Para Provar que se Tem Um Coração escrita por Tenteitudo


Capítulo 3
Reconsiderando




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Para provar que se tem um coração – parte 3 de ?

Sextas-feiras sempre terminam da mesma forma, Mr. Schue desejando um bom final de semana e relembrando-nos da tarefa que teríamos que apresentar até quinta. Hoje foi e não foi diferente ao mesmo tempo. A rotina se cumpriu como sempre e o glee club começou a se dispersar assim que o professor fechou seu caderno de anotações. O que mudou foi que eu permaneci imóvel em meu lugar. Finn me deu um beijo de despedida e prometeu ligar amanhã, B sorriu e acenou pra mim, o resto dos gleeks saiu sem maiores cerimônias.

Exceto por uma certa Rachel Berry, ela estava sentada logo atrás de mim e eu sabia que me observava. Podia sentir seus olhos perfurando a minha nuca, mas não me movi, de certa forma eu sabia que o segundo movimento deveria partir dela, já que o primeiro, ficar na sala, partiu de mim. Espero pacientemente durante os primeiros minutos e ela não fala absolutamente nada. Começo a me preocupar e tenho que conter a tentação de virar para trás. Eu sei que ela está ali, posso ouvir sua respiração e por tanto, presumo que ela esteja viva. Começo a me sentir totalmente desprotegida, ela tem uma vantagem visual sobre mim e isso é realmente desconfortável.

"O que você está fazendo Quinn?"

Ahaa! Finalmente! Sua voz sai um pouco rouca e ela parece totalmente desinteressada na resposta, como se estivesse perguntando por obrigação. Desconsidero seu comportamento estranho e elaboro a resposta rapidamente.

"Eu disse que queria ser sua amiga..." Digo sem me virar.

"Nós duas sabemos que isso não é verdade." Ela continua fria e distante.

"O que aconteceu com você?" Pergunto, virando-me dessa vez.

Ela inclina a cabeça para o lado, seus cabelos castanhos cascateando para a direita. "Como assim?"

"Por que você está agindo dessa forma? Eu realmente estou tentando criar uma amizade aqui! E caso tenha esquecido, você concordou com isso mais cedo!" Exclamo, começando a me irritar.

"Eu não confio em você."Ela cruza as mãos sobre o joelho e seus olhos castanhos penetram nos meus. "Eu não sei se poderia..."

"Por que não?" pergunto, já imaginando a resposta, provavelmente algo sobre o Finn e o nosso ultimo encontro no auditório, semana passada.

"Como eu poderia confiar em alguém que mente para si mesma?"

Sua resposta me deixa confusa e eu pisco algumas vezes. Como assim mentir para mim mesma? Eu acho que tecnicamente, isso é impossível... "O que?"

"Você realmente não percebe não é mesmo?" Ela me lança um sorriso torto que não chega aos seus olhos. "Semana passada você perguntou quantas vezes eu teria que cometer os mesmos erros até entender a verdade. Eu acho que o mesmo serve para você Quinn..." Ela fica em pé e passa por mim, parando perto da porta e apertando os livros contra o peito. "Quanto tempo vai levar até que você descubra a sua própria verdade?"

Ela me encara intensamente e eu desvio o olhar, tenho que admitir que ela me deixou confusa... "O que isso significa Berry?" Ela não responde e eu levanto o rosto, encontrando-me sozinha. Eu não posso acreditar que ela acabou de fazer isso! Levanto-me em um salto e percorro os corredores atrás dela, encontrando-a na porta da escola, esperando alguém do lado de fora. Seguro seu pulso com uma mão, antes que ela possa fugir novamente, enquanto a minha outra mão pega o seu queixo, forçando-a a me olhar nos olhos. "Eu não sei o que você quis dizer e sinceramente não me importo, eu estou olhando nos seus olhos agora e te pedindo mais uma chance para provar que sou diferente, eu realmente quero ser sua amiga."

Rachel tem os olhos arregalados e eu percebo o quão próximas estamos, nossos narizes quase se encostando, posso sentir o gosto de seu hálito em minha boca e algumas pessoas que passam nos lançam olhares curiosos. Eu limpo a garganta, solto seu queixo e dou um passo para trás, ainda mantendo seu pulso seguro em minha mão.

