A Second Chance escrita por Between the moon and the sun


Capítulo 9
Sendo acolhida por um estranho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/142942/chapter/9

Eu estou sozinha com um cara no frio. Tudo que eu sei é o nome dele, que ele usa maquiagem e fuma. Ele me convidou pra entrar. Em sã consciência, eu devia correr, eu nem conheço ele. Mas que opções eu tinha? As ruas também não estavam seguras para mim no momento.

Eu olhei pra trás, ainda estava chovendo. Eu olhei pra frente, Bill me fitava.

-Acho que vou aceitar o convite. – Meu Deus, por favor, me faz sair viva dessa.

Ele abriu a pequena porta da cobertura onde estávamos, encostou uma mão cuidadosamente nas minhas costas, fazendo menção para eu entrar primeiro. Sua mão estava tão aquecida, minha pele estava tão gelada, que eu arrepiei. Entrei naquele lugar que parecia... Ok, eu não sei o que parecia, mas era melhor que lá fora. Não era uma casa.

Fiquei no meio de uma sala que tinha um sofá a minha frente, uma penteadeira a minha direita e um belo tapete sob meus pés. Do lado direito, tinha um pequeno corredor, com uma porta a direita, uma a esquerda e outra bem no final do corredor.

-Os garotos devem ter saído sem mim... – Bill disse.

-Garotos? – Eu disse olhando pra ele.

-É. Tom, Georg, Gustav. – Ele falava como se eu devesse conhecer aqueles nomes.

-Ok...?

-Você espera que eu acredite mesmo naquela história de perder a memória? – Ele disse rindo.

-Você não precisa acreditar em nada se não quiser, eu não tenho muito a ver com isso... Depois de hoje, nem precisamos mais nos ver, se você não quiser. – Então ele ficou sério de novo, me encarando confuso. –E realmente, desculpa o incomodo. Logo, eu vou embora.

-Ok...

-Tem um banheiro aqui por perto?

-Ali. – Ele disse apontando para uma das portinhas no pequeno corredor. Eu fui pra lá e liguei a torneira da pia. Percebendo que eu não fechei a porta, então provavelmente não faria nada que ele não pudesse ver, Bill andou até a porta do banheiro e se encostou no batente da porta, cruzando os braços e olhando para mim enquanto eu lavava o rosto, tirando minha maquiagem. Suspirei ao olhar para o espelho e ver uma mancha vermelha no meu rosto. -O que aconteceu com você?

-Eu estava saindo da escola, indo para casa a pé. Três garotos da minha escola me pararam em uma rua quase deserta, e... – Eu apontei para a minha blusa, um pouco envergonhada. –Um deles... – Então eu estremeci e percebi que não conseguia colocar aquilo em palavras.

-Garotos te bateram? Mas você é uma garota! Que idiotas. – Ele disse rolando os olhos.

-Ele não queria me bater, ele queria... – Então ele entendeu o que eu estava tentando dizer.

-Oh! Meu Deus, sinto muito.

-Tudo bem... Eu só estou um pouco assustada, só isso. Mas... – Olhei pra ele. –Você tem pó de rosto? Eu preciso esconder essa marca da Lucy...

-Quem é Lucy?

-Minha mãe.

-Porque você não chama ela de mãe, então?

-É uma longa história e você não vai acreditar mesmo. – Ele me passou um pó de rosto e eu escondi a mancha vermelha do rosto facilmente com aquilo.

-Porque você não tenta contar?

-Antes de eu perder minha memória, eu nem conhecia minha mãe, eu pensava ser órfã. Eu cresci em Paris. Minha mãe me colocou em um orfanato quando eu nasci, pois ela não tinha dinheiro e era muito nova, os pais dela a jogaram pra fora de casa por ela estar grávida. Ela tentou me encontrar depois que estava melhor de situação, mas no orfanato, disseram que eu já tinha sido adotada. Porém dizem que eu fui adotada e devolvida algumas vezes. Então eu vivia sozinha com uma colega minha do orfanato, que já era maior de idade. Sofri um acidente, perdi a memória e aí a minha mãe me encontrou no hospital. Ela é neuro cirurgiã e mora aqui, mas tinha sido chamada em Paris pra fazer uma cirurgia delicada, já que ela é muito boa no que faz. – Olhei para Bill. –Acredita em mim? – Ele abriu a boca para falar algo, mas não emitiu som algum.

