"O único segredo que as mulheres sabem guardar é aquele que elas ignoram."

Sêneca

– Vem comigo. - Chamo, puxando Griffin.

Nós dois atravessamos a multidão enloquecida do Westward, algumas pessoas parecendo estar se perguntando por que a capitã do time está saindo justamente na hora da comemoração.

Eu e Griffin alcançamos a saída do ginásio e andamos sem saber direito aonde vamos. Eu tenho que fazer isso, acho que demorei demais para tomar uma atitude com relação a isso, e foi um erro.

Encontro quem estou procurando a uns bons metros na nossa frente. Griffin parece entender o que eu quero e puxa a minha mão delicadamente.

– Não, Bellie. Vamos voltar e esquecer isso. A festa de Tensy começa daqui a pouco e ela vai ficar chateada se você não for.

– Eu posso ir depois. - Respondo, a raiva evidente em meu tom de voz. - Eu preciso fazer isso. E sozinha.

Os olhos dele mudam. Passam agora a representar preocupação.

– Tem certeza? Não acha que seria melhor se eu fosse com você? - Ele pergunta, com uma voz fofa que me faz derreter por dentro.

– Seria. Mas não é o certo. - Digo, após juntar todas as forças que consigo.

– Eu te espero aqui. Pode levar o tempo que for. Me chame se precisar de qualquer coisa.

– Obrigada.

Griffin segura meu rosto e aproxima do dele. Sinto o perfume dele conforme vou chegando mais perto e fecho os olhos quando ele beija a minha testa.

– Boa sorte. Veja bem o que vai fazer. - Ele diz, se afastando para me olhar.

Eu assinto para ele e, respirando fundo, dou-lhe as costas.

A pessoa para perto da diretoria, e parece, a alguns metros da porta de entrada, perceber que está sendo seguida. Ela para, e se vira devagar para me olhar.

– O que você quer? - Me pergunta, a voz rude.

– Você me deve explicações. - Respondo.

Megan bufa.

– Eu não te devo nada, Bellie. Você ganhou, não ganhou? Então não perca seu tempo comigo, volte ao ginásio para posar de heroína e receber os créditos por algo que você não fez.

O quê?

– Do que está falando, Megan? Não tem nada a ver com vôlei ou vencer.

Ela ri.

– É claro que tem. Sabe, isso tudo teria sido muito mais fácil se você não tivesse entrado no meu quarto aquele maldito dia e mexido em coisas que não são da sua conta.

– Não são da minha conta? O fato de você estar saindo clandestinamente com o meu treinador nos fez perder ano passado. Mas já entendi, não é? Nós podemos perder o campeonato que for desde que você continue suas pequenas aventuras com Peter.

Megan parece ficar sem resposta por um momento. Cruza os braços, balança a cabeça para tirar uma mecha de cabelos negros da frente dos olhos e umedece os lábios.

– Então vamos, Bellie. Me diga tudo o que quer falar e eu te direi tudo o que precisa ouvir.

Eu estreito meus olhos.

– Do que está falando?

Ela bufa de novo.

– Por favor. Não venha posar de boa moça para cima de mim. Já se esqueceu do que acabou de fazer? Nós quase perdemos por causa de você. Se você não fosse uma queridinha da diretora, seu egoísmo teria acabado com o time de novo.

– Egoísmo? De novo? Como assim?

Megan solta uma risadinha.

– Você não se importa realmente com vôlei, Bellie. Você só se importa consigo mesma. Você faltou o começo do segundo set porque estava ocupada demais choramingando pelo Griffin!

– É claro que eu me importo com vôlei! De onde está tirando isso, Megan? Eu dei meu sangue por esse time esse ano!

Ela gargalha.

– Só pode estar brincando, não está? Você nunca faz nada, mas te acham a rainha do vôlei. A única coisa que você faz é usar essa braçadeira que não significa nada.

Eu balanço a cabeça negativamente por um momento, mas de repente lembro que não é por isso que estou aqui.

– O que você pensa sobre mim ou o modo como jogo ou mando no time é problema seu. Não é sobre isso que vim falar.

Os olhos azuis-escuro de Megan formam duas fendas.

– Sobre o que veio falar, então?

– Vim saber que direito você acha que tem para espalhar meus segredos por aí como se não fosse nada.

Ela pisca com força.

– O mesmo direito que você tem de rabiscar muros, faltar trabalhos voluntários, colar em provas, danificar uniformes e se intrometer em assuntos que não são do seu interesse. Satisfeita?

