Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 33
3x06 - Distrações Humanas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Quanto tempo, não? Mais uma vez gostaria de agradecer a paciência, comentários, críticas e sugestões de todos. Leio tudo com muito carinho e se não respondo cada comentário é porque o tempo não permitiu.
Sei que a demora para as postagens tem sido desmotivadora, mas gostaria de me explicar. Minha universidade participou da greve de professores ano passado, assim sendo, eu estive estudando e encarando avaliações, trabalhos, realizando projetos durante esse periodo em que eu deveria estar de férias. Sem natal ou ano novo, férias de fim de ano, o que refletiu no atraso dos posts. Para completar, semana passada perdi um ente muito querido, o que fez do carnaval um feriado bastante improdutivo.
No mais, gostaria de agradecer à Carla Oliveira por defender a EF.
Espero que vocês gostem do capítulo. Prometo que o próximo virá em breve. Podem cobrar! rs
Abraços!



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Levei um pouco mais de um mês para ter certeza de que Ketchikan era a cidade mais agradável em que estive desde que minha família deixou Forks. Por semanas eu esperei que algum drástico evento acontecesse e me fizesse mudar de ideia ou que simplesmente a qualquer momento eu sucumbisse ao desânimo e à saudade. Contudo, nada disso aconteceu. Muito pelo contrário, a cada semana que passa, eu pareço reencontrar um pedaço de mim nessa nova cidade.

A rotina no colégio tem sido animada. Toda sexta tem algo que eles chamam de “Friday Special” onde alguma coisa boba, mas geralmente engraçada acontece durante o horário do almoço para entretenimento de alunos e professores.

Aos sábados, saio com Gabriel e Catherine, seja para uma lanchonete, mostra de balé, passeio no parque... Uma vez chegamos a ir ao cinema, assistir a um filme que Cat estava ansiosíssima para ver. Claro que Catherine é o ingrediente secreto de todos esses passeios com sua alegria infantil e observações notavelmente inteligentes. Ainda assim, já não me sinto desconfortável com Gabriel quando ela não está por perto. Eu e ele nos aproximamos bastante durante a semana de detenção, um mês atrás, e agora posso dizer que somos algo próximo de amigos. Ambos chegaram a conhecer Esme, quando minha avó os convidou para um almoço. Meus pais e tios não costumam ficar por perto nas raras vezes em que os Lefroy vêm aqui. Os únicos que se adiantam em um contato menos superficial são Alice e Emmett, que já se tornaram queridos por Catherine. Vez ou outra, eu vejo Gabriel e Emmett se cumprimentando nos corredores da escola.

Nos domingos saio para caçar com meus pais. É divertido e revigorante. Às vezes opto por caçar com meus tios a fim de dar alguma privacidade para Edward e Bella, porque sei que eles gostam de uma caçada romântica para quebrar a rotina, o que me faz pensar em Jacob.

Enviei a última carta que escrevi, e, mais uma vez, não tive resposta. Nem mesmo sendo na ocasião do meu aniversário Jacob tentou algum tipo de contato. Os aniversários esse ano foram do jeito que minha mãe gosta. Não houve nenhuma comemoração especial, nem no meu aniversário, nem no dela. Festas de aniversário sempre me lembram do dia em que eu e Jake nos beijamos pela primeira vez. Lembram a mais linda e perfeita festa que já tive e imediatamente me entristecem. Até mesmo Alice percebeu o quão deprimente festas surpresas poderiam ser para mim, quando tudo o que elas me faziam era lembrar Jake. Sendo assim, tudo o que tivemos foi um jogo de baseball com a família, e devo confessar, esse era o máximo de diversão que eu poderia conseguir.

Entrei no time de vôlei do colégio, pois precisava exercer alguma atividade complementar. Faço o possível para não chamar atenção, mas o técnico diz ter identificado meu potencial e me colocou como capitã do time B. A capitã do time A é Jennifer Collins, e apesar de ela não demonstrar nenhum ciúme pelo tempo que eu tenho passado com o Lefroy, dentro da quadra a garota às vezes parece fora de controle, me encarando como se eu fosse sua inimiga mortal e desejasse roubar seu posto de liderança no time.

