Arquivo X - John Doe escrita por GabrielleBriant


Capítulo 2
Parte 2




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PREVIOUSLY ON THE X FILES

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O homem misterioso puxa para si o objeto de madeira, apontando-o para William. Firmemente, diz:

Avada Kedavra!”

Uma forte luz esverdeada preenche o local. Sarah ainda pode ver o homem cair novamente em seu sono profundo antes de perceber que William está morto. E o seu grito desesperado rasga a noite.

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Um homem aparece do nada, um jovem morre e uma garota fica neurótica. Você realmente não vê nada de estranho nisso, Scully?”

Não vejo nada que a polícia local não possa resolver.”

Se lembre que foi a própria polícia local que pediu a nossa ajuda...”

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Não tem fotos. E os fatos foram ligeiramente distorcidos.” Scully abre a boca, mas o médico a interrompe de pronto. “O Cel. Blake disse para eu não relatar nada que eu achasse estranho... E eu apenas obedeci.”

Por quê?”

Ora...” O Dr. Hilton ri-se, sem graça. “As pessoas que contrariam o Cel. Blake tendem a desaparecer.”

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Onde você pensa estar?”

O homem misterioso ergue a sobrancelha à pergunta de Mulder. O seu semblante torna-se inegavelmente irritadiço. Os lábios crispam-se e ele cruza os braços.

No Reino Unido.”

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O homem usou algum tipo de ‘palavra mágica’ que produziu algum tipo de feitiço que matou o seu namorado?” Mulder pergunta.

Sarah morde o lábio. Suspira lentamente.

Ele está vivo, não está? O homem? Eu o vi hoje. No meu quarto.”

Scully, ligue para o hospital.”

Dana Scully pega o seu telefone e disca o número do hospital. E, surpreendentemente, o homem não mais está lá.

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XxXxXxX

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SEXTA-FEIRA, 04:11 A.M.

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A fazenda dos Blakes estivera intranqüila naquela noite. No entanto, após a saída dos agentes do FBI, tudo pareceu se acalmar...

Sarah voltara ao seu estado semi-vegetativo e, sem uma palavra e com o olhar vago, deitava-se em sua cama e tomava o leite quente que a sua mãe carinhosamente a levara. O Cel. Blake acalmava e colocava os outros dois filhos para dormir.

Por fim, em sua redenção, Dennis e Dennise finalmente puderam ir às suas camas e desfrutar de alguns minutos de paz, sendo apenas marido e mulher.

Finalmente, silêncio... E todas as luzes daquela casa apagaram-se.

Do lado de fora, próximo à plantação de milho, a calmaria era quebrada apenas pelo som irritante dos grilos e o eventual uivo de um coiote.

Até que aquela paz foi cortada com um barulhento estalar. Do nada, um homem loiro e alto apareceu. Olhou ao redor e um leve sorriso tomou conta dos seus lábios quando verificou que o lugar impresso na foto do jornal que trazia consigo era exatamente igual àquele.

- Tão previsível, Snape... Tão previsível!

E, sem desmanchar o sorriso, ele começou a caminhar... Em seu olhar, um brilho assassino mostrava que ele não tinha boas intenções.

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THE X FILES

PARANORMAL ACTIVITY

GOVERNMENT DENIES KNOWLEDGE

THE TRUTH IS OUT THERE

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HOSPITAL MEMORIAL DE ASHLAND

04:17 A.M.

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O único barulho que ecoava no hospital de Ashland, propagando-se pelas suas paredes brancas e frias, era o dos saltos de madeira de Dana Scully. Seguida por seu parceiro, Fox Mulder, e por um segurança do hospital, a agente encaminhava-se para a sala da direção.

Lá, acompanhados de uma enfermeira negra e um outro segurança, um homem robusto de cabelos grisalhos esperava, preocupado, pelos agentes. Ele se apoiava numa televisão, onde as imagens turvas gravadas por uma fita de segurança eram exibidas.

- Nosso plano era ligar para vocês assim que o dia amanhecesse, agentes. Eu devo admitir que fiquei aliviado quando me avisaram que você tinha ligado, agente Scully.

- O que aconteceu? – Mulder precipitou-se, aproximando-se do segurança que pausara a fita no momento em que a enfermeira entrava no quarto do homem misterioso.

A enfermeira se levantou. O seu rosto era assustado.

- Eu entrei no quarto para dar um banho nele. Mas ele estava acordado. Eu quis apenas conversar, pra quebrar o clima, enquanto dava o banho, mas... ele decidiu que não queria que eu fizesse o meu trabalho. Eu perguntei se ele sabia o que tinha acontecido, e, quando ele disse que não, expliquei tudo... tudo mesmo, sabe? Da morte do garoto até o surto da filha dos Blakes. Depois, ele disse que estava cansado e... aconteceu isso.

