A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

"- Rose, eu sei que você está mentindo.
— Você não me conhece o suficiente para afirmar isso.
— Conheço o suficiente."



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Abe se surpreendeu com a facilidade que eu me socializava. Depois de uma hora no lugar eu já havia conquisto amizade – e corações – de vários morois e damphirs. E de repente eu estava na mesa de sinuca com um pequeno grupo deles. Abe ria com as minhas jogadas de principiante, e franzia o nariz cada vez que pedia uma bebida. Eu havia prometido a mim mesma não ficar bêbada esta noite. Um pouco alegre, talvez, mas bêbada não.

No fim de quase duas horas de jogo, Abe já não aguentava mais os gritos e bebidas, e estava cansado demais da viagem. Ele sabia que me chamar para ir embora não iria adiantar, então ele resolveu ir sozinho. Deixo comigo o motorista e Pavel – eu tinha certeza que Abe pediu pra que ele me vigiasse e não me metesse em confusão – e foi embora de taxi com outro guardião.

Eu havia me recusado a olhar em direção do bar novamente. Aquele Deus Grego tinha um olhar que me fazia perder o folego e tinha medo de não responder por mim. Mas, a bebida tirou minhas inibições. E quando dei por mim estava ao lado do grupo dele, pedindo uma bebida que eu não precisava. A maior surpresa? Tasha era a mulher de cabelos negros que eu tinha visto de longe da primeira vez.

- Rose! – ela gritou quando me percebeu ao seu lado – Rose! Rose sem sobrenome! - Pelo menos isso ela conseguiu segurar. - Pensei que tivesse ido embora também.

- Não, não... está cedo para ir embora – respondi pegando meu drink – Abe é um velhote reclamão.

- Se ele te ouve!

- Não faz nada! – retruquei com um sorriso ao mesmo tempo em que Tasha pedia outra bebida  que reconheci ser vodca.– Ahn.. Tasha, você não acha que já bebeu demais?

- Nunca é demais! – a mulher tomou o conteúdo de uma vez só e pediu outro.

- Natasha... – censurou o outro homem, o Moroi de cabelos e olhos claros.

- Não começa, Nail! Não começe! Desde que você casou está um porre!

Tomou o outro copo. Moroi eram mais afetados com álcool que Damphiros. Se eu já havia me sentido tonta com um desses, nem queria imaginar o que estaria fazendo com Tasha.

- Okay, chega Tasha! – o Deus Grego (Deus Russo considerando o sotaque) a impediu de tomar o terceiro copo, terceiro que eu tenha visto – Agora é o suficiente!

- Dimka! – reclamou ela contrariada. – Vocês todos estão chatos demais. Rose também quer se divertir comigo!

Eu fui colocada na jogada sem aviso prévio. Legal. Eu o olhei ,pela segunda vez aquela noite, com um sorrisinho cumplice. Ele era lindo e fica ainda mais lindo preocupado assim com a amiga. Tasha, reparei, tinha um ar meio possessivo sobre ele, tocava e segurava o tempo todo como uma propriedade, embora eu tivesse certeza, não sei como, que eles não tinham nada.

- Eu quero me divertir, mas acho que beber mais não está na minha lista hoje. – ela havia pegado outro copo, o que era meu, e estava levando em direção a boca quando eu o tirei dela – E você vai me acompanhar.

Entreguei o copo pro deus russo – que diabos de nome era Dimka? – que pegou de bom grado e deixou no balcão longe das mãos de Tasha. Quando seus dedos rocaram o meu tive uma sensação muito boa e como se uma corrente elétrica passasse por meu corpo acelerando meu coração. Se ele sentiu ou não, eu não sei, mas ele tirou sua mão da minha com uma rapidez suspeita e um brilho estranho no olhar.

- Dimka. – disse Tasha com um pressionar de olhos – Você era mais divertido quando ainda estudava. Fato. Está tão chato quanto o Nail!

