A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

"- Eu? Todos e mais um pouco. respondeu divertida. A pergunta é: quem você quer seduzir, Rose?"



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Olena era maravilhosa. Meu pé deu uma melhorada incrível de um dia para outro! Ainda estava inchado, e doía às vezes, mas eu conseguia andar bem melhor e sem ajuda. Definitivamente, no outro dia poderia continuar a correr e a treinar golpes com mais afinco. Dimitri estava se focando apenas da minha cintura pra cima, apenas fortalecendo os músculos com pesos e tudo o mais. E ficar parada, geralmente sentada, num silencio incomodo não era exatamente minha ideia de treino preferida. Pelo menos, quando corríamos podíamos apostar corrida, e tínhamos um motivo para o silencio.

- Okay, qual o problema?

Perguntei parando minha série de levantamentos e o encarando com os olhos pressionados. Dimitri, em geral, apenas corria comigo. Quando ficávamos no galpão ele simplesmente sentava em algum lugar perto e lia um daqueles livros de cowboy da estante.

- Não se faça de desentendido, Dimitri Belikov. – continuei irritada com seu olhar confuso – Primeiro, aquele dia no bar, você está todo soltinho, e relaxado e não se importa em mostrar que tem algum tipo de interesse por mim. Agora, age como sei... sei lá! Eu fosse uma garota qualquer, uma alunazinha idiota que não merece atenção! E têm vezes que parece que você me olha diferente, igual na noite do bar, e então você muda. Porra, Dimitri, essa sua bipolaridade me deixa louca, sabia?

Ele me encarou, naquele maldito silencio, e por um momento achei ter visto um rastro de diversão em seus olhos. Mas deveria ter sido impressão, muito atrevimento dele, achar graça nesse meu desabafo. Dimitri fechou o livro com cuidado apoiando-o nas pernas.

- Me desculpe. – ele pediu, e estava sincero. Finalmente, ele se mostrava que tinha coração – Eu deveria ter falado com você assim que a vi em casa. Assim que descobri quem você era.

O-oh. Não gostei do rumo da conversa. Nem do tom de voz serio e inflexível de sua voz. Isso era um mau sinal, tinha certeza. Meu coração acelerou quando ele se levantou e se aproximou de mim, embora não demonstrasse isso a ele.

- Rose, se eu soubesse quem você era naquela noite no bar, não teria deixado nossa brincadeira ter ido tão longe. – eu abri a boca pra protestar, mas ele me cortou – Não, me deixe terminar de falar. Eu sabia que minha avó ia receber alguém para treinar, e eu ia me disponibilizar para ajuda-la. Sabia que a garota teve problemas na escola, mas havia muito mais para descobrir, para saber. E, Rose, honestamente, foi bom tê-la conhecido no bar antes de todos. Foi bom conhecer você como é e não quando tenta agradar os outros.

- Eu não tento agradar os outros.

Dimitri sorriu, de leve, mas sorriu.

- Tenta. Você faz isso o tempo todo, embora não perceba. Mas isso é camuflado com sua atitude determinada e teimosa, ao mesmo tempo. Você quer sempre ver as pessoas felizes e bem, e às vezes isso requer que você abra mão de certas coisas. Você acaba fazendo o que os outros pedem, de seu modo, a torto e direito, mas faz. Por exemplo, você quer e gostar de ficar aqui, mas ao mesmo tempo sente que falhou com Lissa ao ir embora e por isso que você quer voltar. Não por você, mas por ela.

Eu realmente fazia isso? Eu abria mão de mim mesma pelos outros? Não achava que sim. Mas o que Dimitri disse sobre o que sentia com relação a estar aqui e Lissa. Ele tinha razão. Droga, ele tinha toda razão! Eu gostava de ficar com eles. E queria ficar o resto do ano, apenas hesitava por culpa de Lissa. Senti-la mal e com saudades era desesperador pra mim. E as frequentes mensagens que ela me mandava, todas implorando por minha volta... isso quebrava meu coração e dificultava tudo.

- E então descobri que a garota problemática que ficaria com a gente é a mesma extrovertida e animada que encontrei no bar. Aquela que não mede palavras nem esconde o que pensa e sente era, na verdade, uma garota machucada que usa uma mascara de dureza com medo de acabar sofrendo mais. – eu não queria, mas meus olhos arderam. Dimitri tirou uma mecha do meu rosto e a colocou atrás da minha orelha, seu toque deixando um rastro de eletricidade em minha pele – E eu prometi a mim mesmo que a faria melhor e mais forte guardiã [i]e[/i] pessoa que já conhecia. Mais do que ela já era. Rose, eu me afasto de você por que não posso me permitir algo mais do que isso. Não posso ser mais do que o seu mentor por que não sei se poderia lidar em te ver se machucar e esforçar tanto. Não sei se conseguiria suportar de ouvir chorar escondida e permanecer em meu lugar, sem correr pra te consolar.

- Eu não preciso de ninguém pra me consolar, Dimitri. – respondi com a voz baixa e rouca – Nunca precisei, e não é agora que preciso.

Ele se aproximou mais, sentia sua respiração quente em minha pele, e meu estomago revirava na barriga. Sua mão traçou a linha da minha mandíbula com delicadeza e ele inclinou a cabeça e tocou meus lábios com gentileza e carinho.

Não contive um suspiro quando senti seus lábios quentes pressionados nos meus, e uma onda de calor passou por todo meu corpo, me esquentando na tarde fria. Foi rápido, mas muito intenso. E logo Dimitri se afastou com um sorriso triste.

- Precisa, Rose. Você só não quer admitir. Você já o tem, e ele está esperando por você. Não o perca. – ele se afastou, pegou o livro e foi em direção à porta. – Está bom de treinos por hoje e amanhã. Vamos esperar seu pé melhorar completamente para voltarmos com todo vapor.

Eu não me movi. Estava chocada por suas palavras e seu toque para dizer ou fazer alguma coisa se não olha-lo deixar o galpão.

***

- Você não vai mesmo me contar o que aconteceu?

Vik estava com um monte de roupas sobre a cama, escolhendo e descartando praticamente todas. Estava assim faz uma hora. Enquanto a mim, apenas a observava, deitada na cama. Eu já sabia que roupa usaria, e estava relativamente cedo pra começar a me arrumar. Como não tinha ninguém ali que eu queria impressionar, a não ser, talvez, um Russo de guarda-pó que dormia no quarto ao lado, eu não iria me preparar pra chamar mais atenção do que eu já chamava. Era a noite de Vik, pra começo de conversa. Damphirs e alguns Morois do ano dela estavam dando uma festa de despedida de férias, e era ela quem tinha que chamar a atenção.

- Não. Por que não aconteceu nada. – ela escolheu um vestido vermelho sangue e o colocou na frente do corpo, se olhando no espelho – Muito curto. Por que não usa esse azul ali no canto?

Ela jogou o vestido em cima do monte e foi para o armário, tirando de lá o melhor vestido que ela poderia escolher. Era curto, mas de maneira que não a deixava parecendo uma vadia, justo na cintura e saia rodada. O decote era em formato de coração e não tinha alças. O azul era escuro e a barra da saia caia em dégradée.