"Por que isso é tão importante para você Quinn?" Ela pergunta suavemente. "O que você está querendo provar?"

Penso por um momento e eu realmente não sei mais, eu quero que ela se apaixone por mim, assim ela deixará o Finn em paz. Por algum motivo isso soa mais como uma desculpa do que como a realidade... Mas qual é a realidade? Deus! Ela conseguiu me confundir... Solto o aperto em seu pulso. "Eu não sei... Eu acho que..." Chacoalho a cabeça, sem saber o que falar. "Eu não sei..."

Ela sorri para mim.

Ela sorri pra mim e eu não entendo mais nada. Eu não sei como pode essa garota me afetar tanto!

"Era disso que eu estava falando." Ela sorri ainda mais e dá um passo em minha direção, eu engulo com dificuldade e a observo com o canto do olho. "Pare de mentir Quinn..."

Eu não sei o que responder. "Nós vamos tentar isso ou não?" Mordo meu lábio enquanto aguardo sua resposta. Não sei por que estou tão nervosa. Algo me diz que ser rejeitada vai me afetar muito mais do que deveria e eu rezo para que ela diga sim.

Ela invade meu espaço pessoal e eu dou um passo para trás, encontrando a parede com as minhas costas. "Eu acho que sim..." Ela responde, parecendo tímida de repente. Olho para ela no exato momento em que ela levanta o rosto para mim. Seus olhos brilham de uma forma estranha. "Você só vai ter que me prometer uma coisa."

"O que?" Pergunto, um pouco rápido demais.

"Prometa que não vai me machucar."

Eu sei que não posso prometer isso, mas eu preciso que ela confie em mim. Isso é tudo parte do plano... Tenho que me esforçar para manter contato visual. "Eu prometo que não vou te machucar. Não de propósito." Acrescento a ultima parte de improviso, tentando amenizar a sensação de culpa que me corrói por dentro.

É ai que ela faz a coisa mais inesperada do dia. Ficando na ponta dos pés, ela beija a minha bochecha. "Eu acredito..." Ela se afasta com um sorriso. "Eu te ligo amanha." E com isso ela entra em um carro prateado que eu não havia notado antes. Vejo um homem negro atrás do volante e presumo que seja o seu pai. Ela acena para mim e eu fico parada no mesmo lugar, totalmente catatônica e tentando entender o que acabou de acontecer.

"Aonde eu fui me meter..." passo a mão pelos cabelos e repouso a ponta dos dedos sobre o lugar que ela acabou de beijar, sinto minha pele formigar e minha cabeça está estranha, como se estivesse cheia de ar. Respiro fundo e caminho devagar até o meu próprio carro.

====/====

Estou começando a repensar esse plano. Talvez essa ideia não seja tão brilhante... É sábado a noite e, ao invés de estar com o meu namorado, eu estou dentro de meu carro, estacionada em frente a casa de Rachel Berry. Ela me ligou há meia hora atrás e eu estou aqui há 20 minutos. Finn pareceu magoado quando eu disse que não poderia sair com ele hoje a noite e me pediu uma explicação. Sinceramente, é muito fácil mentir para ele, ele é tão inocente que nem desconfiou quando eu disse que iria encontrar com Lauren Zizes para trabalhar em um projeto de química. O detalhe aqui é que ele é meu parceiro em química e nós não temos nenhum projeto para entregar.

Sorrio para mim mesma e aperto minhas mãos no volante, respirando fundo. Todos os meus encontros com Rachel até agora saíram do controle e algo me diz que esse não vai ser diferente.

Estou tão perdida em meus pensamentos que praticamente tenho um ataque cardíaco quando alguém bate em minha janela. Olho para a esquerda e encontro um par de olhos castanhos me observando com curiosidade, ela move a boca, certamente falando alguma coisa, mas não consigo entender. Abaixo o vidro e sua voz preenche o interior de meu carro.

"... coisa? Você está parada ai já faz algum tempo e eu estava me perguntando se você iria entrar ou não..." Ouço suas palavras, mas não consigo captar nenhum significado. Acompanho o movimento de seus lábios, nunca havia reparado no quanto eles eram hipnóticos...

"Quinn? Quinn?" O som de meu nome parece me despertar e eu chacoalho a cabeça.

"Oi? Er... Desculpa... Eu meio que... Desliguei por um momento." Falo devagar, olhando para a frente.

