Mike pendeu o corpo para trás, dedilhando com força as cordas do baixo. O comprido e liso cabelo castanho seguiu gracioso o movimento do corpo e Andy, por um segundo, não perdeu sua entrada.

Não sabia ao certo se era inveja ou admiração. Mas a ideia estava ali, fixa em sua mente. Como um balançar de cabelos podia lhe causar tanto fascínio?

Lembrava-se bem da primeira vez que se viram, logo depois de sua apresentação em um programa de talentos. Sentiu uma vontade tão grande de tocar os fios – curtos naquela época – levemente cacheados!

Não conseguia nem medir em palavras a alegria que sentiu quando montaram a banda. Poderia olhar para aqueles cachos perfeitos o quanto quisesse! Infelizmente, foi justamente essa fixação que levou Mike a se aproximar mais de Oliver, seu irmão gêmeo, do que dele. Não que Andy tivesse feito algo estranho, pelo contrário, tinha um medo tão grande de fazê-lo que ele próprio impediu que essa aproximação acontecesse.

Foi mais ou menos nessa época que decidiu, num ato de pura idolatria, deixar os cabelos crescerem. Uma ideia um tanto frustrada, em sua opinião. Mike ficava todo másculo e sexy – não que ele usasse exatamente essas palavras para definir o amigo... – e ele? Andy mais parecia uma garota!

Suspirou, ao fim da música, a última daquele ensaio. Agora era ir para o camarim se arrumar para o show.

Mike observou Andy largar o microfone e curvar os ombros para fora, a fim de espreguiçar-se. Os vários acessórios tilintaram fracamente e ele, quando deu por si, já estava perdido em pensamentos sobre o gêmeo mais novo.

Não entendia exatamente o que era aquele fascínio, mas aquelas imagens sempre o perseguiam. Como um homem podia ter tanto estilo?

Na primeira vez que o viu, no programa de talentos, percebeu de cara que se tratava de uma pessoa interessante. Na verdade, a palavra certa seria “exótica”. Os cabelos curtos, repicados de forma incomum, o sorriso traquina e a roupa verde o deixavam com um aspecto perfeito de pequeno elfo. Teve vontade de conversar com ele.

Ficou extremamente feliz quando os gêmeos aceitaram fazer da parte da banda. O garoto parecia muito engraçado, seria divertido! Infelizmente, e ele não entendia o porquê, Andy ficava tímido na sua presença, completamente introvertido. Então acabou fazendo amizade com o gêmeo de dreads amarelos e estranhos.

Foi nessa época que o “garoto exótico” se tornou o “cara com estilo”. O vocalista deixou os cabelos crescerem, adornando-os com luzes brancas. Ficou bem mais alto, também, as roupas se tornaram cada vez mais justas e as várias correntes e munhequeira passaram a ser itens básicos do visual. Ah, e a maquiagem! Ele nunca entenderia como um homem conseguia ficar tão sensual de maquiagem – não que pensasse exatamente isso do amigo...

Mike bem que tentara, em segredo, imitar o visual do outro, mas, definitivamente, não deu certo.

Deixou um suspiro pesado escapar de seus lábios e colocou o baixo no apoio. Saiu do estúdio de ensaio improvisado e foi para seu próprio camarim, onde a cabeleireira e maquiadora o esperavam.

– A água está boa, senhor Asten? – A jovem de cabelos róseos perguntou sorrindo, chamando-o pelo sobrenome.

Ele apenas concordou com a cabeça e fechou os olhos, deixando que ela massageasse habilmente seu couro cabeludo, enquanto a maquiadora pressionava levemente a esponjinha do corretivo contra suas bochechas.

Era apenas aquilo que ele deixava que elas fizessem, lavassem seu cabelo e passassem o corretivo – por pura insistência de Robert, o manager da banda. Agora, o resto ele mesmo fazia. Jamais que deixaria alguém queimar seus tão preciosos fios.

As garotas terminaram sua parte e se retiraram do camarim, para que ele pudesse secar seus cabelos a sós, como gostava.

Foi para a outra cadeira, de frente para um grande espelho, ligou o secador e o regulou até encontrar a temperatura ideal. Passou a mão pelo cabelo, sentindo o ar quente de encontro com a cabeça.

Já estava quase esquecendo os pensamentos estranhos sobre o vocalista, quando ouviu um bater na porta. Odiava ter que parar os cuidados do cabelo pela metade.

– Entra. – Gritou meio contrariado.

– Mikey...? – Era Andy.

Imediatamente o rapaz de cabelos castanhos mudou a expressão e o tom de voz.

– Ah, entra, pode entrar.