O homem em questão grunhiu, mas o Damphir e eu rimos com o comentário dela. Tudo bem, não foi exatamente uma risada, mas definitivamente seu sorriso estava ali. Ele me olhou e sustentei o olhar por alguns segundos até que ele mesmo desviou e tomou do copo que Tasha havia pegado de mim. Nail abafou uma risada tossindo, mas eu vi quando ele olhou acusador para Dimka e depois para mim.

- Você está ganhando? – perguntou o damphir indicando a mesa de sinuca onde eu jogava com a cabeça.

- Você está brincando, não é? Os caras estão tão bêbados que não sabem o que é uma bolinha e um taco! Claro que eu to ganhando!

Uma sombra de um sorriso apareceu em seu rosto, não demorando muito para sumir, embora seus olhos me dissessem algo diferente.

- Ah, Rose, o Dimka também joga! –Tasha bateu palmas, animada demais e o agarrou pelo braço – vem Dimka, vamos relembrar os tempos de sinuca!

Eu ainda não me conformava com esse nome.

- Ela é sempre assim? – perguntei ao cara que se chamava Nail*. Mais um nome estranho. – Ou hoje, sei lá, é uma data especial?

Ele riu. E indicou que seguíssemos para onde os dois estavam, uma mesa de sinuca vazia no canto.

- Tasha às vezes se descontrola na bebida. – É eu percebi. – É que fazia muito tempo que não nos encontrávamos. Todos juntos, quero dizer. Desde que Dimka se formou, cada um teve suas responsabilidades, e acabamos ficando um bom tempo separados.

- Desde que... Espera, vocês não se formaram juntos?

- Não! Céus, não, Rose! – ele passou a mão distraidamente no cabelo. – Dimka é bem mais novo. Nos conhecemos desde crianças sabe. Nossas famílias se conheciam, estudamos na mesma Academia. Dimka faz 25 este ano. Não é muito mais velho que você, sabe?

Ele sorriu de lado em uma provocação aberta que eu poderia, mas não aceitei. Ao invés disso me guiei diretamente para a mesa onde Tasha tentava abrir o jogo. Dimka estava em silencio, mas se divertia vendo Tasha se enrolar toda, embora a preocupação pela amiga fosse nítida.

- Okay, Tasha. – eu interferi tirando o taco de sua mão – acho que seria melhor eu fazer isso. Por que você apenas não assiste?

- Isso! Rose versus Dimka! – gritou Tasha tentando se posicionar ao lado de Nail.

Dimitri pediu vodca para beber enquanto eu arrumava as bolinhas que Tasha havia dispersado.

- E pelo amor de deus. – disse me inclinando na mesa, ajeitando o taco – Não a deixem beber mais nada!

- Então, vamos ver todo seu talento para sinuca - seus olhos se encontraram brevemente com os meus. Ele pegou um copo de vodca e bebeu.

Tentei colocar a minha melhor máscara de desafiadora, mesmo sabendo que eu não era uma boa jogadora. Yeah, esses eram os efeitos que o álcool mais um deus do tesão me olhando como se eu fosse a musa inspiradora dos seus sonhos causavam em mim.

Abri o jogo. Para a minha surpresa, uma bolinha entrou no buraco. Ele fez uma cara de quem não estava nada impressionado.

- Bom - falou com um forte sotaque russo, que eu imagino ter sido reforçado pela bebida. Tirou a bolinha da caçapa para ver o numero – Você é par. É um oito. - Seus olhos caíram em mim novamente - Aliás, qual é seu nome? Você não me disse.

- Não achei que fosse necessário - falei num ar misterioso e joguei novamente, mas errando. - Tasha repetiu meu nome, o que? Umas vinte vezes?

- Mas é essencial - disse pegando seu taco e se posicionando - Não sou um homem que deve ouvir esse tipo de resposta. Tasha não nos apresentou, propriamente dito. Ela gritou seu nome.

Eu acabei rindo depois dessa. Esse cara era uma figura! Um tipo de homem que não desistia tão fácil de seus jogos. Decidi dar uma resposta à altura.

