É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 36
Capítulo 36 - Nada mais que a verdade


Notas iniciais do capítulo

Eu pensei mil vezes em como devia ser esse capítulo. Foi isso que saiu um capítulo LOTADO de flashbacks, espero que gostem.
Boa leitura !



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"Em vez de tentar escapar de certas lembranças, o melhor é mergulhar nelas e voltar à tona com menos desespero e mais sabedoria."

                                            Martha Medeiros

Meu Deus. Estou de mãos dadas com Griffin Carmichael. Um menino que conheci não sei exatamente como, e passei a gostar da mesma maneira inexplicável. O aperto dele na minha mão faz minha cabeça girar enquanto eu tento me lembrar que já sofri muito por causa dele.

O garoto nos guia até o lado de fora da tenda, onde a chuva cai forte. Por um momento acho que ele vai nos levar até ela, mas Griffin desvia e anda até a parte coberta do jardim.

O lugar é lindo. Acho que quando entrei não parei para perceber a beleza dele, o que é uma pena. Apesar de estar escuro, consigo perceber a grande variedade de flores aqui.

Griffin para na frente de um banco e sinaliza para que eu me sente. Ele assume o lugar do meu lado, virando-se para mim. Sem saber o que fazer, eu respiro fundo e falo:

- Acho bom que você tenha uma ótima história.

Ele abaixa a cabeça.

- Eu tenho.

Eu espero. A chuva cai lá fora fazendo um barulho estrondoso aqui dentro. Uma música animada qualquer está tocando no baile e eu me pergunto como estão Tensy e Jason.

- Eu sei por que você não gosta de mim. - Griffin me tira de meus pensamentos.

Se eu estivesse em uma situação normal, teria feito uma cara debochada e soltado um "Sério? E quando descobriu?" mas essa não é uma situação normal. Quer dizer, em uma situação normal Griffin Carmichael não estaria debruçado sobre mim da maneira como está agora.

- Não sou eu quem está contando os seus segredos. - Ele continua, os olhos faiscando.

Epa.

Esse é um ponto delicado.

- N-não é? - Pergunto, tremendo. - E quem é, então?

Griffin respira fundo. Meu Deus, como ele fica lindo quando faz isso. Mas eu não posso ficar pensando nisso. Não agora.

- Quem é, Griffin? - Repito, a paciência se esgotando de novo.

- A Megan. - Ele me responde, a cabeça ainda baixa.

A Megan. Megan Parsons está por aí contando os meus segredos. Isso é ridículo. Megan Parsons não sabe os meus segredos. Embora esteja um pouco assustada, tento bufar e dizer a ele displicentemente:

- Ah, por favor. Megan não tem nem ideia de metade das coisas que...

- Ela sabe sim. - Ele me interrompe.

- E como ela sabe disso, Griffin? - Minha voz começa a ficar histérica.

Certo, parece que cheguei na parte que ele não queria que eu chegasse. Observo-o morder o lábio e passar a mão direita nos cabelos brilhantes.

- Aquele dia. O dia da estufa. - Responde.

Meu coração para por um segundo. Meu cérebro instantaneamente volta aos eventos do dia mencionado.

"Chego ao corredor onde ficam os laboratórios de física e química, e a estufa fica logo no fim dele. Olho para dentro de cada sala, mas congelo quando chego à sala de informática. O senhor Vickinn ainda está lá, desligando os computadores, enquanto explica a alguém como fazer alguma coisa em um programa de computador complicado."

Não. Por favor, não.

Mas isso não quer dizer nada. Podia ser qualquer pessoa ali, com o professor de informática. Ele podia até estar falando sozinho, treinando para aquelas entrevistas que ele sonha em fazer.

Mas... ah, não. Isso não pode ser verdade.

"Griffin diz meu nome, mas é ignorado. Saio correndo e bato as portas. Desço três lances de escada e entro no primeiro banheiro feminino que vejo. Fico surpresa de, ao chegar lá, me encontrar com Megan.

- O que está fazendo? - Questiono. - Você não devia estar jogando?"

Era ela. Megan. Ela estava perto.

 "- Será que pode me dizer por alto algumas coisas que eu te disse?

E ele começa. Despeja para mim todos os segredos que eu o contei, que coincidentemente são todos os meus segredos também."

Megan ouviu tudo. Absolutamente tudo. Era ela quem contava a todo mundo meus segredos. Mas não é possível.

