Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 9
Rosmerta Desaparecida?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/14131/chapter/9

CAPÍTULO IX. ROSMERTA DESAPARECIDA?

Já no fim daquela fria noite, Hogsmeade recebia com desconfiança os visitantes que faziam o seu caminho para o galpão que nos últimos dias funcionava como um necrotério improvisado. As ruas já estavam quase vazias – exceto por alguns bêbados que, jogados no chão, exibiam-se como presa fácil para o assassino.

Mina sentiu um arrepio cruzar a sua espinha ao olhá-los, tão frágeis, correndo tanto perigo... Sendo ignorados pelas “pessoas de bem” que, ao invés de ajudá-los, preferiam se esconder na segurança dos seus lares, das suas janelas fechadas. Suspirou numa vã tentativa de tirar tais pensamentos de sua cabeça e apressou o passo para acompanhar Van Helsing e Snape, que marchavam decididos há alguns metros dela.

- Dá para esperar um pouco? – ela ofegou. Mas os dois homens a ignoraram, mantendo o seu caminhar rápido e firme. Mina nada pôde fazer a não ser resignar-se com um pesado suspiro e continuar seguindo-os apesar da dor fina em seu tornozelo que sofrera uma torção na queda que há pouco levara, nos jardins de Hogwarts.

Logo os três chegavam ao seu destino, onde sobre uma maca suja de sangue encontrava-se mais uma vítima do Vampiro de Hogsmeade.

Um jovem médico-legista já esperava pelo grupo.

- Sr. Van Helsing, Srta. Stoker, Diretor – ele cumprimentou. – É um prazer receber os senhores... e a senhorita. Vamos, aproximem-se.

O trio se aproximou do cadáver seguido pelo legista.

A vítima era um homem loiro e razoavelmente bonito de mais ou menos trinta anos. A sua pele estava extremamente pálida, quase acinzentada, e olheiras profundas davam-lhe um oportuno aspecto cadavérico. Um discreto filete de sangue ressecado ainda podia ser visto escorrendo-lhe do pescoço, apesar do legista aparentemente já ter limpado o corpo e alguns hematomas tomavam conta dos seus braços e pernas, evidenciando que uma provável luta precedeu-lhe a morte.

- O outro médico não pôde vir... – o legista começou com uma voz excitada – quer dizer, ele está com medo de sair à noite por causa do Vampiro de Hogsmeade, vocês entendem, não? Eu sou o estagiário! Adrei McMillan!

Mina deu-lhe um breve sorriso, enquanto Van Helsing e Snape o ignoraram prontamente.

- A causa da morte foi realmente mordida ou teve algo a ver com estes hematomas? – Mina perguntou.

O legista colocou enormes óculos redondos que fizeram os seus olhos parecerem quadruplicar de tamanho, enquanto apontava para Mina os dois pequenos furinhos no pescoço do morto.

- Veja. Quase todo o sangue foi drenado. Eu exumei e fiz a necropsia das outras vítimas, e vi que os furos têm a mesmo diâmetro e profundidade... Eu não entendo nada de vampiros, mas acho que isso quer dizer que os furos foram feitos pelo mesmo, não?

Mina olhou-o, atônita.

- Você exumou os corpos? Você ao menos pediu autorização à família...?

- Precisa? Sério? Bem, eu sou estagiário, tenho que aprender... – Ele deu de ombros.

Van Helsing rolou os olhos e se aproximou.

- Deixe a investigação criminal com quem sabe o que está fazendo, estagiário.

Com um risinho sem-graça, o médico afastou-se da maca e deixou Mina trabalhar, mas sem nunca tirar os olhos do cadáver e do trabalho da vampiróloga.

Severo Snape foi para o outro lado da sala e sentou-se numa cadeira.

- Estou esperando, Srta. Stoker. Pretende começar?

Mina corou ao comentário dito de forma ácida por Snape e voltou toda a sua atenção para o cadáver que jazia na maca à sua frente. Imediatamente se concentrou na pequena ferida.

Ao contrário do que houve na vez anterior, o sangue que deveria estar preso no fundo da ferida escorreu viscoso tão logo Mina pressionou-a levemente.

Estranhando a facilidade e a óbvia falta do cheiro desagradável que aquele corpo deveria exalar, ela pegou o tubo de ensaio e começou a sua coleta. Mas não pôde deixar de sibilar discretamente:

- Tem algo muito estranho aqui.

