– Por que você não gosta do modo como eu penso? – perguntou o pai de Matheus um pouco mais sério. Senti que essa pergunta valia a minha vida, mas eu não estava com medo. Todos olhavam para mim na expectativa da minha resposta.

   – Eu não gosto de como o senhor ver as coisas, ou melhor, de como não ver as coisas. – comecei, falando calmamente. Ele balançou a cabeça pedindo para que eu continuasse. – Olhe ao redor e me diga o que ver? – perguntei focando nos olhos dele.

 – Minha casa! – disse ele depois de passar os olhos pela mansão.

 – Só uma casa? – perguntei. Ninguém parecia entender onde eu queria chegar e Matheus me olhava preocupado.

 – Só. – respondeu o pai.

 – Ta vendo? Você não consegue ver... Eu vejo uma mulher incrível que todo o homem gostaria de ter esperando por ele em casa. Eu vejo um filho incrível em todos os aspectos... Teve um tempo que eu achava seu filho um completo idiota e uma vez até pensei que o senhor fosse igualzinho a ele e eu tinha razão. Vocês são muito parecidos, mas não na idiotice. Matheus é um perfeito cavalheiro e acredito que ele puxou isso do senhor. Ele também é super inteligente e o senhor também parece ser um homem bem inteligente. – todos me olhavam com olhos arregalados, mas eu me sentia super confiante. – O que eu quero dizer é que o senhor só sai perdendo tentando afastar seu filho e sua esposa. Eu sei que você amou muito sua esposa para passar por cima do seu orgulho e se casar com ela. – eu sabia bem a historia de como os pais de Matheus se conheceram. Ela era de uma família humilde e ele um homem poderoso.

  Todos me olhavam completamente pasmos.

 – Você está querendo me dizer como eu devo tratar meu filho e minha esposa? – perguntou o pai com uma expressão carrancuda.

 – Alguém tem que fazer isso já que você não está sabendo fazer direito! – eu disse cuspindo as palavras. Por um momento o pai de Matheus ficou pensativo.

 – Você se parece muito com minha esposa quando começamos a namorar... Foi por isso que eu me apaixonei por ela. – disse ele lembrando de como as coisas era boas naquele tempo. Pensando em como tinha trocado sua esposa pelo trabalho. Já não sentia todo aquele amor ardente por ela. Era como se uma luz tivesse se acendido em suas lembranças. – Ela era tão geniosa e insuportavelmente irritante. – disse ele com ternura olhando para a esposa que sorriu para ele também se lembrando daquela época.

 – Você se esqueceu da coisa mais importante: Escutar quem você ama. – disse finalizando.

 Eu sentia uma felicidade tomar contar do meu corpo como se eu tivesse feito à coisa certa. Eu estava tão feliz por finalmente ter me encontrado. Matheus olhava para mim agradecido.

  O pai de Matheus se levantou de onde estava e caminhou até sua esposa com um sorriso enorme nos lábios. Ele se colocou os joelhos no chão e segurou a mão da esposa delicadamente, depois fez o que ninguém esperava.

 – Ana, você aceita se casar comigo... De novo? – Todos ficaram surpresos. – Eu não acredito que pude me esquecer o real motivo de eu ter me casado com você! Eu te amo! – disse ele beijando a testa da esposa. A mulher estava tão surpresa que não conteve a emoção e começou a chorar.

 – É claro (soluço) que eu *Snif* aceito! – disse ela o abraçando.

  Tocha admirava a cena com prazer. Matheus não agüentou e veio me beijar. Um beijo calmo, mas intenso.

 – Já chega. – disse Tocha fazendo cara de nojo. Todos sorriram.

 – Eu não vejo garota melhor para o meu filho do que você. – disse ele com sinceridade nos olhos.

 Era até incrível como um homem frio e carrancudo pudesse mudar tanto de uma hora para outra. Mas eu sabia que no fundo ele era uma pessoa boa. Ele era exatamente igual a Matheus, só tinha esquecido quem era suas prioridades.

 – Eu nunca vou deixar que você esqueça suas prioridades. – sussurrei no ouvido de Matheus enquanto ele me abraçava. – Obrigada. – disse ao senhor Monroe assim que Matheus me soltou.

 – O que você quer fazer meu filho? – perguntou o pai para Matheus.

 – Eu estou vendo o meu futuro. – respondeu olhando para mim. O senhor Willian, depois eu descobri que o pai de Matheus se chamava assim, apenas sorriu.

 – Quando eu conheci sua mão também pensava a mesma coisa. – disse ele abrindo um sorriso maior ainda e beijando a esposa que estava aos prantos de tanta felicidade.

 – Eu te amo, Willian! – disse Ana assim que eles se separaram ofegantes.

 – Eu também! – respondeu Willian dando mais um beijo na esposa.

 – Vocês tinham que fazer isso na minha frente. – disse Tocha fazendo um careta.

 – Seu bobo. – disse. Eu e Matheus fomos abraçá-lo.