O admirador de Alice continua deixando presentes e ela continua fazendo mistério sobre quem ele é.

Karen e Emma se tornaram boas colegas, embora eu saiba muito bem, devido à natureza fofoqueira de ambas, eu não posso confiar nelas.

Gabriel é a pessoa com quem passo a maior parte do tempo no colégio. Somando os sábados nos quais saio com ele e Cat, fico surpresa ao perceber que além da minha família, ele é a pessoa com a qual eu tenho maior contato atualmente. E por mais que uma parte orgulhosa do meu cérebro se recusasse a reconhecer os fatos, eu não podia mais negar, eu gostava de estar com ele. Estar com Gabriel era como receber uma lufada de ar fresco quando tudo parecia apenas denso e sombrio. Quando nós estamos juntos, eu quase posso acreditar que a vida é assim, simples e leve. Problemas humanos, soluções humanas. Não que eu queira uma vida inteiramente comum, mas a metade de mim que era humana, há muito tempo ansiava por um pouco de paz. E eu estava adorando isso.

Hoje é quinta e todo o colégio está envolvido em uma gincana comemorativa onde a cada dia da semana temos de nos vestir de acordo com um tema. Minha família, naturalmente, ignorou isso e eu até que estava aliviada por ter escapado da “terça-feira zumbi”. Enquanto eu atravessava o corredor em direção à minha sala, não conseguia deixar de pensar que o tema de hoje só podia ser Piratas do Caribe, ao julgar pela invasão de Jack Sparrows no corredor.

– Nessie! Por que não está vestida no tema? – Karen perguntou alarmada, ao me ver entrando na sala de aula.

– E o tema de hoje seria... – franzi o rosto.

– Piratas! – ela exclamou apontando para o tapa-olho imenso no seu rosto.

– Imaginei. – eu ri baixinho, sentando na carteira – Pensei que minhas botas fariam o trabalho.

– Não, elas não servem a menos que estejam combinadas com todo o resto. – Pearce disse. – Mas não se preocupe, eu previ isso, baseada em como você escapou de todos os temas durante a semana, e por essa razão, te trouxe esse tapa-olho extra.

– Ah. Obrigada..?

– Não se preocupe, só precisa usar quando a senhorita Craig vier fazer a contagem dos participantes da turma, já que você claramente não está no espírito.

– Desculpe, eu só não estava acostumada com a coisa toda. Nunca tive uma semana dessas nos meus outros colégios.

– Claro. Afinal, quantos ensinos médios você frequentou? – ela retrucou em voz baixa. – Falando em espírito esportivo, você já deu uma olhada no Lefroy? Ele é definitivamente o pirata mais sexy que eu já vi.

– Não, não o vi hoje. – respondi.

– Nem sei como isso é possível. Pensei que vocês estavam inseparáveis. Aliás, se você virar logo a namorada do Lefroy, quem sabe eu e a Emma consigamos um convite para nos sentarmos à mesa com os populares por associação?

Meu queixo caiu.

– Enlouqueceu? Nós somos apenas amigos. – fui firme.

– Se você diz... – Karen murmurou, contrariada – Só sei que o boato que rola por aí é que recentemente o Lefroy tem passado mais tempo com você do que com a própria Collins.

– Pensei que você gostasse dele. – disparei ainda incomodada com a insinuação dela.

– Eu gostava, mas já percebi que não tenho chances, nesse caso é melhor perder para uma amiga. Além do mais, o Lefroy não é mais o único garoto interessante da escola. Seus irmãos... Uau! Parecem deuses gregos. Como é o nome daquele com cabelo cor de bronze, mesmo?

– Edward. Mas ele já tem namorada. – cortei.

A garota ainda queria dar em cima do meu pai? O mundo perdeu os limites mesmo.

– Eu sei, sua prima. Sinistro. Mas enfim, eles são namorados, não casados. Ainda posso sonhar.