- Se você me disser seu nome, eu digo o meu - Ele acertou a tacada e me olhou. Seus olhos eram afiados e intrigantes. Desafiadores. - É pegar ou largar camarada. Você é quem sabe.

- Você é muito espertinha - um sorriso apareceu em seus lábios, enrugando o canto dos seus olhos. Ele era realmente muito lindo. - O tipo de mulher que gosta de bancar a complicada. Eu gosto disso.

Reprimi o impulso de corar por causa do seu comentário

- Você não me conhece para saber se sou ou não complicada.

- Se você me permitir, eu adoraria te conhecer melhor.

- Desculpe, não aceito nada vindo de estranhos - falei com um sorrisinho zombeteiro e, ao mesmo tempo, no estilo comedor de homens - Sou Rose -  eu não iria dizer a ele meu sobrenome. Não! Ainda mais que ele era um dhampir e provavelmente já tinha algum conhecimento da minha mãe. Eu não queria ser comparada a ela, como a filha Hathaway problemática.

- Dimitri - disse ele. Por que eles o chamavam de Dimka? Dimitri era muito mais lindo e... sexy. Combinava com ele. - E não vou dizer meu sobrenome porque você não o fez.

- Esta noite apenas seremos Rose e Dimitri. Nada mais e nada menos.

- Você é quem sabe - Ele deu ombros, e acabei errando a tacada. Mas ele estava despreocupado com o jogo. Sua atenção estava em mim.

- Então, Rose, você é de onde? Seu sotaque não é daqui, certamente.

- E não sou - confirmei e percebi que ele não estava satisfeito com minha resposta - Sou americana.

 - Eu estava presumindo isso - disse acertando três bolas de uma vez. Eu olhei arregalada. O russo era bom! Realmente bom! - E você também tem aparência de ser uma estudante. Diga-me, quantos anos você tem?

- Isto é um interrogatório, camarada? - perguntei um tanto provocativa, dando-lhe um brilho com o olhar.

- Não, só estou interessado.

- Interessado demais pro meu gosto - murmurei com ar crítico.

Ele sorriu e se inclinou na mesa, para mais uma jogada perfeita. Tasha e Nail, percebi, não estavam mais ali. Ela deveria ter ido tentar pegar alguma bebida, ele foi atrás para impedi-la.

Era a minha vez, e eu não acertei nenhuma bolinha. Na verdade facilitei muito pra ele. Merda.

- O que foi, Rose? – indagou Dimitri com um ar cômico – parece... Irritada? Não gosta de perder, huh?

- Não estou irritada! – exclamei um pouco rápido demais, dando a volta na mesa para ficar ao seu lado – Eu te disse. É chato ganhar sempre. Eu estou deixando você ter toda esta vantagem, camarada.

- Ah, para. – Pediu ele, serio. – não me chame de camarada, ouviu?

Eu sorri.

- Ah é, camarada? Mas por quê? Camarada. Isso te irrita? Camarada.

- Rose... – ele ergueu uma sobrancelha parecendo decidir se ria ou se irritava comigo.

- Que bosta, você é bom em tudo? – ele me olhou sem entender. – Eu sempre quis erguer uma sobrancelha assim. Mas só faço caretas...

Ele riu alto e mudou de sobrancelha. Ele fez isso de brincadeira umas três vezes antes de parar ao ver meu olhar que era para ser mortal, mas acho que não teve seu efeito. Okay, admito. Ele era divertido. Não era exatamente como eu pensei no começo, que ele era do tipo que não tirava folgas. Vai ver ele só precisava de um estilo da bebida e se acostumar que não estava a trabalho.

- Convencido. Chato. Arrogante.

Me sentei na mesa e cruzei os braços vendo-o lançar um sorriso divertido pra mim.

- Tudo isso. E um ganhador. Da licença que agora vou ganhar o jogo.

Ele se inclinou na mesa e em uma só, tacada todas as suas bolinhas entraram nos buracos. Isso me fez sugar o ar de surpresa e senti meu queixo cair em descrença.

 -Meu deus! Como conseguiu ganhar desse jeito? Como... Ah, você limpou a mesa!