- C-como você sabe que é ela? - Pergunto.

Griffin parece já esperar pela pergunta. Sem nem ao menos parar para pensar, ele diz:

- Ela entrou na estufa poucos minutos depois que você saiu. E aí... bem...

FLASHBACK ON (com o POV. Griffin Carmichael):

- Quer dizer que você já conhecia a Bellie? - Disse ela, um segundo depois que entrou, praticamente derrubando a porta.

- Me desculpe... Megan, não é? - Eu perguntei e ela assentiu. - Mas não acho que isso seja da sua conta.

Ela riu.

- Ah, isso é da minha conta sim. Não gosto da Bellie, e pelo que consegui ouvir aqui vocês também não se entendem.

- Ainda não entendi onde você quer chegar com isso.

Megan soltou uma risadinha.

- Francamente. Não é possível que você seja tão devagar assim.

Eu estreitei meus olhos.

- Receio que eu seja.

Megan revirou os olhos impacientemente.

- Veja bem, os segredos de Bellie são nossos. Se os segredos dela são nossos, ela está nas nossas mãos. Ninguém é feliz se vive de verdade o tempo todo.

- Bellie não é assim.  

- Não importa. Podemos fazer o que quisermos com ela. Temos tantos segredos, tantas confissões. Podemos começar contando à diretora sobre o muro, vai ser interessante, com certeza...

- Megan. Você não está entendendo. Não quero fazer nada contra a Bellie. Esqueça isso e vá embora.

- Não. Acho que é você quem não está entendendo. Não viu o que ela acabou de fazer? Bellie não tem consideração nenhuma com você, Griffin. Por que se importa tanto com ela?

- Bem... eu...

Megan gargalhou.

- Ah, não! Não me diga que está apaixonado por ela, Griffin.

- Isso não é da sua conta.

Ela riu ainda mais.

- Então não vai contar nada pra ninguém por causa do seu coraçãozinho, é? Bem, parece que terei que fazer tudo sozinha...

Eu me levantei e andei até ela.

- Nem pense em fazer algo contra Bellie, está me ouvindo? Eu sei seu segredo, Megan, acho que já sabia disso, não sabia? Fique longe de Bellie e assim evitaremos uma série de problemas.

Os olhos e a voz dela vacilaram um pouco. Ela soltou um pigarro.

- Bem, você tão esperto quanto imaginei que seria. Mas quero que saiba que nada vai me fazer desistir disso. Vou me vingar de Bellie. Estou esperando essa oportunidade há muito tempo.

- Não, você não vai, Megan, estou te avisando. Fique longe dela. Ou terá que se entender comigo.

- Infelizmente para você, Griffin, querido, minhas armas são melhores. O colégio vai saber os segredos de Bellie. Um por um.

Ela saiu da estufa e bateu a porta.

FLASHBACK OFF

Ele termina de contar e olha nos meus olhos. Encaro os olhos azuis que julguei traidores por tanto tempo e que agora voltam a ser somente olhos de um garoto verdadeiro. Um garoto especial.

- E-então - Falo - Não foi você que contou sobre a cola... - Completo, pegando o primeiro segredo que lembro.

Griffin me olha confuso.

- Claro que não. Eu peguei detenção também, não se lembra?

A voz de sra. Nichols no dia me vem à mente.

"Além do zero, mais duas semanas de detenção para todos. Inclusive para você, senhor Carmichael, por não ter me dito antes."

Ela não disse que tinha sido ele. Meu Deus.

- E não foi você que contou sobre o vestiário, e nem sobre mais nada... - Concluo.

Griffin sorri ao ver que estou entendendo.

- Não. - Diz, aliviado.

Eu bato na testa levemente.

- Ah. Agora faz sentido. É claro que foi Megan também quem contou ao Steve que eu queria ficar com ele de novo, e o convenceu a usar seu nome.

Griffin parece envergonhado. Comprime os lábios e um segundo depois confessa:

- Na verdade... esse segredo fui eu que contei.

Sinto a cor saindo do meu rosto.

- Por quê? - Pergunto, baixo.

Ele dá de ombros.

- Bom, eu tinha medo daquela festa. Achei que se eu colocasse o Steve no seu pé a noite toda... hum... você não ia ficar com ninguém.