Eu me aproximei dele e fiz menção com a mão para que ele se afastasse da porta e me deixasse passar, e ele o fez.

-Sabe, Bill, eu só queria saber de onde eu te conheço. Você já foi a Paris?

-Não creio que você me conhecesse pessoalmente... Eu tenho uma banda e nós somos famosos, então talvez você conhecesse nossas músicas e nos conhecesse da TV, das revistas.

-Você quer que eu acredite em você? – Era minha vez de rir.

-Eu não estou brincando! Nós vamos fazer um show em pouco tempo.

-Claro...

-É sério. – Ele disse se irritando por eu não acreditar.

-Não me peça para acreditar em você quando você não acredita em mim. Além disso, com tantos lugares nessa cidade, com a minha sorte, quais as probabilidades de eu ter vindo parar perto de um astro do rock?

-Sei lá, só sei que eu não sou um mentiroso.

-E eu não sou uma mentirosa. Bom, você não me deve explicações.

-Procure na internet então. Tokio Hotel, digite lá. E digite meu nome.

-Certo, assim que eu reaprender a usar a internet... – Eu disse franzindo o nariz, como uma criança brava. –É um saco não saber nada, eu me sinto inútil. Mas eu não vou esquecer, vou pesquisar, só pra rir quando eu ver que não tem nada lá e que você é só um doido.

-Ou pra ficar de queixo caído quando me ver lá, por toda parte. – Ele me olhou com um sorriso desafiador e arqueou uma sobrancelha. Que lindo sorriso ele tinha... Eu suspirei por um momento olhando pra ele.

-O que foi? – Seu sorriso se desfez e eu voltei do meu transe, ou algo assim.

-Nada.

-Ah, você precisa de roupas secas ou vai acabar ficando doente.

-Eu estou bem.

-Não, você não está bem. Fique aí, vou ver se acho alguma coisa para você vestir.

Ele entrou em outra portinha do corredor e voltou rapidamente com roupas femininas nos braços.

-Essas são as roupas da Natalie. – Ele me entregou as roupas. Uma regata branca, simples, e uma calça jeans clara.

-Seja quem for essa tal Natalie, ela não vai ficar brava?

-Eu compro outras roupas pra ela se for preciso, mas não creio que ela vai se importar, são roupas simples. Ela só as trouxe caso ela tivesse algum acidente com as roupas hoje, ela sempre traz roupa extra. O banheiro é minúsculo, eu sei, mas você pode tomar um banho quente nele e vestir essas roupas. – Ele me entregou uma toalha branca. –Aqui, uma toalha.

-Ok. - Eu coloquei a minha bolsa de escola (que só agora eu parecia ter lembrado que estava nas minhas costas) no chão, perto da porta do banheiro, do lado de fora.

Entrei no banheiro e tomei banho rapidamente. Coloquei a roupa que Bill tinha me dado, fui até a pia e passei pó no rosto de novo, para esconder aquela marca vermelha. Saí do banheiro e Bill estava no sofá, lendo uma revista.

-Eu vou embora agora...

-Não, espera. – Ele andou até mim rapidamente, tirou sua jaqueta e se aproximou de mim. Eu me encolhi e fechei os olhos. Ele colocou a jaqueta sobre meus ombros e eu abri os olhos, olhei dentro dos seus olhos. Ele tinha um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Eu corei um pouco.

-Não preciso de jaqueta, pode ficar com ela. Você já fez demais por mim.

-Não discuta, apenas aceite o favor. – Eu vesti a jaqueta dele, senti um delicioso perfume masculino que jamais esqueceria, nem se eu sofresse 10 amnésias seguidas. Pelo menos, eu não queria esquecer aquilo. Olhei para ele de novo, sentindo necessidade de abraça-lo, mas não tive coragem. –E como você pretende ir para casa com essa chuva caindo lá fora?!