Quando eu menos esperava, ele já estava a minha frente, entre as minhas perdas, uma de suas mãos pairadas na minha cintura. Seu rosto estava com uma máscara de malícia e mistério.

- Isso é segredo de profissional. Mas, como eu sou um homem gentil, posso compartilhar com você - ele abaixou o rosto até o pé do meu ouvido e murmurou - É que você é péssima em sinuca.

- Dimka, me ajude aqui!

Foi quase como um tapa de realidade. Nos fez afastar bruscamente e pigarrear. Envergonhada, desci da mesa e enxuguei as mãos subitamente suadas nos jeans. Dimitri agiu melhor que eu em fingir que nada aconteceu – ou melhor, quase aconteceu. Sua expressão era inexpressiva.

- Eu vou levar Tasha para casa, okay? – informou Nail com um meio sorriso – Ela daqui a pouco vai botar tudo pra fora e prefiro estar em casa ou em um taxi quando isto acontecer.

- Nail, não precisa! – de repente vi sua postura mudar, para uma protetora e característica de um guardião - Eu levo vocês. Só preciso pegar meu guarda-pó e vamos.

- Dimka, larga do meu pé um pouco! – ele riu se afastando – É sua noite de folga cara, se divirta. Rose! Vê se consegue relaxar esse cara. Ta meio difícil, viu...

Então ele se foi com aquele sorriso zombeteiro e nos deixou com um clima tenso no ar. Um clima que eu poderia ter quebrado puxando Dimitri para um beijo que o deixaria sem folego, mas por alguma razão achei que isto seria errado e não o fiz.

- Eu vou pegar alguma coisa pra beber. – avisei indo em direção do bar.

Inferno! Esse tal de Dimitri era um Deus Russo todo na minha e eu estava dando uma de difícil sem querer! Ao mesmo tempo, eu sentia que estávamos como em um jogo. Flertando e não indo a lugar nenhum. Como se quanto mais entendêssemos melhor ficasse. Não tinha certeza se eu estava gostando ou não disso. Me sentia em desvantagem. Não era bom em esperar.

Apenas por que estava a fim de mais de desviar meus pensamentos do deus Russo, eu pedi uma vodca. Mas talvez não tenha sido uma boa ideia, pensei assim que joguei o conteúdo na boca. Droga, decidi: odiava vodca russa.

- Rose, você está bem?

A mão de Dimitri tocou meu ombro gentilmente, com um olhar preocupado. Yeah, minha aversão à vodca estava bem visível.

- O que diabos vocês colocam nesse treco?! – indaguei quando consegui encontrar uma voz fraca e rouca – E como, infernos, você consegue tomar isto!?

Dimitri riu e pediu uma tripla – que significava três copinhos.

- Nunca parei pra perguntar. – respondeu ele tomando rapidamente de um só gole, e sem caretas, o primeiro copo. – Mas, não sei, acho que estou acostumado. Tomo isto desde... uns 15, 16 anos.

Eu o encarei, perplexa.

- O que? Você toma isso.... Deus! E eu achava que era a que tinha problema com bebidas!

- Problemas com bebidas?

Merda. Tópico sensível desde o incidente na noite passada. Não estava a fim de falar sobre, e não queria que Dimitri pensasse que eu era algum tipo de alcoólatra juvenil ou sei lá o que. Minha estratégia da noite era a desculpa de ir ao banheiro, e foi isso que fiz. Parabéns Rosemarie Hathaway. Agora você é uma fugitiva.

- Eu vou ao banheiro, já volto.

Já estava em pé andando entre as pessoas antes que ele pudesse dizer algo. Mas assim que atingi a área mais vazia próxima dos banheiros, senti puxarem meu braço para a outra direção, e Dimitri me encurralou.

- Rose, você me parece muitas coisas, menos alguém que foge.

Esse cara lia mentes ou algo assim?

- Eu não gosto de falar disso, está bem? – não, para ele não estava bem. O olhar que ele me mandou dizia isso. – O que você quer que eu diga? Que eu sou uma bêbada desvairada?