Ao terminar a sua fala, o vigia executou a fita. Nela, a imagem borrada mostrava a enfermeira no quarto por um tempo. Quando ela saía, no entanto, algo estranho passou a ocorrer, e ganhou a imediata atenção dos agentes. Como se não sofresse nenhuma seqüela, o homem se levantou. Começou a vasculhar os bolsos das vestes negras que estavam dispostas numa cadeira de acompanhante, como se procurasse algo muito importante. Então, com um rosto preocupado, ele vestiu-a e, pegando a varinha, sumiu.

Os olhos azuis de Scully arregalaram-se em pura incredulidade. A sua voz falhou quando ela disse:

- Será que... o senhor pode voltar fita?

O vigia obedeceu e, mais uma vez, os agentes viram o homem desaparecer no espaço. Os lábios finos de Scully entreabriram-se, ao mesmo passo que os de Mulder curvaram-se num sorriso.

- Isso, Scully, é o homem superando as barreiras do espaço. Quero ver a sua ciência explicar.

Scully abriu e fechou a boca. Percebendo que provavelmente não encontraria uma explicação para aquele fenômeno, ateu-se a outro importante ponto da fita.

- Ele parecia procurar algo. Vocês sabem o que era?

- Sim. É a política do hospital retirar do alcance dos nossos pacientes de identidade desconhecida qualquer objeto que tenha potencial danoso. Então, logo que vasculhamos os seus pertences, confiscamos isso.

O diretor do hospital entregou a Mulder um frasco cheio pela metade de um líquido âmbar espesso. O agente o examinou de perto.

- Então vocês têm uma idéia do que seja?

- Não – ele respondeu. – Sabemos apenas que é orgânico... mas o que é ou para que serve, acho que apenas John Doe pode falar... Se ele algum dia for encontrado.

- Será que... – Mulder começou. – podermos levar isso conosco?

- Claro, fiquem a vontade. Washington certamente tem laboratórios mais qualificados para lidar com esse tipo de coisa.

Mulder guardou o frasco no bolso da sua calça.

- Mais alguma coisa foi confiscada? – Scully perguntou, esperançosa em achar qualquer outra pista que remetesse à identidade daquele homem.

- Não. Ele apenas carregava consigo mais alguns frascos vazios, uma pedra e aquela vareta.

- É possível que o conteúdo de algum dos frascos tenha sido usado para assassinar o garoto?

- Eu... – o diretor pigarreou. – Bem, ele morreu do coração, não?

- Alguns venenos causam parada cardio-respiratória; como diretor do hospital, eu tenho certeza que o senhor sabe disso e que o estômago do garoto foi verificado durante a autopsia?

Pelo rosto do homem e a gota de suor que caia da sua testa, ele jamais imaginara que o homem que estava vegetando no quarto pudesse ser suspeito. Sem mais nada a conversar com aqueles que se encontravam na sala, os agentes deixaram o hospital. Rapidamente encontraram o carro e entraram nele.

- Espaço, Scully. Esse homem, de alguma forma, consegue se transportar no espaço!

- A fita pode ter sido adulterada, Mulder.

- Por quem? E, mesmo que alguém tivesse interesse, Scully, por que fazer o homem literalmente desaparecer? Ele poderia ter apenas simulado uma fuga, atrairia menos atenção ao caso.

- Talvez porque estejamos numa cidade pequena que precisa desesperadamente de turistas? Mulder, vamos! Uma vez na vida, seja racional! Para mim, está claro que o Cel. Blake tem muito a ver com isso! O garoto era um peão que namorava a filha dele! O homem carregava consigo frascos cheios de veneno! As pessoas que contraiam Blake tendem a desaparecer, Mulder, lembra?

- De forma sutil, Scully! E não no meio de um circo, como estamos vendo!

Scully rolou os olhos, recostando a sua cabeça no banco.

- Ainda assim, Mulder, o que você está propondo é absurdo! Um homem não pode quebrar as barreiras do espaço. É sobre-humano!

- E quem disse que ele é humano?

- Seria ele um herói? – Ela ergueu uma sobrancelha em escárnio.

- Quem sabe? É possível.

Scully rolou os olhos e se recusou a falar no assunto mais uma vez naquela madrugada. Estava cansada. Queria apenas dormir. E, para sua felicidade, a pousada já se aproximava visivelmente.

