A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Ele pegou minha mão e a pressionou levemente, uma vez que não, teoricamente, ele era apenas meu mentor e amigo. Pela primeira vez, estava tudo bem. Desde que à luz dos raios da manhã, Dimitri estivesse ao meu lado.



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A ação seguinte foi muito rápida. Pavel e Dimitri tinham celulares nos ouvidos enquanto nós três averiguávamos o perímetro; embora soubéssemos que não os encontraríamos, qualquer pista era um achado. Rastros de sangue seguiam pela rua até o bosque, e não nos atrevemos a nos embrenhar por entre as árvores às cegas.

No caminho de volta pra casa, o celular de Dimitri tocou e o que ele ouviu do outro lado não o deixou feliz.

- O ataque foi limitado à baia, os outros guardiões não reportaram desaparecimentos na região. Houve mais duas ocorrências antes da Vik e do Nikolai. As instruções são para juntar o maior número de famílias na igreja e reunir quem está apto a lutar.

- Isso significa que iremos atrás deles? – Indaguei enquanto nos dirigíamos para casa.

- Sim, Rose. Precisamos por um fim nisso.

Pavel entrou em casa, mas Dimitri me segurou na varanda.

- Há alguma chance de eu conseguir te convencer a não ir junto?

- Absolutamente não. – respondi de imediato. – Não vai me deixar de fora dessa vez, Dimitri. E além do mais, já estive em uma batalha antes. Não consegui essa tatuagem por nada.

- Imaginei que diria isso. – Dimitri suspirou e me abraçou. Correspondi passando os braços em sua cintura e o apertei. – Ao mesmo tempo em que gostaria que você não fosse, me sinto mais forte com você ao meu lado.

- Vamos enfrentar isso junto, e sair disso juntos, Dimitri. – Respondi inspirando fundo, sentindo seu característico perfume do pós-barba. – E tudo ficará bem, camarada.

Senti mais do que vi Dimitri sorrindo. Ele se afastou e segurou meu rosto entre as mãos para me dar um beijo profundo. Seus lábios subiram pela minha bochecha, beijaram minhas palpebras e por fim a ponta do meu nariz. Dimitri me encarou e então suspirou.

- Vamos lá, camarada.

Seus olhos brilharam em esperança e determinação e entramos em casa.

Pavel e Abe estava na sala com Olena e Yeva. Não vi Paul nem as outras irmãs de Dimitri e conclui que deveriam estar no andar de cima. Subi para tirar a roupa de festa e trocar por jeans e camiseta. Calcei botas de couro, com salto baixo e grosso e por cima das roupas vesti uma jaqueta de couro preta forrada com um tecido quente que não vinha ao caso. Sem roupas demais ou grossas demais que me atrapalhassem nos movimentos ou me retardassem. Prática como gostava. Peguei minha estaca e a enfiei no cós do jeans e com a estaca que Pavel havia me emprestado em mãos, voltei para a sala onde todos aguardavam reunidos.

- Vamos direto pra Igreja. Pegou tudo, srta. Hathaway?

- Sim, Pavel. E obrigada pela estaca. – estendi a mão para entrega-la, mas ele a recusou. – Eu tenho a minha.

- Pode ficar com essa. Não sabemos o que iremos encontrar, sempre é bom ter uma reserva.

- Mas e você? Vai ficar só com uma?

Como resposta, Pavel apenas sorriu misteriosamente e saiu para a varanda para se certificar da segurança. Dois guardiões vieram para a sala pela porta dos fundos e se postaram ao lado de Abe e este saiu primeiro, seguido por Olena, Yeva, Sonya e Karolina com Paul. Dimitri e eu fechamos o grupo e nos movemos em direção à igreja.

- Quando Sonya vai ter o bebê? – perguntei a Dimitri pega pela curiosidade repentina.

- Hm... – ele franziu a testa, seus olhos esquadrinhando o perímetro – Não sei. O médico previu pra primeira semana de janeiro. Mas depende muito do bebê. Por que pergunta?

- Nada, só me peguei pensando.

Eu não gostava muito de pensar profundamente sobre as coisas porque geralmente eu chegava a conclusões que não gostava. Por exemplo, pensar na Sonya grávida me fez pensar na minha relação com Dimitri que estava ficando cada vez mais séria. Dimitri era apaixonado pelas irmãs e sobrinhos e o pensamento de que eu não poderia lhe dar um filho me incomodava. Não que eu pensasse em casamento ou nada do tipo, mas era meio que impossível não pensar no futuro quando se ama alguém o tanto quanto eu amava Dimitri. Eu gostaria que ficássemos juntos até o fim de nossas vidas – e que elas sejam muito, mas muito compridas.