-Andando.

-Você não vai a pé, eu não te emprestei roupas secas à toa.

-E qual seria a sua solução?

-Você vai de carro.

-Com que carro?

-Ué, com o meu.

-Você tem um carro?

-Claro. Venha, vou te levar até sua casa.

Peguei minha bolsa do chão e ele segurou a minha mão e começou a andar. Era só pra me guiar, mas o toque de sua mão pareceu importante para mim, eu nem mesmo sei por quê. Segurei sua mão com firmeza, mas delicadeza, o seguindo. Sinto que eu ansiava por aquele toque há algum tempo.

Ele abriu a porta do fim do pequeno corredor e passamos por um grande corredor branco. Fomos parar em uma rua de paralelepípedos, atrás daquele lugar onde estávamos antes. Haviam poucos carros estacionados ali. Bill me guiou correndo até um deles e abriu a porta do lado do passageiro rápido e eu entrei rápido, para eu não me molhar mais. Ele correu pela frente do carro, abrindo a porta do outro lado e sentando no banco do motorista.

-Onde fica sua casa?

Eu falei o endereço e ele colocou as mãos no volante, saiu com o carro e eu fiquei olhando para a janela, vendo a chuva cair.

-Eu reparei uma coisa... Até agora, você não me disse seu nome.

-Vanessa, mas me chame só de Vanny.

-Belo nome, é diferente. Então, o que você vai fazer a respeito desses garotos da sua escola?

-Nada. – Eu respondi, dando de ombros.

-Mas eles podem tentar outra vez, e pode ser pior.

-Eu vou ficar bem.

-Não vai contar pra sua mãe?

-Ela tem mais com o que se preocupar e eu realmente vou ficar bem.

-Assim espero... – Quando chegamos até a minha casa, ele olhou tudo em volta.

-Sua casa é muito bonita, não?

-É sim... Lucy é incrível, ela se reergueu e construiu tudo isso. – Eu disse orgulhosa.

-Tenho certeza de que ela é incrível, realmente.

-Ela é forte.

-A filha dela também é.

Por incrível que pareça, não estava chovendo daquele lado da cidade. Ele saiu do carro, passou pela frente e abriu a porta do passageiro para mim, de novo. Eu saí e olhei para ele.

-Então é isso... Obrigada, muito mesmo. Não sei nem como agradecer.

-Tudo bem. – Então finalmente eu tomei coragem para abraça-lo, talvez eu nunca mais o visse. Passei meus braços em volta de seu corpo e o abracei. Ele me abraçou gentilmente, me ajeitando em seus braços e acariciou minhas costas de leve. Eu não queria deixa-lo ir, eu estava tão confortável ali... Mas eu tinha que deixa-lo, afinal eu não o conhecia, ele não me conhecia.

-Tchau, Bill Kaulitz, o astro do rock que salvou meu dia. – Eu disse rindo e nós nos soltamos devagar daquele abraço. Ele também riu e olhou para mim.

-Então você acredita em mim?

-Eu não disse isso, senhor eu-não-entendi-a-ironia-da-frase.

-Você sabe que acredita em mim, você sabe disso. – Ele sorriu, olhando em meus olhos. Provavelmente o sorriso mais sincero que ele tinha dado enquanto eu tinha estado com ele, naquele curto espaço de tempo. Um sorriso perfeito. –Espero te encontrar algum dia, depois que você tiver descoberto quem eu sou, só pra esfregar na sua cara que eu falei a verdade.

-Eu espero te encontrar algum dia só pra rir da sua cara. – Eu disse mostrando a língua como uma criança. Na verdade, eu só esperava encontra-lo de novo por acaso, saber um pouquinho mais sobre ele, sem motivo.

-Tchau. – Ele disse e acariciou o meu rosto devagar. –Cuide desses seus ferimentos.

-Vou cuidar. Tchau. – Eu disse e fui em direção ao jardim, chegando à porta. Me virei e vi o carro de Bill saindo. Peguei minhas chaves e abri a porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!