Os instintos de Van Helsing logo se aguçaram ao ouvir as palavras de Mina. Imediatamente ele se afastou da parede e sentiu todos os seus músculos ficarem tensos, alertas. Lentamente, ele começou a se aproximar do defunto.

Mas, antes que ele pudesse chegar, um barulho semelhante a uma unha arranhando um quadro negro rompeu o silêncio tenso daquele galpão.

Mina paralisou, sentindo o coração disparar e as mãos imediatamente ficarem suadas e frias.

- O que foi isso?

No fundo da sala, Snape também se levantou, alerta.

Com o coração martelando de medo e antecipação, Mina afastou lentamente o lençol branco que cobria o corpo, exibindo a fonte do barulho.

O corpo ainda jazia aparentemente na mesma posição que estivera há pouco. Mas...

Mais uma vez, o incomodo barulho ressoou, desta vez mais alto. Olhando diretamente para a fonte do barulho, Mina viu que os dedos da mão esquerda do suposto morto moviam-se levemente, arranhando a maca.

Isso só podia significar que...

- Deus...

Num impulso, Mina deu um passo para trás. Mas, assim que ela invocou o nome divino, foi como se um raio despertasse aquele que há pouco jazia inerte. Imediatamente, os olhos do morto se abriram. Não eram olhos normais, mais olhos esbranquiçados, olhos vampirizados.

Rapidamente, antes que a mulher pudesse esboçar qualquer reação, o recém-transformado vampiro se jogava sobre ela, fazendo-a torcer mais uma vez o tornozelo e desabar pesadamente no chão.

Um grito de horror e desespero cortou o silêncio de Hogsmeade.

Mina chegou a sentir a dor dos dentes sendo cravados em seu pescoço, logo antes da besta desabar todo o seu peso sobre ela. Olhando por sobre os ombros do animal, ela viu Van Helsing olhá-lo com desprezo, segurando em suas mãos uma estaca ensangüentada.

Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto Van Helsing e Snape removiam o pesado corpo de cima dela. Sem relutância, ela aceitou a mão que lhe foi estendida por Snape e se levantou.

Abraçou-se, tentando não deixar as lágrimas caírem e fugindo desesperadamente do olhar horrorizado do legista estagiário.

Com um fio de voz, sussurrou:

- Obrigada.

Van Helsing se aproximou carinhosamente de Mina, colocando atrás da sua orelha a mecha de cabelo que caíra do seu coque desajeitado para a ferida em seu pescoço. Ela deu um meio-sorriso, e nenhum dos dois percebeu que assim que Van Helsing deixou o ferimento exposto Snape afastou-se, tentando tirar os olhos do filete de sangue no pescoço de Mina.

- Você está bem? – Van Helsing perguntou.

- Sim... Mas... Oh, Deus, eu realmente odeio vampiros!

O semblante de Van Helsing iluminou-se.

- Você precisa aprender a se defender deles.

- Eu sei. Vou tentar mais. Juro.

Ele a entregou um pequeno lenço.

- Sem mágica.

Mina sorriu resignada e amarrou o lenço em seu pescoço, tapando totalmente a ferida.

Severo finalmente se virou.

- Você já terminou?

Ela assentiu.

- Sim, sim. Acho que é suficiente. Devemos fazer alguns interrogatórios agora, ou vocês acham melhor deixar para amanhã? Quer dizer, está tarde...

- Quem será interrogado foi avisado – Van Helsing respondeu. – Vamos acabar logo com isso.

E os três saíram, deixando o corpo ensangüentado jogado no chão.

Depois, se necessário, explicariam.

XxXxXxX

- Certo, mas o que você viu exatamente?

O corpulento atendente do bar Três Vassouras não estava sendo de muita ajuda ao dar o seu depoimento. Segundo as suas palavras ele “bem que queria cooperar... Mas tinha medo que o Vampiro acabasse indo vingar qualquer informação que ele desse”.

- Veja bem, moça: eu tenho uma família... – ele, mais uma vez, começou. – Não posso ficar falando dessas coisas, não. Eu sei que moro logo ao lado de uma Escola famosa e cheia de gente boa, mas isso aqui é uma cidadezinha... coisas muito estranhas acontecem aqui, e elas geralmente são assuntos proibidos. Todo mundo fica sabendo se você começa a espalhar um boato... Eu só não quero me complicar.

Van Helsing, cansado das tentativas bem-educadas e mal-sucedidas de Mina, decidiu intervir com a sua tão-conhecida sutileza.