– Aham. Mas não crie tantas esperanças. – murmurei.

Se ela ao menos soubesse...

A professora chegou à sala, colocando um fim na inconveniente conversa.

O horário do almoço estava mais animado do que nunca. Enquanto estudantes mais entusiasmados faziam suas imitações de pirata, a senhorita Craig seguia parabenizando a todos pelo espírito esportivo. As animadoras de torcida fizeram um número encorajando o time de futebol americano do colégio, que irá disputar uma partida amanhã. Assisti a tudo enquanto ouvia Emmett e Jasper apontarem as fantasias mais ridículas no salão.

– Com certeza esses garotos não sabem o que é um pirata de verdade. – Jasper comentou.

– E você sabe? – Bella indagou enquanto fingia comer a sobremesa gelatinosa.

– Eu já invadi e dominei um navio, no fim do século XIX, se quer saber. – Jasper falou altivo.

– Por que não anuncia isso? Talvez nossa turma ganhe uma pontuação extra para a competição. – Rose brincou.

O sinal tocou e eu forcei passagem pela multidão de alunos animados que se recusavam a voltar para a sala de aula.

– Renesmee! – reconheci a voz de Gabriel em meio ao tumulto, olhei ao redor, procurando por ele, então Lefroy apareceu na minha frente.

Seus olhos azuis estavam mais destacados do que nunca, contornados de lápis preto, conferindo a ele um ar de mistério e boemia. A blusa preta era ampla, como as clássicas camisas do século XVI, com a gola decotada, exibindo uma parte do seu peitoral, o que me pegou desprevenida. Eu não esperava que o Lefroy tivesse um físico tão bem trabalhado.

– Onde está sua fantasia? – ele perguntou rápido.

Peguei o tapa-olho no meu bolso e coloquei sobre um dos meus olhos fazendo uma careta. Ele riu.

– Poderia ter se esforçado um pouco mais nisso. – disse.

– Eu sei. Infelizmente meu guarda roupa pirata está na lavanderia.

Gabriel sorriu e em seguida vozes animadíssimas chamavam por ele.

– Me encontra depois da aula? Cat vai ter esse ensaio aberto ao público no colégio dela, seria divertido invadir e saquear a plateia. – ele se apressou em dizer.

– Tudo bem.

– Combinado então! – a expressão dele se iluminou – A gente se vê mais tarde.

Gabriel voltou para o meio da concentração de alunos, recebendo audíveis reclamações pela demora. Segui para a aula sorrindo comigo mesma ao constatar que o traje não parecia tão ridículo nele. Não dava para esperar menos do Lefroy, que durante essa semana foi destaque em quase todos os temas. Ele parecia bastante engajado com esses eventos escolares, e grande parte dos alunos se espelhavam nele. Não é à toa que Alice já antecipou que o Lefroy será coroado rei do baile de Homecoming, juntamente com a Collins no sábado. Algo que eu não estava muito ansiosa para ver.

Depois da aula, Gabriel, agora vestindo trajes normais, contudo com resquícios de maquiagem nos olhos, me encontrou no estacionamento.

– Desculpa a demora, Jen cismou que eu precisava ficar para assistir o ensaio dela junto com as líderes de torcida. – ele explicou, jogando a mochila no banco traseiro do carro.

– Por que ela não vem com a gente? – questionei, lembrando as palavras de Karen sobre o Lefroy passar mais tempo comigo do que com a própria namorada, recentemente.

– Digamos que a Jennifer prefere sair comigo quando a Cat não está por perto.

– Entendo.

Entramos no carro.

– Além do mais, tenho essa impressão de que a Cat não gosta da Jen. – Gabriel confessou.

Fato. A pequena Catherine já me confidenciou isso uma porção de vezes.

– Por isso me impressiona o fato de você e minha irmã terem isso dado tão bem. A Cat gosta mesmo de você, bailarina.

– Eu também gosto dela – falei sincera – Não sei dizer o que exatamente, mas algo fez com que eu me identificasse com a Cat desde o minuto em que a conheci.