– Com o quê? Com essa explicação ridícula ou com o fato de que você é tão burra que não consegue entender o fato de que ter ficado com Peter aflinge todas nós?

Megan não responde. Apenas permanece de braços cruzados, me encarando com os olhos elétricos imóveis. Sem esperar reação, continuo:

– Você não precisava ter dito nada a Blake, Megan. Eu tinha prometido que não contaria, não tinha? Era só você parar de ficar com Peter. Só isso. E mesmo assim, estamos no segundo ano. Depois do ano que vem, quando estívessemos formadas, Peter e você juntos não seria um problema tão grande quanto foi hoje.

Megan descruza os braços e passa as mãos pelos cabelos.

– Ah, é? Deixe-me te dizer uma coisa, Bellie. Seres humanos têm sérios problemas com segredos, vá aprendendo isso. Eles podem até guardar seus segredos por um tempo, mas isso só dura até acharem a pessoa mais interessante para soltá-los.

Ela dá três passos na minha direção.

– Você foi uma idiota, Bellie. Eu contei os seus segredos, e ainda consegui fazer com que você culpasse Griffin. Ele ajudou também, talvez isso não desse certo se ele não gostasse tanto de você. Mas o que importa é que ainda tenho seus segredos comigo. Eu espalhei todos eles. E faria tudo de novo.

Dessa vez eu não consigo me segurar. Todos os sentimentos de raiva e repulsa voltam à tona. Não consigo pensar direito e, antes que eu consiga raciocinar qualquer reação melhor, parto para cima de Megan.

Ela grita, minhas mãos passam de leve por ela, mas não a tocam realmente. Alguém está me segurando. As mãos firmes nos meus antebraços, mas não doem.

– Ei, calma. Calma. - A pessoa sussurra no meu ouvido. Não preciso pensar para saber que é Griffin.

Enquanto Griffin me acalma, Megan se recupera do susto e bate na porta da diretoria. Sra. Mckingdom a abre. Eu nem reparei que ela tinha deixado o ginásio após me cumprimentar.

– Ah, Megan, entre, reservei esse horário para nós. - Ela diz, não parecendo perceber Griffin segurando meus braços nas costas para evitar outra investida repentina.

Megan manda um olhar malicoso na minha direção antes de entrar e fechar a porta.

○ ○ ○

Sra. Mckingdom reservou um horário para elas. Megan saindo correndo do ginásio depois de ganhar um final. Tem alguma coisa muito errada. Estou com um mau pressentimento. Eu e Griffin estamos aqui esperando já tem vinte minutos. Ele pediu para que eu me acalmasse quatro vezes mas eu não consigo ficar parada. Já perdi a conta de voltas que dei na frente da diretoria, o coração batendo forte e as mãos suando.

– Bellie, senta aqui. Furar o chão da escola não vai adiantar nada. - Griffin me chama.

Percebo que estou pisando com mais força do que o necessário. Paro de andar e me sento ao lado de Griffin, no chão. De repente, a porta se abre.

– Muito interessante, Megan. - A sra. Mckingdom está dizendo com uma cara pensativa enquanto sai da sala. - Você tem certeza?

– Absoluta, sra. Mckingdom. - Responde Megan, um sorriso cruel nos lábios.

A diretora junta as sobrancelhas. Percebe finalmente que eu e Griffin estamos aqui, mas não parece surpresa.

– Bellie, precisamos conversar. - Ela me diz.

Eu e Griffin nos levantamos.

– Eu já volto. - Digo a ele.

Griffin beija as costas da minha mão.

– Nada disso, eu vou com você.

Olho para sra. Mckingdom procurando algum sinal de reprovação, mas como ela ignora a revirada de olhos de Megan, eu e Griffin entramos na sala.

Megan se senta provavelmente na cadeira em que estava sentada antes. Sra. Mckingdom me oferece a outra cadeira, mas prefiro ficar de pé.

– Eu vou te perguntar apenas uma vez, Bellie. - Sra. Mckingdom me fala. - Odeio trazer esse assunto à tona, mas precisamos de um nome culpado. Megan está me dizendo que foi você quem pichou aquele muro. Se foi realmente você que cometeu o delito, você será convidada a se retirar de Westward por ter mentido para mim e deixado que Griffin se acusasse em seu lugar. Então, Bellie, foi você quem pichou aquele muro?

Megan solta uma risadinha um pouco alta demais e se cala quando a diretora lhe manda um olhar de silêncio.

