Brief Lives escrita por Kurotsuki Kayuri


Capítulo 1
The last one.




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Sinta a vontade de morrer e a incapacidade de atentar contra a própria vida. Sinta o Desespero e as mãos atadas diante da própria vontade.

Odeie tudo, ame a si mesmo. Mate a voz, esqueça a si mesmo na escuridão. Sinta a dor dos pequenos cortes que cicatrizam na pele pálida demais e queira mais. Mais dor, mais ardência, mais prazer masoquista.

Acorde de um Sonho ruim com a impressão de que não é um simples passeio onírico. Não, nada disso é um Sonho. É a vida real. Você está sozinho, com o coração partido. Você quer morrer e ninguém quer estender a mão a você.

Você os odeia, mas ao mesmo tempo os ama, e continua nesse círculo vicioso até que sua mente exploda. Você olha aquele ônibus vindo na sua direção. Seria tão fácil se jogar na frente e morrer instantaneamente... mas o medo te impede e ah! Como você odeia esse maldito medo.

Você coleta todos os remédios da casa e no silêncio da noite, quando somente o barulho da televisão no quarto ao lado é ouvido (todos estão dormindo profundamente), seu próprio quarto imerso na escuridão, as caixinhas coloridas iluminadas somente pela lanterna, você começa a pensar se realmente quer isso.

Você quer. O Desejo da Morte mais forte do que tudo.

As mãos tremem, você pega a garrafa d'água. Uma pílula, duas, três, uma cartela inteira. Um grito desesperado, tapas em seu rosto e pessoas correndo de um lado para o outro. Por que não se pode nem mais morrer?

"Você só quer nos envergonhar. O que eles vão dizer? Que eu maltrato você?" ela grita. E você chora, porque é com a própria reputação que eles se preocupam. Ninguém perguntou o que está acontecendo. Ninguém quis saber. Ninguém notou o seu Desespero, somente os cortes e a vontade da Morte. Mas nunca o Desespero.

E você, que sempre pensou que o Desespero e a solidão fossem algo quente, que te faz ficar imóvel, quase paranoico e incapaz de se acomodar em um único lugar, agora vê que é tudo tão cinza e triste... e a única coisa real é a lâmina do aparelho de barbear de seu pai que se afunda na sua pele.

Não são cortes relativamente significantes, mas é o suficiente para arrancar lágrimas. E suspiros aliviados, toda vez que o sangue se esvai. É bom, é prazeroso.

Você sente que agora, mais do que nunca precisa da Morte. O fascínio macabro nunca vai embora e você quer ouvir seu último suspiro. Quer a umbra, quer provar se é verdade que você estará afundado na escuridão até que seja a hora de voltar.

Sorri. Bate a cabeça contra a parede de ladrilhos molhada. Dói. Mais um sorriso. Prazer. Prazer na dor.

E lentamente, debaixo da água tão quente que pela a cútis, você lembra-se de tudo. Dos olhares e sorrisos desdenhosos da sua progenitora (você odeia a obrigação cívica que faz a chamar de mãe. Você sabe que ela não é a sua mãe. Você sente que só por um acaso muito ruim do Destino teve que nascer dela.) Das palavras ruins de seu pai, dizendo que os filhos que o abandonaram eram melhores que você. Você tentou tanto... do seu primeiro amor dizendo que te traiu por culpa do seu ciúme (ah, então foi essa a desculpa encontrada?), do seu segundo namoro acabando porque aquela outra pessoa era tão melhor que você... do seu atual amor, que finge não saber de nada.

Delírio, seria bom morrer... a dor iria embora... então você poderia parar de bater sua cabeça, parar de apertar o pedaço de lâmina contra a pele... e a dor é só mais um Delírio, porque nada disso aconteceu...

Você ri. Ri muito enquanto vê o corpo caído embaixo da água, o sangue sendo levado. Ri demais quando ouve os gritos horrorizados. Você não veste roupas, porque foi assim que morreu... então você morreu! Gritos e risos de alegria. Delirantes.

A moça parada ao seu lado sorri tristemente. Ela pode sentir o Desespero da solidão, o Delírio da dor, o Sonho de que tudo isso acabasse, o Desejo de nunca mais voltar, a raiva pelo Destino que te fez sofrer...

Ela é a Morte e sabe que tudo que restou para você foi Destruição.


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