- Eu quero que você diga a verdade. Por que eu sei que você não é uma doida desvairada.

Aquilo me pego desprevenida. Dimitri parecia me conhecer mais do que eu me conhecia. Ele era bem observador, mas tinha mais por baixo disso. Os seus olhos escuros pareciam ver através de mim e eu ainda não sabia se isso era bom ou ruim. Mas naquele momento eu me rendi, e escolhi por dizer a ele parte da minha vida que eu, antes, tinha tanto orgulho – por parecer que eu era livre e divertida – e agora me envergonhava – por mostrar que era, na verdade, irresponsabilidade e leviandade.

- Digamos que eu tenha um fraco por bebidas... – suspirei e encostei-me à parede, e não deixei de reparar que ele ainda me segurava. – Não é que eu beba descontroladamente e não queira parar. Eu bebo por que quero e paro quando der vontade. Sei que isso parece papo de alcóolatra, mas se sou alguma coisa, isso eu não sou. Eu bebo por que... ah, sei lá por que! Eu vou na onda. Estão todos bebendo, eu vou beber também. Poxa, eu sou jovem, quero me divertir! Sei que aqui fora tenho alguém para proteger, mas... Eu só quero sentir que tenho um pouco de controle da minha vida e poder fazer o que quiser! Não vou me dizer que não me arrependo do que faço, por que, acredite, me arrependo no dia seguinte, mas isso não me faz menos capaz de proteger Lissa, e uma coisa que eu quero e treinei a vida inteira é protege-la, e eu sei que sou capaz, eu mostrei que sou capaz por dois anos e por mais que tenha sido inexperiente, poxa, eu realmente a protegi! Eu dei, dou e daria meu sangue por ela!

Ironia nas palavras, uma vez que eu, literalmente, quando fugimos da escola era seu saco de sangue ambulante. E por mais que me odiasse por admitir, eu adorava. Doar sangue era realmente bom, e, se eu já tivesse feito sexo, poderia ser comparado a. E nunca deixaria ninguém saber disso, claro.

- E também – continuei – eu meio que quase fui expulsa da escola por isso, e digamos que meu emprego de guardiã está por um fim.

Ele ergueu uma sobrancelha. Deus, ele fica realmente lindo quando faz isso.

- Como você conseguiu esta proeza? Dispensar guardiões assim...

- A culpa não foi minha, está bem! – exclamei em defesa – A culpa é daquele idiota do Zecklos! Que tipo de mané entra na piscina bêbado? Aquele Moroi idiota é o culpado de eu estar aqui! Droga, e por culpa dele meu pai aparece não sei de onde me levando com ele para fora do país! Idiotas! Deveriam ter me agradecido por ter salvo a vida dele e não me culpado por tudo e resolverem  me botar num avião pra Rússia junto com o chefe da máfia para um ano a mais de treinamento. Um ano a mais, Dimitri. Eu já me formei, pra que preciso de um ano a mais? Eles acham que podem dar um jeito no problema. Dar um jeito jogando o problema para outra pessoa, isso sim. Enquanto isso, Lissa está lá, com outro guardião, sem mim, e duvido que qualquer um deles seja melhor do que eu para protegê-la.

Despejei tudo o que senti e incomodava em cima dele. Tomei o cuidado para não dizer da ligação que Lissa e eu tínhamos – ligação que eu fiz questão de bloquear, embora sentisse sua tristeza mesmo a essa distancia -. Não tínhamos o costume de contar às pessoas sobre isso, e havia um numero bem restrito de guardiões e Morois que sabiam da sua existência, por conta do problema que tivemos com Viktor Dashkov um ano atrás. E, honestamente, me senti bem melhor depois que tirei tudo o que estava entalado na garganta.

Dimitri não desviou o olhar uma vez sequer. Tão pouco disse alguma coisa ou me soltou. Em seus olhos pareciam que havia algum tipo de discussão interna sobre o que dizer ou fazer.