- Perfeito! – exclamei me sentando na cama. – junto com aquele seu sapato vermelho, ficará linda, Vik!

Ela ponderou, se olhando no espelho, e então sorrio largamente.

- Então vai ser este mesmo! – se virou pra mim com os olhos brilhantes – brigada, Rose! Nem lembrava mais que tinha ele!

Dei nos ombros, com um sorriso e olhei as horas.

- Acho que seria bom que nós duas fossemos nos arrumar. – disse Vik, com assombro. – você vai primeiro, enquanto eu arrumo essa bagunça!

- Okay.

Me levantei da cama e peguei uma toalha nova no armário. Deixei as roupas que ia usar em cima da cama e sai para o corredor, em direção ao banheiro, para um bom banho quente.

A agua quente era relaxante e me ajudava a pensar. O encontro com Dimitri fora tão revelador e ao mesmo tempo e ao mesmo tempo tão... confuso. Era como se ele hesitasse em contar-me toda a verdade e a estivesse podando. Logo Dimitri, que era direto e sempre tocava nos assuntos que eu não queria falar.

De uma coisa eu tinha razão: Dimitri tinha [i]sim[/i]atração por mim. Ele não admitiu com essas palavras, mas estava nas entrelinhas. Assim como estava nas entrelinhas que ele não podia ficar comigo por ser meu mentor. O que era ridículo, uma vez que eu estava fora da Academia e era maior de idade.

Desliguei o chuveiro determinada a ter uma conversa séria com ele sobre isso. Se sua preocupação fosse ele achar que estava fazendo algo errado, infringindo alguma lei, ou sei lá, eu o mostraria errado. Ele era meu mentor por conveniência, não era contratado ou algo assim. Não estávamos na Academia para a relação aluno e professor ser proibida. Então ele não tinha que ter neura com essas coisas, oras!

Me enrolei na toalha branca e sai do box nas pontas dos pés, tremendo ao contado do azulejo frio. Puxei o cabelo para o lado e o torci para tirar o excesso de agua dele e o soltei nas costas. Olhei em volta, procurando minhas roupas, mas me lembrei de que havia separado elas e deixado em cima da cama.

- Merda! – exclamei com irritação. – Vou ter que sair no frio agora... Sua idiota.

Ainda estava meio molhada quando destranquei a porta do banheiro, mas depois eu voltava e passava um pano no chão para secar. Vik ainda tinha que tomar banho, e ela era tanto ou mais enrolada que eu na hora de se arrumar. Então nas pontinhas dos pés, morrendo de frio, apesar do aquecedor estivesse fazendo um ótimo trabalho, eu sai para o corredor, e mal dei três passos e trombei com alguém.

- Opa, desculpa!

Pedi torcendo para que não fosse Yeva, ou ela me daria uma boa bronca por ainda estar molhada. Mas para meu desespero, era outra pessoa. Mais alta, mais forte, de olhos castanhos iguais chocolate derretido me olhando arregalados.

Dimitri parecia... bem, obviamente chocado, mas seus olhos... além da surpresa havia admiração, e imaginei o por que disso. Estava com o cabelo molhado e despenteado, pingando atrás de mim, eu mesma tão molhada quanto. Ah. Ele estava admirado, claro que sim. Por mim. A toalha branca cobria o que devia cobrir, mas minhas pernas estavam praticamente todas expostas. E a toalha estava bem aperta em meu corpo, desenhando minha silhueta. Uma linda silhueta, diga-se de passagem.

 Eu tinha noção que era bonita. Muito bonita, diga-se de passagem. Eu já cheguei a pensar que só chamava a atenção pela diferença entre eu e um Moroi. Morois são altos, esbeltos e todos muito magros. O estereótipo de beleza de modelo.  Quanto a mim, uma damphir, era baixa em comparação, mais forte e com mais corpo. Eu tinha curvas, algo que Lissa sempre invejou. Era do tipo que ficava ótima usando bikini, e que provocava olhares quando o fazia. Minha pele era morena, por conta da descendência turca pelo lado do meu pai, e o meu cabelo era muito escuro e caía em ondas suaves até quase a cintura. Eu era bonita. E não apenas comparada a diferença entre Morois e Damphirs. Era bonita, simplesmente por ser eu. E nunca me senti tão orgulhosa de ser dona dessa beleza, quanto agora, com Dimitri me olhando com desejo.

Parecia que horas havia se passado com ele me olhando daquele jeito que me fez arrepiar. Depois da nossa conversa... bom, do monólogo dele, mais cedo, nos encontrarmos assim era uma provocação aberta do destino.

- Ahn, Rose... – ele balançou a cabeça e pareceu tomar controle de si – Rose, você deveria ter levado suas roupas com você. Não aprendeu nas aulas sobre choque térmico?

Ele ergueu uma sobrancelha, querendo parecer indiferente à situação, mas eu vi que sua respiração estava acelerada e que sua expressão estava tensa.

- Eu... esqueci. No quarto.

Respondi com a voz fraca, e me senti uma idiota por não ter dito nada mais inteligente. Algo como ”O que foi? Gosta do que vê?” Me dei um tapa mental e procurei mascarar minha sensibilidade a sua presença – odiava quando ele fazia isso comigo – com um pouco de atitude e dignidade que me restava.

- Vou pro quarto, camarada. – consegui dizer após um pigarro e repuxei meus lábios em um sorriso. – Chega de me exibir pra você.

Pisquei, provocando, e admito que esperei que ele me agarrasse e me beijasse, mas ele me deixou passar. E assim que estava de costas para ele, soltei minha respiração, sem saber exatamente o que tinha acabado de acontecer ali. Dimitri me olhando daquela forma, com tanta... admiração e desejo. Caramba, aquilo me arrepiou toda e fez meu coração dar saltos de alegria! Agora, mais do que nunca, ia investir nele. Talvez se eu o provocasse mais um pouquinho ele desistisse da sua ideia idiota de ‘não quero nada com você.’

Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim, me escorando nela. Vik acabava de fechar o armário, sua cama não tinha mais nenhuma roupa, a não ser a que ela ia usar. Ela me olhou indagativa, erguendo a sobrancelha igualzinho ao irmão. Quando ela fez isso comecei a rir. Rir de tremer. Me afastei da porta e me sentei na cama, sentindo meu estomago doer de tanto que ria. Vik suspirou e me olhou ponderando, antes de pegar suas roupas e abrir a porta.

- Ia perguntar, mas decidi que não quero saber.

Eu acenei com a cabeça e ela revirou os olhos, não sabendo se ria comigo ou se se mantinha séria. Optou por sair do quarto antes e se arrumar para não perder mais tempo. A porta se fechou e eu respirei fundo. Nem ao certo sabia o porquê ria. Mas me fez bem. Me sentia mais leve e animada para me arrumar esta noite. Agora, mais que nunca, tinha alguém para impressionar.