Chegamos à Igreja e me deparei com vários morois e damphirs assustados reunidos próximos ao altar. Não vi o reverendo, pastor, padre ou sei lá quem tomava conta da Igreja por ali. Mas vi Oksana e Mark tomando conta de todos com muito carinho.

- Oksana usou a compulsão para podermos usar a Igreja. – me informou Dimitri baixinho – Não haveria uma maneira mais rápida.

As irmãs de Dimitri ficariam na Igreja junto com as crianças e Yeva. Olena, pra minha surpresa, estava pronta pra ir conosco. Quando os guardiões e outros damphirs se reuniram na frente da Igreja, lá estava ela, com um olhar feroz no rosto.

- Os batedores devem ligar em breve – o guardião mais velho que havia ali explicava a situação para todos – Os ataques provavelmente devem pertencer ao mesmo grupo de número indefinido. Devem ter se refugiado em um mesmo lugar. As evidências sugerem que os ataques não foram planejados, por isso temos que ser rápidos e cuidadosos.

O próximo passo era esperar pelos guardiões reportarem a situação.

- Você está bem, querida? – Olena sentou-se ao meu lado nos degraus da igreja e me encarou – Você me parece desconfortável. Pensei que gostasse de ação, como você disse agora há pouco, não é a sua primeira vez numa batalha.

- É exatamente esse o problema. Há dois um pequeno grupo de stigois relevantemente perigosos e poderosos se juntaram e por causa deles eu perdi meu melhor amigo; o mataram na minha frente. Alguns meses depois um número enorme de strigois resolvem se juntar e atacar a Academia e professores e colegas são perdidos. Agora outro grupo de strigois se junta e numa noite resolvem sequestrar um lanchinho pra mais tarde.  Eu estive nesses três momentos, Olena. Devo ter algum tipo de macumba, porque os problemas parecem me seguir onde quer que eu vá.

- Você saiu viva em duas de três situações. E, se Deus quiser, sairá viva dessa também. Talvez seja o destino te mandando um aviso.

- Um aviso? Sobre o que? Que eu sou uma aberração e deveria me juntar aos strigois ou deixar que acabem comigo? Que sou uma inútil e que deveria largar o cargo de guardiã?

- Que você é muito boa no que faz e deve chutar o mais numero de traseiros mortos possíveis.

A voz que completou não era de Olena, e sim de Abe que vinha ouvindo toda a conversa. Olena, que era educada demais para ficar ouvindo conversa alheia, se levantou e foi esperar ao lado de Dimitri.

Não me irritei, desta vez, por sua intromissão. Eu sabia que o velho estava gostando da experiência de ser pai e à luz dos últimos acontecimentos, não iria irrita-lo. Ele era um cara legal, apesar de toda aquela pose de chefe-durão-da-máfia.

- Talvez o destino esteja jogando todos esses strigois pra cima de você porque ele sabe que você pode acabar com eles, kiz.

- Não me diga que você acredita nessa baboseira de destino, acredita, velhote?

- Acreditar ou não acreditar, isso não importa Rose. – ele sentou-se ao meu lado e a luz que vinha de dentro da igreja refletia em seu brinco caro – O importante é que você está viva e ajudou a salvar mais um monte de gente. Se para salvar a maioria uma minoria, infelizmente, teve de ser sacrificada, então que seja. – Ele olhou seriamente para mim, olhos nos olhos. Pude ver tristeza escondida em sua determinação. – Pessoas morrem todos os dias. Você fez o seu melhor e fará o seu melhor agora, e eu tenho muito orgulho de você, kiz. Mas lembre-se: não podemos salvar todo mundo.

- Muito reconfortante. – murmurei mal-humorada.

- Mas pode tentar, Rose. – sua mão cobriu a minha e a apertou. – Seja o que aconteceu ou o que acontecerá, pelo menos você tentou.

Abe apertou minha mão mais uma vez e então a retirou para enfia-la por dentro de seu casaco. Tirou de lá uma adaga que deveria ter o tamanho do meu antebraço, se considerasse a lamina e o punho. Ele era inteiro prateado e supus que fosse mesmo feito de prata. Basicamente, parecia uma estaca achatada.

