Perfect Mind escrita por Cara de Pinheiro


Capítulo 3
Parte três - Eu quero me lembrar!




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Thalia abriu os olhos, assustada. Tivera um pesadelo terrível e fora acordada graças à luz que entrava por sua janela.

Ela ainda estava muito cansada e queria continuar deitada, mas uma consulta às horas lhe mostrou que tinha apenas mais quatro minutos antes do despertador tocar e ela ter que se levantar para se preparar para a escola. Decidiu que não valia a pena adiar a tortura e puxou as cobertas.

Enquanto executava seus afazeres de modo mecânico, ainda bocejando de sono, voltou a pensar no sonho; estava em um lugar desconhecido, a céu aberto, vendo um garoto vomitar sangue. Mas o mais estranho foi como o sonho deixou Thalia se sentindo, com uma sensação mista de peso e sufocamento no peito. Ela estava realmente triste pela morte do garoto.

Quando desceu as escadas para ir tomar café da manhã, as lembranças do sonho já tinham sido varridas de sua cabeça. Agora ela só pensava em correr e chegar cedo à escola para tentar copiar a lição de aritmética de sua amiga Jess.

– Você viu o Gus? – Jess lhe perguntou por volta da hora do almoço – Hoje estamos fazendo sete semanas juntos e ele ainda nem deu sinal de vida!

– Você já tentou ligar pra ele? – Thalia sugeriu, remexendo as ervilhas no prato com o garfo.

Jess lhe olhou feio.

– Acha mesmo que essa não foi a primeira coisa que eu fiz quando acordei? Mas fica simplesmente dando ocupado!

Thalia levantou os olhos do prato só para lançar a Jess um olhar meio azedo. Ela já estava de saco cheio da obsessão de Jess por Gus, a qual vinha aguentando a mais tempo do que eles estavam juntos.

Com sua atenção de volta as ervilhas, Thalia tentava afastar, sem sucesso, a sensação incômoda que o sonho lhe causara. A todo o momento ela relembrava o rosto do garoto, sentindo que lhe era familiar. Até chegou a encarar vários garotos que passaram por ela nos corredores, conferindo se não era alguém da escola que ela só conhecia de vista, por que, se esse fosse o caso, ela queria ter certeza de que ele não ia começar a vomitar sangue.

A tagarelice da amiga acompanhou Thalia também na saída. Jess queria passar na casa de Gus, que não era muito longe da escola, mas desviaria completamente a rota habitual das duas. Apesar disso, Thalia a acompanhou. Afinal, era sua amiga.

Quando chegaram a casa de Gus, descobriram que o motivo dele não ter aparecido na escola se devia a grande festa que estava acontecendo em sua casa. Thalia podia sentir a raiva emanando do corpo de sua amiga.

Jess foi direto para a porta, abrindo-a, entrando sem esperar ser convidada, se jogando entre as pessoas a procura de Gus. Thalia não a seguiu. Não queria assistir nem participar da cena, mas estaria ali para consolar a amiga caso fosse preciso.

Observando as pessoas ao redor, aquela não pareceu a Thalia o tipo de festa que adolescentes dão escondido dos pais. Aliás, pela quantidade de adultos, dava pra imaginar que até os pais de Gus estavam por ali.

Thalia continuou parada ao lado da porta por um tempo, mas se ela não chegasse logo a casa, com certeza ia ouvir a maior bronca da vida. Por fim, decidiu procurar Jess.

Encontrou-a enroscada a Gus, com um copo na mão.

– Thalia, Thalia, vem cá! – Chamou Jess – Você não vai acreditar! – Mesmo depois que Thalia se aproximou, Jess continuou falando aos berros – Gus conseguiu! Ele entrou pra Ivy League! Vai pra Brown! Não precisa mais ir pra escola!

– Parabéns Gus – Thalia se virou para Jess –, mas a informação seria mais bacana se você a tivesse me tido meia hora atrás, pra eu poder ir embora.

– Ai, Thali, me desculpa! Eu esqueci geral!

– Tanto faz. Aproveita a festa – e dirigindo-se a Gus – aproveita a faculdade.