Mulder silenciosamente estacionou o carro. Ele ainda carregava em seu rosto um ar de triunfo, provavelmente rememorando o momento em que viu o homem simplesmente desaparecer no vídeo de segurança do hospital.

Scully deu um longo suspiro, abrindo a porta do carro.

- Boa noite, Mulder.

O seu parceiro limitou-se a acenar com a cabeça. A agente logo desceu do carro, pegou as chaves do seu quarto e o abriu.

A escuridão tomava conta daquele cubículo, que era iluminado apenas pela fraca luz que vinha da janela de vidro. Ela suspirou, sentindo-se cansada e despiu o sobretudo, jogando-o de imediato numa cadeira perto da cama. Fechou a porta.

E o silêncio foi cortado pelo barulho de um móvel arrastando-se.

Imediatamente tensa, ela pegou a arma que carregava em sua cintura e destravou.

- Quem está ai?

Scully deu um passo lento para trás, e procurou o interruptor com uma mão, sem jamais deixar de apontar a sua arma para o lugar de onde o som pareceu vir. Tateou a parede, até, finalmente, encontrá-lo e acender a luz.

Para a sua surpresa, era o misterioso homem que a olhava. Scully olhou dele para o objeto de madeira que ele ameaçadoramente apontava para ela. Pela primeira vez, o testemunho de Sarah fez algum sentido para a agente: se aquele objeto não fosse algo perigoso, ele não estaria usando-o para amedrontá-la.

Com a voz um pouco trêmula, ela ordenou:

- Largue a sua arma e ponha as mãos para cima.

- Me escute...

O homem incorreu no grave erro de tentar se aproximar da agente. De certa forma, o porte dele a assustava: a voz, o modo de se vestir, de andar, de falar... Talvez esse sentimento intimidante tenha sido o fator determinante que fez com que Scully puxasse o gatilho.

O barulho do tiro imediatamente chamou atenção de Mulder, que, deitado em sua cama, apenas revisava os acontecimentos do dia. Depressa, ele pegou a sua arma e correu em direção ao quarto da parceira.

Ele tentou abrir a porta, mas estava trancada. Com os punhos fechados, ele bateu forte e repetidamente na porta.

- SCULLY! ABRA A PORTA!

Mas nenhuma resposta vinha lá de dentro.

- SCULLY!

- MULDER! – Ele escutou a voz aflita da sua parceira. – MULDER, EU PRECISO DE AJUDA!

Ele não mais podia esperar. Se aquele homem tivesse sido o motivo do tiro, ele bem sabia que nada a sua parceira podia fazer contra ele. Ele deu dois passos para trás; apenas o suficiente para poder aplicar a força necessária para arrombar a porta.

Quando finalmente pôde entrar no quarto, viu Scully tentando parar o sangramento que ela provavelmente fizera no braço do homem. Mulder travou novamente a sua arma, deixando-a descansar sobre a cama de Scully e correu para auxiliá-la.

- O que houve?

- Eu abri a porta, ele estava aqui e...

- Me dê a varinha! – O homem sussurrou, com os dentes cerrados de dor. – Me de a varinha, eu posso consertar isso.

Scully olhou para Mulder. Ele podia ver no fundo daqueles olhos azuis que ela secretamente implorava para que ele não obedecesse aos apelos do homem. Mas, ainda assim, Mulder não podia perder a oportunidade de ver como ele canalizava energia naquele pequeno objeto de madeira.

Assim, ele correu até onde a varinha descansava e entregou a ele.

Com um gesto firme, o homem afastou a mão de Scully que tentava, sem sucesso, estancar o ferimento em seu braço. Depois, ele apontou a varinha para o seu braço, disse algumas palavras. Uma luz prateada tomou conta do quarto e, logo depois, Mulder e Scully viam a ferida fechar-se diante dos seus olhos.

O homem respirou fundo, recostando a sua cabeça contra a parede. Num gesto solene, ele estendeu a varinha para Scully.

- Eu preciso conversar com vocês. Acho que vocês se sentirão mais seguros se eu não estiver com isso.

Com as mãos trêmulas, Scully pegou a varinha com cuidado. O homem respirou fundo.

- Meu nome é Severo Snape. Eu acredito que acidentalmente tenha matado aquele garoto, mas não é por ele que eu vim. Eu vim falar com vocês por causa da menina.

- Você realmente invadiu o quarto dela. - Mulder disse, quase sem mexer os lábios.

- Sim. A enfermeira disse que, depois de ver o namorado morrer, ela entrou em colapso. No entanto, eu creio que ela tenha bebido um líquido que eu trazia em minhas mãos. Se ela fez isso, poderá morrer, caso eu não dê a ela um antídoto. Eu poderei salvá-la, mas terá um preço.

