Havia chegado recente a uma velha grande casa, a qual havia herdado. A surpresa foi maior que o súbito falecimento de meu tio. A presença de uma figura usando terno preto e cartola elegante, cabelos negros de um comprimento intermediário, em uma pose de submissão.

Ai estava meu novo mordomo. Magro feito um alfinete, com traços suaves no rosto e gestos delicados. Dono de um silêncio sem igual e de certa forma tão expressivo quando uma mascara de gelo. O que me impressionou foi o seu tamanho, que não passaria do meu ombro se ambos em compostura; E mesmo assim apresentava uma agilidade sem igual para realizar meus intentos. Sem resmungos ou lamentos as horas e ordens eram obedecidas de imediato.

Acostumei-me a aquela branda figura ao passar o ano naquelas terras geladas. E descobri que com a pouca freqüência do sol, minha pele assumiu a mesma brancura daquele que me atendia sem questionar.

Aquela convivência pacifica foi me fazendo sentir a segurança de um lar e ao mesmo tempo fui me apaixonando por aquele jeito singular. Já temia meus sonhos, e pouco a pouco fui desenvolvendo mais desejos. Já não era sem tempo a hora de acordar.

Sentia prazer no leve soar das horas em que vinha me chamar.

            Desesperadoras foram as horas que em de forma degradante perguntava-me se desejava algo. E com medo da reação, me negava a desbravar teus lábios e a provar do gelo da tua pele.

Perdi hoje o controle, e ao tocar-te senti calor. A nevasca cobriu nossos corpos ao descobrir que aquela cartola e fatiota escondiam essa tênue e doce menina.