- Escuta, camarada, não estou esperando nem pedindo conselho ou algo assim, viu. Muito menos que brigue, manda um sermão ou sinta pena, não importa. Você queria a verdade, e aqui está ela, nua e crua. As pessoas odeiam ouvir a verdade, e tem razão pra isso.

- Sabe de uma coisa? Você é incrivelmente madura para alguém da sua idade. – e a única coisa que esperava que ele fizesse, ele fez: sorriu abertamente. -  Claro, se porta como uma adolescente por que você é uma. É jovem e não poderia ser de outro jeito. Mas... mesmo assim, você sabe das coisas, você entende. Como... ah, Rose, não sei explicar. Talvez seja a 

forma como você disse, ou como se portou esta noite, não sei. Apesar de agir como uma adolescente, ao mesmo tempo não parece uma. A forma como você se refere a Lissa querendo protege-la é lindo de se ver, é só isto é prova o suficiente para provar pra mim que essa Moroi tem muita sorte em ter você.

Não pude evitar, eu sorri. De leve e meio hesitante, mas sorri. Ele reagiu tão tranquilamente que chega a dar raiva. Hans e minha mãe não foram compreensivos assim. E, com tudo isso, senti um frio na barriga que acelerou meu coração, como se tivesse borboletas fazendo cocegas em meu estomago.

- Obrigada. Mas acho que é o único que pensa assim.

- Não, não sou. O fato de te mandaram para um ano extra, prova que não estão a fim de te perder. Que querem uma forma de te fazer ainda melhor.

- Não havia pensando por esse ângulo.

- Imagino... você estava ocupada demais sentindo raiva.

Eu revirei os olhos e ri, me sentindo bem simplesmente por estar com ele. As horas que passamos juntos valeram a pena por ter vindo pra cá. Acho que de toda essa viagem, esta noite seria a única que valeu por tudo. Havia esse entendimento silencioso entre nós, mesmo entre o flerte. Como se nos conhecêssemos há mais tempo. Era fácil estará com ele.

- O que você quis dizer com alguém da minha idade? – perguntei, franzindo o cenho.

- Bem, é que você fala como se soubesse das coisas, como se tivesse experiência de anos nas costas, algo que você não tem. Tudo bem, às vezes você ache com infantilidade, e – ele ergueu as mãos antes que eu dissesse algo – e não me venha dizer que não. Você mesma disse que sabe que estava fazendo algo errado, e fazia mesmo assim. Mas... Você realmente daria sua vida para os outros, para Lissa. Muitos recém-formados acham que ser guardiã é fácil. A maioria não tem ideia de como é enfrentar perigos, como é enfrentar Strigois cara a cara. E você, Rose, fala como se soubesse. E... ah, o que mais eu posso dizer... Não sei como explicar, mas é que você meio que é fácil de ler.

Eu ri. Mas era bom ser reconhecida. Cometi erros, verdade, mas eu os havia compensado. E, bem, eu realmente ofereci minha vida às dos outros. Minhas recentes experiências quase morte eram uma prova do que Dimitri falava. E, não. Não iria dizer o que eu passei pra ele.

- Sabe, eu não sou assim, tão nova.

- Ah, não? – ele riu – Olhando você... Diria que tem vinte anos. Vai dizer que estou errado?

Sim. Estava errado. Subtraia dois anos, bonitão. Vamos ver se eu era realmente tão fácil assim de ser lida.

- Está. Faço 23 na semana que vem.

Ele sorriu, convencido

- Você está mentindo.

- Não, não estou.

- Rose, eu sei que você está mentindo.

- Você não me conhece o suficiente para afirmar isso.

- Conheço o suficiente.

Trocamos olhares determinados, e tentei não sorrir, mas era péssima no jogo do sério e acabei rindo. Mas ele não desviou e não sorriu de volta. Apenas me encarou. Com seriedade e uma profundidade que parecia que eu me afogaria em seus olhos. Suas mãos ainda me seguravam no braço, e deslizaram para meu pulso quando dei um passo à frente.

- Vou deixar a questão da minha idade aberta para a próxima.

- Quer dizer que haverá uma próxima?