– Ela é uma garota muito especial. É impossível conhecê-la e não amá-la. – Gabriel encarou a estrada, pensativo, por um minuto e eu fiz o mesmo. – Provavelmente é isso o que vocês têm em comum. – completou.

Virei-me para ele, lisonjeada e um pouco chocada com os termos de comparação, sentindo minhas bochechas formigarem. Gabriel continuou observando a estrada como se não tivesse dito nada demais.

Chegamos ao colégio de Catherine e entramos silenciosamente no auditório. Um grupo de crianças ensaiava sob a vigilância atenta da professora. Algumas mães corujas estavam espalhadas pela plateia. Sentamos na última fila.

– Então, você vai para o baile no sábado? – Gabriel perguntou baixinho.

– Não.

Ele franziu o rosto.

– Vai me dizer que ninguém te convidou?

Pareceria muito arrogante se eu contasse que recebi quatro convites, mas rejeitei todos? Acho que sim.

– Eu não estou a fim de ir. Além do mais vou viajar com minha família no sábado. – menti para que ele não insistisse no assunto.

– Mas vocês pelo menos vão assistir ao jogo, não é?

– Não sei.

– Ah, corta essa. Você ignorou os temas durante a semana toda, não vai para o baile e ainda quer perder o grande jogo? É uma ótima chance para se enturmar.

– Quem disse que eu quero me enturmar?

Ele me lançou um olhar de censura, unindo as sobrancelhas.

– Eu estou ótima, sério. Já fiz contato verbal indireto com metade da nossa turma. – falei triunfante.

– Então que tal fazer contato direto com a outra metade, sexta-feira, depois do jogo, casa da Jen. Ela vai dar uma festa, e as festas da Jennifer são bem conhecidas no Kayhi.

Não era preciso pensar muito a respeito, aquele convite tinha um imenso alerta vermelho piscando e fazendo barulhos estrondosos.

– Eu não fui convidada, sendo assim... – me esquivei.

– Eu estou chamando.

– Não é você quem está dando a festa. – apontei.

– Se até a amiga metida da Jen pode convidar todas as líderes de torcida e o time de futebol, como namorado dela eu acho que tenho direito de levar alguns convidados.

– Por que você quer tanto que eu vá? – perguntei exaurida.

– Porque eu vou ter de ir de qualquer forma, e com você lá vai ser mais divertido. – ele disse, afundando na cadeira.

– Sua namorada deveria ser diversão suficiente. – falei em um tom neutro, sem intenção de ofendê-lo.

Não ofendeu.

– Nem me fale. – ele suspirou – É bom ficar com a Jennifer e ela tem fogo o suficiente para enlouquecer qualquer homem. Mas só isso não basta, entende? Costumava ser o bastante antes, mas agora não. Não vejo mais graça nas histórias que ela conta e me pego com o pensamento longe quando ela está me contando o que fez durante o dia. Eu me sinto péssimo por isso, mas apenas não consigo ser o mesmo de antes.

– E qual o motivo dessa mudança?

– Eu não sei. – Gabriel encolheu os ombros.

– Se você não gosta dela como antes então por que não termina o namoro?

– Não é tão fácil assim. Eu fui o primeiro cara da Jennifer. Isso significa alguma coisa, não posso simplesmente largá-la. – falou na defensiva.

– Seria melhor do que iludi-la por mais tempo. – argumentei.

– Eu gosto da Jen. O problema é... Quando eu penso na minha vida daqui a dois anos, eu não consigo imaginar a Jennifer nela. Pior do que isso, eu não quero. Sabe a sensação de que aquela pessoa é única para você e você quer estar com ela para sempre? Eu nunca tive isso.

– Eu já. – confessei.

Gabriel me olhou espantado.

– E o que esse sortudo está fazendo pra não estar colado em você?

– Sortudo não é bem a palavra para defini-lo. – dei um sorriso tristonho. – As coisas se complicaram. Jacob e eu namorávamos quando minha família decidiu se mudar e ele não pode vir com a gente. Acho que ele está com raiva de mim. Desde então não nos falamos.