Os agentes se entreolharam. Scully quis dizer que não aceitava; que logo conseguiriam um mandado e o prenderiam... mas Mulder foi mais rápido.

- E qual seria?

- Eu quero que vocês esqueçam que me viram. Esqueçam que já estiveram aqui. Quero que vocês me deixem ir e jamais, sob hipótese nenhuma mencionem o meu nome para ninguém.

- O senhor matou um homem - Scully disse. - Como podemos deixá-lo ir?

- Vocês não têm outra escolha. Eu apenas não quero mais fugir. Eu cansei de fugir.

- O que você é?

- Vocês jamais entenderiam ou acreditariam. Eu sou um bruxo.

Scully bufou e levantou-se. Mulder apenas olhou-o, totalmente fascinado.

- Um bruxo? Isso explica muita coisa.

- Mulder, por favor! - Scully bufou novamente, irritada.

- Scully, você viu o que ele pode fazer! Você viu!

- Um bruxo? Ora, vamos! – ela dirigiu-se agora para Snape. – Você realmente espera que eu acredite nessa baboseira?

- Somos muito mais comuns do que você pensa, agente. Mas, se você achar melhor, eu posso demonstrar um pouco de mágica!

- E o que você vai fazer, tirar um coelho da cartola?

Snape rolou os olhos.

- Eu não faço idéia de como isso a faria acreditar em qualquer coisa, mas, se é isso que você quer... – O homem se levantou. Tomou a varinha das mãos de Scully, mas, antes que ela pudesse pegar e destravar a sua arma, o homem já havia pegado o controle remoto da televisão, o transfigurado numa cartola e tirado de dentro um coelho, bem diante dos olhos estupefatos os agentes.

Ao perceber o silêncio de Mulder e Scully, Snape continuou.

- Agora eu preciso que vocês me levem até a garota. Amanhã, por volta das cinco da tarde, eu estarei aqui. Falem com o pai dela... e preparem-no. E não mencionem o meu nome.

Sem mais nenhuma palavra, o homem simplesmente desapareceu.

XxXxXxX

O dia seguinte chegou rápido. Mulder tratou de falar logo com o Cel. Blake, e alertá-lo da visita que ele faria na companhia de Scully e Snape. Relutante, o homem aceitou.

O fim da tarde já se aproximava, quando Scully decidiu esperar por Snape junto de Mulder, em seu quarto. Depois de um longo banho, a agente vestiu o seu elegante tailleur preto e encaminhou-se para o quarto ao lado.

Deu duas batidas discretas. Logo Mulder abria a porta e a deixava entrar.

- Animada para a nossa sessão de exorcismo, Scully?

- Menos, Mulder.

Mulder sorriu, sentando-se no sofá puído que ficava perto da cama.

- Ainda não está muito crente, certo?

Scully suspirou, sentando-se ao lado dele.

- É... é absurdo, Mulder! Bruxos? E o que ele quis dizer com “somos mais comuns do que você pensa”?

- Bem, você achou absurdo quando eu falei que acreditava em extraterrestres, e hoje você não tem como negar a sua existência.

- Ainda assim... a idéia de um homem que consegue canalizar energia suficiente para fechar uma ferida...

- ...ou tirar um coelho da cartola!

Scully permitiu-se rir do comentário do parceiro. Algo em toda aquela idéia começou a afligir o seu coração. Mordendo o lábio, ela se aproximou discretamente de Mulder.

- Mas se isso realmente existir, Mulder? Se houver um “mundo mágico”, onde as pessoas podem curar de ferimentos daquela maneira? E se essas pessoas puderem curar doenças, ou desfazer... condições que para nós é impossível reverter? Se existem seres que podem fazer isso, por que nós, pessoas como eu e você, não podemos usufruir desses poderes?

Mulder deu de ombros.

- Não se pode fazer partes de dois mundos, Scully.

- Mas... E se houver uma cura para cada mazela? Para todo o defeito? Não seria justo que nós pudéssemos... aproveitar?

Mulder logo entendeu que Scully estava falando da sua esterilidade - e de mais uma possível cura. Ele mordeu o lábio e, temendo que a sua parceira mais uma vez acabasse decepcionando-se, acariciou levemente o seu rosto.

Scully fechou os olhos, aproveitando o toque gentil do parceiro. Por um momento, o tempo pareceu ficar suspenso... Ela abriu os olhos, apenas para encontrar os belos olhos verdes de Mulder olhando-a com um brilho que ela poucas vezes vira. Sentiu o coração acelerar e o rosto enrubescer. Sentiu a necessidade de falar algo e terminar com aquela tensão, mas nenhum som saiu da sua boca...

