O Barco escrita por Irwin


Capítulo 4
Procurando Um Método


Notas iniciais do capítulo

Ponto de vista: Irwin



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/143292/chapter/4

Era noite. Estava em meio a um dos meus passeios solitários pelo centro da cidade onde fazia faculdade. Apesar de tudo, não podia dizer que não gostava de lá. Só o fato de não ser a minha maldita cidade natal, repleta de fantasmas dançantes, já era um aspecto favorável.

Olhei pro meu relógio. Quase nove da noite. Já me dirigia de volta ao pensionato onde estava morando, me sentindo um pouco melancólico a cada vez que algum humano qualquer passava por mim com um sorriso no rosto, especialmente se estivessem em bandos. Era como se isso intensificasse ainda mais a minha própria dor.

— Bom... talvez tenha algo que eu possa fazer... — disse para mim mesmo enquanto tateava os bolsos à procura do meu celular.

Tal objeto raramente tinha alguma utilidade nas minhas mãos. Na verdade, só o carregava comigo para que o pessoal de casa pudesse monitorar meus passos mesmo à distância. Odiava isso, mas se me recusasse, a louca da minha mãe começaria mais um dos seus escândalos doentios, e eu não tenho paciência pra isso. Em todo caso, usei o aparelho para falar com a única pessoa que atualmente recebia chamadas minhas:

— Fala aê, grande Irwin!

— Oi... desculpa incomodar, só queria saber se tá tudo bem. Não foi pra facul hoje...

— Rapaz... pois é, tá complicado viu... você sabe que não tô muito contente com aquele curso.

— É, eu sei — assenti. — Pretende ir amanhã? Tem dois horários de inglês, que você sempre gosta.

— Hehe, amanhã é que não vou mesmo. É meu aniversário e devo sair o dia todo com uns amigos.

— Ah... eu não sabia... pow, parabéns aê, adiantado, hehe.

— Vale, brother! A gente ainda se vê.

— Claro. Até mais.

Desliguei. Aquele cara não era exatamente um amigo, mas era o mais próximo disso que surgiu no meu caminho naquele novo ambiente. Entretanto, seria pedir demais pra que dedicasse todo o seu tempo a bancar a minha babá, ainda mais com a vida atarefada que dizia ter.

Comprei um lanche pela rua, mas nem estava com fome. Foi só para fazer hora até dar nove horas. Era o horário em que a única pessoa com quem conversava abertamente, a quem chamava de amigo, ficava online pelos chats. Contudo, não o vi quando cheguei à pequena lan house que havia dentro do pensionato.

— Esse também não pode dedicar a vida a ser minha babá — ironizei silenciosamente.

Assim era melhor, pensei. Se o encontrasse, provavelmente daria início a uma nova discussão virtual, já que eu, com certeza, falaria de como as coisas estavam indo mal na faculdade e que pensava seriamente em largar tudo. Ele, que repudia minha fraqueza, perderia a paciência comigo de novo, até porque a conversa dessa vez seria diferente.

Seria também uma despedida. A única coisa que ainda me segurava aqui, nesse mundo, era a ideia de, talvez, poder concluir o curso e ter uma vidinha medíocre, porém independente em algum canto escuro que pudesse chamar de lar. Mas até essa última chama que se mantinha relutante dentro de mim terminou como as outras, apagada por um vento demoníaco. Minhas notas iam de mal a pior, e já me via ameaçado neste segundo período que mal tinha começado. A psicóloga da universidade era como ele, só me dava conselhos absurdos que mais me irritavam do que ajudavam. Ou será que eu é que já seria um caso perdido? Essa sim parecia ser a grande verdade...

Sim, melhor que a gente não se fale em tempo real. Deixarei uma mensagem a ele, bem como uma carta destinada à minha família. Agora, só o que eu preciso é de um... método. Qual seria a melhor maneira de me matar? Dizem que, quem realmente pretende tirar a própria vida, faz isso duma vez, sem ficar escolhendo essa ou aquela forma, mas eu era tão lastimável que tinha medo de agonizar, o que sempre impedia minhas tentativas.

Mas eu já estava decidido... e, já que estava na Internet, resolvi vasculhar umas comunidades onde participava. Talvez encontrasse um bom jeito de acabar com a minha existência patética de maneira indolor. 

Muitos que eram como eu costumam usar esses fóruns pra desabafar ou pedir conselhos. Eu já fiz isso algumas vezes, mas nunca fui muito bem recebido, vamos assim dizer. Alguns membros diziam que estava me queixando de bobagens, ou então vinham pra cima de mim com aquelas estúpidas mensagens religiosas de amor e esperança. Isso sempre me dava receio de voltar lá. Não sei se teria coragem de abrir um tópico exclusivo para isso, então tive outra ideia.

Pediria ajuda de forma isolada, escolhendo uma ou mais pessoas e me comunicando por uma mensagem privada. Acho que assim seria melhor. Só precisava mesmo encontrar alguém que ao menos parecesse confiável, e que pudesse me indicar um método.

E não demorei a encontrar alguém que chamasse a minha atenção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais um capítulo e espero que estejam gostando!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Barco" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.