Eu sorrio de novo. Um sorriso aberto de verdade. Griffin sorri para mim também, mas eu me lembro de outra coisa:

- Mas... o muro.

- O que tem?

- Você sabia que tinha uma lata de spray na minha mochila...

- Sim, eu sabia. - Ele me interrompe. - Cheguei na sala aquele dia bem a tempo de ver Megan colocando o spray nas suas coisas. Sabia que aquele seria o segredo do dia.

- E se acusou por minha causa. - Completo, a voz ficando embargada.

Griffin baixa os olhos.

- Foi.

Engulo em seco. Ele ainda está cumprindo trabalhos voluntários por causa disso. 

Me lembro de todas as vezes em que o acusei de ter me denunciado, sem ter provas mais concretas do que minha instável intuição e minha implicância com ele. Esse tempo todo não tinha sido Griffin, e sim Megan Parsons, que estava no lugar errado, na hora errada e ouvira toda a conversa pela parede da estufa.

- Me desculpe. - Diz Griffin, após o segundo de silêncio.

- Te desculpar pelo quê?

- Isso tudo é minha culpa. Se eu não tivesse dito para irmos na estufa aquele dia, nada disso estaria acontecendo.

Meu sangue ferve de raiva de Megan. Já não basta acabar com a minha vida usando a pessoa errada, ela tem que fazer essa pessoa sofrer também?

Uma dúvida de repente vem à minha cabeça.

- Griffin... posso te fazer uma pergunta?

Ele me olha como se não esperasse isso.

- Pode. - Fala, parecendo confuso.

- O que sua mãe estava fazendo no time?

Os olhos dele formam duas fendas.

- Não sei. Também me pergunto isso até hoje.

- Não sabe? Sra. Mckingdom disse que foi você quem a indicou.

- Eu não indiquei ninguém a nada. Alguém deve tê-la enganado.

- Ah.

Victoria ter estado no nosso time, então, também não foi culpa dele. Eu confio em tudo o que ele me diz. Griffin não ia se dar ao trabalho de me contar isso durante o baile se não se importasse comigo.

Por instante, imagino como seria beijá-lo de novo. Agora não tem nada, absolutamente nada que me impeça de assumir para ele de uma vez que eu gosto dele. Não importa Jason, nem Helaina e nem mais ninguém. Um casal é composto por duas pessoas, um destino e um milhão de sentimentos. Outras coisas não se incluem.

Mas espera um pouco.

- Griffin - Falo. - Por que, então, você mudou de colégio no meio do ano?

Ele suspira. Um suspiro longo, pesado e cheio de culpa. Tenho medo da resposta.

- Blake me mandou.

Tá, eu imaginaria como resposta até mesmo "Estou fugindo de Voldemort" antes de pensar nessa. Como assim, Blake o mandou?

- O que quer dizer? - Respiro fundo.

Griffin passa a mão pelos cabelos de novo. Não estou gostando disso.

- Prometa que não vai ficar brava. - Fala.

Respiro uma lufada de ar gelado demais. A chuva continua lá fora, mais forte do que antes.

- O que quer dizer, Griffin? - Repito.

O garoto abaixa a cabeça.

- Bom... Blake não é burra, Bellie. Ela sabe muito bem que aconteceu alguma coisa estranha para vocês perderem no ano passado.

- Sim, e daí? - Pergunto.

- Daí que esse ano ela ficou preocupada ao saber que vocês vão jogar de novo e me mandou vir aqui para... hum... descobrir o que aconteceu.

- Quer dizer que você mudou de colégio porque sua irmã mandou você vir para cá nos espionar, foi isso?

- Não, Bellie, olha...

É claro que ele não estava interessado em nada além de informações para a irmãzinha dele. É só por isso que ele ficava perto de mim.

- Eu não sou tão idiota quanto você pensa, Griffin. Você só estava atrás de coisas que pudessem interessar o timezinho de vocês o tempo todo. O que é ridículo, você sabe muito bem que poderia ter arrancado mais detalhes do que te contei naquela festa...

Eu paro de falar. Agora tudo se encaixa. Um garoto como Griffin nunca chegaria em mim tão fácil igual àquela noite.

 - A-Aquele dia... - Gaguejo.

- Não foi a primeira vez que nos vimos. - Concorda ele, balançando afirmativamente a cabeça ainda baixa.

Minha garganta seca. Eu tenho dificuldade em respirar.