Eu ia de jeans e uma blusinha bonitinha, mas mudei de ideia. Abe parecia ter pensado em tudo quando mandou um guarda roupa novo pra mim. Bem, ele exatamente não, a pessoa que ele mandou fazer as compras, por que duvido que ele mesmo tenha ido. Abe no shopping era uma ideia maluca demais. Havia roupas lindas e caras, que nunca imaginei que iria vestir um dia. Um, que eu não tinha dinheiro pra elas, dois, que não deixava que Lissa as comprasse pra mim. Simples assim. Mas Abe era meu pai, esteve sumido por 18 anos. Não me sentia culpada por ele gastar seu dinheiro comigo.

Escolhi um vestido tubinho, todo preto de um tecido que não reconhecia. Era delicado e ao mesmo tempo quente. O busto era enfeitado de paetês da mesma cor do tecido e não havia alças, e havia um corte na lateral esquerda da saia, de alguns centímetros, nada muito exposto. Era um vestido elegante e arrasador. O tipo perfeito para usar esta noite e impressionar exatamente quem eu queria impressionar.

- Woha, Rose! Que linda! – Vik entrou no quarto, já vestida, e seus olhos brilharam – Obrigada por ouvir minhas preces, Deus! Pensei que seria necessário alguma ameaça pra te fazer mudar de ideia quanto a sua outra roupa!

Eu ri me olhando no espelho do armário. O vestido teve um caimento perfeito. Parecia ter sido feito sobre medida para mim. Era eternamente grata a Abe por ele. Alias, Abe estava me saindo muitíssimo bem. Além de roupas, havia me mandado também joias, como se esperasse que eu saísse pra festas – até imagino por que de suas suspeitas. Não eram muitas, verdade, mas eram mais do que meu nazar, dado por minha mãe no natal passado. Havia um colar de corrente prata e uma delicada e pequena rosa avermelhada no pingente. Apenas a flor, sem o caule. Coloquei-o e brincos pequenos, também prateados, de argola. Penteei o cabelo, e Vik me emprestou o secador. Nem morta que sairia com o cabelo molhado. Seria suicídio. Amassei as pontas, deixando-o solto e levemente ondulado. E então estava pronta.

- Okay, apenas os sapatos e estou pronta. – avisei sentando-me na cama e pegando os saltos altos pretos. Era uma sandália com o tornozelo alto, tipo uma mistura de bota e sandália. - Quem você quer seduzir, Vik?

Ela riu, passando rímel preto nos cílios. Vik estava linda, e ainda não estava pronta. Faltava terminar o cabelo e a maquiagem.

- Eu? Todos e mais um pouco. – respondeu divertida. – A pergunta é: quem você quer seduzir, Rose?

- É a sua noite, não quero seduzir ninguém. – respondi sem olhar pra ela, fingido estar com dificuldades com o zíper do sapato.

- Ah jura? E o que te fez mudar bruscamente de ideia? Antes você disse que iria super simples, que nem queria salto por causa do seu pé, e agora está ai, toda emperiquitada.

- Oras, sou mulher Vik. Mudo de ideia toda hora, ainda mais quando o assunto é festa. Percebi que estava sendo idiota por não me arrumar mais. É isso.

- Aham... sei. – ela terminou de passar o gloss e se olhou no espelho analisando o resultado – Já que é assim, vem. Você também vai se maquiar.

Depois que voltei para a Academia e comecei a treinar com Alberta, eu meio que deixei de lado toda a mania que tinha de me arrumar e maquiar sempre que adquiri nos dois anos fugindo com Lissa. E depois que vim para Russia, meu tempo era menor ainda para essas regalias. Mas eu adorava me arrumar e essa noite estava propicia para isso. Eu apenas tinha mudado como fazer isso. Estava mais prática, e isso era visível na roupa, cabelo e maquiagem.

Passei lápis preto no canto externo do olho e rímel pra estender os cílios, deixando meus olhos ainda maiores. Um batom rosado e gloss pra dar brilho por cima. Estava pronta, simples e linda.

- Rose, você está linda! – Vik me olhou com admiração, e sem um resquício de inveja.

- Estamos lindas, Vik. Eu e você. – corrigi, com um sorriso, pegando o casaco comprido que Abe havia me dado no avião, tantos dias antes. – Vamos?

Desci as escadas com todo o cuidado. Eu não devia estar usando saltos, mas nem morta que iria por tênis com aquele vestido maravilhoso. Eu poderia aguentar o dia seguinte todo mundo me dizendo ‘eu te avisei, Rose’, e poderia aguentar a dor que fosse passar a noite com saltos.

Assim que paramos na porta da sala para nos despedir, todos nos olharam com admiração. E fiquei satisfeita por Dimitri sequer piscar ao me esquadrinhar. Eu o encarei de volta, segurando seu olhar no meu. Olena estava emocionada demais com sua ‘filhinha crescida’ para se dar conta do que estava acontecendo entre nós.  Parecia que se uma faísca apenas poderia dar inicio a um fogaréu.

- Rose... – a voz chateada de Olena me puxou para a realidade, e me voltei pra ela com um sorriso. – De salto?

- Eu sei, eu sei! – comecei antes que ela e Yeva começassem um sermão – vou me arrepender desta escolha amanhã, e muito. Aliás, já estou me arrependendo! Mas vou me arrepender feliz, isso que conta.

Elas não disseram nada, mas estavam descontentes.

- E então, Misha? – perguntou Vik, e vi que ela nos olhava com divertimento – A Rose não está bonita? 

Havia momentos em que eu queria matar Vik. Ela sempre parecia ver mais do que as aparências, e fazia umas perguntas que me faziam pensar se ela não era uma vrăjitoare, ou algo assim. Tipo uma bruxa como Yeva, era o que Dimitri havia me dito uma vez. Essa pergunta veio tão de repente que o pegou desprevenido.

- Linda... – apesar de não demonstrar, eu sabia que ele estava se xingando mentalmente pelo deslize, e tentou consertar. – As duas estão. Vik, quando foi que você cresceu tanto? Não posso mais chama-la de minha irmãzinha, ou de minha pequena...

- Pode sim! Eu sempre vou ser a sua irmãzinha. – ela sorriu e eles se abraçaram com força.

Dimitri era muito ligado a Vik, apesar de passar muito tempo fora de casa. Ela o idolatrava, e com razão. Era algo lindo de se ver.

- Tudo bem, estamos indo. – Vik avisou e eu a  segui ate a porta, vestindo nossos casacos – não sei que horas acaba, mama.

- Tudo bem. Te doy uma folga desta vez. – respondeu Olena com um ar preocupado – Vik, por favor... Tome cuidado sim? Sabe de quem estou falando.

- Eu sei, eu sei. Ele não pode mais chegar perto de mim. Lembra do que o zmey disse?

- Acontece que ele não é o único Moroi por ai que pensa assim.

- Mama, por favor. – Vik abriu a porta de casa, e o ar frio me fez tremer de leve. Esperava que na festa estivesse mais quentinho – Eu sei me cuidar. E Rose estará lá. Ela não vai me deixar fazer burrada, certo Rose?

- Se você diz. – dei nos ombros e sorri – Vamos lá nos divertir, Olena. Dançar, conversar, beber alguma coisa. Vik não vai sair do meu lado, e eu não vou deixa-la cair em cantadas baratas de Morois idiotas, pode deixar. Tenho pratica em dispensar esse tipo.