Era a primeira vez que eu mencionava Jacob para Gabriel e eu me sentia confortável com isso. Tem sido tão difícil guardar minha dor em silêncio, compartilhá-la com alguém, por mais triste que fosse de lembrar, trazia algum tipo de alívio, de libertação.

– Uau. Isso tem o que? Três meses? – Lefroy perguntou, se referindo aproximadamente à data que minha família se mudou para Ketchikan.

– Um pouco mais do que isso. – falei vagamente.

Catherine desceu do palco e veio correndo em nossa direção assim que a professora liberou a turma.

– Gabe! Nessie! – ela gritou com um sorriso imenso no rosto vindo nos abraçar.

– Oi pequena. Você estava ótima lá em cima. – Lefroy comentou.

– Obrigada. – ela fez um gracioso plié em agradecimento. – Que bom que você também veio Renesmee.

– Eu não perderia essa chance por nada. – eu disse.

O celular de Gabriel tocou e ele pediu licença para atendê-lo. Era a Collins.

– Por isso eu não gosto da Jennifer, sempre atrapalhando. – Catherine fez uma careta sentando na cadeira ao meu lado.

Eu ri.

– Eu queria que o Gabs te namorasse ao invés dela. – a menina falou sem rodeios.

– Mas já basta sermos amigos, não é? – engoli o susto e mudei de assunto. – O seu número parece incrível, mal posso esperar para a grande estreia.

– Você vem? – indagou os olhos brilhando.

– Claro que sim.

– Jura?

Fiz que sim.

– Queria que minha mãe também viesse.

– Talvez ela venha. – tentei animá-la.

– Acho que não. Mamãe não gosta que eu dance balé, assim como ela não gostava quando o Gabriel cantava. – Cat murmurou.

– Certamente porque ele canta mal e ela ainda não te viu dançando. – brinquei, na intenção de encorajá-la.

– Não! – ela protestou ofendida – O Gabe canta muito bem. Isso tem alguma coisa a ver com o nosso pai.

– Como assim?

– Porque o Gabriel estava com o papai quando ele foi embora. Ele ia levar o Gabe para fazer um CD. Eu penso que a mamãe acha que como meu pai não voltou e meu irmão sim, a culpa é do Gabriel. Mas não é. Você acha que é?

– Não, não acho. – falei.

Fiquei me perguntando o motivo do Lefroy nunca ter me contado que estava no acidente de carro com o pai dele. Deve ter sido horrível, o que foi mais um motivo para Gabriel ter passado meses com a conselheira estudantil. Claro, esse tipo de coisa gera um trauma e tanto, contudo não pensei que ele deixaria de me contar algo tão sério.

– Gabriel parou de se apresentar desde então. Mas às vezes o escuto tocando violão à noite. Acho que ele gostaria de cantar de novo, só não faz isso por causa da nossa mãe. – Cat explicou chateada.

Gabriel voltou e encerramos o assunto antes que ele se aproximasse o bastante para nos ouvir. Saímos para uma lanchonete perto do riacho, no centro da cidade, como o de costume. Eu quis perguntar ao Lefroy sobre o acidente com o pai dele, mas não me pareceu conveniente.

Os dois foram me deixar em casa e Gabriel conseguiu me arrancar uma promessa de que eu iria para a festa da Jennifer. Entrei em casa já no intuito de perguntar à Alice quão ruim aquilo seria.

– Ah, vai ser até divertido. Para os padrões humanos, obviamente. É claro que eu não consigo ver o que aconteceria de diferente se você fosse. – Alice contou.

– Não acha que está se envolvendo demais com os Lefroy, Nessie? – Esme perguntou, parando na porta da sala.

– Não eram vocês mesmos que diziam que eu precisava encontrar alguma distração? Eu gosto de sair com eles.

– É, mas eles parecem boas pessoas. Eu gostei daquele garoto, ele é muito educado e claramente se importa com você. Não acho certo mexer com os sentimentos dele.