- Quero que leve isso aqui com você. É prata fundida com os elementos, assim como sua estaca. – ele me estendeu o objeto que brilhava tentadoramente na palma de sua mão. – Foi feito especialmente para mim há alguns anos e já me tirou de algumas roubadas. Considere isso como um empréstimo essa noite. Um seguro.

Estendi a mão meio hesitante e meus dedos envolveram o frio punhal. Testei o objeto e me surpreendi com sua leveza. Era absolutamente perigoso e letal, assim como era elegante.

- Obrigada, Abe.

Ele riu e seu ombro empurrou o meu.

- Me chamando pelo nome ao invés de velhote? Está amolecendo, Rose?

- Qual é, velhote? – provoquei e enfiei a adaga emprestada no vão da bota no lado interno. – Só estou sendo legal com você.

- Claro, claro. Bem, eu vou entrar e ficar com os outros. Parece que a ação vai começar. – Abe se levantou e me olhou.  Poderia estar ficando louca, mas acho que vi emoção quando se despediu de mim. – Se cuida, Rose. Sua mãe literalmente me mataria se algo acontecesse a você.

- Pode deixar, Zmey. Vocês não vão se livrar de mim assim, tão facilmente.

Abe não disse nada enquanto se afastava. Permaneci sentada sozinha por mais alguns minutos antes que Dimitri me gritasse para se juntar aos outros à porta da Igreja. A ligação havia sido feita.

O guardião mais velho reuniu todos os guardiões e os voluntários numa roda bagunçada e começou a falar com profissionalismo e rapidez.

- Os rastros na rua dos Belikov entraram no bosque e se encontram com o rasto dos Petrov e da praça. Cinco jovens desapareceram e estipulamos que cinco strigois tenham sido envolvidos nos sequestros. Mais as informações prévias, devemos enfrentar um grupo de no mínimo dez strigois.

O silêncio que se fez era tenso. No mínimo dez strigois trabalhando juntos, isso não era bom. Um frio percorreu minha espinha e me lembrei da batalha em St. Vladimir. O número lá era gigantesco, mas também era maior o número de guardiões. O que iriamos enfrentar ali seria mais ou menos proporcional, considerando que éramos em 20 damphirs hábeis a lutar.

- Nossos batedores não se arriscaram a chegar muito perto temendo que sejam ouvidos, mas segundo suas coordenadas e os mapas da região, provavelmente o grupo se encontra em um casarão abandonado. Ele possui dois andares e um porão. Levando em conta o estado de deterioramento do local, eles devem se encontrar entre primeiro andar e o porão. – o guardião pigarreou e respirou fundo antes de continuar, visivelmente incomodado com a situação. – Vamos cercar a casa e nos movimentar juntos até a entrada. Utilizaremos a porta da frente e a de trás e uma janela de cada lado, cinco guardiões pra cada local de invasão. Vamos tirar os jovens de lá com vida e matar o máximo possível. Alguma dúvida?

Ninguém se manifestou e o guardião que liderava passou a dividir os grupos a esmo. Dimitri e eu não caímos no mesmo time, o que nos causou um olhar incomodo, pois o pensamento de estarmos separados enfrentando um grupo grande era horrível. Entretanto, Olena ficou comigo e Pavel com Dimitri, e de certa forma isso me tranquilizou. O importante era tirar as vítimas de lá com vida e tentarmos manter as nossas também

- Está pronta? – Dimitri indagou enquanto tomávamos nosso caminho rumo ao bosque. Não era exatamente uma pergunta válida, e ele sabia disso.

- Claro. – respondi dando nos ombros, me sentindo protegida e poderosa com as duas estacas e a adaga que Abe me emprestara. – Já fugi da morte uma vez, posso fazer isso novamente.

Dimitri me lançou um olhar de advertência, mas não comentou nada. Ele sabia como me comportava quando não tinha tudo sobre controle, e brincar e levar tudo com sarcasmo era meu escudo, que ele muito habilmente ultrapassava.

- Boa sorte, Roza.

- Boa sorte, camarada.

Ele pegou minha mão e a pressionou levemente, uma vez que não, teoricamente, ele era apenas meu mentor e amigo. Pela primeira vez, estava tudo bem. Desde que à luz dos raios da manhã, Dimitri estivesse ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

A batalha irá começar. Todos irão sobreviver? Descobriremos no próximo episódio! -q
Okay, quebrei o gelo. Espero que gostem desse capítulo e do próximo, juro estar me esforçando pra tentar não decepcionar vocês! Não esqueçam e deixar reviews, okay!? :D
bjks!