Ao contrário, os lábios apenas se entreabriram, fazendo um tentador convite a Mulder. Quase sob hipnose, os lábios dele foram atraídos para os dela lentamente. Ele sabia que acabaria se arrependendo, que não conseguiria encarar a sua amiga nos próximos tempos... ainda assim, aquilo parecia ser a única coisa a se fazer.

Ela fechou os olhos e ergueu o rosto, oferecendo os lábios para ele. E, justamente quando Mulder os tomaria como seus, batidas na porta fizeram os dois agente sobressaltarem-se.

Mulder respirou fundo, levantando-se um pouco relutante.

- Eu vou atender.

Scully apenas assentiu, vendo o seu parceiro caminhar até a porta e abri-la. Atrás dela, estava um homem de cabelos loiros que trajava vestes tão estranhas quanto as de Snape.

- Boa tarde. Eu acredito que o senhor seja o agente Fox Mulder?

Mulder assentiu.

- Ótimo. Disseram-me no hospital que o senhor tem as informações sobre o homem que apareceu no celeiro dos Blakes?

O agente olhou discretamente para a sua parceira, que já se levantava e encaminhava-se para junto dele.

- Não temos mais informações do que eles têm. O homem desapareceu.

O loiro olhou para Scully. Os grandes olhos acinzentados pareciam penetrar nos azuis dela... E, de repente, ela sentiu-se como se tivesse zonza; como se aqueles olhos tivessem invadindo a mente dela.

Mas, antes que ela pudesse assimilar o que era aquilo, a sensação parou.

- Muito obrigado, agentes – o homem disse solenemente. Voltarei aqui amanhã... só para checar que vocês realmente não sabem de nada.

- Nós poderíamos ligar – Mulder disse alto para o homem que se afastava rapidamente. - ...se você deixar o número.

Mulder e Scully gostariam de discutir a confusa visita... Mas, antes que tivessem oportunidade, um estampido anunciou a chegada de Snape ao quarto.

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FAZENDA DOS BLAKES

05:23 P.M.

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Apesar de Snape ter insistido muito para usar a sua mágica para levá-los até a fazenda dos Blakes - e de Mulder ter adorado a idéia de experimentar a magia - Scully conseguiu convencer os dois que melhor seria irem de carro. Assim como conseguiu convencer Mulder que seria muito mais seguro se ele ficasse com a varinha de Snape... apenas por precaução.

Assim, naquele fim de tarde, o carro alugado com a verba do FBI cruzava mais uma vez a estrada de terra que levava à fazenda.

Quando finalmente chegaram, o Cel. Blake já esperava os convidados.

- Vocês estão atrasados.

Mulder desculpou-se e logo os agentes e o bruxo eram guiados para o quarto onde Sarah jazia em sua cama. Os olhos esverdeados da garota estavam frios, perdidos. O rosto era pálido e os lábios estavam ressecados... Não fosse pelo leve ondular dos seios dela, qualquer um a daria como morta.

O coronel suspirou lentamente:

- Ela está assim desde cedo. Não chamei o médico porque ele vai querer interná-la. E, se for para a minha filha morrer, ela morrerá em casa... e não sozinha.

- Ela não vai morrer. - Snape disse, com a voz seca, enquanto se aproximava da cama da garota. Me deixem a sós com ela.

- Se você fizer alguma coisa com a minha filha, eu juro que a única coisa que você desejará será a morte!

- Cel. Blake - Mulder disse calmamente. - Acredito que se existe uma pessoa que pode trazer a sua filha de volta, essa pessoa é ele. Então apenas deixe-o fazer o seu trabalho... sem ameaças.

O coronel bufou e deixou o lugar. Mulder estava também pronto para sair, mas foi interrompido pela voz da sua parceira.

- Eu vou ficar.

- Não tem necessidade - Snape replicou.

- Ainda assim, ficarei. Eu sou médica, posso ser útil, caso algo de errado.

- Nada dará errado - ele olhou para Scully de uma forma tão gélida que fez um arrepio cruzar a sua espinha.

Mulder segurou a parceira pelo braço e, lentamente, a arrastou para fora do quarto.

- O que você está fazendo?

- Mulder, como você pode achar aceitável que ele fique lá dentro com a garota? Ele confessou ter matado o garoto e pode estar aqui para terminar o serviço! Eu não confio nele!

- Ele não é um homem mau, Scully. Eu consigo ver isso. No mais, ele está desarmado!

- E aquele homem que veio procurá-lo? E se ele for perigoso? Eu não vou ficar aqui, parada, rezando para que nada aconteça com a menina, enquanto eu posso entrar lá e impedir!

