Sabe quando você chega ao fim da sua vida? Quando olha para trás e pela primeira vez consegue ver claramente o que realmente importa? Porque agora eu percebo que tudo se resumiu a ela – ela que eu dizia odiar, que me mudou totalmente, que, apesar de tudo, continuou ao meu lado. Ela que torna toda essa história de morrer tão mais difícil.

Antes de Rose tudo estava bem. Eu sabia do câncer, mas não conseguia me importar com isso; minha vida não tinha sentido algum, e não faria uma grande diferença para ninguém quando ela terminasse. Então Rose apareceu, com aqueles cachos ruivos, sorriso caloroso e um jeito irritante de sabe-tudo. No início discutíamos sem parar – mas algo nela me fascinava, e, antes que eu me desse conta, já estava perdidamente apaixonado. E quanto mais eu tentava me afastar, maior ficava o desejo de estar ao seu lado. Até que eu não agüentei mais e me rendi ao meu coração.

Rose me mostrou um lado da vida que eu desconhecia. Ela me fez ver que é possível ser feliz quando menos se espera; que podemos fazer a perfeição existir; que às vezes um instante pode valer toda a eternidade.

Não contei de minha doença; ela não precisava sofrer antes da hora sabendo que eu não teria muito tempo de vida. Pelo menos, essa era a desculpa que eu me dava para não contar – não faze-la sofrer. A verdade é que eu estava feliz demais fingindo que viveríamos um conto de fadas.

Ela só descobriu quando tive que ser internado. E foi então que mais e surpreendi. Pensei que ela ficaria com raiva por eu ter escondido; que terminaria comigo por ser complicado demais... Mas Rose segurou minha mão e disse que lutaríamos juntos. Quando eu já aceitara a idéia da morte ela me fez querer viver; quando continuar parecia impossível ela me serviu de apoio; quando eu estava perdido ela me deu algo ao que me prender.

Ela entrou no quarto e me beijou levemente. Apesar de seu sorriso eu podia ver a preocupação em seus olhos – meu tratamento não estava funcionando e ela sabia disso. Mas sentou-se ao meu lado na cama, e começou a conversar comigo com todos os outros dias. Ela era sempre assim: evitando qualquer coisa que me preocupasse, me colocando acima de si mesma. Eu não merecia tudo isso. Não pela primeira vez me perguntei por que ela ainda perdia seu tempo comigo; ela podia me dar as costas e aproveitar toda a vida que tinha pela frente. Eu, se tivesse muita sorte, conseguiria morrer um pouco mais lentamente.

– Por que está me olhando assim, Scorpius? – Rose interrompeu meus pensamentos.

– Por que eu te amo. Eu te amo, e queria tanto que as coisa fossem diferentes, e nós tivéssemos mais tempo juntos.

– Não diz isso. – a dor que ela tentava tanto esconder de mim transpareceu em sua voz, e uma lágrima solitária desceu por seu rosto. – Talvez ainda tenhamos todo o tempo do mundo.

– Talvez. – repeti, tentando acreditar em minha própria mentira. Abracei-a apertado, desejando mais que nunca que o tempo parasse, e eu pudesse viver para sempre esse momento, com minha Rose nos braços, desfrutando um dos raros momentos de paz na batalha que se tornara existir.

Rose se levantou depois de um tempo – que podem ter sido horas ou segundos, eu não sei dizer- e beijou minha testa.

– Até amanhã. – Amanhã. Uma palavra que eu quase nunca usava. Afinal, cada instante que se passava tornava mais provável que eu não fosse ver meu amanhã. Rose pareceu entender o que passava por minha mente. Ela sorriu carinhosamente e me beijou de forma arrebatadora. Todos os nosso beijos eram assim – com a intensidade do último. Separamos-nos ofegantes e ela sussurrou em meu ouvido:

– Não desista. – encostou os lábios nos meus levemente mais uma vez e saiu.

E naquele momento eu tive certeza – eu não desistiria. Precisei chegar ao fim da minha vida para encontrar um sentido para ela, e agora que o tinha feito, não ia ficar simplesmente esperando, conformado, a morte chegar. Mesmo quando cada momento de resistência se tornasse uma tortura, eu não me entregaria. Mesmo sendo em vão, por Rose Weasley eu lutaria até o último instante.