- Foi por isso que falou comigo, não foi? Só por isso?

Ele não me responde prontamente. Um minuto depois, que me parece um ano, Griffin assente em silêncio.

- Te reconheci de um dos jogos do West High e me lembrei do que minha irmã havia me dito. Ela havia me proposto a mudança de colégio e eu neguei, óbvio. Não queria sair do West High, mas eu conheço Blake. Ela ia inventar alguma coisa, fazer um escândalo, e meus pais iam me tirar de lá de qualquer maneira. Então quando te vi, achei que falando com você ali mesmo poderia resolver isso de uma vez.

Minha cabeça gira. Ele nunca gostou de mim. Ele está aqui agora, mas não importa. Não consigo acreditar que um segundo atrás que estava pensando que podíamos ficar juntos. Não podemos. E nunca vamos poder.

A última frase dele, "achei que falando com você ali mesmo poderia resolver isso de uma vez" ecoa no meu cérebro, como se eu precisasse sentir a dor mil vezes antes de acreditar que é real.

Uma voz na minha cabeça ri e diz "Eu te avisei, sua estúpida", mas eu não posso discordar dela. Eu fui burra, ingênua e patética.

- Foi por isso que não queria me deixar jogar antes, quando era treinador, não foi? Para perdemos de novo. - Acuso.

Os olhos dele se arregalam.

- Não, claro que não! Eu estava preocupado com o seu pulso, eu juro...

- Não precisa jurar nada para mim. Só me deixe em paz, tá?

Eu me levanto. Griffin também fica de pé, mas eu ignoro os seus pedidos para me fazer ficar. Quero ir embora, ficar sozinha. Sem saber ao certo aonde vou, me viro na direção da chuva. Não vou voltar ao baile, não mesmo.

E o pior é que eu devia ter imaginado. Ess tempo todo não passou de uma coisa: interesse. Um interesse doentio por vitória que parece ser de família. O peso que eu tinha nas minhas costas antes agora volta com muito mais força.

Eu caminho com a mente vazia, fitando a noite sem realmente vê-la. Paro embaixo da marquise que me separa da chuva. Não tenho tempo de ponderar ou tentar conseguir um pouco de juízo. Dou dois passos à frente e sinto as gotas banhando meu vestido, meus cabelos e - Tensy vai me matar - minha maquiagem.

Sinto Griffin um pouco mais atrás de mim.

- Bellie! - Chama.

Eu me viro e ele está debaixo da marquise do jardim, o pé direito ameaçando vir atrás de mim na chuva.

- Me desculpa. - Ele fala. - Eu não queria ter feito isso...

Eu o olho com atenção.

- Fazer o quê? Ser bonzinho comigo fingindo que gosta de mim para eu me apaixonar por você?

Por um instante, Griffin abre a boca para discutir mais, mas a fecha sem pronunciar som algum e me manda um sorriso que mostra os dentes perfeitos.

- Está apaixonada por mim?

Burra.

- NÃO! - Grito, e mesmo eu sabendo que é mentira, a raiva e a humilhação são tamanhas que a palavra simplesmente sai.

Eu me viro de novo e ando para longe dele.

- Bellie! - Ele chama de novo.

Eu encaro Griffin por reflexo e o vejo sacrificando os sapatos italianos caros dele sem pena aparente, andando na chuva em minha direção.

Ele para a alguns passos de mim, as gotas de chuva tomando conta e escorrendo pelo nariz bem torneando e molhando os cílios perfeitos.

- Um dia você me perguntou por que eu gosto de você. - Diz, parecendo não se importar com a chuva torrencial acima de nós. - Não quer ouvir a resposta?

Eu abro os braços encharcados, exasperada.

- Ah, é? E por que você gosta de mim? Por que eu fui a única que se humilhou para você?

Ele anda mais alguns passos até ficar cara a cara comigo. Passa os dedos de leve na lateral do meu rosto.

- Não. - Sussurra. - Porque eu sei todas as coisas que fazem você ser quem você é.

Essas são as últimas palavras que escuto antes de ele me beijar.


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Notas finais do capítulo

URRUL! Aí está o capítulo que eu mais queria escrever e postar! Tomara que tenham gostado.
Os flashbacks mostrados dizem respeito ao capítulo 15 - A Estufa
Obrigada a quem leu!
Mil beijoos ! =)