É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 14
Capítulo 14 - Provas




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"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace."

                                       - Victor Hugo

Não sei a resposta da questão um, nem da quatro, nem da cinco, nem da nove e nem da doze. Mas isso não importa.

Ele está encostado na mesa da professora, ainda sem uniforme, com a camisa vermelha apertada nos braços e o relógio prateado de marca deslizando no antebraço conforme ele se mexe para pegar as provas das pessoas que já acabaram. Acabaram porque não responderam nada, vale a pena dizer.

Reparo que ele sempre manda um sorriso reluzente para qualquer menina que se levanta, e o coração delas bate tão rápido e tão forte que acho que consigo ouvir daqui.

Estou preocupada com a cola. As pessoas ficaram meio em dúvida se deviam fazer ou não, já que não confiavam no novato para manter segredo. E, mesmo se passassem, nem o mais nerd da sala saberia, uma vez que aquela maluca da professora não deu essa matéria direito. Percebo, pelo canto do olho, que a cola está rolando, afinal. O garoto que passa as respostas para a sala toda está escrevendo em um papel e entregando aos outros com as mãos mesmo, visto que os pés não ficam livres do olhar eficiente do fiscal.

Como dessa vez todos terão que copiar a prova inteira, não creio que a folha chegará em mim antes do término da prova.

Rabisco qualquer coisa nas questões que sei que não vou conseguir achar alguma resposta que preste nem que eu fique aqui por cinco anos e me levanto. Ele imediatamente olha para mim quando começo a atravessar a sala para entregar a prova. Sorri na minha direção e estica a mão para o papel. Eu o entrego a ele, e vejo que ele deu uma olhada na minha prova que não deu nas outras. Mas a guarda no lugar quando vê que estou encarando-o.

A senhora Nichols chega correndo, ofegante e descabelada. Parece que hoje o negócio foi bom com o senhor Priddy.

- O tempo acabou. - ela diz, em tom alto para disfarçar a voz falhando.

E começa, instantaneamente, a tomar as provas das mãos dos alunos desesperados que lutam para inventar mais alguma coisa a fim de usar como resposta.

 Senhora Nichols passa perto da minha mesa e me olha com um ar desconfiado, como se não acreditasse que eu já havia acabado. Quando digo que não nos damos bem, é isso que eu quero dizer. Ela pensa que eu acho que, já que eu sou a capitã do time de vôlei, posso me dar ao luxo de ir mal nas matérias, porque sempre vou passar de ano pelo esporte. É claro que isso surgiu da cabeça dela.

Terminado de recolher as avaliações, a professora se vira para o novato com um sorriso que é exclusivo para ele e pergunta:

- Eles não aprontaram nada, não é?

Ele hesita. Óbvio, não é possível que o garoto seja tão burro a ponto de não ter notado a cola passando de mesa em mesa. A turma está quieta, esperando para saber se vão aprovar o novato ou não.

- Não, senhora Nichols, tudo foi bem.

Vejo que algumas meninas do meu lado seguram um suspiro de alívio, e eu tenho que me conter para não suspirar também.

- Obrigada, então, senhor Carmichael. - Ela diz, a expressão ainda alegrinha.

Ele se senta. Olho-o voltando para o lugar, e penso que, talvez, ele não conte os segredos sobre os quais tem posse. Mas só talvez. Não tenho certeza de nada porque poucas coisas são tão boas quanto contar um segredo. Quer dizer, se segredos fossem permitidos contar não seriam proibidos e se não fossem proibidos não teriam a mínima graça. Principalmente quando a fofoca é sobre os outros.

O sino toca e as pessoas se levantam das cadeiras devagar, por causa da consciência da nota não muito boa que vão tirar nessa prova.

Tensy se levanta e me dá um beijo no rosto. Ela vai faltar os próximos horários para treinar para o próximo jogo de vôlei. Eu não vou, por causa do meu braço. Cada vez que lembro que não vou jogar, me odeio por ter me machucado. A partida será na hora da aula, então não teremos aula amanhã. Ainda assim, é obrigatória a vinda dos alunos, para "torcer e reanimar o time depois da última derrota", como dissera a diretora.

