O Barco escrita por Irwin


Capítulo 7
Barqueiros


Notas iniciais do capítulo

Ponto de vista: Adel



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— ACOORDAAA! — ouvi uma voz conhecida gritar. — Ahahahaha, caraca  mas você gosta mesmo de dormir.

— ... Nem tanto...

Eu costumava ficar mais tempo aceso do que apagado, a não ser em algumas ocasiões específicas, como na aula, por exemplo. Acho que por causa disso todos da classe me viam como um grande preguiçoso, o que normalmente acompanhava outros apelidos como emo ou coisas do tipo...

Só que dessa vez o sono tinha uma razão especial; nas últimas noites não tenho conseguido pregar os olhos. Foram noites e mais noites em claro causadas pelos problemas de sempre, mas também algo mais. Algo que de repente começou a me deixar inquieto. O que teria acontecido com aquele cara que me pediu ajuda? Nunca mais tive notícia, até porque deixou de me mandar respostas. Era isso mesmo que eu queria, mas depois comecei a me sentir incomodado... será que já estaria morto? Encontrou uma forma de tirar a vida como queria? A ansiedade aumentou. Se fosse, eu poderia ter impedido... é verdade que não agi como ele tinha pedido, mas, por outro lado, também não disse nada pra evitar... apenas fiquei em cima do muro pedindo para que ele pensasse bem.

— ... Será que está vivo?...

— Hein? Quem tá vivo?

Só então percebi que tinha voltado a pensar em voz alta.

— Não cara, ninguém — tentei rir também. — É... acho que peguei no sono de novo... mas esses dias não tava conseguindo dormir muito.

— Então vê se desperta logo! Lembra que hoje a gente tem treino com o pessoal.

— Verdade... hehe.

Ele continuou rindo. Não que me incomodasse, afinal, era meu melhor amigo, e foi outra longa batalha até conseguir chamá-lo assim. Parecia ser hora do intervalo; incrível que nenhum professor idiota tenha tentado me acordar.

— Anda, vamos dar um rolé, o próximo horário vai ser vago. Uma pena não venderem bebia no colégio, mas a gente acha qualquer coisa que sirva ao menos pra te despertar.

Não seria má ideia. Quando me levantei, vi que metade de mim ainda devia estar dormindo. Mas a minha sonolência logo, logo foi embora. Foi embora assim que o segui pela porta que ligava a classe ao corredor.

...Hã?!...

Onde estava o corredor?! E todo mundo... eu ainda estava dormindo?! De uma hora pra outra, tudo tinha escurecido.

— Ei cara, pra onde você foi?!

Nenhuma resposta. Porém, uma resposta apareceu instantes depois, quando as sombras que tinham tomado conta de tudo à minha volta desapareceram, dando lugar a uma paisagem familiar, mas que ultimamente já tinha conseguido esquecer.

Senti o sangue ferver.

— Diabos! Essa maldita praia de novo?!?!?!

Não... eu não estava dormindo. Quer dizer que como se não bastasse me perturbar durante o sono, agora tinha que aguentar aquilo quando também tava acordado?!

Saí correndo até aquele oceano. Pro inferno com aquela água, mas descobriria logo duma vez o que significava tudo isso, pra ver se me deixava em paz.

— Espere!

Parei no ato. Até então, nunca tinha ouvido outra voz além da minha própria ecoando por aquela praia. Olhei para trás, e encontrei um homem velho sorrindo para mim dum jeito estranho.

— Sei que deve estar ansioso pra ir — disse ele. — Mas só peço que espere um pouco mais, jovem barqueiro.

— Quem é você? E do qu... hã?

Mais gente apareceu pelo bosque atrás dele. O mesmo bosque onde pensei ter visto uma agitação, antes. Eram muitos. E todos me olhavam com espanto, como se por alguma razão não acreditassem que estavam me vendo bem diante deles. Aliás, os olhos eram a única coisa que dava a entender que não eram zumbis. Até as roupas que usavam tinha a mesma tonalidade daquele ambiente, como se todos eles fossem camaleões.

Ou melhor... todos, não. Tinha alguém diferente. Um pouco afastado do grupo maior, havia um cara mais ou menos da minha idade, no encosto duma árvore. Olhou brevemente pra mim, mas logo depois voltou a fixar os olhos no outro lado, desinteressado. De qualquer forma, as roupas e a mochila que carregava me deram a entender que também não era dali.

O velho de antes aproximou-se mais:

— Adel, agora que seu corpo está plenamente estabilizado, podemos enfim saudar o surgimento do novo barqueiro. Poder presenciar isso é indescritível.

— Mas o que é que tá acontecendo aqui?! — perguntei, sentindo-me ainda mais confuso ao vê-lo tentando enxugar os olhos ao mesmo tempo que outras pessoas faziam o mesmo, emocionadas, e uma garotinha soluçava. — Que papo é esse de barqueiro?!

— Todo barqueiro precisa de uma coisa essencial — prosseguiu o velho, em seguida apontando para algo atrás de mim. — Vejam, aí vem ele!

Eu me virei para o oceano e logo vi o que lhes chamava a atenção. Sim, o mesmo barulho de algo se movendo pelas águas, e agora ainda mais claro. Também não demorei a ver o vulto se movendo. A diferença era que a impressão que me dava dessa vez era que vinha direto para a praia. Já podia ver um pouco melhor... estava chegando...

— É... um barco...

Uma embarcação de madeira negra não muito grande aportou bem lentamente na praia. O detalhe era que não tinha ninguém conduzindo-a. Espiei o seu interior: apenas dois remos posicionados lado a lado como se nem sequer tivessem sido tocados antes.

— Continuo não entendendo...

O ancião, então, sorriu para mim novamente e virou o rosto para o outro lado, onde estava o rapaz na árvore, que preferiu assistir à chegada do barco de onde estava mesmo:

— A espera enfim terminou! Hoje partirão dois bravos barqueiros; Adel, Irwin, é hora de subirem no barco e buscarem aquilo que desejam!


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