- Muito bem. Então vamos juntos.

- Não. Fique aqui. Se eu precisar de você, gritarei.

E, sem mais nenhuma palavra, Scully empunhou a sua arma e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

- Eu ficarei.

Snape rolou os olhos, tirando do bolso das suas vestes uma pedra e mostrando-a para Scully.

- Ela terá que engolir isso. Já que você está aqui, me ajude.

- O que eu devo fazer?

- Apenas segure a cabeça dela. Ela vai resistir.

Scully encaminhou-se para a cama onde Sarah estava deitada. Ajoelhou-se junto a ela, mas, quando as suas mãos foram repousar no rosto da garota, ela pareceu acordar do seu transe. Os braços e as pernas começaram a se debater, por vezes acertando Scully que, sem sucesso, tentava contê-la.

Snape aproximou-se. Rudemente segurou as pernas da garota e prendeu-as com as suas pernas. Uma das mãos agarrou os dois pulsos de Sarah, deixando a pele branca imediatamente arroxeada.

- Segure-a!

Scully obedeceu. Segurando a cabeça de Sarah, Snape pôde colocar em sua boca a pedra. A menina respirou fundo duas vezes e, então, desmaiou. A agente imediatamente ocupou-se de verificar os seus sinais vitais. Ela parecia bem.

- E agora?

- Agora nós esperamos.

Scully sentou-se pesadamente na cama, respirando fundo e enxugando o suor da sua testa. Tirou o seu blazer. Viu Snape sentar-se também, após cobrir o corpo da garota.

- Ela vai ficar bem?

- Sim. O bezoar é o mais efetivo antídoto para quase todos os tipos de veneno. O que Sarah tomou foi algo fraco... Assim que ela acordar, estará com a saúde perfeita.

A agente mordeu o lábio, tomando coragem para fazer uma pergunta que estava lhe incomodando há algum tempo.

- Então você é um bruxo? - Ele assentiu. - E existem... outros de vocês?

Snape crispou os lábios.

- Sim. Existe toda uma sociedade bruxa, Scully. Nós temos um estado paralelo dentro de cada estado. Esse país tem um presidente bruxo. O meu tem um primeiro ministro.

Ela quis rir... mas, pelo rosto daquele homem, ela logo percebeu que ou aquilo era real, ou ele realmente acreditava que aquilo era.

- E você está entre nós por quê?

- Meu país estava em guerra. E eu estava no meio. Há quase vinte anos, sirvo como espião para os dois lados da batalha. Dia após dia, Scully, eu enfrentava a morte.

Os olhos azuis encontraram, pela primeira vez, os olhos daquele homem. Era incrivelmente negros e profundos. Scully, então, acreditou. Ela quase podia ver nos olhos de Snape os vinte anos de batalha.

- Por quê?

- Por um erro que eu cometi quando era jovem. Um erro que custou a vida de... A vida de uma pessoa muito importante.

- Sua esposa?

Ele riu-se amargamente.

- Não, ela não era minha.

Scully se calou por um tempo.

- As pessoas não sentirão a sua falta na guerra?

- A guerra acabou. Acabou no dia em que eu cheguei aqui. Eu fui dado como morto.

- O que explica o seu ferimento.

- Sim. Foi uma cobra. No entanto, eu já estava preparado para este ataque. A única coisa que eu não previ foi vir parar aqui.

- E como você veio parar justamente aqui?

- É uma cidade importante para mim.

- Por causa da pessoa que morreu?

- Sim. Vim passar uns dias aqui com ela, eu era um adolescente. Os tios dela haviam sido assassinados na guerra, e os seus pais vieram pegar o único filho deles. No fim, os Blakes quiseram ficar com o garoto, e os pais dela concordaram que ele estaria mais seguro aqui, na fazenda, do que no meio da guerra. Tínhamos quinze anos.

- E o que houve aqui?

Os lábios de Snape curvaram-se num sorriso amargo.

- Bem, ela foi minha. Pela primeira e última vez, ela foi minha. É, provavelmente a melhor lembrança da minha juventude. De alguma forma, era uma lembrança esquecida. Mas que voltou, pouco depois de eu ser ferido. Estava fraco, esperando as poções que eu já tinha tomado fazerem efeito quando eu vi os olhos dela... Lembrei-me do lugar... e devo ter desaparatado sem perceber.

- Desaparatado?

- Me transportado.

- Como no hospital?

Ele assentiu. Um minuto de silêncio se passou.

- Então... foi por isso que você matou o garoto? Por que você pensava ainda estar na guerra?