  O resto do almoço foi tranqüilo e todos pareciam bastante felizes. Eu observava os rostos cobertos de alegria de Matheus, Ana e Willian. Eles formavam uma família muito bonita. Por um momento me lembrei da minha mãe e de como nossa família também era bonita antes de meus pais se separarem. Eu sentia falta do meu pai. Ele tinha me ensinado muitas coisas e uma dessas coisas foi de nunca desistir do que eu acreditava. Ele era um pai muito ausente, mas mesmo assim eu o amava. Não acreditava que ele tinha nos abandonado sem nenhuma explicação.

  Depois do almoço seu Willian disse que tinha que voltar para a empresa para resolver algumas questões pendentes, mas que voltava logo.

  Matheus me levou para passear pelo jardim de sua casa que era muito bem cuidado e tinha uma grande variedade de rosas.

 – O que você quer fazer? – ele me perguntou quando nos sentamos em um banco que havia no jardim.

 – Agora? Nada. Só ficar aqui mesmo. – disse olhando para um pequeno vaso com margaridas que estavam a nossa frente.

  Alguns minutos se passaram e eu ainda continuava em silêncio observando as margaridas. Eu estava feliz e triste ao mesmo tempo. Estava feliz por finalmente saber quem eu era e pela família de Matheus ter se resolvido, mas estava triste por tudo que minha mãe estava passando e ainda tinha Diego com o problema do pai dele. Eu me sentia egoísta por não está do lado do meu amigo quando ele estava precisando de mim. Tudo seria mais fácil se a mãe de Diego ainda estivesse viva. Ela com certeza apoiaria o filho, porque, pelo pouco que ele me falava sobre sua mãe, ela parecia uma pessoa extremamente doce e amável. Diego sentia muita falta da mãe que morreu de câncer quando ele tinha apenas dez anos de idade.

 – No que está pensando? – perguntou-me Matheus depois de alguns longos minutos em silêncio.

 – Em como eu sou egoísta. – respondi olhando para ele que deu de ombros. – Eu só penso em mim. Eu aqui super feliz e meu amigo passando o maior sufoco em casa. – Matheus sabia que eu estava falando de Diego.

 – Eu sinto muito! Fui eu que causei tudo aquilo. – eu sabia que aquilo não era bem verdade. Em uma hora ou outra aquilo viria à tona.

 – Isso não é verdade. Eu já tinha controlado a situação, mas Diego precisa falar a verdade. Ele não agüentava mais ficar escondido. – disse tentando tirar a culpa de cima de Matheus, mas tudo que eu tinha dito era verdade, Diego não agüentaria esconder aquilo por mais tempo.

 – Me desculpe por tudo que eu fiz. – disse ele passando uma mão quente em meu rosto. Ele sempre tinha esse calor sobrenatural que eu não sabia de onde vinha, mas adorava.

 – Acho que nós dois devemos desculpas um ao outro. – disse sorrindo e lembrando-me da proposta de Cindy para acabar com Matheus. – Me desculpe. – disse sorrindo. Ele retribuiu me beijando.

 – Agora, precisamos pensar em outra coisa. – disse me afastando depois do beijo. Matheus me olhou com o cenho franzido como se não soubesse do que eu estava falando. – Para qual faculdade você vai? – perguntei passando os olhos pelo jardim. Matheus pareceu fazer uma careta.

 – Não sei. Talvez eu não vá... – eu o interrompi antes que ele pudesse continuar.

– Eu não quero atrapalhar seu futuro. – disse olhando-o nos olhos. Ele parecia está preocupado.

 – Nós não precisamos pensar nisso agora. – respondeu ele calmo, mas eu podia ver a preocupação em seus olhos.

 – Tudo bem. Depois conversamos. Preciso ir pra casa agora. – disse me levantando. Ele sorriu para mim e também se levantou me puxando para mais um beijo.

  O sol já estava em seu momento final e o céu estava alaranjado deixando o jardim mais vivo e colorida. Ficamos um tempo abraçados e eu sabia que se Matheus fosse para uma faculdade no exterior eu o deixaria ir. Era pedir muito para ele me escolher ao invés dos estudos. Eu não o deixaria perder uma oportunidade dessas.

  Matheus me levou para casa e nós nos despedimos.

 – O dia foi maravilhoso e conhecer sua família foi super divertido. – disse dando um sorriso. Ele também sorriu e me beijou antes que eu pudesse entrar em casa.

  Depois que Matheus foi embora eu entrei em casa e vi uma coisa que me deixou completamente em choque.

 – Mãe? – perguntei quando vi minha mãe aos beijos com um homem. Eu ainda não conseguia ver o rosto do homem até minha mãe olhar para mim.

 – Precisamos conversar. – disse ela olhando para mim.

  Quando ela se afastou do homem eu podia ver muito bem o rosto do sujeito e fiquei pasma. Não acreditava em quem estava vendo na minha frente e ainda por cima beijando minha mãe!