O Barco escrita por Irwin


Capítulo 17
Regresso


Notas iniciais do capítulo

Ponto de vista: Adel



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Não estava muito mais fácil de enxergar. Meu corpo já não doía tanto quanto antes, mas ainda tava cedo demais pra dizer que me sentia bem. Foi um bom tempo nadando naquela água demoníaca procurando pelo Irwin. Pelo menos, por um instante em que pensei que a tempestade tivesse me vencido, percebi que conseguia respirar debaixo dela. O importante foi que o encontrei a tempo.

A verdade era que eu odiava o mar. Essa foi mais uma das muitas razões que me deixavam inseguros quanto a isso de Barqueiro, e o nevoeiro daquele arquipélago só fazia essa antipatia aumentar ainda mais.

— Parece que a próxima ilha ainda tá longe — comentei com Irwin, que estava na parte da frente da embarcação.

— Eventualmente, chegaremos Em vez de se preocupar com isso, deveria me deixar remar sozinho. Dá pra ver que ainda não está totalmente recuperado.

— Você também não tá cem por cento, Sr. Invulnerável.

Ele me ignorou e, enquanto remava sem muita pressa, voltou o olhar pra baixo, pro oceano:

— Isso... não pode ser água... simplesmente não pode.

— Também já tô bolado com isso. — eu disse. — Você percebeu que tem como respirar nela, não é?

Quando ele ia responder, ouvimos um novo barulho vindo pela esquerda. Era parecido com o do nosso remar nas águas, mas esse era bem mais acelerado. Não demorou muito e os contornos de uma outra embarcação, algo como um pequeno bote, surgiu ao nosso lado.

— Outro barco? — perguntei surpreso.

Mas o garoto que remava afobadamente parecia ainda mais impressionado ao nos ver:

— Ei amigos, por que tão remando tão devagar? A conferência já deve estar terminando!

— Que conferência? — Irwin perguntou, franzindo o rosto.

— A imperatriz Lucidia abriu as portas de seu palácio pra todos, e vai falar sobre a vinda do novo Barqueiro, Adel — explicou o outro. — Falta pouco pra chegar lá!

— Espera!... então... o palácio dela e o continente ficam por aqui? — voltei a perguntar.

— Claro! Só seguirem direto! E, se me permitem, vou indo na frente porque não quero perder nada! Até mais!

Só não nos fez comer poeira porque aquilo era o oceano. Depois de ver o seu bote desaparecer na neblina à nossa frente, olhei com algum entusiasmo para Irwin:

— Olha só, parece que fomos jogados já bem perto do continente. Sorte, hein, cara?

— É o que parece... — ele murmurou, mas não parecia muito contente, e olhe que era quem mais desejava sair do arquipélago.

— Algum problema?

— Não... vamos, então.

A hesitação dele por um momento me deixou também pensativo, mas não demorou muito para que as dúvidas deixassem de existir. Sim, duas torres de um castelo gigantesco podiam ser vistas com facilidade poucos minutos depois. Uma outra torre, que ficava no centro, entre as outras, possuía um farol com luz giratória que facilitava em muito o nosso trajeto. O palácio daquela que chamavam de imperatriz, exceto pelo tamanho, não era lá muito chamativo, já que tinha o mesmo tom morto de cinza que tudo que havia em Lucidia, mas ainda assim era algo a se notar.

Irwin, por outro lado, só tinha olhos para o que estava mais abaixo das grandes torres: o continente. E devo dizer que até eu fiquei um pouco aliviado por voltar a contemplar tamanha porção de terra. Já tinha tido o suficiente daquele oceano maldito.

— Finalmente, terra firme — ele murmurou. — Eu o ajudaria a ir até o palácio, mas creio que milhares de seus fãs já estarão por lá dispostos a te ajudar a se recuperar.

— Espera, cara, você tem que entrar comigo... as respostas que eu quero conseguir lá também servirão pra você, lembra?

Por incrível que pareça, ele não reclamou de imediato, e depois até concordou, meio emburrado. Acho que ainda estava se sentindo culpado ou alguma coisa parecida...

— Mas, se isso demorar, ninguém vai me impedir de ir logo embora — afirmou.

Com uma chance muito pequena, talvez eu ainda conseguisse fazê-lo mudar de ideia. Dessa forma, aportamos numa praia já com os olhos fixos já na tremenda multidão que se formava adiante... ou devo dizer, nem tão adiante, já que, mal nos viram, e marcharam com fúria na nossa direção como uma manada de animais selvagens.

— AH, NÃO!

— E lá vamos nós de novo... — suspirou Irwin, saltando pela lateral do barco e se afastando por um lado.

— Ei, aonde você vai?!

— Não gosto de aglomerados — ele disse calmamente, quase no mesmo instante em que dezenas de pessoas me sufocavam atirando-se contra mim.

De certa forma, as pessoas daquele mundo sombrio eram tão idiotas e repetitivas quanto as do outro. Talvez humanos sempre seriam idiotas pelo simples fato de serem o que são... Sendo assim, nem vou perder tempo falando de como começaram a me bajular outra vez e me carregaram até o palácio. O lado bom era que isso me poupava tempo, mas como Irwin se mandou (de novo), eu teria que fazer todas as perguntas que tínhamos por conta própria.

Eu já tava me acostumando a ser carregado como um sheik árabe pra lá e pra cá, então até estranhei quando me colocaram no chão pouco antes do portão principal depois do jardim do palácio, em seguida olhando-me com uma cara séria:

— Você deve prosseguir sozinho — disse um deles.

— A imperatriz o aguarda.

— Não a faça esperar.

Com certeza! Nem eu aguentava mais, e entrei no lugar sem a menor cerimônia. Esperava encontrar um hall gigante, talvez decorado, talvez não, com uma jovem mulher, talvez bonita, talvez não, olhando curiosa pra minha cara, talvez gostando, talvez não, mas não foi nada disso que vi.

Não mesmo...

Apareceu, sim, uma sala diante de mim. E eu a conhecia bem.

— Até que enfim chegou. Vá logo se aprontar porque não tenho tanto tempo quanto você — disse a voz áspera do meu irmão, que olhava pro seu relógio impaciente.

... Eu estava em casa.


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