Fabrica de Bonecas. escrita por Heloisa


Capítulo 1
Só você.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura.



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 Adorava ver você sair. Sempre tão apressada como se o mundo estivesse acabando.

Como se só você fosse importante.

Só porque criava sorriso em todos.

Dessa vez usava um vestido rosa, com flores tão mesquinhas quanto os seus cabelos; que sempre estavam tão bem penteados e compridos.

Desenhava-te.

Ou rabiscava.

Traços ovais, com boca languida.

Saudade.

Traços vãos e doentios

Saudade.

‘’ E mais uma vez’’

Traços distorcidos do seu corpo, só seu.

Egoísta.

Perfeito. Estava pronto.

Colocava o papel sujo e mesquinho na pilha, que continha o seu nome.

Dessa vez te abordei na rua. Você sempre tão gentil, se formou surpresa.

Perguntei como estava, mas tornou a ignorar.

Sou tão estranho assim?

A minha boca quase sem dentes e as minhas mão sujas de sangue, te assustam tanto?

Dessa vez te arrastei. Coloquei onde queria. Onde só seria minha.

E de mais ninguém...

Você gritava como se estivesse machucada, o sangue que escorria da sua boca era tão superficial. Eu te contei?

Não?

Esqueci-me enquanto inventava tintas para pintar a nossa vida. Com traços tão absurdos quantos as palavras que você cuspia.

Te assustei?

Não era a minha intenção.

Dessa vez rabiscava você com luz e sombra. Dando importância aos detalhes que sua boca suja mencionava. 

Seus olhos tão caídos e seu corpo arcado de dor.

Fui dormir; e naquela noite sonhei com nos três.

Você segurando o meu filho e ele sorrindo, esticando os braçinhos querendo me agarrar.

O sorriso brotava em meus lábios de maneira sincera

Acordei de uma maneira estranha, em minhas mãos havia cabelo.

Eram seus?

Voltei a te encontrar. E você por milésima vez tornou a afrouxar as cordas, que te agarravam com tanto carinho e atenção. Elas te amavam e eu também...

E era sempre:

‘’ - Não foi por mal. Eu juro que nunca quis deixar você tão triste’’

 Acompanhada por desculpas esfarrapadas e lágrimas vermelhas.

Fui a sua casa e peguei o que precisava.

Peguei os seus lençóis e quebrei as suas janelas, a sua cama e o portão.

Tudo fiz com muita calma. De maneira esplêndida ninguém percebeu.

Fiz armação paleta e cavalete.

E prendendo o lençol a tela se fez.

Tudo com muita precisão.

Você chorava enquanto cortava os seus cabelos.

E o meu coração sorria.

Olha só como as coisas são...

Cada lagrima que escorria era apanhada. Não iria dar ao chão a oportunidade de colhê-las.

Destilei óleo de linhaça.

Procurei a sua bolsa para começar a minha tela. Roubei de você um batom vermelho que dias atrás passava com tanto orgulho.

Parecia que aquela era sua espada.

Que por segundos se tornou metal derretido.

Pontos de fuga e horizontes.

Quem era você naquela hora?

Era minha e de mais ninguém.

E por rotina havia desculpas...

Soltei-te assim que completei a minha tela.

Das cores que inventei, manchei lençóis e o seu rosto.

Tudo com muita perfeição.

Desamarrei a cordas, limpei as facas e ajeitei o seu cabelo.

Você por fim sorriu.

 ‘’- Obrigado. ’’

Era o que queria ouvir.

Um simples.

Um mero obrigado.

Que da mesma forma que desculpas, nem sempre são sinceras...

Abri as janelas e deixei o sol entrar.

Virei - me e te vi na estante, novamente sorrindo com seu vestido rosa.

A sua casa intacta e seu rosto sem cortes.

Peguei você e te analisei.

Porque fui te criar?

Porque te coloquei esse sorriso?

Por que será que acredito em tudo que invento?

Coloquei-te na minha estante, junto com resto da coleção...

Minha mãe me chamava.

Eu precisava viver, e sair deste quarto.

E abandonar a coleção.

Uma coleção de bonecas de pura perfeição..


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Notas finais do capítulo

Obrigado pela Leitura.



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