Me abraço ao seu corpo pequeno, embalando seu sono. Em pouco tempo iria amanhecer, e eu sabia que a polícia iria chegar, mas não é como seu eu me importasse com isso, de qualquer forma.

       Takanori parece estar dormindo, seu rosto calmo, a pele branca, um pouco mais branca que o normal. Meus dedos correm por todo o seu rosto, guardando na memória cada linha, cada expressão. Sabia que era a última vez que eu o veria.

       Ah, Taka... Eu te amei tanto. Te amo tanto. Mas eu não entendo qual o seu problema em entender... que eu não gosto que te toquem? Mesmo que não seja com segundas intenções. Qualquer toque que imacule a sua pele.

       Nossa, como me irrita isso. E você sempre pareceu não se importar muito com isso, Taka. Já conversei com você. Já até cheguei a bater em você, mas parece que... não adiantava. Então eu tive que fazer isso.

       Você parecia um pouco assustado quando eu fui pra cima de você com aquela faca. Você chorou e começou a me dizer que me entendia... mas não, você nunca me entendeu. Nunca entendeu que o meu amor por você não enxergava limites.

       E essa havia sido a única maneira que eu havia encontrado para que ninguém mais encostasse em você. Meu e somente meu. Suspiro, ajeitando Taka sobre meu colo. Seu sangue manchava toda a minha camisa e caça, mas era um detalhe que eu não me prendia.

       Beijo sua testa ternamente, como em tantas outras ocasiões eu havia feito. Tantos momentos bons... Sua risada sempre foi meu bálsamo, a minha própria alegria. E também o seu sorriso, a luz do meu dia.

       Contraste perfeitamente com seus olhares reprovadores ou até mesmo de desprezo dos últimos meses. Eu fiquei com medo de que você me deixasse, por algum motivo que eu não sei. E eu não suportaria se isso acontecesse. Não suportaria vê-lo me deixar. Então, se era pra você me deixar, meu anjo, que fosse pelas minhas mãos, e de ninguém mais.

      Você quis correr. Quis gritar. E eu me perguntando o porquê... afinal, era eu, Akira, aquele que sempre te amou, que acordava todos os dias ao seu lado, que cuidava de você com mais zelo do que a si próprio...

       Ainda disse que eu era doente! Claro que eu sou. E você é a minha cura, pequeno. Minha doença e minha cura. Meu vício, único e eterno. E também meu único e eterno amor. Não, eu não estava me importando com o que fossem fazer comigo.

       Porque eu sei que mais cedo ou mais tarde, eu vou te encontrar de novo, Takanori. Porque você é, e sempre será meu. Isso é algo que nem a morte pode mudar, Taka. Não se preocupe... eu vou embalar e velar o seu sono, para que ninguém o incomode. Pego a faca que usei para te fazer dormir, colocado-a em suas mãos. Eu espero você ir me buscar.

~ Can you hear the counting song of pain, baby? ~

~ F i m ~