Andy ainda hesitou um pouco antes de invadir a sala. Durante todo o tempo que esteve em seu próprio camarim, onde outras duas jovens, lavavam, secavam e arrepiavam seu cabelo e faziam toda a sua maquiagem, esteve pensando sobre sua fixação estranha. E, quando se deu conta, já estava na frente da porta do outro, batendo.

Agora não tinha mais jeito, estava ali e tinha que ter um motivo pra isso, certo? Juntou toda a coragem que tinha – e a que não tinha, também – e pediu, timidamente:

– Será que eu podia te ajudar a secar o cabelo? – Um beicinho suave se formou em seus lábios, como uma criança que tenta convencer os pais a comprar um brinquedo novo.

Mike gelou. Andy estava ali, falando com ele de livre e espontânea vontade. Ele não podia perder essa oportunidade pra tentar finalmente firmar um vínculo de amizade com o companheiro de banda. Mas, ao mesmo tempo, não tinha coragem de dar uma reposta afirmativa para aquele pedido.

– Não vou queimar seu cabelo. – O vocalista riu com um tom de falsa indignação, mas em seguida voltou para uma expressão dengosa. – Confia em mim?

Nem que o baixista quisesse MUITO resistir àquilo ele conseguiria. O mais velho suspirou e balançou a cabeça em um aceno positivo. Andy lhe agradeceu com o melhor de seus sorrisos.

Finalmente – mil vezes finalmente! – ele poderia tocar naqueles cachos suaves tão lindos. Mal conseguia esconder a alegria. Tomou o secador da mão do menor e começou seu trabalho, passando a mão pelos fios molhados, acariciando-os.

Começaram com uma troca de palavras tímidas, mas que, com o passar o do tempo, se tornou uma conversa empolgada, como se fossem os melhores amigos há anos. Mike sabia! Tinha certeza que Andy era um cara divertido e espontâneo. Não conseguia deixar de rir com as coisas que o outro falava.

O mais novo deixou o secador na mesinha ao lado da cadeira e pegou a prancha alisadora para começar a parte realmente perigosa. O baixista engoliu um pouco de saliva, preocupado, mas Andy mostrou que sabia o que estava fazendo.

– Hm... Mikey... – Andy falou, com um ar de dúvida, de repente. – É normal sentir esse cheiro de queimado?

O mais velho quase pulou da cadeira e o vocalista caiu em gargalhada.

– Estou brincando com você, Mike! – Disse e recebeu um olhar revoltado como resposta. – Ei, calma, vai, foi uma piada inocente.

– Inocente porque não é no seu cabelo! – Suspirou.

– Mas, falando sério... – O mais novo continuou, olhando em volta para procurar o que queria. – Está difícil fazer isso com todo seu cabelo solto, acho que devia prender uma parte, enquanto faço a outra.

– Ah, os prendedores estão aqui. – Ele respondeu, esticando o braço para pegar as piranhas em cima da mesinha, mas Andy já as havia encontrado e acabaram por pegar na mão um do outro, no processo.

Era um toque de mãos, só isso. Mas ficaram ali, sem se mover, como se o tempo tivesse parado por alguns minutos. Um bater acelerado e sem sentido de corações começou.

Os olhos se encontraram e Andy inspirou o ar com força, como se tivesse desaprendido a respirar por alguns segundos. Aquilo que ele sentia era apenas uma estranha admiração pelos cabelos do colega, não era? Então porque toda aquela tensão por causa de um tocar de dedos?

As dúvidas na mente de Mike pairavam pelas mesmas terras longínquas e perigosas que as de Andy. Ele apenas gostava da forma como o outro se vestia, gostava do jeito como ele conseguia fazer os penteados mais diferentes e continuar sensual. Sensual...

Não tinham se dado conta de como foi que seus rostos se aproximaram um do outro. Não haviam nem percebido quando suas respirações começaram a se chocar. Mike ergueu levemente o corpo da cadeira, levando seus lábios a um roçar suave com os do vocalista. Andy pressionou os seus de volta.

Segundos, minutos, horas... Eles não saberiam dizer, mas foi o suficiente para que sentissem toda a obsessão clarear, sentissem o estomago revirar em pequenas e inquietas borboletas. E insuficiente para tornar aquele momento real.

Andy se afastou e retirou o prendedor da mão do mais velho. Voltou para trás dele para que pudesse terminar o alisamento. Como se nada tivesse acontecido.

Mas Mike pode ver, pelo espelho, o sorriso meigo que surgiu nos lábios do mais novo e ele mesmo não pode deixar de sorrir, feliz por finalmente encontrar o sentimento por trás de toda aquela admiração.