"Eu percebi." Comenta ela. "Você vai ficar ai a noite inteira?"

"Oh! Er... Não, claro que não..." Eu abro a porta e ela se afasta para o lado, me dando espaço para sair. Ficamos em pé, de frente uma para a outra por alguns segundos. Isso não deveria ser tão estranho... Ela abraça o próprio corpo e morde o lábio, correndo as mãos de cima a baixo pelos braços. Percebo que ela está sem casaco e deve estar fazendo uns 8 graus do lado de fora. "Está frio... Acho que podemos entrar."

Ela sorri de repente e concorda com a cabeça, mas ao invés de se dirigir para a casa, ela da um passo em minha direção e se espicha para beijar minha face. "Fico feliz que você tenha vindo..."

Sinto meu rosto esquentar e ela da às costas para mim, mas não sem antes pegar minha mão, me guiando até a casa. Meu cérebro odeia quando ela faz isso, sempre me pegando desprevenida. Mas por outro lado, meu corpo parece adorar... Mais uma vez, a pele da minha bochecha parece pinicar e eu estou hiper sensível em relação a sua mão na minha. Desconsidero meus sentimentos e a sigo para dentro, já estive ali antes, mas nunca na parte superior da casa. Rachel parece estar em todo o lugar, sorrindo para mim dos milhares de porta retratos, versões dela nas mais diferentes idades e poses parecem adornar cada centímetro da sala.

Seguimos por um corredor e chegamos a uma porta branca e comum, como todas as outras, acho que estava esperando uma grande estrela dourada ou pelo menos seu nome escrito na entrada... Posso dizer que me surpreendi com a falta dessas coisas.

Nada foi dito durante o percurso e no segundo seguinte, me encontro dentro do quarto de Rachel Berry. E é realmente aconchegante...

Ao contrario do resto da casa, ali não parece haver nenhuma foto da diva, exceto uma, a que foi tirada do glee club para o anuário no ano passado. Sorrio ao lembrar do que fiz para conseguir essa foto...

"Então..." Começa ela, sentando-se na cama e me olhando em expectativa, não sei exatamente o que fazer então simplesmente a imito, ocupando o lugar ao seu lado e olhando para a porta do closet.

"Então..." Suspiro.

"O que você quer fazer?" ela parece um pouco insegura, mas não posso culpá-la por isso, eu me sinto da mesma maneira.

"Você não tem nenhuma planilha de planejamento ou algo do tipo?" Pergunto em um meio sorriso, tentando amenizar a tensão que se constrói entre nós.

Meu atentado parece funcionar e ela sorri. "Não... Eu esperava que você tivesse algo em mente..."

Limpo minha garganta e tento me focar no plano inicial. "Eu estava pensando que talvez você pudesse me ajudar a escolher uma musica para o glee club..." Falo enquanto brinco com meus próprios dedos.

Um som suave vem de sua direção e eu me viro para encará-la, percebo que ela está rindo baixinho. "Claro que você pensou..." Comenta ela, parecendo estranhamente magoada.

"O que foi?" pergunto, prendendo uma mecha de cabelos atrás da orelha.

"Nada..." Ela chacoalha a cabeça e continua sorrindo tristemente. "Eu só acho que é um pouco irônico o fato de que a gente sempre parece usar as tarefas do glee club para passar tempo junto..."

"Talvez eu goste de passar tempo com você." Falo sem pensar e ela me lança um olhar divertido.

"Gosta?" Mais uma vez seus olhos encontram os meus e eu acho difícil respirar.

Desvio os olhos e percebo que estou agindo feito uma idiota. "Talvez. Você nunca vai saber Berry." Sorrio para ela antes de me levantar, respirando profundamente e olhando em volta. Meus olhos caem sobre uma prateleira cheia de DVDs. "Vamos assistir um filme." Pego a primeira caixa ao meu alcance.

Ela ri novamente e fica de pé, tirando o filme de minhas mãos e me olhando com curiosidade, mas não fala nada, somente coloca o disco no aparelho, pega o controle remoto e volta a sentar-se na cama. Dessa vez ela tira os sapatos e se escora na cabeceira, esticando as pernas a sua frente. "Eu não mordo..." Comenta ela, olhando para a metade vazia da cama.