Já na rua, Thalia ajeitou a mochila nas costas. Estava anoitecendo e o ar do fim da tarde era frio. Ao invés de voltar pelo caminho que tinha vindo, de volta a escola, ela decidiu tomar outro, o qual esperava estar mais movimentado.

Na primeira esquina em que virou, ela não resistiu à tentação de olhar para trás. Enquanto a rua saia de seu campo de visão, arbustos pareciam se mexer e vultos passavam pelos carros estacionados na rua.

Thalia começou a andar mais rápido. A rua não estava movimentada como ela esperava. Fora alguns carros que passavam ocasionalmente, apenas o som de seus passos quebrava o silêncio. Ela olhou por cima do ombro mais uma vez e então, assim que se virou, foi jogava no chão. A garota olhou atordoada para os lados, procurando no que havia esbarrado para ter caído, mas não tinha sinal de objeto ou pessoa.

Mas, como por mágica, uma garota loira segurando um boné se materializou a sua frente. Thalia tentou se afastar dela, mesmo ainda estando no chão, mas bateu com as costas nas pernas de um garoto moreno. Os dois vestiam camisas laranjas e tinham a pele bronzeada, como se tivessem acabado de voltar de um acampamento de férias.

– Meus deuses, Thalia, nós procuramos tanto por você! – a garota desconhecida se jogou no chão, em cima de Thalia, envolvendo-a em um forte abraço.

O atordoamento com a situação não permitiu a Thalia ter iniciativa de se afastar da garota desconhecida mas com perfume familiar, como morangos e ar fresco. A desconhecida se afastou e encarou Thalia, sorrindo.

– Quem é você? – Thalia estava boquiaberta, sem entender nada.

– O Sr. D imaginou que isso pudesse acontecer; você não se lembrar de nós – dessa vez quem falou foi o garoto, ajoelhando-se ao lado da garota loira e apoiando uma das mãos no ombro de Thalia, dando um leve aperto motivador. A garota sentiu um arrepio ao ser tocada por ele.

– Não há uma maneira suave de lhe contar – explicou a garota loira –, e nem acredito que isso faria algum efeito, mas a situação é que você teve sua memória alterada pelo titã Cronos e foi plantada numa vida falsa, com lembranças falsas.

Thalia começou a cogitar que aqueles dois fossem drogados fugidos de algum centro de reabilitação, mas ainda não conseguia se mover.

– Aqui, tome isso – o garoto lhe entregou um caderno comum de aparência gasta. – O Sr. D acredita que isso pode ajudar.

Thalia abriu o caderno e viu, repetido em todas as linhas e várias vezes; “Eu te amo Thalia”.

Foi como se tivesse aberto todas as comportas de uma represa de uma só vez; as lembranças voltaram à mente de Thalia. Ela se lembrou de quem era, do que era, de onde vinha, quem era o garoto loiro do seu sonho e do que ela fizera.

Seu cérebro congelou e acelerou ao mesmo tempo. O mundo parecia ter parado e sua cabeça girava.

Era por culpa dela que – agora ela se lembrava do nome – Luke estava morto. Fora por culpa daquele amor que ele repetiu tantas vezes no caderno que ele fizera o que Thalia pedirá e agora estava morto.

Ela passou rapidamente as outras folhas, e em cada canto do caderno estava escrita a mesma frase.

Assim como fora com as lembranças, as lágrimas transbordaram pelos olhos de Thalia como comportas abertas de uma represa.

Thalia apertou o caderno junto ao peito, sufocando um grito de tristeza. Ela destruíra tudo o que tinha por raiva, por achar que devia ter tido mais, por achar que devia ter uma família. Ficara tão cega pelo ódio que não percebera que dependia só dela ter uma família com Luke. Sua vontade de se vingar de seu pai só a fizera destruir a possibilidade de um belo futuro. Agora ela não tinha nada.

Ela apertou mais o caderno, cravando as unhas nele. Tudo o que ela amava tinha sido destruído. Não havia mais nada para ela lá fora. Era o fim.


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Notas finais do capítulo

Eu acredito que poderia ter feito muuuuuito melhor, mas não queria adiar ainda mais o encerramento da fic. Desculpem-me por tudo e obrigada por lerem até aqui. Não esqueçam do review!