Eu pisquei, e apesar de Olena confiar em mim, ela não estava totalmente convencida.

- O que foi tudo aquilo?

Vik e eu estávamos a caminho da festa, andando devagar para não piorar minha situação. Ela estava, parecia, se divertindo da minha teimosia.

- Aquilo o que?

- Você sabe... Toda aquela história do tome cuidado com você sabe quem.

- Ah... Um Moroi que eu costumava sair. – Vik, pela primeira vez desde a conheci, quase duas semanas atrás, parecia desconfortável – Ele era um idiota no final das contas. Deveria saber que ele não queria um namorico à toa.

Ela não precisou dizer mais nada, eu havia entendido. O tal Moroi queria se aproveitar da inocência de Vik, e meu pai, bendito seja, interferiu o mais rápido possível. Eu sorri de canto, confortando-a. Eu sabia que Vik odiava se sentir impotente. Ela era muito parecida comigo, e, bem, com Dimitri. Escondíamos nossos sentimentos e odiávamos mostrar sinal de fraqueza.

- Bem, esse cara vai se arrepender de não ter te dado devido valor quando podia.

Ela riu e enlaçou seu braço no meu. Mudamos de assunto, para uns mais superficiais e leves. Ela me disse sobre St. Basil, a Academia onde ela estuda, os amigos dela e que iria sentir minha falta quando voltasse, dali a três dias. Eu disse a ela que faria Dimitri me levar para visita-la, e que tínhamos os feriados e, quem sabe, final de semana ela poderia vim, ou eu ir pra lá. Ela pareceu bem feliz com minha promessa.

- Chegamos.

Eu olhei pra frente para ver onde seria a festa, e devo admitir que fiquei impressionada. Era um tipo de jardim, enorme com luzinhas enfeitando o caminho que dava para um bar redondo e também grande. Pude ver que havia uma pista de dança do outro lado dele. Havia algumas mesinhas redondas com velas sobre elas, a pista estava mais escura, com luzes piscando iguais as de uma boate. Seja lá que organizou tudo aquilo, estava demais.

- Nossa, acho St. Vladmir precisa aprender a fazer festas como esta. – exclamei passando pelo arco de entrada  - Vik, as melhores festa quando eu estudava eram as escondidas e não era nem um pouco assim...

Vik riu e me puxou para o guarda volumes para deixarmos os casacos por lá. Algo me dizia que não iria sentir frio esta noite. Ela cumprimentou umas amigas, e me apresentou a todas com orgulhos. Nem preciso dizer o quanto elas acharam emocionante conversar com uma recém formada que além da marca da promessa ostentava também uma de batalha e duas de morte.

Elas não se demoraram, logo foram para um canto conversar com outro grupo de garotos Damphirs, e Vik, após pegar duas latas de refrigerante, me levou para a pista de dança.

- Nem vou comentar o numero de caras que torceu o pescoço olhando pra você. – gritou Vik tentando sobressair à altura da musica.

Revirei os olhos tomando um gole de refrigerante. Olhei em volta. Yeah, digamos que tinham muitos olhares virados pra nós. Invejosos, desejosos, ciumentos. 

- Pra mim? Vik, estão olhando pra nós. – eu sorri – Tem noção do arraso que estamos?

Vik riu comigo e continuamos dançando. Vez ou outra, Morois e Damphirs mais corajosos vinham tentar algo com a gente. Pelo o olhar de Vik, eu tomava conhecimento se eles eram do tipo ‘legais’ ou não. Não me assustei quando vi que a maioria era apenas comedor. Literalmente. Dispensamos todos.

Apenas um, de todos os caras que vieram falar com a gente, ficou por lá dançando junto, de boa. Era uma amigo de Vik, Nikolai. Eu gostei dele, parecia gente boa e era uma graça. E pelo olhar que dera a Vik, desconfiei que estava caidinho por ela. Uma pena que justamente Vik não percebia isso. Com aperto no coração, comparei a situação com a minha e de Mason. Eu também havia demorado pra perceber que a admiração que via no olhar dele era mais do que apenas ‘minha melhor amiga é foda’.

- Eu vou pegar mais um refrigerante. – avisei aos dois, deixando-os sozinhos para ver se assim, com aquele ambiente, algo rolava entre eles.

Estava a meio caminho do bar quando alguém me chamou a atenção. Era um Damphir de costas pra mim, e mesmo assim tinha certeza de que ele era bem mais velho que todos aqui. Tinha cabelos compridos e presos na altura na nuca, de um tom que parecia chocolate. Mas o que me fez sorrir foi quando, ao me aproximar, pude ver que usava um guarda-pó, daqueles de cowboy, e, juro por Deus, pude sentir o perfume dele. Era do pós-barba, e eu conhecia muito bem.

Como, eu não sei, mas me aproximei o suficiente sem que ele percebesse a minha presença.

- Perseguição é crime, sabia? - sussurrei sobre seu ombro, fazendo-o se virar de uma vez para me encarar.

- Rose? O que...

- Não me venha perguntar o que eu faço aqui, camarada. – interrompi com um sorriso – Você sabe muito bem que a pergunta certa é o que você, faz aqui.

Ele suspirou e levou a mão no cabelo, despenteando-o de modo muito charmoso. Uma pontinha de ciúmes bateu em mim quando vi uma garotas que estava passando olharem para ele. Elas, porém, eram muito novas, deveriam ter uns 16 anos, e tinha cara de pirralhas. Então procurei ignora-las e me lembrei do que havia acontecido entre Dimitri e eu esta tarde. Elas não tinham chance alguma.

- Não conte a Vik que eu te disse isso. – ele me puxou para o lado, próximo do bar, mas um canto mais vazio para que não sejamos ouvidos – Minha mãe quer que eu fique de olho na Vik. É por causa desse cara, o Roland. Ele aceitou as condições de seu pai, mas digamos que não está muito contente.

- Wow, esse cara é louco? Nem eu pensaria em contradizer Abe!

- Esse é o problema. Ele não quer voltar com Vik ou algo assim. Mas parece que ele tem uma espécie de obsessão pelas Belikova. – sua expressão se endureceu, e havia uma raiva crescente em seus olhos que me fez tremer – Ele é o pai do filho de Sonya. Ele já tentou algo com Karolina também, mas ela foi mais esperta e caiu fora antes que as coisas se complicassem.

Senti meu queixo cair. Woha. O filho da mão que engravidou Sonya estava dando em cima da Vik? Dando em cima não, dando em cima era o que aqueles caras estavam fazendo na pista de dança. O que ele queria estava além do permitido.

- Que? E você não socou esse cara ainda por quê?

Dimitri riu, mas sem divertimento.

- Rose, não sou como você. Não saio socando as pessoas por ai.

- É, mas esse cara é um tremendo filho da puta. Você tem todo o direito de acabar com a vida dele! Qual é, camarada, admita: sua mão ta coçando pra bater nele.