- Estou tomando providencias para que haja.

- E elas seriam...

- Você é curioso, Dimitri. Por mais que odeie admitir, e você odeia. – deslizei as mãos por seu peito, subindo para enlaçar seu pescoço e me ergui nas pontas dos pés para diminuir a diferença de altura – Você mesmo disse: “Só estou interessado”.

- Tá, mas o que isso tem a ver com a próxima? – Dimitri abraçou minha cintura, puxando meu corpo para o seu.

- Na próxima, te digo minha idade. Na outra meu sobrenome. E então, na outra...

- Isso dá três encontros.

- Exato. Então – retomei com um sorriso aproximando meu rosto do seu – no terceiro encontro, eu deixo você escolher o que quer saber.

- Tem muita coisa que eu quero saber.

Ele sorriu e seus olhos brilharam perigosamente sexy, abaixando a cabeça de forma a encostar nossas testas. Fez menção de me beijar, mas seus lábios mal roçaram os meus, em provocação. Encaramo-nos por mais uns segundos antes dele se abaixar para me beijar. Mas mal havia fechado os olhos , estava quase sentindo seus lábios quentes nos meus quando uma voz quebrou totalmente o clima.

- Srta. Mazur, está na hora de irmos. - Pavel tinha a voz controlada, mas vi que estava se divertindo. – seu pai acabou de ligar.

- Maldito seja, Zmey. – praguejei soltando Dimitri. –Abe tem a tendência de aparecer sem ser convidado e atrapalhar tudo. Mesmo que não seja pessoalmente.

- O carro está nos esperando.

O tom de voz de Pavel estava implícito: você vem agora, e vem comigo. E, ah, nem pensem em beijar esse grandalhão russo na minha frente.

É, eu não ia fazer isso. Merda.

- É, acho então que aumentamos o numero de encontro para quatro.

- Não necessariamente nesta ordem, imagino.

- Hey, já está pedindo demais camarada. – me ergui nas pontas dos pés novamente e beijei sua bochecha. – Mas prometo pensar no seu caso.

Sorrimos cumplices um para o outro e me virei para seguir Pavel, que estava com meu casaco em mãos. Quando chegamos ao carro, Dimitri me chamou, vindo correndo ao meu encontro.

- Como eu vou te encontrar.

- Você não vai. – respondi abrindo a porta – Eu vou te encontrar.

Ele riu alto, e eu me arrepiei com o som de sua risada. Ele sorriu bastante esta noite, mas quase nunca riu. Devia estar indo embora também, pois estava de casaco, um comprido e preto, muito parecido com o de cowboy na verdade.

- E como você pensa em fazer isso?

- Hm... Estou trabalhando nisso ainda.

Ele se aproximou, pegou meu rosto entre as suas mãos e beijou minha testa. Não era a mesma coisa, eu realmente queria um beijo na boca, mas isso foi melhor que nada, e a sensação era boa e quente.

- Tudo bem. Vê se não demora, Roza.

Ele me beijou de novo e se foi. Deixando uma Rose boba e sorridente entrando no carro. Sorrio que foi apagado quando encarei Pavel, que visivelmente esforçava-se para não rir.

- Pavel! – eu soquei seu braço, e ele pareceu nem sentir, apenas mandou o motorista sair logo – Seu intrometido! E qual foi aquela de Srta. Mazur?

Ele deu nos ombros, e com um leve sorriso, permaneceu mudo o caminho todo para o hotel. É, Abe não era o único impertinente ali.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo todinho Romitri pra você! Desculpem meu erro, eu realmente achei que este capítulo era o 4, mas tudo bem... fiquem alegres e felizes agora!!

Spoiller capitulo 6 (conferi. É o seis mesmo, rs):

"- E será ótimo pra você, Rose. Um lugar menor, com menos distrações. As chances de você se meter em confusões são menores. Embora nunca nulas. Você parece ter um imã que te atrai para os pontos de encrenca.
— Hey! Eu não tenho culpa se estou sempre no lugar errado na hora errada!
— Claro que não."