Eu me demoro no lugar, até que Jason entra na sala, com um livro debaixo do braço.

Senhora Nichols o cumprimenta com um sorriso aberto enquanto deixa a sala - ele é um dos alunos preferidos dela. Jason faz uma saudação a ela e se dirige à minha mesa.

- Ei, Jason - digo - pode me dar uma ajuda em História? É que acabei de tirar zero em uma prova surpresa que aquela louca... - paro de falar quando percebo que estou sendo ignorada. Olho na direção que os olhos de Jason apontam.

Tenho que me segurar para não bufar. O olhar de Jason paira no garoto que era fiscal de prova minutos atrás. Na verdade, sinto que como se Jason estivesse tentando estrangulá-lo com os olhos e sei que ele sabe quem aquele menino é.

Jason é um cara legal. Meio desligado e desajeitado, mas legal. Talvez fosse um pouco melhor se não medisse um metro e oitenta de altura. E pesasse mais do que sessenta quilos. Fora isso, não é exatamente de se jogar fora, com o cabelo loiro natural que qualquer garota mataria para ter e os olhos que mudam de cor: do verde ao cinza e de volta ao verde de novo.

Acho que o garoto também percebe a forma como Jason o encara, porque sorri se divertindo e se levanta. Parece querer chegar à porta por um momento, mas depois esbarra no ombro de Jason de uma maneira que foi claramente proposital.

Meu amigo fecha os olhos com força por um instante e então impede a passagem do outro garoto. Vejo os dois se encarando. O menino da festa é cerca de cinco centímetros mais baixo, mas ainda parece mais forte. Ambas as expressões estão frias, contraídas, violentas. Coloco a minha mão no ombro de Jason, prevendo uma briga.

- Não. - sussurro.

Ao som da minha voz, Jason relaxa a musculatura minimamente. Tento mandar ao outro garoto um olhar que diz que essa não é a hora, nem esse é o lugar. Com as minhas advertências, as expressões se tornam mais suaves, e Jason retira o ombro, e o outro garoto passa, saindo da sala.

Vejo que algumas pessoas que estavam em volta de nós, na expectativa de uma briga, abaixam a cabeça em sinal de desapontamento e se dissipam.

Respiro fundo. Não entendo direito o que acaba de acontecer, mas algo me diz que foi por muito, muito pouco. Tento mudar o foco para outra coisa e sorrio para Jason visando livrá-lo da expressão rancorosa que ainda sustenta.

O intervalo, assim como tudo que é bom naquela escola, passa muito rápido. Eu volto para sala para uma aula de Química, que também tenho com o garoto, infelizmente.

Sento no meu lugar e escuto Helaina comentando com outras meninas sobre o novato. Ignorando-as na medida do possível, viro para o quadro e o vejo entrando. O rosto ainda parece meio tenso, mas ainda é perfeito. As meninas do meu lado trocam opiniões sobre em qual ângulo ele é mais bonito. Sinto vontade de vomitar.

Surpreendentemente, o menino, em vez de se sentar no lugar, desvia seu caminho e larga um pedaço de papel na minha mesa. As garotas do meu lado olham com uma mescla de surpresa e curiosidade.

Espero-o passar e encaro as meninas. Elas ficam envergonhadas, viram para frente e só assim me sinto à vontade para abrir o papel, que me parece um bilhete. Quando o abro, vejo que realmente é um bilhete. Meu coração dispara. O que aquele garoto poderia querer comigo para me mandar um bilhete? Curiosa, desdobro a folha e leio a caligrafia elegante:

" Me encontre na estufa do colégio amanhã, na hora do jogo."

Com o coração ainda atropelando a si mesmo por causa das batidas descontroladas, fecho o papel com os dedos trêmulos e o guardo na mochila.


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