- Eu quero fazer muito mais que apenas bater nesse desgraçado, Rose. Coisas que até você se surpreenderia. – Ele suspirou e vi suas mãos se fecharem em punho. Ofereci o refrigerante a ele, e Dimitri aceitou. – Mas quem se daria mal seria eu. Não ele. Foi uma escolha de Sonya, não posso interferir e acabar expondo ela.

Concordei resignada. Uma parte egoísta de mim, amaldiçoava os Morois. Eles sempre saiam ilesos. Eles tinham a nós e a lei para protegê-los. Eles diriam que Sonya dormiu com ele por que quis, e que ficou gravida por interesse. Seria considerada uma Meretriz de Sangue por generalização, não por merecimento que, graças a Deus, ela não tinha.

- Bem, eu não tenho problema nenhum com isso. Se ele vier de gracinha pra cima de mim, vou dar uns bons tabefes naquela cara. – eu falei sério, mas Dimitri riu – Hey, camarada! Estou falando com a maior seriedade. Tenho que preservar minha inocência.

- Inocência? Desde quando Rosemarie Hathaway é inocente?

- Você se surpreenderia se soubesse. – respondi desconfortável. Sexo não era meu assunto favorito. Não quando eu mesma ainda não tinha feito, por mais que minha reputação disse extremamente o contrário. – Sabe o que eu acho? Que você está parecendo um guarda-costas. A Vik vai sacar na hora que te ver que você não está por aqui ao acaso.

- O que você quer dizer com isso? – Dimitri ergueu uma sobrancelha, desconfiado, e deu um passo para trás quando comecei a tirar seu guarda-pó. – Rose, o que você está fazendo?!

- Te deixando a vontade. – insisti em tirar seu guarda-pó, mas Dimitri não facilitava – Você quer fazer o favor de parar de agir feito uma criança, Dimitri Belikov?

- Eu não estou agindo feito uma criança. – com um pouco de dificuldade, por fim, consegui tirar o sobretudo e o dobrei no braço, escondendo-o atrás de mim – Rose, odeio quando você faz essas coisas. Odeio quando você dá uma de mandona.

- Vindo de alguém que só manda, não é novidade pra mim. – ele tentou tirar o casaco de mim, mas me desviei – Não vou te devolver. Você está aqui pra ficar de olho na gente, então faça de uma forma que te divirta.

- Tirar o casaco não está me divertindo. – ele tentou tirar o casaco de mim novamente – Rose. Você quem está agindo como uma criança.

- Dimitri Belikov, o guardião fodão não consegue lidar com uma adolescente? – provoquei pressionando os olhos com um sorriso – Quem diria, camarada.

- Rose Hathaway! – Dimitri exclamou e em um movimento rápido me pegou de surpresa, me pressionando contra o balcão do bar – Já chega. Me devolve. Agora.

Ele levou o braço atrás do meu corpo, quase em um abraço, segurando o casaco, que eu não soltei. Seus olhos estavam perigosos, mas de uma maneira diferente. Não era irritação, era cautela. Meu sorriso murchou um pouco, e meu coração retumbou no meu peito com sua súbita aproximação.

Pude ver a mudança em Dimitri também. Seus olhos escuros percorreram meu rosto e eu vi a tremenda batalha que ele travava dentro dele.

- Eu não devolvo. – respondi num murmúrio, querendo urgentemente que ele se abaixasse e me beijasse. – Só se você dançar comigo.

Eu tinha que me manter sã. Apegada à realidade. Minha realidade agora era relaxar Dimitri, e embora não fosse da maneira que queria, mas era a que menos chamava a atenção, e a mais segura pra nós. Se eu me arriscasse a beijá-lo não saberia se conseguiria me controlar e permanecer num selinho, como ele fizera esta tarde.

- Eu não danço. – seu olhar não desviava de mim, e podia jurar que ele estava pensando no mesmo que eu.

- Se você quiser o casaco vai ter que dançar.

Ele suspirou, e o ar que ele soltou parecia uma provocação aos meus sentidos.

- Rose... – Eu sorri, vendo que não havia mais resistência – Você sempre consegue o que quer...

- Na maioria das vezes... – me afastei dele e dei seu casaco para guardar, tomando o cuidado de ficar com o cartão, longe dele – Não seja chato, Dimitri. Quanto tempo faz que você não se diverte?

- Muito pouco tempo, na verdade. – ele ergueu as sobrancelhas, pensativo, e eu sabia no que ele estava pensando: na noite no bar. – Mas, como dizem por ai: se não pode vencer seu inimigo, junte-se a ele.

- Hey, eu não sou sua inimiga!

Exclamei, segurando sua mão e o guiando até a pista de dança, provocando nele uma risada que fazia tempo que não ouvia, e fiquei feliz em ouvir novamente. Vik não estava mais lá, nem Nikolai, e me imaginei se os dois estariam juntos.

- De qualquer forma, se aplica a você também.

- Ainda vai me agradecer por isso, camarada.

- Veremos. A noite ainda não acabou.

Eu ri e nos infiltramos entre as pessoas. No começo, Dimitri dançava travadão, como se tivesse medo ou eu sei lá. Mas então, para minha surpresa, ele se soltou. Aliás, mais do que eu imaginaria, já que ele não saiu de perto de mim. Não que eu também quisesse sair de perto dele. Ele se mantinha sempre bem perto de mim, sendo a musica que for.

Dimitri quase nunca me tocava. Algumas vezes colocou as mãos em minha cintura, outras as deslizou pelos meus braços, mas eram raras as vezes. Mesmo assim, sua presença por si só era intoxicante. Me envolvia por completo e disparavam ondas de calor pelo meu corpo que não tinham nada a ver com o monte de gente ao redor.

- Rose, estou me sentindo deslocado. – ele gritou sobre o som alto, perto do meu ouvido – Só tem alunos aqui.

- Eu não sou aluna. – ele sorriu e eu devolvi o sorriso, convencida. – Okay. Você venceu. Pode ir pegar seu casaco.

Estendi o cartão do guarda-volumes e Dimitri o pegou. Mas antes que soltasse e se afastasse, ele inclinou a cabeça para mim, e colocou a boca bem próxima do meu ouvido para que não precisasse gritar.

- Obrigada. Eu realmente me diverti. Roza.

Eu nunca havia ouvido ele me chamar desse nome, mas o que quer que fosse, disparou um arrepio por todo o meu corpo que não sei como me mantive em pé. Eu sorri de lado, extasiada, e Dimitri, com um sorriso largo e divertido, foi em direção ao bar.

Eu diria que o que aconteceu foi bom. Muito bom. Um grande passo, na verdade a... bem, isto eu ainda iria descobrir. Mas gostei desse Dimitri solto e relaxado, mais ainda hoje do que na noite em que nos conhecemos. E gostei dele ter ficado perto de mim, e me tocando e... Foco, Rose! Não comece a viajar aqui, no meio da festa!

Voltei a dançar, sozinha e com todo mundo. Procurei por Vik, mas ela havia sumido. Me senti mal por não estar cumprindo a promessa que fiz à Olena. E se esse tal Rolan resolvesse, sei lá, aparecer e falar alguma coisa? Ou pior! Fazer alguma coisa? Duvidava que ela fosse capaz de falar ou fazer alguma coisa. Duvida até mesmo que ela fosse forte o suficiente para andar e o deixar sozinho. Eu precisava estar com ela neste momento. E foda-se se ela estivesse no maior amasso com Nikolai!