A TV pisca e o menu de UP aparece na tela. Tiro os sapatos e o casaco antes de deitar ao seu lado. Nunca assisti esse filme antes e realmente estou gostando da historia, até que a esposa do velinho descobre que não pode ter filhos. Isso me afeta de uma forma estranha e eu sinto lagrimas se formando, mas consigo me controlar. Pelo menos até que ela morre. Uma lagrima quente escorre por meu rosto e eu ouço Rachel respirar de forma irregular.

Ela também está chorando...

"Eu sempre choro nessa parte." Murmura ela, com um pequeno sorriso nos lábios. Faço que sim com a cabeça e sorrio de volta, enxugando meus olhos e de repente, esse parece o momento perfeito para por meu plano em prática.

Espero que alguns minutos se passem e quando a casa do velhinho levanta vôo, eu estendo minha mão, depositando-a em seu colo, com a palma virada para cima, esperando que ela entenda o que eu quero dizer. Mantenho meus olhos grudados na tela e sinto meu estomago se revirar de uma forma estranhamente boa quando ela coloca a mão sobre a minha, entrelaçando nossos dedos.

Permanecemos assim até o fim do filme, meu polegar traçando padrões suaves em sua pele. Parece tão estranho, mas ao mesmo tempo tão natural, que nenhuma de nós se move quando os créditos começam. Sinto-me um pouco sonolenta e procuro o meu celular no bolso da saia. Dez e Meia.

"Quinn?"

"Hum?" Paro de mover meu polegar e me viro para encontrar seus olhos com os meus.

"Você gostaria de..."

Meu celular apita, anunciando uma nova mensagem.

"Eu vou ter que ir para casa..." Sei que vai parecer estranho, mas eu não queria ir. Estava me sentindo perfeitamente confortável. "Minha mãe está preocupada..." Solto sua mão e sento direito. "O que você ia me perguntar?"

Ela abre e fecha a boca algumas vezes, provavelmente ponderando o que falar a seguir. "Nada, deixa pra lá..."

"Sabe, eu realmente gostei do filme." Digo, alcançando por meus sapatos.

"É um dos meus favoritos." Ela responde com um sorriso, me fazendo sorrir também. "Nós poderíamos fazer isso de novo amanhã..."

Faço que sim com a cabeça e fico em pé. "Eu realmente preciso de ajuda com a tarefa do glee club." Isso é totalmente verdade. Eu não faço a mínima ideia de que musica escolher e muito menos como vou fazer para reescrevê-la.

"Acho que eu posso te ajudar com isso." Ela me acompanha até a porta. "Você pode almoçar aqui... Tenho certeza que meus pais não vão se importar."

"Ok." Saio da casa e ela me segue. "Até amanha então..."

"Até." Ela morde o lábio e eu meio que estou esperando um beijo na bochecha, mas ela continua parada na porta. Decido tomar a iniciativa e me inclino em sua direção, encostando meus lábios em sua testa brevemente antes de me virar e ir embora.

====/====

"Nem pensar Rachel!"

"Por que não?"

"Eu definitivamente não vou cantar Taylor Swift!"

"Mas a sua voz ficaria..."

"Não." Cruzo os braços e desvio meus olhos dos dela, sabendo que vou acabar cedendo se ela continuar me olhando dessa forma.

Ela revira os olhos. "Próxima opção então..." Ela folheia algumas partituras e tira uma delas da pasta com um olhar triunfante.

"Meninas? O almoço está pronto." Thomas Berry aparece na porta do quarto e dá uma batidinha. Foi ele quem eu vi no carro sexta-feira. Um homem realmente alto e meio magrelo, extremamente simpático. O único dos pais de Rachel que eu conheci até agora, o outro, Frank, é um obstetra e teve que fazer um parto de emergência essa manhã.

"Obrigada pai, já vamos descer!" Rachel coloca os papeis de lado e se levanta. Eu faço o mesmo. Tenho que admitir, a companhia dela não é tão irritante quanto eu achei que fosse e eu gosto daqui. A casa não é das mais confortáveis e o excesso de fotos da Rachel me assusta um pouquinho, mas tem alguma coisa que eu não consigo explicar... As pessoas que vivem aqui parecem ser tão... Calorosas... É como se eu me sentisse mais em casa aqui do que na mansão Fabray. Se bem que qualquer lugar parece mais acolhedor que a mansão Fabray...

