da amiga.

-Não. – Patch a interrompeu agindo por impulso. – Eu vou.

-Patch. – Rixon ainda tentou impedi-lo, mas ele estava decidido e foi mais rápido se desmaterializando e surgindo dentro do quarto de Nora.

Ao vê-la encolhida na cama e chorando ele sentiu um desespero incomum atingi-lo, ver Nora assim o deixava desnorteado... Ele sabia que precisava agir logo, a tia dela estava em perigo e ela e Vee também, mas acima de tudo Nora precisava ser acalentada agora e ele estava mais que disposto a isso, mesmo que precisasse por alguns instantes quebrar aquelas malditas regras.

Em meio a todo seu desespero Nora viu Patch se aproximando da cama e se sentou...

-Sai daqui, Patch. – Ela ordenou sem conseguir parar de chorar, não conseguia mais se fazer de forte nesse momento.

-Não, eu não vou sair daqui. – Patch se aproximou rapidamente e a puxou abraçando-a.

-Me deixa sozinha, Patch... Por favor, vai embora... – Nora relutou socando-o como podia, mas isso só fez ele abraçá-la com mais força.

-Eu não vou a lugar nenhum, Anjo. – Patch sussurrou no ouvido dela que ainda se contorcia nos braços dele.

-Você vai sim, depois você vai me deixar de novo e aí eu não vou suportar mais. – Ela berrou ainda tentando se livrar dos braços dele, mas ele a apertou mais forte e a aconchegou em seu corpo carinhosamente.

Aos poucos Nora acabou se entregando, porque ali nos braços do Patch ela realmente se sentia segura... Ainda chorando ela se agarrou a ele e deixou que seus carinhos fossem acalmando-a.

Patch acariciou os cabelos dela e a ninou como se ela fosse uma menininha que teve um pesadelo e precisava se sentir segura novamente. Por um momento ele se permitiu a esquecer de todo o resto, por mais egoísta que fosse, ele precisava daquele mínimo momento com ela em seus braços de novo.

-Não se desespere assim Anjo... Prometo que sua tia ficará bem, eles não farão nada com ela, só a querem para chegar até você, e isso não vai acontecer. – Patch disse calmamente.

Nora aos poucos foi se acalmando enquanto tentava com todas as forças acreditar naquelas palavras dele... Sua tia ficaria bem, todos eles ficariam bem...

Depois de um tempo ela sentiu o sono chegando, mas antes de acabar caindo na inconsciência vencida pelo cansaço, ela ergueu os olhos e olhou Patch intensamente.

-Eu amo você... – Ela disse ainda o olhando nos olhos e Patch precisou ser muito forte para não beijá-la e amá-la ali mesmo. - E mesmo você me rejeitando eu sinto que é esse amor que ainda permite que eu consiga ter forças para lutar, apesar de todo meu medo e desespero... Aconteça o que acontecer eu nunca vou desistir de nós, do nosso amor.

Patch a abraçou com força beijando carinhosamente sua testa e os dois ficaram assim, abraçados e em silêncio, até Nora acabar adormecendo cansada de tanto chorar.

Ele a olhou acariciando seu rosto e sorriu tristemente.

-Eu te amo mais que tudo, Anjo... De um jeito louco e absurdo que nunca pensei ser possível amar... O que eu mais queria era permitir que pudéssemos viver esse nosso amor, mas é exatamente por te amar tanto que não posso ficar com você... Mas eu sempre estarei por perto, sou capaz de tudo para te manter a salvo. – Enquanto sussurrava ele continuou a acariciar os cabelos dela, infelizmente ela não podia ouvir tudo aquilo, mas no fundo ele sabia que era melhor assim.

Patch sabia que a guerra estava só começando e eles tinham muito a fazer, começando por salvar a tia de Nora e dar um jeito de mantê-las bem protegidas... Mas antes ele ainda se permitiu ficar mais alguns instantes com sua amada em seus braços.