Comecei a andar entre as pessoas, pelo menos tentei, pois uma mão agarrou meu braço e quase me fez cair quando eu mal havia dado três passos pra frente.

- Hey! – puxei meu braço e encarei o Moroi que tinha um sorriso no rosto. Seus dedos apertavam minha carne e me irritava profundamente – Quer fazer o favor?

O Moroi era alto, pra variar, e tinha cabelos escuros e pesados. Os olhos eram verdes me fazendo lembrar de Adrian. Não gostei da forma que me olhou, de cima pra baixo e pra cima de novo. Era analítico e não escondia gostar do que via, mas de uma forma totalmente vulgar e inadequada.

- Não pude deixar de notar que está sozinha. – começou ele, sem me soltar – É um crime uma damphir tão linda estar sozinha!

- Eu não estou sozinha. – cortei friamente, e vi que ele não gostou do meu tom – Estou acompanhada, não que isso seja da sua conta.

- Mas está sozinha agora.

- Se quisesse alguma companhia, sendo tão linda quanto você diz eu ser, eu estaria na de quem me interessa, não acha? Agora, pode soltar meu braço?

Ele soltou e ergueu as palmas das mãos, em gesto de rendição.

- Perdoe-me. Não fomos apresentados. – e nem queria ser. – Sou Roland, prazer.

Roland. O maldito Roland que engravidou Sonya e quase levou Vik para o mau caminho junto?  Aquele que Dimitri morria de vontade de surrar, mas não podia? Esse Roland? E ele estava aqui, dando em cima de mim da maneira mais suja? Ah, ironia da vida! Quem diria que o que eu havia dito a Dimitri iria acontecer àquela noite.

- Não sei se devia dizer meu nome a um desconhecido. – suavizei minha voz para o contento dele. – Sabe o que dizem por aí, sobre falar com estranhos.

- Você sabe meu nome, mas não sei o seu. Quem é que é estranho aqui?

Eu ri. Idiota.

- É... você tem razão. – estendi a mão. – Sou Rose.

Ele a levou aos lábios, depositando um beijo languido e nojento que eu teria que esterilizar depois. Queria dar um bom soco nele, ali e agora, mas não teria motivos o suficiente. Eu teria que agir como uma inocente jovem que caiu na lábia de um Moroi aproveitador.

- Sabe... – ele olhou em volta – Isto é uma pista de dança. Feita pra dançar. E nós não estamos dançando.

Quem iria dançar esta noite seria você, seu imbecil!

- Ah... to cansada de dançar... Queria descansar, beber alguma coisa... Mais alguma coisa... – eu ri, fingindo estar meio alterada – acho que aquilo que me serviram não era água.

Seus olhos se iluminaram com a proposta subentendida e com minha situação. Ele ofereceu o braço a mim, o qual eu não aceitei de primeira.

- Vamos sentar então. Tem uns banquinhos pra lá, afastados. Você sabe, pra ficamos a vontade.

Filho da mãe abusado! Não me conhece nem há cinco minutinhos e já quer ir lá pro cantinho, afastadinho? Ainda mais com uma suposta bêbada? Mas ele ia ter uma boa lição esta noite! Ah se ia! Se duvidasse, tirava aquilo que tinha entre suas pernas e ---

- Rose. – um braço quente envolveu minha cintura, e o cheiro que me fazia suspirar sempre me acolheu. – Eu acho que você devia sentar.

- Dimitri! – exclamei olhando para cima encontrando seu olhar que era um misto de preocupação e raiva. – Dimka! Olha, fiz um novo amigo! Este é o Rolan. Rolan, este é Dimitri.

- Namorado dela. – acrescentou ele desnecessariamente, me pegando de surpresa – Agora, nos dê licença. Não que eu esteja realmente pedindo.

Com um olhar que eu classificaria como mortífero, Dimitri me carregou pra longe, para o mesmo lugar onde estávamos antes. E não deixei de reparar que ele estava usando o guarda-pó.

- O que você pensa que estava fazendo? – sussurrei pra ele ao me sentar num banco no balcão.

- Não. O que você tinha na cabeça! – ele retrucou furioso - Rose, aquele era o Roland! E você sabia! Pior que isso, você ia fazer alguma coisa!

- Não ia não!

- Ia sim! Está estampado na sua cara que tinha um plano. – eu abri a boca, mas ele interrompeu de novo – e não venha dizer que não, Rose! Te conheço muito bem, e você sabe disso!

Eu abri a boca, mas não saiu som. Eu não tinha argumentos para bater o dele. Dimitri tinha razão, eu tinha um plano, bem maldoso na verdade, para lidar com Roland. Algo que o humilharia, acima de tudo, e o faria pagar por todas as jovens que ele enganou, sem nunca nem precisar tocar nos nomes delas.

- Rose, já te disse pra não se envolver nisso.

- Mas por quê? Dimitri... – Eu puxei o banco pra mais próximo do dele, abaixando a voz para que não fossemos ouvidos – Ele engravidou a Sonya, se engraçou com Vik e queria fazer sei lá o que comigo, no escurinho de um lugar afastado com uma jovem supostamente bêbada. Vai saber o que mais ele fez, com outras mocinhas por ai?

- É o tipo de coisa que, infelizmente, não vale a pena ir mais a fundo. Abe já fez mais do que o suficiente o tirando da vida de minha irmã, não venha se meter em encrencas você também, Rose! Pelo amor de Deus! Estou te pedindo!

Eu respirei, o olhando resignada. Odiava quando ele tinha razão. Odiava quando ele tinha razão e meus planos pareciam idiotas quando ele falava em voz alta. Maldito seja, Dimitri Belikov! Você realmente está me botando na linha, afinal!

Revirei os olhos, e soltei o ar, me levantando em seguida. Senti uma leve pontada no tornozelo quando depositei meu peso nele. Era agora que o arrependimento começava.

- Eu vou procurar Vik. Prometi a sua mãe que ficaria com ela o tempo todo.

Pelo olhar chocado de Dimitri, ele também havia se esquecido do que viera fazer aqui. Mas ficou no lugar, confiando que eu a traria para as suas vistas. O que eu realmente iria fazer, ainda mais agora com Roland por ai.

- Hey, camarada. – eu me virei, olhando com um sorriso maroto – Só uma dica: da próxima vez, disfarça melhor seu ciúmes. Pude sentir a testosterona no ar antes mesmo de você chegar.

- Eu não estava com ciúmes!

- Claro que não.

Eu ri e o deixei falando sozinho. Dimitri estava com ciúmes sim. Não adiantava negar. E eu vibrava por dentro por isso.

Quem acabou me achando foi Vik. Ela estava corada e parecia meio alegre demais. Não precisei sentir o cheiro do álcool para saber que ela estava alterada. Não estava bêbada. [i]Ainda[/i]. E, infelizmente, Nikolai não estava com ela.

- Puta merda, Vik! – exclamei segurando-a pelo braço – Você tinha beber justo hoje! Sua mãe vai me matar!

