Há 40 anos eu me assento nesse banco as margens do rio Senna e nada me alegrava mais do que ver aquele casal, deitados no gramado a minha frente. Fiquei sabendo que eles vieram do interior de Minas Gerais, o nome da cidade é até engraçado, Varginha. Dizem que lá tem um ET, mas ninguém nunca o viu. Ele veio trabalhar como engenheiro de uma multinacional aqui em Paris e aproveitou um dos passeios turísticos da cidade para pedir a mão de sua namorada, Olívia, em baixo da torre Eiffel. Miguel era dedicado tanto no trabalho como em seu relacionamento com Olívia, era um homem que toda mulher gostaria de ter. Mas era muito teimoso. Lembro que um dia ouvi a conversa dos dois e eles estavam brigando sobre um projeto de uma casa que Olívia fora contratada para fazer. Ele adorava deixa – lá nervosa com aquela carinha de emburrada que só ela tinha, tanto que depois de alguns minutos de discussão ela saiu andando e deixou-o falando sozinho. Ah ela deixava ele louco com isso. Esperou ela se afastar um pouco mais e saiu correndo pegando – a no colo, ela levou um susto e logo começou a bater e xinga – lo pois odiava que ele fazia isso, mas no fundinho ela adorava só não queria admitir. Olívia era linda, tinha cabelos negros e uma pele branquinha que poderia se perder de vista se estivesse sobre a neve, mas era muito ciumenta. Teve uma vez que uma colega de trabalho do Miguel estava passeando pelo parque e o cumprimentou, enquanto ele comprava cachorro quente para os dois. Ela foi para perto do rio e quando ele chegou o beijou puxando pela camisa, mas logo em seguida o empurrou no rio com roupa e tudo. Ela começou a falar da mulher que o cumprimentou e que não tinha gostado nada do jeito que ele tinha olhado para ela. Derrepente deu uma câimbra que o impedia de nadar, ela ficou desesperada e quando estendeu a mão para ajudá-lo ele a puxou para dentro do rio e mais uma vez ela começou a bater nele, até ele faze – lá parar com um beijo. Acho que as pessoas quando me olham andando na rua, pensam que eu sou um doido por andar por aí dando risada. Mas com umas lembranças assim não tem como conter o riso. Um dia ao ver Miguel tocando violão para Olívia, comecei a me perguntar sobre como eles se conhecerão e cheguei numa conclusão: Eles se conhecerão na escola. Olívia estava andando na rua e derrepente alguém a chamou e ela olhou para traz , mas não era ninguém. Ao virar para frente ela tromba com tudo com um menino distraído que vinha pela rua olhando para o chão procurando o dinheiro que tinha perdido. Ela caiu reclamando e quando conseguiu levantar foi tirar satisfação com o menino distraído, mas quando o viu ficou vermelha e saiu correndo deixando seus cadernos para traz. Ela não conseguia entender o porquê daquilo, sendo que o menino nem era tão bonito assim e o menino coitado não sabia se pedia desculpas ou pegava os cadernos dela para devolver. Depois desse ocorrido se passou seis meses e Olívia mudou de escola, foi para rede particular pois seu pai tinha sido promovido e queria que a filha tivesse um bom estudo. Olívia estava ansiosa até ver quem sentava ao seu lado, era aquele menino distraído que a tinha feito perder o chão. Mas depois de alguns dias eles foram se aproximando, foi um pouco difícil pois dois tinham um gênio forte. Passado alguns meses, estava sendo difícil ser amigo de Olívia. Ele tentou lutar contra aquele sentimento durante muitos dias, mas não conseguiu se conter e até que em um ato de fúria o seu coração se abriu, quando Olívia lhe falava de seu namorado. Por alguns minutos ela não soube o que dizer e começou a chorar, também o que dizer nessas situações. Mas aos poucos ela começou a sussurrar dizendo que sentia a mesma coisa, mas tinha medo de perdê-lo por isso estava namorando para tentar esquecer aquele amor que por um momento poderia ser impossível. Ele á abraçou e começou a enxugar as lagrimas dela, isso tudo aconteceu durante a aula de matemática. A professora não soube o que fazer á não ser chorar junto com a sala que se comovia com o amor dos dois. Não tinha o que discutir, definitivamente um nasceu pro outro. Depois de um tempo, eles não vinham mais todos os dias. Até que um dia o vi sozinho sentado em um dos bancos do parque, achei estranho pois sempre ele vinha com Olívia. Derrepente começou a chorar incontrolavelmente, as pessoas do parque chegavam perto dele para tentar ajuda – lo mas nada conseguiam. Quando parou de chorar, começou a rir isso sim é um louco. Pegou o violão e disse: Olívia, lembra desta canção? Vem, dança pra mim mais uma vez!. Olívia tinha falecido havia uma semana por câncer, depois de um mês que soube que estava grávida. Essa é uma história que vivi as margens do rio Senna.