– Não se preocupe quanto a isso. Nós somos só amigos. – falei, me perguntando quantas vezes eu ainda teria de repetir isso.

– Eu reparei no jeito que ele te olha, Nessie. Acredite em mim, pra ele isso é algo mais. – minha vó insistiu, sentando na poltrona ao meu lado.

– Está imaginando coisas. Ele já tem uma namorada, ok? – contestei – Não entendo vocês. Colocam-me sozinha em uma turma querendo que eu faça amigos e quando eu finalmente consigo alguns, dizem para eu me afastar.

– Não é isso o que estou dizendo. Só quero que tome cuidado para não se aproximar tanto a ponto de comprometer a segurança deles.

– Como se os Volturi fossem se importar. Me afastar de Jacob não era o que eles tanto queriam? Pronto, quilômetros de distância e anos de silêncio se colocaram entre nós. Eu preciso mesmo viver condenada a ter medo deles, apenas por fazer amizade com alguns humanos? – desabafei.

– Sinto muito, querida. Não foi isso o que e quis dizer. – Esme sussurrou, me envolvendo em um abraço. – Apenas fique atenta.

– Eu sei vó. Eu sei.

~x~

Eu já estava quase me arrependendo por ter aceitado o convite do Lefroy e ido para a casa de Jennifer. Eu não poderia estar mais deslocada.


Arrastei meus pais e tios comigo para o jogo da escola e foi até divertido. Nosso time venceu o que animou Emmett e fez com que ele considerasse entrar para o time de futebol americano do colégio. Verdade seja dita, ele só queria mesmo entrar no time porque a estrela do jogo foi Nick Hayne, e meu tio o detesta.

Gabriel não jogou, para o meu espanto. Ele disse que futebol não era o forte dele e preferia o basquete. Ainda assim, Lefroy e Collins, que era a mais animada líder de torcida, foram anunciados rei e rainha do Homecoming ao fim do jogo e deverão receber suas coroas no baile amanhã, exatamente como Alice previu.

Meus pais não quiseram vir para a festa, entretanto me deram liberdade de escolha para vir. Por teimosia, vim, mas já vejo que essa não foi a melhor decisão.

Todos estão bêbados e se pegando, tenho meros conhecidos por aqui e a única pessoa com a qual eu realmente falo é Gabriel, mas toda vez que ele se aproxima de mim, Jennifer aparece e o chama para ver algo “urgente”.

Até a companhia das tagarelas Karen e Emma seria bem vinda agora.

Eu já havia tomado minha decisão de ir para casa e ouvir Emmett se gabando de como sabia que eu me arrependeria, quando Jennifer Collins veio me chamar dizendo que Gabriel queria falar comigo, lá em cima.

Ela estava agitada, mas eu sabia como garotas do tipo dela poderiam ficar completamente nervosas por conta de algo tão fútil quanto uma unha quebrada. Entretanto, como se tratava do Lefroy, eu a segui.

– Ele está nesse quarto, passando muito mal. Pediu que eu te chamasse, eu não sei o que fazer. – Collins disparou em um fôlego só.

– Tudo bem, calma. Vamos primeiro ver como ele está.

Entrei no quarto. Era um cômodo grande e luxuoso, como o restante da casa. Contudo, não havia nem sinal de Gabriel. Senti um cheiro humano completamente mascarado pelo álcool, vindo da pequena sacada do quarto e logo conclui ele deveria estar lá.

– Acho que ele está lá fora. – Collins disse, apontando para a sacada.

Assenti e fui até lá, incerta do que eu poderia fazer para ajudar alguém completamente embriagado. Mas quando eu cheguei lá, não era Gabriel quem me esperava.

– Oi, ruivinha. – um descamisado Nick Hayne me cumprimentou, fazendo uma pose que ele deve considerar sedutora, escorado na varanda.

Revirei os olhos e respirei fundo, entendendo do que aquilo se tratava. Fui até a porta, apenas para confirmar que ela estava trancada. Aquela Jennifer Collins era mesmo uma vadia dissimulada.