Vai me matar e matar Dimitri também que deveria cuidar para que coisas como essa não acontecessem.

- Rose, meu ultimo dia antes de voltar pra prisão! – retrucou Vik sorrindo e abraçando meu pescoço – Não comece agindo feio uma adulta responsável que nós duas sabemos que você não é!

- Mas posso ser! – ameacei guiando-a para um banco – É só você me provocar e verá, Viktoria Belikova.

- Rose, você sabe ser chata às vezes.

Não me dei ao trabalho de responder. Odiava ficar bêbada e odiava bêbados. Tudo bem, admito que eu realmente enchia a cara nas festas da escola, mas eu não perdia a consciência das coisas. Quero dizer, eu via que tinha problemas, como no dia que a Lissa surtou e quase matou um idiota ordinário. Eu quem a impediu de acabar com a vida dele. Eu sou capaz de tomar o controle de mim se a situação pedir. Meio tonta, verdade, mas totalmente sã.

- Eu vou buscar água pra você. – e Dimitri também. – Consegue ficar ai por menos de cinco minutos?

Ela balançou a cabeça, concordando. Vik não era desobediente, e se ela disse que ficaria ali, deveria confiar. Por mais que ela não fosse realmente ela agora.

- Rapidinho! – avisei antes de sair.

Com o coração na mão, voltei ao bar. Por algum infortúnio Dimitri não estava lá. E isso não era bom agora. Mas eu que o encontrasse depois. Tinha que cuidar de Vik e tentar melhorar seu estado antes de voltarmos pra casa. Cheguei no relógio do bar quando paguei, era quase meia noite. A festa de Vik seria encurtada.

No caminho de volta, um enjoo revirou meu estomago. Não. Não era exatamente um enjoo. Como se fosse uma sensação ruim que rodeava meu umbigo. Algo que já senti, mas não conseguia ligar a que. Eu já havia ficado enjoado por diversas coisas, inclusive por interferência do Espirito. Devia ser Lissa. Ela deveria estar mal. Por culpa minha, claro. Eu não havia ligado como prometido, e havia duas semanas que não nos falávamos. Ela sentia minha falta e eu a dela, não poderia culpa-la. Resolvi que, assim que chegasse em casa, iria checar como ela estava. E se Adrian visitasse meus sonhos, veria se tinha como trazer Lissa com ele na próxima vez.

- Vamos, Vik... Você quer vir comigo! Sabemos disso! Você me ama, lembra?

A voz suave e perigosa me fez travar por um instante e andar devagar, com passos pensados, até onde Vik estava. Roland a segurava pela cintura, e Vik, não acostumada a ficar bêbada, não tinha forças para recuar.

- Roland... Eu... Por favor. – Os olhos de Vik estavam marejados. – Só vai embora.

Eu tive certeza naquele momento que Vik realmente gostava dele. Ainda. E por mais que ela soubesse, e ela sabia, de tudo de ruim que ele fosse, ela não conseguia ignorar o sentimento. Senti pena por ela. Ela era nova, e teria outros rapazes decentes na vida dela. Roland não estragaria tudo. Eu não deixaria.

- Okay, que parte do fique longe dele você não entendeu? – interferi com a voz alta e andando duro até eles. – Roland, eu sempre achei que você fosse idiota. Sério. Mas ignorar Abe. Justo o zmey? Isso não é idiotice, é suicídio!

Ele me olhou, raiva e desejo misturados nos olhos avermelhados. Vik não era a outra que andara bebendo. Roland havia exagerado muito desta vez. E logo ele que parecia ter o mínimo que eu poderia chamar de classe. Idiota, imbecil, aproveitador e todos os adjetivos ruins, sim. Mas ele era de uma boa família, isso se via nas roupas e como ele falou comigo na primeira vez. Era do tipo que não perde a classe e a elegância. Dimitri e eu, ou tudo junto, deve ter o irritado bastante.

- Olha... O que temos aqui... Vik e Rose. – ele sorriu doentio – quem diria. Rose, você tem uma concorrente, sabia? Vik aqui é tão linda quanto você. Pena ser novinha ainda... mas é uma estrela em ascensão!

- Você é surdo? – me aproximei e o peguei pelo braço, puxando –o para longe de Vik – Seu filho da puta, arrogante!

- Rose... Eu [i]sei[/i] que você diz isso por fora. – ele me olhou nos olhos e me agarrou pela cintura – Mas você me acha lindo, gostoso e adoraria me pegar e esquecer o Belikov.

- Nem. Morta. – cuspi na cara dele e o empurrei. – Vamos Vik. Dimitri está aqui, vamos pra casa.

Ela não hesitou. Assustada como estava, apenas me seguiu obediente. Mas Roland ainda me segurou e me puxou pra ele novamente.

- Okay, eu estava muito bonzinho, mas serei obrigado a apelar agora. – sua voz estava fria e cortante e o bafo de álcool insuportável – Rose, você é gostosa demais para ignorar.

- Vai se fuder! Seu idiota!

Minha intenção era dar um belo soco na barriga e logo depois na cara, mas alguém já tinha o separado de mim e feito isso antes que eu pudesse sequer pensar em respirar. Dimitri o pegou do chão, segurando-o pelo colarinho, e vi que Roland tinha a boca sangrando.

- Já chega seu filho da puta! – ele deu mais um soco no rosto dele e o soltou para cair com um baque ao chão. – Já basta ter engravidado Sonya! Não venha se meter com Vik e Rose, ou qualquer um mais da minha família! Está entendendo?

Ele riu, tentando se levantar, tonto pela bebida e pelos socos. Vik estava ajoelhada ao chão. Tremia, mas eu não podia dar atenção a ela. Pelo brilho no olhar de Dimitri ele ia matar Roland. De verdade.

- Dimitri. – eu o chamei, mas ele pareceu não ouvir.

- Rose não é da sua família. – provocou Roland, se apoiando no banco – Aliás, nem namorada sua é. Mas eu vejo nos seus olhos, Belikov. Vejo nos seus olhos o como você a quer. Aposto que você já a imaginou nua! E tocando ela, beijando ela e fazendo muitas coisas mais. Não é?

Roland foi ao chão novamente, um soco mais forte e que fez um barulho que me fez pular. Voei para frente de Dimitri, o empurrando pra trás, tentando impedir de investir em Roland novamente.

- Chega Dimitri! – ele respirava pesado, e seu olhar se fixou no meu, levemente confuso – Chega. Por favor.

- Rose...

- Não. Não vale a pena sujar suas mãos. Não... – eu virei a cabeça pra trás, sem soltar Dimitri – não por [i]isso[/i].

Pareciam que horas se passaram. Ele me olhou e vi o discernimento tomar conta de suas feições. No dia seguinte ele estaria muito arrependido do que tinha feito, mas hoje ele estava satisfeito e aliviado. Honestamente, eu também.

- Vik precisa da gente agora. Vamos leva-la pra casa.

Ele concordou, e voltou sua atenção a irmã. Pegou uma Vik cansada, assustada e bêbada no colo. Sem duvida nenhuma, antes dela chegar em casa já estaria dormindo.