- Eu senti alguém tocar na minha marca - ele mostrou a cicatriz horrenda em seu braço. - E senti tentarem me desarmar... acordei e me defendi, usando o fim das minhas forças.

- E a garota deve ter ficado tão desesperada que tentou se matar com o veneno... De que... De que lado você estava de verdade, na guerra?

- Do lado vencedor.

- Eles não sentirão sua falta?

Uma curva sarcástica acentuou-se nos lábios de Snape.

- Scully, é mais fácil que os maus venham procurar me matar do que os bonzinhos sentirem a minha falta.

A agente, então, ergueu uma sobrancelha, preocupada, lembrando-se do homem que viera procurar ela e Mulder naquele mesmo dia.

- Mas, Snape, algum desses homens que querem se vingar sabe que você poderia estar aqui?

Snape franziu a testa por um momento. Então, os seus olhos negros ficaram vazios. Um sibilo amargo escapou pelos seus lábios:

- Yaxley!

XxXxXxX

- Quem é Yaxley?

Scully perguntou durante quase todo o caminho de volta para a pousada, mas Snape, vago, apenas mudava o rumo da conversa, sem jamais responder.

- Alguém foi procurar vocês? Alguém estava me procurando?

- Sim - Mulder respondeu. - Um homem meio loiro veio essa manhã pedir informações sobre o seu paradeiro... Mas não dissemos nada.

- Agente, ele chegou a olhar para você? Para você ou para Scully?

- Olhar? - Mulder perguntou, um tanto incrédulo. - Geralmente as pessoas se olham quando se falam...

- Não, Mulder - Scully disse, preocupada. - Ele não está falando disso. - Scully virou-se para o banco de trás, para olhar Snape. - Ele olhou para mim. Dentro de mim.

Snape bufou.

- Então eu tenho que ir embora.

- Como assim? - Mulder perguntou. - Como ele pode ter olhado dentro de você, Scully?

- Eu não sei, Mulder! Mas eu senti!

- Ele usou a legilimência - Snape respondeu, com um tom urgente. - É o poder de entrar na mente da pessoa. Se ele estava procurando por mim, ele sabe bem que eu fui às cinco horas para a fazenda. E sabe que eu estou com vocês!

- E quem é ele?

- Ele é um Comensal da Morte. - Ao ver a sobrancelha erguida de Scully e a testa franzia de Mulder pelo retrovisor, ele viu que teria que explicar. - Um dos agentes do lado que perdeu da guerra. O lado que eu espionei por todos esses anos. O lado que, agora, quer a minha cabeça!

Mulder olhou para Scully e ela, rapidamente, disse:

- Eu explico depois, Mulder. - E voltou-se para Snape. - Então que você vá logo!

Snape suspirou.

- Se fosse possível, eu gostaria de tomar um banho. Não sei qual será a próxima vez que poderei tomar um, desde que não tenho para onde ir e ainda não decidi o que fazer da minha vida.

- Você pode tomar banho no meu quarto e usar uma roupa minha - Mulder respondeu.

- Obrigado, agente.

Mulder estacionou o carro e Snape logo desceu. Rapidamente, ele encaminhou-se para o quarto de Mulder, mas, logo que fechou a porta, percebeu que não estava sozinho.

XxXxXxX

Scully suspirou, vendo o homem entrar no quarto de Mulder e recostou-se no carro. Olhou para o seu parceiro.

- Eu terei que fazer um relatório sobre isso?

Mulder riu-se.

- Quero ver o que você vai escrever, Scully, já que decidiu ajudar o seu amiguinho a se esconder.

- De qualquer forma, Mulder, eu não poderia colocar em meu relatório que o principal suspeito pela morte de William Evans é um bruxo que, infelizmente, não pode ser preso por ter o estranho poder de se teleportar.

- Bem - Mulder disse, sorrindo - ele não pode fazer muita coisa sem isso, pode?

E mostrou a varinha de Snape para Scully.

- Você ainda está com ela?

- Ele pareceu não se lembrar de pedi-la da volta! Mas não adianta... ela não faz nada comigo; veja: hocus pocus! Abracadabra! Sinsalabim! - Mulder dizia, agitando a varinha, sem que nada acontecesse. - Viu? Só funciona com ele.

Scully ficou um tempo calada, até que pensou numa coisa:

- Mulder, quando o tal comensal entrou na minha cabeça... imagens se passaram na minha mente. E foram imagens de quando Snape estava em meu quarto, e não quando combinamos a visita à casa dos Blakes.

Mulder franziu o cenho.

- O que você quer dizer com isso?