– Hey, hey, você não vai a lugar nenhum. – ele falou com uma voz arrastada.

– Já percebi que esse é o plano. – cruzei os braços, chateada ao me dar conta que arrombar a porta seria barulhento demais e eu teria de dar muitas justificativas sobre de onde veio minha força.

– Não fica assim tão chateadinha... Eu te garanto que eu posso ser tão bom quanto o Gabriel. Até melhor.

– Ah, essa história de novo não... – gemi impaciente.

– O que você esperava? Que a Collins fosse deixar vocês dois terem um caso na frente de toda a escola e ficar por isso mesmo? – ele falou com um ressentimento profundo, mostrando solidariedade para com Jennifer.

– Olha, vou repetir pela milésima vez, não tem nada acontecendo entre eu e o Lefroy.

– Eu sou o melhor amigo dele. Acha que eu não sei quantas vezes vocês saem juntos? – ele perguntou indignado.

Eu ri incrédula.

– Não vou perder meu tempo me justificando para um bêbado.

– É! Isso, isso. Não vamos perder tempo com conversa, se podemos fazer coisa muito melhor. – ele se aproximou de mim. – Confesso que eu preferia dar um trato naquela sua irmã loira, mas até que você não fica muito atrás.

– Você é nojento! – fiz uma careta empurrando Nick para o banheiro, e ele nem percebeu de tão ocupado que estava, tentando sem sucesso, me agarrar.

Bati a porta do banheiro, deixando ele dentro e corri para a sacada. Ele estava bêbado o suficiente para não se lembrar disso amanhã. E ninguém iria acreditar que eu pulei do segundo andar, para o jardim. Aproveitei a falta de movimento lá embaixo e saltei sem hesitar, aterrissando perfeita e silenciosamente na grama verde.

Minha vinda foi um claro erro, mas essa jogada da Collins foi mais baixa do que eu esperava e completamente injustificável.

Marchei pelos fundos, indo em direção ao jardim da frente, obstinada a ir embora dali o quanto antes, sem que Jennifer ou Nick me vissem.

– Renesmee? – reconheci a voz de Gabriel me chamar.

Eu estava irritada o suficiente para também estar irritada com ele.

– Está indo embora? – ele perguntou confuso, pelo menos parecia sóbrio.

– É, já é tarde.

– Ia sair sem se despedir?

– Eu não sabia onde você estava.

– Você procurou? – ele ergueu uma sobrancelha, provavelmente sem entender porque eu estava sendo tão seca com ele.

– Eu diria que sim. Mas sua namorada complicou um pouco as coisas. – respondi incapaz de disfarçar minha irritação.

– Bom ter tocado no assunto. Eu e Jennifer terminamos. – ele disparou.

– Sério? Como foi isso? – perguntei chocada.

– Eu terminei. As coisas já não iam bem, hoje foi o ápice. Tudo o que ela sabia falar era sobre o baile amanhã e como era importante para ela essa coroa e insistindo que eu confessasse que eu e você estamos tendo um caso. Ela surtou completamente.

Nem me fale!

– Eu sinto muito. – falei e logo em seguida o abracei, por saber que era um momento difícil para ele, mas era melhor para Gabriel se livrar logo de alguém tão vil e dissimulada quanto aquela Collins.

Ele correspondeu ao meu abraço e eu me dei conta de que aquela era a primeira vez que ficávamos próximos daquela maneira. Senti um arrepio na espinha, seguido da sensação de estar sendo vigiada, logo me afastei.

– Obrigado. – ele disse. – Te vejo na segunda?

– Claro. – sorri para ele e fui embora.

Enquanto eu andava pela rua vazia, até onde tinha estacionado meu carro, não deixava de ter essa sensação de que alguém estava me seguindo. Apressei o passo, me convencendo de que não passava da minha imaginação. Entrei no carro, sentindo o alívio me dominar por sair do campo de visão do meu suposto perseguidor e fui para casa.

O final de semana passou como o de costume, exceto que dessa vez eu não sai com os irmãos Lefroy. Ao invés disso, passei o final de semana com os meus pais, tocando piano com Edward, assistindo filmes com Bella e caçando com ambos.