- Amigo, eu já entendi que você tem uma família para sustentar e por isso não quer virar alvo do Vampiro. Mas, se você começar a usar isso como desculpa para não ajudar nas investigações, acredite: eu darei um jeito de você perder essa família.

- Senhor Van Helsing! – Mina o repreendeu.

Mas a ameaça surtiu efeito. Assustado, o atendente começou a falar:

- Tudo bem, tudo bem. Ele era um homem alto... Usava uma capa preta, não deu pra ver quem era, mas definitivamente era do tipo suspeito. Rosmerta com certeza o conhecia, porque se sentou à mesa com ele e ficou conversando. Então os dois se levantaram, saíram do bar... eu achei que eles iam... vocês sabem, namorar ou coisa assim... a Rosmerta nunca foi muito santa! Mas, aí, ela nunca mais voltou. Só isso.

Severo se aproximou com semblante claramente preocupado em seu rosto.

- Você tem certeza de que não viu o rosto dele?

- Tenho! Ele procurava se esconder, Diretor... – O atendente se aproximou do trio e baixou a voz em tom conspiratório. – Eu tenho pra mim que ele era um homem conhecido tentando fazer algo errado, ou algo assim... Talvez fosse casado e não queria que vissem quando ele saiu do bar com Rosmerta.

- Mas se ele era suspeito – Mina começou – por que você não fez nada?

- Como eu disse, Rosmerta parecia conhecê-lo... Mas, depois de mais ou menos meia hora, eu mandei Quentin ir ver se ela estava bem, se ela ainda estava no fundo do bar com o sujeito. E você sabe o que aconteceu... – ele acrescentou pesaroso.

Mina suspirou.

- Obrigada. Isso é tudo.

Com uma expressão de alívio, o homem entrou no bar e imediatamente fechou a pesada porta de madeira.

- Então? – Van Helsing perguntou. – Alguma informação nova pode ser tirada disso?

Mina mordeu o lábio.

- Que ele conhecia Rosmerta. Ele se utilizou de uma relação de confiança para levá-la para um canto escuro e fazer o que tinha que fazer.

- Você não pode ter certeza que a pessoa que saiu com ela foi a mesma que matou aquele homem – Snape rapidamente disse.

- Claro que foi, Snape – Van Helsing respondeu. – Ele leva a mulher para o fundo do bar, ela desaparece e o homem que foi ver se ela estava bem aparece morto. Muito suspeito, não?

- Suspeito, mas não conclusivo. O vampiro pode ter chegado depois.

- Eu não acho provável – Mina pontuou.

- E o que Stoker disse da relação de confiança é lógico – Van Helsing procurou dar um fim na conversa. – Ou o Vampiro morderia qualquer um destes bêbados que ficam jogados no meio da rua.

Mais uma vez, Mina olhou para os bêbados, imaginando por que nenhum deles fora mordido? Chamaria muito menos atenção a morte de um indigente do que a de pessoas trabalhadoras e com certa posição social, tal qual vinha acontecendo.

Mas os seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Snape.

- E por que Rosmerta desapareceu, e não foi simplesmente morta?

Van Helsing respondeu imediatamente.

- Eu acho que estava nos planos dele matar a atendente. Mas o tal do Quentin atrapalhou e morreu em seu lugar. Por isso os sinais de luta em seu corpo.

Severo interviu.

- Seqüestro, então?

- Provavelmente não – ele respondeu. – Ele não teria muito como vigiá-la durante o dia. Acho que ele a obrigou a tomar o seu sangue, transformando-a numa escrava.

Mina assentiu.

- Isso seria bem pior.

O silêncio tomou contra daquele finzinho de madrugada. No horizonte, Snape percebeu, a noite escura já começava a clarear. Um certo temor começou a tomar conta dele: se continuasse caminhando com Mina e Van Helsing, demoraria muito para chegar à Hogwarts.

Certamente não conseguiria agüentar por muito tempo. Com a urgência quase nítida em sua voz, ele disse:

- Se as investigações acabaram, eu vou voltar para o Castelo. Sinceramente, Van Helsing, pouco me importa a sua aversão pela mágica. Creio que vocês saibam o caminho...

E imediatamente desaparatou.

Van Helsing passou um tempo com um semblante confuso, mas, logo que olhou para o horizonte encontrou a sua provável explicação para o que acabara de acontecer.

Olhou de esguelha para Mina.

- Você sabe o motivo da saída tão rápida de Snape?

Ela deu um sorriso nervoso.

- O que..? Ora, Van Helsing! Eu... Ele apenas...

- Esquece.

XxXxXxX


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Seres da Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.