- E se ele não soubesse que sairíamos? E se ele estivesse esperando apenas por uma oportunidade para entrar no quarto e pegar-nos, a mim, que sou teoricamente indefesa, e ao Snape sozinhos?

- Então ele estaria no seu quarto.

O olhar de Scully perdeu-se. E ela apenas voltou a si quando escutou a voz agitada de Mulder:

- A menos que...

- O que?

- Os quartos são iguais, Scully! Ele viu o interior do quarto apenas quando falou conosco... no meu quarto!

XxXxXxX

- Olá, meu amigo.

Snape sentiu o seu sangue congelar quando ligou as luzes e viu, no fundo do quarto, o rosto raivoso de Yaxley.

- Eu sabia que você não tinha morrido, Severo! - Snape deu um passo para trás. Esperançosamente, procurou em suas vestes a varinha, antes de lembrar que Scully a havia tomado. - Um traidor imundo que foge... você é patético!

- Essa é a única forma que você consegue me enfrentar? Apenas quando eu estou desarmado?

Um sorriso sarcástico abriu-se no rosto de Yaxley. A varinha apontou-se, finalmente, para Severo. Quase se conseguia ver o brilho verde saindo da sua ponta, reflexo do feitiço que o seu mestre já pensava em deferir.

- Você vai ter o que merece, Snape. Avada Ked--

Mas, antes que ele pudesse terminar o feitiço, a porta foi bruscamente aberta. O estampido ensurdecedor de dois tiros ressoou por aquela cidadezinha e o homem, com as mãos tremendo, viu que sangrava.

Os olhos acinzentados de Yaxley olharam pela última vez para Snape, provavelmente arrependendo-se de não contar a ninguém que ele sabia onde o traidor estava. O homem ajoelhou-se no chão antes de cair, morto.

Snape finalmente pôde ver o agente do FBI parado na porta, olhando-o preocupado. Ele apenas olhou para Mulder e, com um leve acenar de sua cabeça, agradeceu.

XxXxXxX

O pessoal da perícia se dissipava e o corpo de Yaxley era levado para o necrotério local, quando Snape finalmente pôde deixar de se esconder e voltar a falar com Mulder e Scully.

- Eles sabem como eu sou. Eu serei procurado?

Scully mordeu o lábio.

- Não há crime. Então você não será suspeito. E, logo, não será procurado. A sua identidade ainda é tida como desconhecida e a única imagem que tinham de você era a fita de segurança do hospital. Cel. Blake certificou-se de apagá-la.

- Por quê?

- Willian era o garoto, Snape. O garoto que ficou aqui para não voltar para a guerra. Cel. Blake disse que ele era... diferente. Como você. E disse que não queria que ele fosse lembrado assim. Por isso apagou todos os elementos anormais do caso... E garantiu que logo ninguém lembrará do que aconteceu.

- Mas eu confessei...

- Isso foi uma conversa informal. Não entrará no meu relatório.

Mulder olhou confuso para Scully. Nunca vira a sua parceira agir assim.

- Obrigado.

- Estou apenas fazendo o que eu acho justo.

A ruiva sorriu e então deu meia-volta, começando a acompanhar o seu parceiro até o carro. Mas, no meio do caminho, ela voltou... para encontrar Snape ainda esperando-a.

- E agora, o que você fará?

- Agora? - O rosto obscuro de Snape iluminou-se numa genuína tentativa de sorriso. - Agora, pela primeira vez em minha vida, eu vou viver. Adeus, Dana.

E, sem mais, viu o homem desaparecer. Dana Scully suspirou e sorriu.

- Adeus.

E voltou a caminhar para carro. Ao passar por Mulder, ele começou a acompanhá-la, repousando levemente a sua mão sobre as costas da parceira.

- Ele acabou de te chamar de Dana?

Scully olhou-o, erguendo a sua sobrancelha em divertimento.

- Até onde eu sei, esse é o meu nome, Mulder.

- Mas ele é tão... Ele só me chamava de “agente”. Aliás, ele mal falava comigo!

- Talvez eu seja mais simpática que você.

- O cara acabou de te conhecer, e já está te tratando pelo primeiro nome?

Scully parou, abrindo a porta. Os seus olhos azuis cravaram-se nos olhos verdes de Mulder. Ela sentou-se no banco do carro, enquanto Mulder segurava a porta do carro aberta. O contato visual apenas foi quebrado quando Scully, divertida, perguntou:

- Ciúmes, Mulder? De mim, ou dele?

Um meio-sorriso tomou conta dos lábios de Mulder.

- Eu não tenho ciúmes... Dana.

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EXECUTIVE PRODUCER

CHRIS CARTER

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