Faz frio em Porto Alegre toda noite e de longe eu não posso te ver.
Então me perco em pensamentos de um passado que a muito tempo eu quero esquecer.


Era noite na cidade, e realmente fazia frio. A chuva caía devagar enquanto ninguém parecia se importar com isso. Muito menos eu. Andava devagar pelas ruas de Porto Alegre enquanto via os outros andando por aí, com pressa, indo pra algum lugar para se proteger da chuva. Eu não. Aquilo não me incomodava, até porque coisas piores estavam se ocupando de mim.


Eu só quero falar que ao teu lado
Eu tava errado, eu nunca consegui viver
Mas só eu sei de você
Eu volto a tanto tempo e cada vez parece que o meu tempo não passou.


Sentei-me num banco de praça qualquer, longe de tudo. Sentia o vento frio bater em mim, mas não doía. Não tanto quanto como aquelas palavras ditas por ti há um tempo atrás. Sentir todo aquele ódio vindo de suas palavras me fez mal. Me faz mal por causa do seu olhar, porque eram tuas palavras. Doeu porque era você.


Não consigo entender até agora o porque de tudo isso. E daí que nosso namoro não ia bem? Quem ligava para isso? Ok, eu ligava. Só nunca imaginei que um dia fosse acabar. Que um dia eu ia ter de ouvir o que ouvi. Podíamos ter conversado, mas quem disse que foi tudo bem? O jeito que nos olhávamos. Não queria acreditar o quão idiota eu tinha sido.


Te perder para outra pessoa. Foi isso. Bastou apenas isso para eu perder o controle. E tu também, Tavares. Agora percebo que não foi só você que se perdeu. Eu dei motivos dignos e suficientes para o nosso término. E tu também, Tavares. Não pense que não.


Ainda me lembro das noites que eu passava sozinho em nosso apartamento, esperando sua volta, coisa que geralmente não acontecia. Sempre tinha um amigo seu me ligando, falando onde você se escondia todas as noites que não estava comigo.



Eu vivo condenado e sem saída de um passado que parece não ter fim.


Fiquei um bom tempo sentado naquele banco. Aliás, estou aqui até agora, jogando aqui tudo o que queria ter jogado na sua cara. Porque eu sou covarde, e eu não fui suficientemente forte para fazer mesmo que você. Talvez tenha sido por isso que você se foi, Tavares.


Eu só era protetor demais, só queria cuidar do que era meu. Eu só queria cuidar de você. Cuidar, amar, guardar. Proteger. E perceber que eu fiz tudo errado o tempo todo. Não estávamos felizes, e eu nunca percebi isso. Nenhum de nós, Tavares. Ninguém nunca percebeu que era um beco sem saída, um poço sem fundo.


Estávamos afundando em nós mesmo. Chegamos a um ponto onde tudo só podia piorar ainda mais. E foi indo, até o dia em que você se foi e não voltou mais. Não achei fosse ser tão rápido assim, mas você se foi. Tão longe, e eu não pude me desculpar. Eu não tive tempo de dizer adeus.


Você não sabe de mim
Só não queria dizer adeus
(É que eu tinha tanto pra cantar)


Mas eu amei você. Posso não ter tido coragem para dizer isso na tua cara, mas ao menos estou lhe escrevendo. É bem provável que tu nunca vá ler isso, mas eu tentei. Você está vendo como eu tentei. Assim como tentei nos salvar. Sinto muito, mas não consigo mais. Não posso mais. E saiba que eu ainda o amo.


Amo como se ainda fosse meu, como se nada tivesse acontecido. Pura idiotice, mas não posso controlar o que sinto, não agora. Espero que um dia eu possa viver assim como você, Tavares, como se nada tivesse acontecido. Até, só espero que fique tudo bem. Porque era tudo o que eu queria desde o começo.


Começamos errado da primeira vez. Agora eu vou começar novamente. Sem você. Eu, finalmente, te digo adeus.


Eu não queria perder o que sempre foi meu
Pois não há alguém que possa te amar
Pois não há alguém que possa nos salvar