Percebo que Rachel está se sentindo mais a vontade perto de mim e eu também me soltei um pouquinho. Nessa uma hora que passamos juntas hoje de manhã, eu descobri o quanto é fácil fazê-la sorrir e me peguei imaginando diferentes formas de fazer com que isso acontecesse. A risada dela é totalmente contagiante e nós realmente temos algumas coisas em comum, musicalmente falando pelo menos... Tirando é claro, sua obsessão por show tunes. Eu acho que realmente estou começando a gostar dela, como amiga, claro. Isso me preocupa um pouco, tenho que tomar cuidado para não me apegar a diva, caso o contrario será difícil quebrar seu coração... Mas por outro lado, eu não vejo por que não poderíamos permanecer amigas depois que tudo isso acabar. Talvez o choque da rejeição não a afete tanto...

Chacoalho a cabeça bruscamente. Eu acho que estou enlouquecendo! Essa droga de plano não poderia estar dando mais errado! Eu não deveria me deixar afetar por ela! Mas é tão impossível não se envolver... E ela realmente é uma boa pessoa... Quero dizer, ela parece genuína em tudo o que faz e diz e isso é relativamente raro de se encontrar... E ela me deixou muito intrigada com a nossa conversa de sexta, admito que ainda não entendi o que ela quis dizer com toda aquela historia de mentir para mim mesma. Quero dizer, eu realmente sou uma grande mentirosa e é meio obvio que eu estou mentindo para ela agora (e para o Finn e para a minha mãe...), mas eu não acho que possa mentir pra mim mesma... Mesmo que eu queira me enganar sobre algo, no fundo eu vou saber a verdade. Como os meus sentimentos pelo Finn, por exemplo, eu sei que não o amo, mas nosso relacionamento é tão conveniente que eu realmente tento me convencer que os sentimentos vão surgir mais cedo ou mais tarde, mesmo que isso talvez não aconteça...

"Purê de batatas querida?" Pergunta Thomas, sorrindo para mim e me trazendo de volta para a realidade.

"Sim, obrigada..." Aceito a tigela que ele me oferece.

"Isso acontece com muita freqüência Quinn?" Pergunta Rachel ao meu lado.

"Isso o que?" Alcanço o molho a minha frente e começo a espalhá-lo pela comida em meu prato.

"Já é a segunda vez que você se desliga totalmente..." Ela soa um pouco preocupada e eu não consigo deixar de sorrir. Sua preocupação é um indicio de que o plano está dando certo.

"Eu tenho pensado demais, só isso." É realmente verdade, dês de que Beth nasceu eu tenho me encontrado perdida em pensamentos com certa frequencia. Não acho que seja algo ruim, embora possa ser inconveniente às vezes.

"Sobre o que?" Pergunta ela, colocando um pedaço de cenoura na boca.

Legal! O que eu respondo agora? "O que o que?"

"Sobre o que você tem pensado ultimamente?" Ela clarifica e eu me vejo sem saída novamente.

"Sei lá... Muitas coisas..." Coloco minha mão na nuca e finjo pensar. "Só... coisas."

"Hum..." É a resposta dela, acho estranho que ela não tenha comentado mais nada e levanto o rosto. Ela está com a boca cheia. "E o que seriam essas coisas?" Ela continua após engolir a comida.

"Olá família!" O outro Sr Berry entra na cozinha com um sorriso no rosto. "Amor..." Ele troca um beijo rápido com Thomas. "Princesa..." E beija a testa de Rachel. "E ahm... Desculpa, eu não sei o seu nome..." Ele me lança um sorriso culpado e estende uma mão em minha direção.

"Quinn." Aceito sua mão, retribuindo o sorriso. "Quinn Fabray." Sinto a força de seu aperto triplicar e ele olha para a morena ao meu lado.

"Aquela Quinn Fabray?" Ele pergunta com os olhos arregalados, sem soltar minha mão.

"Sim pai..." Rachel coloca uma mão sobre o braço de seu pai e sorri para ele. "Mas nós somos..." Ela olha para mim. "Amigas agora."

"Oh..." Ele me olha com desconfiança antes de sentar ao lado de seu marido. "Tem certeza?"