Segunda, cheguei ao colégio e encontrei Gabriel Lefroy me esperando em frente ao meu armário.

– Lembra que eu prometi transformar Ketchikan na sua nova casa? – ele perguntou em um tom misterioso.

Eu dei um breve sorriso assentindo. Não tinha esquecido, mas achei que ele tivesse. Até porque aquilo foi uma conversa tão boba e breve, semanas atrás. Não era de se esperar que Gabriel levasse a promessa a sério. Embora eu já esteja começando a me sentir bem estando aqui, e em grande parte, graças a ele.

– Eis aqui um importante primeiro passo. – Gabriel disse e em seguida abriu meu armário.

Aproximei-me para olhar de perto, boquiaberta. A porta de metal estava coberta de fotos, frases e outros objetos decorativos. Era verdade, eu havia ignorado o sermão dele sobre armários algum tempo atrás e até sexta à tarde, quando eu deixei o colégio, meu armário permanecia tão impessoal quanto estava na primeira semana de aula.

– Espera aí, como você conseguiu a chave do meu armário? – perguntei, em um surto de clareza.

– Você iria se surpreender com a quantidade de portas que um belo sorriso pode abrir por aqui. – ele sorriu. Belamente. – A Cat me ajudou na escolha de alguns imãs. Essas coisas de menina.

Voltei minha atenção para as imagens no meu recém-decorado armário. Tinha uma foto minha com Catherine e outra minha com o Lefroy, que a Cat fez questão de bater em um dos nossos passeios. Havia fotos minhas com a minha família, para meu espanto. Inclusive eu ainda criança com Charlie.

– Onde conseguiu essas? – apontei.

– Esme me deu. Acha que eu iria aceitar o contive de almoço da sua mãe e voltar de mãos abanando? – ele murmurou.

Sorri, perdida em pensamentos, observando os detalhes. Não era de se espantar que Esme não tivesse fornecido fotos minhas com Jacob, mas havia duas ou três imagens de lobos espalhadas pelo armário.

– De onde tirou o lobo? – perguntei intrigada.

– Eu presumi que você gosta deles. Durante as aulas sempre fica rabiscando lobos no canto do caderno... Me enganei?

– Pelo contrário. Não poderia estar mais correto. – eu sorri grata.

– Então, gostou? – ele perguntou ansioso.

– E teria como não gostar? Está perfeito, Gabriel. Sério, obrigada de verdade. – falei, abraçando-o em uma velocidade tão espontânea, que só depois percebi que já era a segunda vez em um período muito curto.

– Aí está você! – alguém falou alto, fechando a porta do armário com uma batida estrondosa.

Virei-me para encontrar minha colega Karen me encarando furiosamente. Emma estava ao lado dela.

– O que houve? – perguntei totalmente alheia ao tom agressivo dela.

– Porque não me disse que você e o Lefroy estavam juntos? Eu pensei que nós fôssemos amigas, mas vejo que não, já que você fez questão de me esconder a verdade. E eu acreditei nesse seu ar inocente... – Pearce disparou.

– Ei, ei, espera aí. Você não tem o direito de falar assim com ela. – Gabriel se colocou na minha frente.

Karen se intimidou graças ao Lefroy ter tomado a palavra e recuou um pouco.

– Ah, corta esse papo de bom moço, Lefroy. Todo o colégio já sabe que você e a Renesmee, estão tendo um caso. Está aqui, na primeira página. – Emma falou exibindo o mais novo exemplar do jornal da escola, onde dessa vez eu era a notícia.

Uma foto minha e de Gabriel, abraçados no jardim da Collins ocupava metade da página, logo abaixo da notícia:

“FLAGRA: Romance secreto com Renesmee Cullen é a causa do fim do namoro de Lefroy e Collins”.


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: Olhando pra você - Drive
https://www.youtube.com/watch?v=D4XaSLQxnqA
Para mais material, acessem http://efjakenessie.tumblr.com/