Eu respiro superficialmente. Então foi isso. Quando Megan viu que nós íamos jogar e eu estava bem novamente resolveu arrumar um outro jeito de acabar com a minha vida. Todos os meus medos e segredos caem sobre mim como uma onda gigante. Sinto as mãos de Griffin se tornando punhos atrás de mim. Ele e Megan têm a mesma certeza - eu não minto.

Revejo rapidamente todos os meus segredos que foram divulgados esse ano, cada detalhe desde o começo dessa história, o primeiro lugar onde Griffin e eu nos encontramos...e sorrio para sra. Mckingdom.

– Eu não tenho a mínima ideia do que ela está falando, sra. Mckingdom. - Respondo, ao mesmo tempo que o queixo de Megan cai.

A diretora sorri de volta para mim.

– Eu já imaginava. - Diz.

Percebo que Griffin está se segurando para não soltar um suspiro de alívio. Megan parece ultrajada. Também não sei como consegui mentir tão tranquilamente, mas continuo sorrindo.

– Era só isso, Bellie, obrigada. - Sra. Mckingdom me fala.

Quando eu e Griffin nos viramos em direção à porta, Megan se levanta da cadeira com um salto.

– Está brincando, não está? Foi Bellie quem pichou o muro, ela merece pagar por isso! E ainda mentiu pra você, diretora!

– Falando em mentir - Sra. Mckingdom vira-se para ela. - soube que você andou colocando latas de spray na mochila de Bellie.

Megan se paralisa completamente.

– Obrigada pela informação útil, Griffin, a propósito. - Sra. Mckingdom pisca para ele. O garoto assente.

– Eu não... eu não... - Gagueja Megan.

– Me parece também - A diretora finge que não percebe a tentativa de Megan de dizer alguma coisa. - Que você indicou Victoria Carmichael para o cargo de treinadora em nome de outra pessoa.

Megan não diz nada. Vejo seus lábios balbuciarem debilmente o nome de Blake, mas mesmo que ela conseguisse dizer algo, ainda estaria sozinha.

– Isso é mentira! - Ela grita, de repente. - Vocês estão loucos! Todos vocês!

Sra. Mckingdom balança a cabeça.

– Megan, Megan... você fará trabalhos voluntários até segunda ordem, pelas infrações que eu já disse e por desacato à diretora. Minha sala não é lugar de escândalo.

– O QUÊ? - Megan berra de novo.

– E vai começar - A diretora a ignora - pintando aquele muro de novo. Enjoei daquele branco. Podemos mudar para um bege, o que vocês acham? - Ela vira-se para mim e Griffin.

– Acho perfeito. - Comento, e Griffin ri.

– Bom, temos tempo para decidir. - A mulher fala. - Venha aqui sábado para debatermos as cores, Megan, vai ser ótimo.

A cor do rosto de Megan já foi embora há muito tempo. Ela está suando frio e seus joelhos parecem não aguentar o peso de seu corpo.

– Obrigada pelo tempo de vocês. - Sra. Mckingdom fala.

Eu e Griffin damos um aceno de cabeça para ela, um sorriso eterno no meu rosto.

– Sra. Mckingdom, escute, por favor. - Megan diz, enquanto saímos - em uma última chance de mostrar sua inocência. - Foi Bellie quem pichou aquele muro, por que acha que Griffin se acusaria se tivesse sido eu?

Meu estomâgo revira. Eu odeio admitir, mas faz muito sentido. Griffin também percebeu isso, apressa um pouco o passo para sairmos logo daqui.

– Bellie, volte aqui agora! - Escuto a voz da sra. Mckingdom, que pareceu finalmente ter descoberto a verdade. Uma voz completamente diferente, rude, grossa, mau-humorada.

Eu e Griffin trocamos um olhar nervoso. Considero fugir por um momento, mas isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

Entro na sala de novo, as mãos tremendo. Megan voltou a ter um sorriso perverso na face. Meu semblante está tenso, contraído, completamente mudado. Para minha surpresa, sra. Mckingdom sorri.

– Você deixou isso comigo. - Ela fala, e tira de trás da mesa a coroa da rainha do Baile de Outono, que coloquei na cabeça dela há dias.

Eu sorrio de novo, aliviada. Griffin também parece menos tenso. Eu pego a coroa, deixando para trás uma Megan parecendo completamente ofendida.

– Agora vamos discutir seus trabalhos voluntários, querida. - Ouço sra. Mckingdom dizer a Megan enquanto saímos.

Eu e Griffin sorrimos um para o outro.