Nós duas fazemos que sim com a cabeça e ele parece acreditar, pois no segundo seguinte está falando sobre os gêmeos que nasceram hoje de manha.

Sinto uma mão quente sobre a pele de meu joelho e me viro para encontrar os olhos castanhos de Rachel me dizendo que estava tudo bem. Ela aperta um pouquinho antes de voltar a comer. A única coisa que eu consigo fazer agora é olhar para ela, meu coração acelerou consideravelmente e eu me sinto extremamente culpada. Frank tem todos os motivos para desconfiar de mim, na verdade, alem de motivos, ele tem razoes reais. Deus, o que eu estou fazendo aqui? Eu já devia ter desistido desse plano há muito tempo. É obvio que não vai dar certo!

"Quinn?" A mão de Rachel envolve meu pulso e eu percebo que estou em pé, os três Berrys me olham confusos. "Está tudo bem?"

"Banheiro." Consigo murmurar antes de praticamente sair correndo da cozinha.

Atravesso a sala e entro no aposento, fechando a porta atrás de mim e virando para encarar meu próprio reflexo no espelho. Após alguns minutos, ouço uma leve batida na porta. Não respondo, minha atenção continua fixa no reflexo, meus olhos me observam como se estivessem tirando sarro da situação aonde me encontro agora. Sinto lagrimas queimarem através de minhas pálpebras e mordo o lábio. Eu não devia estar chorando agora, eu nem ao menos sei por que estou chorando...

Ouço a porta se abrir atrás de mim e não preciso abrir os olhos para saber que é Rachel. Ela parece hesitar por um momento ao perceber que estou chorando, sinto sua mão em minhas costas e sua voz soa muito perto quando ela finalmente fala alguma coisa.

"O que houve?"

Chacoalho a cabeça, ainda sem abrir os olhos. Não sei se é uma coisa boa ela estar aqui dentro.

"Você quer ficar sozinha?"

Penso por um momento. Quero? "Não." Respondo baixinho.

Ficamos em silencio, sua mão faz movimentos circulares pelas minhas costas e as lagrimas começam a secar. Por algum motivo, a presença dela ali me acalma. Isso me deixa ainda mais confusa.

"Quer conversar sobre isso?" Pergunta ela, uma vez que eu pareço mais calma.

"Eu estou confusa Rachel..." As palavras saem de meus lábios antes que eu possa fazer qualquer coisa para impedi-las.

"Por quê?" Eu finalmente abro os olhos e ela se encontra parada ao meu lado, me observando através do espelho.

Mordo o lábio. Ninguém nunca fez isso por mim antes. Só quando eu estava grávida, mas isso não conta realmente. Eu sempre quis que alguém se preocupasse comigo dessa forma, sempre quis alguém que me ouvisse quando eu precisasse. Por que a única pessoa disposta a fazer isso tem que ser justamente a pessoa que eu pretendo machucar tão profundamente?

"Você me confunde." Respondo depois de alguns minutos de silêncios que, para a minha surpresa, foram respeitados pela morena.

"Eu te confundo?" Ela sorri para mim e cruza os braços, escorando as costas na pia para poder me encarar diretamente. "Você me confunde, Quinn."

"Eu não posso fazer isso." Penso em voz alta.

Ela arqueia as sobrancelhas e abre a boca para falar, mas a interrompo antes.

"Eu tenho que ir."

"Quinn..." Ela se desencosta da pia no momento em que assimila o que acabei de dizer, eu abro a porta.

"Eu não vou embora, eu só preciso..." Caminho até a saída da casa e tateio meus bolsos, encontrando as chaves do carro dentro da minha saia. Não me preocupo em pegar a bolsa ou meu casaco. "Eu volto daqui a pouco, eu só preciso..." Saio da casa. "Eu volto daqui a pouco." Ela me acompanha até a porta, mas permanece parada enquanto eu vou embora. Seu olhar confuso parece deixar marcas em minha pele.

Entro em meu carro e dou a partida, deixo a casa dos Berry cantando pneus, não sei para aonde estou indo, só sei que preciso pensar. Eu não posso continuar com isso, eu não posso machucá-la. Mas ao mesmo tempo eu sinto que preciso seguir adiante. Eu quero que ela se apaixone por mim. Paro em um sinal vermelho, e percebo que estou chegando perto dos limites da cidade.

"O que eu faço agora?"

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