- Acho melhor ela beber algo. – ele informou, pedindo-me para seguir até o bar – Antes de irmos pra casa. Pra se acalmar e parecer mais cansada que bêbada.

- Tá. – eu lancei outro olhar a Roland, que estava largado ao chão, miserável, e o segui de perto – Vamos logo. Vamos embora daqui.

***

Vik pareceu bem melhor depois de duas garrafas d’agua e uma latinha de refrigerante. O dono do bar, que Dimitri conhecia, ofereceu café, que ambos aceitaram. Eu permaneci na minha, quieta, como se nem estivesse ali enquanto os dois conversavam.

- Vik, quantas vezes te dissemos pra ficar longe dele? – a voz de Dimitri era suave, gentil. Contrastando com a dureza e frieza anterior. – não viu o quanto.... que ele não presta?

Eu sabia quais seriam as palavras de Dimitri, umas bem baixas e feias, mas Vik estava num estado emocional frágil, ele queria apenas confortável.

- Eu sei Misha. Você e mama e todos vivem falando. E Abe foi muito legal o afastando de mim. Mas ele quem veio atrás de mim hoje. Estava bêbado e estranho... Nunca o vi assim antes.

Eu tinha uma vaga ideia do que o havia deixado assim. Mas foi Dimitri quem verbalizou.

- Acredito que seja por culpa nossa. Minha e da Rose. – ela olhou de um para outro confusa – ele deu em cima dela. Ela não parecia interessada no que ele queria oferecer. Na verdade, Rose fez uma ótima interpretação de inocência. Eu interferi e a tirei de lá. Acho que isso o irritou muito.

Legal, a culpa agora era minha.

- Roland mudou muito.

 Vik suspirou. E algum dia ele já foi melhor que isso? Duvido. Vik andava sonhando demais, eu percebi. Ela acreditava no melhor das pessoas, e isso a deixava vulnerável. Não me arrependi de ter sido quase rude nas próximas palavras.

- Ele sempre foi assim, Vik. Não se iluda achando que não. Era exatamente esse tipo de reação que ele queria.

- Rose!

- Vik! – imitei seu gesto. Ela precisava de um bom choque de realidade. – Se toca, Vik. Ele é um manipulador barato. Não gosta de ninguém, se diverte com todo mundo. Você, graças a Deus e pela interferência de Abe, não é mais uma na lista dele!

- Ele era legal comigo! Gentil, carinhoso... E não forçava a barra!

- Ainda. Por que ele ia, Vik. Acredite em mim.

- Não ia não!

- Ia sim! Quando você vai entender que ele não presta, não prestou e pelo jeito nunca vai prestar?

Dimtri preferiu não interferiu, mas pelo olhar, ele concordava comigo. E Vik, se vendo em minoria, se sentiu ofendida. Se levantou com lagrimas nos olhos e estendeu a mão a Dimitri.

- Quero ir embora. Vou esperar no carro. – ele hesitou, provocando um bufar irritado – Eu sei que você está de carro. Não vou fugir com ele, prometo.

Mesmo não gostando, ele deu a chave pra ela, que saiu marchando. Sem antes me mandar pegar nossos casacos no guarda-volumes.

- Okay... Não foi a reação que esperava.

Confidenciei a Dimitri enquanto esperava a atendente achar nossos casacos. Meus pés estavam doendo e meu tornozelo devia estar do tamanho de uma melancia. Como tiraria meu sapatos ou andaria no outro dia, era um mistério.

- Ela não esta brava com você. Não de verdade. Vik apenas odeia que tenhamos razão neste caso. Ela realmente gostava dele, Rose. Amar é uma palavra forte, mas ela gostava demais dele.

- Bem, pelo menos agora ele não vai mais persegui-la. – eu sorri, tentando ignorar novamente o enjoo que me abatia – Você o assustou pra valer. Mais que o Abe, parece.

- Ele só precisava de umas boas surras... – Dimitri me olhou com cautela – Rose? Você está bem?

- Estou é só... um enjoo. - a mulher, finalmente, nos devolveu os casacos e andamos em direção ao estacionamento -Tipo quando você tem um pressentimento ruim, sabe? Segunda vez esta noite. Eu não sei... ah não!

Eu parei no meio do caminho. Eu sabia! Estava ignorando meus enjoos, por que relacionava a festas. Estava associando a algo errado e completamente diferente! Rose, sua idiota! Você estava em Baia, lá [i]também[/i] existe Strigois! Sua ignorante!

- Dimitri... Tem Strigois aqui!

- O que? Rose, não diga besteiras.

- Não estou inventando! – apressei o passo o máximo que podia, mas era impossível com aqueles sapatos. – Eu meio que sinto quanto eles estão pertos! Merda! Devia ter me tocado antes!

Dimitri estava intrigado, e não sabia se acreditava no que eu dizia, mas ele confiava em mim. Eu queria ter certeza que Vik estava bem, ali sozinha a mercê de assassinos. Meu coração acelerou, e o enjoo aumento significantemente. Olhei em volta, o espaço aberto, mas não tinha nenhum indicio de Strigois. Até que um grito cortou o ar frio da noite.

Foi uma reação involuntária, mas parecia que era pensada. Dimitri e eu nos movemos juntos, passos sincronizados para o lado oposto do estacionamento, num caminho de pedra que circulava o local. Esperava, e por mais que não acreditasse em Deus, orei para que não fosse Vik.

Não tem como descrever o alivio que senti ao ver uma cascata de mechas castanhas e douradas entre uma pequena turba de jovens com expressões horrorizadas. Mas o alivio logo se esvaiu com a cena que vi a seguir.

Havia um corpo no chão, as pedras negras de tanto sangue. Os braços e pernas estavam com ângulos estranhos e podia afirmar que havia muitos ossos quebrados. Sua barriga tinha um corte grotesco, e nem queria saber que órgãos eram aqueles. E o pescoço. Ele estava quase decapitado. Uma mordida horrenda, mastigada e feia. Era algo quase artístico em sua composição. Como se ele, ou eles, tivesse destruído o corpo por prazer, para mostrar a todos do que eles eram capazes. Para assustar.

Eu não saberia dizer a quem pertencia o corpo. O rosto também estava acabado. Reconheci o Moroi pelas roupas e cabelos escuros e pesados, que a pouco tempo havia nos confrontado. Era Roland.

Dimitri abraçou Vik com força, ela escondendo o rosto no peito dele, soluçando de tanto chorar. Trocamos olhares preocupados e desesperados. Ele, com seu olhar analítico de guardião formado há anos, e eu com meu olhar de experiência forçada, havíamos chegado a mesma conclusão.

- Isso não foi ao acaso, foi?

Ele negou com a cabeça, acariciando a cabeça da irmã. Meu coração se apertou, e embora soubesse a resposta da próxima pergunta, a fiz mesmo assim.

- E muda tudo. Não é?

- Sim, Rose. Muda.


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Notas finais do capítulo

Que reviravolta, não!? O que será que vai acontecer daqui pra frente??

"- Eu nunca vi isso antes, Rose. Eu não vou dizer que você está mentindo, mas não sei... Como isso seria possível? Por que você? E por quê?"