PVD Hermione

É triste admitir, mas não sou uma garota muito paciente. Vocês podem até estar surpresos com tal fato, mas essa é a dura realidade. Tento ao máximo não me deixar levar por provocações banais e ridículas, pois sei que não devo me rebaixar a tal nível. Algumas vezes – raríssimas e quase escassas vezes – sou bem sucedida e consigo superar as adversidades com muito bom humor... Mas ter que aturar as idiotices de um loiro podre que só de respirar me causa espasmos de raiva não é lá uma coisa muito fácil de fazer. O babaca, a cada minuto, soltava pequenos comentários inúteis – quase todos dirigidos a mim:

“Nossa, Granger! Parece que colocaram a juba de um leão em cima da sua cabeça... Que coisa mais horrível!”

“Granger, você por acaso cortou seu uniforme com um facão?”

“Hum, ainda tá sujo aqui, Granger...” Tudo bem. Todos eles eram dirigidos a mim.

Miserável. Minhas mãos tremiam nervosamente, e eu só era capaz de imaginar em como seria feliz se elas acidentalmente fossem parar em volta do pescoço branquelo daquela cobra...

Mas será possível que isso não vai acabar nunca? Por que não fecham logo essa porcaria de biblioteca e me liberam desse sofrimento? Oh, é mesmo, lembrei de que não mereço piedade nem outro sentimento derivado qualquer.

“Ora, ora Granger... Você seria uma ótima elfa-doméstica, sabia?” o cretino sorriu em deboche. Se ele pensou que iria me irritar com essas provocações imbecis e patéticas, com certeza pensou certo.

“CALA DE UMA VEZ POR TODAS ESSA BOCA NOJENTA, SEU JUMENTO! MEU OUVIDO NÃO É PINICO!” Demonstro meu desconforto de maneira calma e racional.

O desgraçado apenas ri gostosamente e, logo após se recuperar, põe o dedo indicador na boca.

“Shhh! Silêncio, Granger! Estamos numa biblioteca!” ele sussurra.

Solto um grunhido de frustração. Respiro fundo e esfrego as têmporas buscando um alívio temporário.

“Malfoy...” digo calmamente. “Faça um favor para o mundo... Morra.”

“Granger, Granger... Se eu morrer, você morre logo em seguida. Eu sei que sua vida não tem sentido sem mim...” O maldito sorri de lado.

“O quê?” Solto uma risada sarcástica. “Malfoy, será que além de estúpido, imbecil, babaca, idiota, ridículo, desgraçado, cretino, ameba e jumento, você também é retardado? Digo, não que isso pudesse me surpreender e tudo o mais...”

“Ui, acho que vou chorar. Suas terríveis ofensas partem meu delicado coração sonserino.” Ele põe a mão no peito. Tocante.

Volto aos meus afazeres, decidindo que trocar palavras com o ser insignificante à minha frente seria um atentado à saúde pública. Para a minha glória o garoto não abriu mais a boca. Pelo menos por uns cinco minutos...

“Então, Granger...” Gemi em desgosto ao escutar sua voz malévola. “Já terminou seu lance com o Weasley?”

“Oi?” Encarei-o atônita.

Ele apenas revirou os olhos impacientemente.

“Você ouviu e sabe que não vou repetir.”

Hum, alguém entendeu o interesse dele na minha vida? Porque eu particularmente não compreendi.

“E o que você tem a ver com isso?” Perguntei desconfiada.

“A ver?” Ele exclamou indignado. “O que um sonserino charmoso e culto como eu teria a ver com uma grifinória patética e sem-graça como você?” Serpente maldita.

Mas o bacana foi perceber que o energúmeno respondeu a minha pergunta com a mesma pergunta – colocada em outras palavras, é claro.

Resolvi não estender a conversa (mais uma vez). Meus desejos se resumiam a terminar aquela palhaçada e ir dormir. Além do mais, minha desastrosa vida pessoal com certeza não dizia respeito àquele ser asqueroso e metido que folheava absortamente algum livro e...

“EI!” Avanço furiosamente em sua direção. “Pode ir tirando suas patas desse livro!” Mas é muito engraçadinho mesmo. Eu acabei de arrumar a porcaria e o infeliz vem e bagunça tudo de novo.

Mas o cretino apenas levantou-se da cadeira e ergueu o objeto de meu desespero acima da cabeça.

“Quero ver quem vai me impedir. Você, baixinha?” Ele riu em deboche.

“Como é que é?” Esganiço incrédula.

O maldito sorriu torto e ergueu ainda mais o livro. Logo em seguida, arqueou a sobrancelha.

Acho que todas as minhas veias já tinham explodido a esse ponto. Aquele jumento oxigenado só podia mesmo ter um apreço muito interessante pelo sofrimento. Ou então... Bem, ele simplesmente queria me fazer ter um AVC.

Filhote de cobra choca.

Rá, mas se ele pensa que vai sair ganhando nessa história toda; se ele sonha que vai rir vitoriosamente da minha cara, está redondamente enganado.

Meu olhar caiu milagrosamente sobre a cadeira em que, minutos atrás, o maldito esteve sentado. Calmamente, dirigi-me ao objeto, apanhei-o e o pus em frente ao garoto que agora me encarava com uma expressão confusa.

Muito naturalmente, subi na cadeira e fiquei em alguns centímetros mais alta do que ele. Sorri sadicamente ao envolver o livro com minhas mãos, imaginando uma cena em que Hermione Granger cuspia na cara de Draco Malfoy.

Abaixei a vista e deleitei-me ao ver um Malfoy com cara de paisagem. Hum... Cuspir ou não cuspir: eis a questão.

Quando decidi que apenas espirraria acidentalmente naquele rostinho satânico, senti meu corpo ser puxado cada vez mais para frente.

Mas hein?

Olhei para baixo e vi que os pezinhos do garoto se moviam para trás.

O que não prestou nessa história toda foi o fato de que eu NÃO larguei o livro. Sim. Minha mão foi possuída por alguma entidade maléfica surgida do mármore do Tártaro e simplesmente ganhou vida própria.

Resultado: uma Hermione retardada caindo sobre um Malfoy assustado. Oh, e agora a garota está literalmente em cima dele. No chão.

Mas pelo menos eu peguei o maldito livro.

Hermione wins?

Morra, Draco Malfoy.